As primeiras semanas
N/A: Obrigada pelo primeiro comentário Chiara! Sim, tem continuação e aqui vai o segundo dos muitos capítulos que ainda postarei. E eu já reestruturei o último cap, obrigada por avisar.
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As primeiras semanas
Nas primeiras semanas todos estávamos mortos, não sabíamos como reagir depois de termos voltado a Toca sem o Fred. A euforia da nossa vitória havia passado e olhar para o lugar vazio de Fred e o olhar perdido de Jorge quase nos fazia querer desistir de tudo. Minha mãe não encontrava forças sequer para levantar-se da cama. Mas nós, papai, eu, Carlinhos, Gui e Percy resolvemos enfrentar isso de frente. Perder Fred doía, mas tínhamos que seguir em frente, por isso Gui, alguns dias após chegarmos a Toca, voltou para sua casa com mamãe que ficou aos cuidados dele e de Fleur, ainda um pouco atarefada pelo nascimento da primeira filha. Assim, longe de tudo aquilo, mamãe teve forças para se recuperar e, pouco a pouco, superar tudo aquilo e voltar para casa.
Nesse meio tempo eu não sabia como eu devia me sentir, nem o resto de nós na verdade. Por isso tentávamos esconder nossas emoções, ignorá-las, sermos práticos, arrumarmos a casa, consertar o que estava quebrado, nos prepararmos para o ano que vinha pela frente, tentar juntar os restos de Jorge.
Quando mamãe finalmente voltou para casa, mais de um mês depois da guerra, as coisas finalmente voltaram para o lugar certo. Jorge continuava em depressão, mas estávamos conseguindo seguir em frente e, aos poucos, superar.
Harry, Hermione e Rony voltaram também, da temporada na Austrália em que foram caçar os pais de Hermione, devolver-lhes a memória e conversar um pouco com eles e de quando Harry foi contar a seus pais em Godrics Hallow que havia vencido Voldemort, que a morte deles não havia sido em vão afinal de contas.
Se eu me senti abandonada durante esse mês? O tempo todo. Minha mãe e Gui estavam longe, meu namorado, meu irmão mais próximo e minha melhor amiga também, papai cuidava de Jorge que estava mais morto do que vivo e Carlinhos tentava segurar as pontas de tudo. Enquanto isso Percy era apenas... Percy e isso não era realmente um consolo muito grande naquele momento.
Eu me senti tão solitária que chorava durante horas a fio todas as noites. O que mais me doeu foi que nem Hermione, nem Rony, nem ao menos Harry me convidaram para acompanhá-los, sim isso era algo que eles tinham que fazer, sim eles estavam acostumados a serem só os três, sim eu precisava me recuperar do baque, mas porque eles acharam que ficar sozinha no meio de uma família devastada pela tragédia seria melhor do que estar com três de minhas pessoas preferidas no mundo? Entretanto eu nada pude fazer senão aprender a controlar e ignorar minhas emoções para não ser devorada pela tristeza e solidão. Por fim todos voltaram para casa e aquela sensação de lar finalmente voltou. Eu estava ressentida com os três, mas a chegada de Hermione, Rony e Harry realmente me fez bem.
-Gina, podemos conversar? – Harry me perguntou na noite de sua chegada batendo na porta, já aberta, de meu quarto, depois de ter desarrumado a mala.
-Claro – Dei de ombros.
Ele entrou e sentou-se em uma cadeira largada por um canto, fazia um bom tempo que eu não arrumava alguma coisa por ali, mas que diferença fazia?
-Gina, o que está errado?
-Não tem nada errado – Eu disse enquanto tentava organizar uma pilha de livros que deveria estar ali desde que tinha voltado para casa.
-É só que... Eu tive a sensação de que você não ficou tão feliz ao nos ver quanto nós estávamos... – Ele disse com um tom de voz que indicava que ele se sentia um idiota pelas palavras que pronunciava – Parecia... Que estava chateada... Quase como se me evitasse... Eu fiz alguma coisa? – Ele me olhou como se tentasse entender.
-Eu só... – Eu suspirei casada me jogando sentada na minha cama – Não foi fácil ficar trancada aqui em casa esse mês, sabe como é... Sem a mamãe, sem o Fred, sem vocês, com o Jorge do jeito que está... – Eu me senti a beira das lágrimas que tanto tinha evitado – Eu me senti tão sozinha Harry... – Eu murmurei quando queria gritar. Porém para gritar eu precisava ter raiva, ter voz, ter força, coisas que a muito tinham me abandonado.
-Ei, vai dar tudo certo... – Ele sorriu para mim me abraçando – Eu prometo que vai... – Ele sussurrou ajeitando uma mecha do meu cabelo que caía.
-Sinto muito ter te deixado aqui... – Ele sussurrou verdadeiramente arrependido.
-Está tudo bem Harry... – Eu dei um sorriso meio triste – Você está aqui agora não está?
Ele sorriu e nos olhamos segundos antes de nossos lábios lentamente se unirem. Depois de tanto tempo, eu finalmente me sentia em casa.
-Hum hum – Rony fingia tentar disfarçar sua raiva e embaraço ao nos ver daquele jeito – Harry poderia vir aqui um segundinho? – Ele deu um sorriso falso.
-Claro... – Harry suspirou se preparando para a briga.
-Rony – Eu reclamei sendo ignorada.
Enquanto Rony arrastava Harry para o seu quarto gritando coisas que eu prefiro nem me lembrar, Hermione entrou com uma careta, fez um feitiço bloqueando os gritos nada educados de Rony e se virou para mim.
-Feliz por termos voltado? – Ela perguntou com uma cara infeliz, em referência a briga que se desenrolava no quarto de Rony.
Eu dei um risinho, apenas por que me pareceu a coisa certa a fazer, por dentro eu não sentia nada, só... Cansaço... Meu organismo tinha sido eficiente se livrando com pressa das emoções aparecidas segundos atrás.
-Já está sabendo? – Ela perguntou subitamente animada tirando um pergaminho de sua mala – Vamos ter mais um ano de aulas em Hogwarts para repor o tempo perdido! Estão reformando-a nesse verão, sabe como é, minimizar os danos e teremos o dobro de alunos no primeiro ano, mas mal posso esperar pelo ultimo ano! Quer dizer, teremos conhecimento avançado mesmo!
Me esforcei para conter um suspiro, só mesmo Hermione para se empolgar tanto com um ano a mais de aulas, mas acho que era o preço a se pagar... Eu me virei para olhar para a frieza, incomum no meio do verão, e escuridão da noite enquanto minha melhor amiga tagarelava sobre o ano que “repetiríamos”, mais um item para a alta conta que tínhamos pagado pela paz...
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No dia seguinte, no café-da-manhã, Rony contava cada uma das várias aventuras dos três pela Austrália e as emocionantes coisas trouxas que agora ele sabia usar, como o tefelone, o miozondas, a teleilusao, que Hermione e Harry com um suspiro afirmaram que ele sabia usar melhor que pronunciar, e alguma coisa que ele não se lembrava do nome, mas que servia para que, ao apertar alguns botões e inserir uma moeda trouxa, surgir comida na sua frente, quase uma mágica! Eu olhei com inveja os bronzeados dos três e comparei com minha pele pálida. Não era certo invejar aqueles que me eram mais queridos, mas eu não conseguia, por mais que tentasse, fazer com que aquela terrível sensação de abandono me deixasse. Não era exatamente do bronzeado que eu tinha inveja, nem das invenções trouxas, nem das aventuras... A minha inveja vinha do fato dor três terem fugido de tudo aquilo, juntos, terem compartilhado de muitas coisas das quais me excluíram, de terem superado toda a dor e perda que eu tinha enfrentado todos os dias no ultimo mês.
-Gina? – Perguntou Hermione – Está tudo bem?
Eu assenti rápida e nervosamente antes de voltar a comer sem vontade meu café-da-manhã.
-Daí aquela maquina tentou me engolir! – Rony contava aos irmãos.
-Rony era um aspirador de pó, ele não ia te matar! – Hermione revirava os olhos.
Minha família ria, distraindo-se com as histórias de Rony, aquilo me irritou, porque todos agiam como se nada tivesse acontecido? Porque eu era a única que me sentia daquele jeito? Porque eu era a única que não conseguia sorrir? Levei a mão à cabeça.
-Dor de cabeça Gina? – Perguntou minha mãe preocupada.
-Não é nada... – Eu disfarcei – Eu acho... Que vou voltar a me deitar...
Deixei a sala sem que ninguém notasse, exceto um par de olhos verdes que pareciam mais preocupados e confusos do que eu me lembrava de já terem sido.
Continua...
Comentários (1)
Fica bem clara a motivação da angústia de Gina e o desespero desse mês. Ansioso para a volta a Hogwarts. Adorando!
2020-03-23