A Profecia



Capítulo 1


 


Entrevista para o cargo de professor de Adivinhação de Hogwarts.


Candidatos:


Emílio McCarter


John Blue


Fernanda Gold


Sibila Trelawney


Clair Pig


Matt Pen


Star Knight


Local de Entrevistas: Cabeça de Javali, Hogsmead.


 


A profecia


 


Dumbledore riscara o nome da senhorita Gold. Aquela última entrevista tinha sido um tanto peculiar. A mulher lera sua mão, afirmando que ele estaria fadado ao fracasso caso ele não mudasse algumas atitudes incorretas e depois começou a recitar vários ditados e provérbios completamente sem nexo. Não que Dumbledore achasse que fosse um homem perfeito. Ele era bem ciente de suas falhas, e sabia que precisava ser melhor a cada dia. Todavia, ele não achara sinceridade em nenhum momento que aquela mulher falara. Leu o nome seguinte, ponderando se não deveria retirar a matéria em questão, do currículo de Hogwarts. Pensou que deveria dar uma chance para encontrar alguém de talento verdadeiro. Ele jamais permitiria que alguém sem o conhecimento correto, e sem o gosto pela profissão, desse aulas aos seus alunos.


- Sibila Trelawney. – chamou sem levantar de sua cadeira.


Em pouco tempo, a porta da sala se abriu, e uma mulher com uma aparência estranha, entrou. Ela usava um xale colorido cheio de lantejoulas, e um vestido que cobria seus pés. Seus passos eram tão leves, que era quase impossível de ouvi-los. Dando a impressão que ela flutuava. Ela era muito magra, e usava óculos que aumentavam seus olhos castanho-escuros, lhe dando a aparência de um inseto muito esquisito. Seu cabelo castanho-claro estava preso num coque com panos. Entorno de seu pescoço, ela tinha colares, e em seus braços, pulseiras coloridas e de ouro. Brincos de argola de ouro, enormes, em suas orelhas. E ela emanava um perfume forte e adocicado que empesteava o cômodo.


Dumbledore sentiu vontade de tossir e espirrar, mas conteve-se com um pigarrear na garganta.


- Sente-se, senhorita. Vamos falar de suas aptidões. Sinta-se a vontade.


- Sim, senhor Dumbledore. – sua voz era macia e misteriosa, com um jeito fantasmagórico, entretanto, era possível ver o nervosismo. – Eu sou a tetra-neta de Cassandra Trelawney. Uma vidente famosa de nosso mundo. Tenho certeza que o senhor já sabe.


- Claro. Ela tinha a chamada “segunda visão”. Demonstre o que a senhorita sabe.


- Sim, senhor Dumbledore. – ela tirou um baralho de tarô e começou a embaralhá-lo. Ela dispôs algumas cartas sobre a mesa. – Vire uma carta.


Dumbledore o fez.


- A Sacerdotisa. Significa que o senhor deve seguir sua intuição e dar atenção ao que está velado.


Dumbledore fechou seu cenho. Sim. Havia algo que o preocupava. Algo que ninguém parecia perceber. Apenas poucas pessoas. Mas naquele momento, era inútil se preocupar.


- Fale mais alguma coisa sobre o meu futuro, talvez passado. Ou quem sabe, algo atual.


- S-sim, s-senhor Dumbledore. É... – ela tomou fôlego. – o senhor tem algo muito importante a ser resolvido. E... algo lhe preocupa muito.


- Hum... a senhorita não deixa de estar certa, minha cara. – Dumbledore já não tinha tanta certeza sobre as capacidades da Trelawney. Talvez, a carta da sacerdotisa tivesse sido sorte. – O que a senhorita vê nas linhas de minha mão?


Trelawney analisou a mão estendida de Dumbledore. E começou falar:


- O senhor fez muitas realizações importantes em sua vida. É um homem destinado a grandeza. De muita sabedoria. Muito querido, amado e respeitado pelos outros. Mas jamais foi feliz no campo do amor. Já fez escolhas dolorosas. E sacrifícios pontuam o diário da sua vida. E a sua linha da vida é longa, indicando um longo, bem longo, tempo de vida. Entretanto, ela já está próxima ao fim. Não há mais os anos infinitos para o senhor.


- Fico contente em saber disso. Imagino que devo me preparar. – para Dumbledore, era tudo óbvio. Afinal, ele já estava velho e ainda era solteiro. Embora fosse normal um bruxo viver mais de cem anos, até quase cento e cinqüenta. Ele já tinha noventa e oito anos, e os noventa e nove anos estavam próximos. Para um bruxo, ele ainda tinha uma etapa a cumprir, mas era a última.


Dumbledore pediu mais algumas leituras do futuro, e outros tempos. Mas a cada vez, ele ficava menos animado, menos confiante com mulher. Ele via que ela inventava várias vezes, embora acreditasse que fosse vidente por ser tetra-neta de Cassandra Trelawney. Ela mesma não estava convencida de que era. Ele já estava prestes a dispensá-la, quando a porta se abriu e um homem inesperado entrou.


- Tom? – indagou Dumbledore.


- A quanto tempo, Alvo. Fui até Hogwarts, e a Minerva me contou que você estava aqui, entrevistando professores para ensinar Adivinhação. – ele falava ao se aproximar. Sua postura era aristocrática. Seu cabelo liso e negro, com alguns frios brancos, estava preso. Indo até um pouco além das costas. Seu olhar frio como aquela noite de dezembro não desviava do rosto idoso de seu antigo professor de transfiguração. E seu sorriso não tinha emoção. – Eu nunca acreditei neste ramo da magia, Dumbledore. E sei que você, também, não. Eu, como o mais influente membro do Conselho Diretor, digo que o melhor seria retirar a matéria. Ler a sorte em borra de café já perdeu a graça.


Dumbledore se levantou.


- Infelizmente, Tom, creio que estejamos nos entendendo nessa questão.


- O que? – Sibila se manifestou pela primeira vez, desde a chegada de Riddle, o bruxo filantropo.


- Eu sinto muito, senhorita Trelawney. A sua habilidade no tarô, me surpreendeu, eu não tenho dúvida. Entretanto, creio que a senhorita não tem o que é necessário para ser a professora de adivinhação. E caso eu não encontre algum professor que tenha o verdadeiro dom, eu não poderei manter as aulas de Adivinhação-


- As trevas agem ocultas sob as cortinas do palco... – Sibila falava numa voz etérea e grave. Dumbledore não pôde deixar de expressar o espanto que sentia. – Um monstruoso poder cresceu, alimentado pelo mal, e pelo vazio da alma... Seu detentor já age, tramando a queda da luz, hoje fraca, que governa o mundo atual... Todavia, aqueles que regem nossos tempos, farão nascer aquele que portará a nova luz do mundo... Facilmente reconhecido pela marca da luz de um raio, o Raio da Aurora virá ao mundo nesta data: O fim do sétimo mês... Gerado por aqueles poderosos que lutam para reacender a luz do mundo... Ele aprenderá... A ser... Luz...


Sibila Trelawney piscou seus olhos de morcego.


- Por que estão me olhando assim? – perguntou para os dois senhores que a encarava espantados. – Prof. Dumbledore. Sr. Riddle. Eu disse algo de errado?


 


Lílian Potter era uma bela mulher de cabelos acaju, olhos amendoados bem verdes e brilhantes. Ela tinha um marido, Tiago Potter, um auror em treinamento que tem subido no conceito dos seus superiores, e se tornando uma grande aposta para o próximo Chefe do Quartel-General dos Aurores. Já, Lílian, era uma funcionária do Departamento de Execução das Leis da Magia, na subdivisão de Serviços Administrativos da Suprema Corte dos Bruxos. Uma bruxa tão empenhada no trabalho, que vem ganhando prestígio incomum por todo o Ministério. Criando boatos de que ela logo subiria para um alto-cargo do departamento. Seus superiores tem ficado de olho na jovem mulher, para convidá-la a se tornar sua assistente. Em mais um dia de trabalho, ela comia mais uma tortinha de abóbora enquanto redigia os documentos do último caso. Concentrada na sua tarefa. Sendo, então, interrompida por sua colega de trabalho e amiga dos tempos de Hogwarts, Kira River.


- Lil, essa é a décima tortinha de abóbora que você está comendo nos últimos cinqüenta e três minutos.


- Não exagera, isso não é verdade.


- Ah, não? Vamos contar as embalagens. Uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove... dez – ela apontou para a tortinha na mão de Lílian. A mulher. De pele negra e porte elegante. Recostou-se em sua cadeira, cruzando braços e pernas. Olhando seriamente para a amiga. A analisando dos pés a cabeça. – Eu sei que seus seios são menores do que estão agora.


- Ei!


- Você não gosta de tortinhas de abóbora ao ponto de comer mais de três em pouco tempo. Você me falou que tem tido insônia. Você vem tendo repulsa de comer coisas que você gostava. E nessa semana, você sentiu uma raiva inexplicável, seguida por uma vontade louca de chorar, para então, começar a rir que nem uma hiena. Teve enjôos matinais. Desmaiou algumas vezes. Querida... não percebeu algo mais de diferente em você? No seu corpo? Não sentiu falta de alguma coisa?


Aquela pergunta fez Lílian arregalar os olhos. Fazendo-a esquecer do trabalho.


- É melhor eu visitar a Ebe antes de voltar pra casa, hoje. – Lílian voltou sua atenção para os documentos, embora ela não conseguisse se concentrar tanto quanto antes. Sentia-se enjoada, mesmo assim, ela continuou a comer a tortinha.


 


O expediente de Lílian sempre acabava no almoço. Que era a hora da folga de Tiago. Os dois sempre almoçavam juntos num restaurante bruxo disfarçado de edifício em reforma. O Quimera’s. Por isso, ela se encontrou com Tiago no átrio, ao lado da fonte dos irmãos bruxos.


- Sabe, eu nunca gostei dessa fonte. – Tiago a saudou com o comentário. – Nenhum centauro ou duende olharia para um bruxo desse jeito. Abobalhado e submisso. Apenas um elfo doméstico, por razões que eu ainda desconheço. Não entendo porque eles nos admiram tanto, ao ponto de aceitarem os maus-tratos.


- Concordo. Tiago, estou morrendo de fome.


- Ok. – ele a beijou de leve. – Tortinha de abóbora? Eu adoro.


- Estive comendo tortinhas de abóbora a manhã inteira.


- E ainda está com fome? Isso é alguma doença? Sabe, aquelas coisas não acontecem a toa. Coisas esquisitas. Lil. Que tal visitarmos a Ebe no trabalho dela?


- É o que eu quero fazer depois do almoço. E não se preocupe. Não acredito que seja algo de ruim.


- Está bem. Só me avise se você se sentir mal.


Lílian concordou, e os dois saíram do Ministério, se agasalhando para enfrentar o dia frio de dezembro. O Quimera’s era um lugar novo, mas que vem ganhando fama no mundo bruxo com velocidade. O lugar era limpo e muito bem decorado. Com mesas redondas douradas como ouro, dispostas e bem distribuídas pelo salão de carpete e papéis de parede vermelhos com detalhes dourados. Com desenhos de quimera em vários lugares. Em cada mesa havia velas. Que sempre eram trocadas quando acabavam. As mesas eram forradas com toalhas vermelhas e brancas com detalhes dourados. E as cadeiras de metal eram douradas com o estofado vermelho no assento. E a comida era diversificada, a melhor de todas do mundo bruxo. A decoração de Natal do estabelecimento o embelezava ainda mais. O maitre os cumprimentou quando os viu.


- Senhor e Senhora Potter, é um prazer vê-los de novo, como sempre. – ele dizia em sua voz nasal. – a Chef Quimera os espera, como sempre, e já reservou uma mesa na ala vip.


- Muito obrigada, Godofredo.


- Disponha, Senhora Potter. Disponha.


Tiago e Lílian foram levados até a mesa reservada, e aguardaram serem atendidos.


- Lil. Ti. Eu fico tão contente em vê-los. Meus fregueses mais assíduos. – uma jovem mulher, de cabelos castanhos e pele bronzeada, vinha das cozinhas. Com um grande sorriso. Um garçom a acompanhava. – O que vão querer? Podem pedir. Dimitri, pegue os pedidos deles.


- Sim, senhora.


- Eu vou querer o ratatouille, hoje. – disse Tiago.


- Eu também. – o pedido de Lílian fez os outros arregalarem os olhos para ela. – O que foi?


- Você odeia berinjela, e ratatouille tem berinjela.


- É. Tem razão, mas eu quero comer, assim mesmo.


- Lil? Você está bem? – Quimera perguntou, pondo a mão em sua testa.


- Quimera, querida, eu estou morrendo de fome. Vá logo, pra cozinha, que eu quero comer. Eu tenho que correr pra ver a Ebe no St. Mungus. Vai... eu estou com fome... – Lílian começou a choramingar, intrigando a todos os presentes. Quimera fez o garçom levar os pedidos, e o acompanhou.


- Lil, você está bem, mesmo? – perguntou, Tiago, quando ambos se viram sozinhos.


- Estou... não se preocupe... já passou...


Mesmo que Tiago tivesse se calado, ele continuava com a sua expressão intrigada. Lílian sabia que ele era muito esperto, e muito inteligente. Se ele parasse para pensar e ligar os pontos, ele saberia na hora o que estava acontecendo. Ela já sabia que era aquilo. Mas precisava confirmar com algum especialista. Afinal. Tudo que é bom demais corre o risco de não ser verdade.


Quimera voltou com o garçom, e o último, com os pedidos. A amiga desejou um bom apetite. E deixou o casal almoçar a sós. Eles se encontravam na metade da refeição, quando viram uma aglomeração entrar na sala vip. Curiosos, Lílian e o marido se voltaram para a entrada da sala. A visão do recém-chegado gelou a espinha de Lílian, e ela sentiu vontade de vomitar todo o ratatouille que comera. Era Tom Riddle, cercado por um grupo de jornalistas.


Sendo a chef e a dona do restaurante, Quimera foi ao encontro do bruxo filantropo aristocrático e do grupo que o acompanhava. E os guiou até uma mesa próxima ao casal Potter. E depois os serviu, enquanto que Riddle dava uma entrevista. A posição dele em relação aos nascidos-trouxas era clara, e escancarada pelo próprio. E ele respondia às perguntas sobre o assunto, dizendo palavras ofensivas. Afirmando que os nascidos-trouxas eram indignos de usarem magia. E que, certamente, eles roubaram a magia de bruxos sangue-puro. “Afinal, por que há abortos?” ele falava “Os nascidos-bruxos devem ser a razão”.


- Isso é completamente ridículo! – Lílian não conseguiu conter-se. Sobressaltando a todos os presentes.


- Lil?


- E quem é você? – Riddle manteve sua pose. Apenas levantando sua sobrancelha, com um olhar arrogante.


- Lílian Potter. Uma nascida-trouxa. E tive que passar por períodos muito difíceis em minha vida porque eu sou o que sou. Muitas vezes desprezada pelos que se diziam puros-sangues. Tudo porque eu não tinha medo de dizer que meus pais eram trouxas. Perdi amigos queridos. Mas eu nunca neguei a minha herança. E eu sou eternamente grata por entender tanto o lado trouxa quanto o lado bruxo do mundo. Eu sou uma nascida-trouxa, eu nasci com poderes mágicos. Filha de trouxas. Conseguia realizar feitiços com pouco tempo de prática, um tempo bem menor que a maioria dos puros-sangues conseguiam. E fui reconhecida como sendo uma bruxa poderosa, de talento excepcional. A terceira melhor aluna de Hogwarts, sendo apenas superada por meu marido e o amigo dele, porque eles sempre foram mais inteligentes que o normal. Mesmo assim, os resultados que eu alcancei em Hogwarts, poucos conseguiram. Eu. Uma nascida-trouxa. Fui mais inteligente que muitos puros-sangues. E... e...


E tudo ficou escuro.


 


Ela ouvia seu marido gritar desesperado por ela. Ouviu Quimera juntar-se a ele. E sentiu ser levitada, carregada e tudo o mais até um lugar cheio de vozes. Reconheceu a voz da Ebe e a voz do noivo da última se juntar as vozes de Tiago e Quimera. E sentiu ser carregada até um leito macio e ser levada para qualquer lugar que fosse. Ela tentava falar algo, o tempo todo. Mas nada saía. Até que não ouviu mais nada.


 


Lílian abriu os olhos lentamente. O escuro deu lugar ao claro. Cortinas e lençóis brancos refletiam a luz fraca do sol, que penetrava a janela embaçada. A cor da luz indicava que ela não deveria ter ficado desmaiada por mais de uma hora. O quarto era de hospital. Então ela deveria estar no St. Mungus. A porta de seu quarto abriu, e Tiago entrou. Passando a mão em seu cabelo e o despenteando. Aquele gesto, com o tempo, acabou se tornando um sinal de nervosismo.


- Tiago. O que aconteceu? – a pergunta dela o fez encará-la com espanto, para então abrir um grande sorriso.


- Lil! Estou tão contente em vê-la acordada, meu amor! – ele a abraçou e a beijou.


- Eu desmaiei, mesmo?


- Caramba, foi tudo muito rápido. Num momento, você estava gritando com Tom Riddle, e no outro, você estava caída no chão.


- Oh! Que vergonha, eu gritei com ele?


- Gritou.


- Que vergonha. Mas o que ele falava me deu tanta raiva. Foi algo tão surreal. Eu nem pensei. – ela se lamentava.


- Pois é. Você me surpreendeu. Sempre foi a cabeça mais fria entre nós dois. O que está acontecendo, Lil?


- Bom, Tiago, se prepare porque suspeito que eu-


- Tiago, eu falei pra me avisar quando ela acordasse. – falava Ebe Oak, ao entrar no quarto particular, que era pago. Ela era uma mulher baixinha, e redondinha, mas de corpinho bonito. Tudo nela era pequeno. Seu cabelo na altura do pescoço era elegantemente cacheado. Era loiro-escuro, num tom dourado. E seus olhos castanhos lembravam o mel. Eles pareciam dourados. Ebe era uma mulher bem bonita. E muito gentil e bondosa. Mas muito séria com o seu trabalho. Ela não gostava de deixar as coisas por fazer, por qualquer motivo que fosse.  – Dê-nos licença. Preciso conversar com minha amiga. Uma conversa entre médica e paciente.


- Ei. Ebe, eu sou o marido dela. Tudo que vocês forem falar aqui, a Lil vai me contar, então-


- E ela vai adorar falar sobre isso a você, mas só mais tarde. Eu quero falar com ela, antes, para termos certeza se é, ou não é. Pois pode ser que não seja, mesmo que tudo aponte ser.


- Isso deu um nó nos meus miolos... vou sair pra espairecer. Aliás, o Sirius e os outros estão aguardando na sala de espera. É melhor eu falar com eles, antes que ele e a Quimera explodam o hospital.


- Faça isso.


E Tiago saiu.


- Não precisava falar assim com ele, Ebe. – Lílian disse um tanto penalizada.


- Ele supera. Agora, Lil... está na hora do teste de gravidez. – a curandeira novata, e eficiente, levantou a varinha.


Para fazer um teste de gravidez no mundo bruxo, bastava uma varinha e alguém que soubesse fazer o feitiço de olhar através com perfeição. Pois não é todo mundo que consegue fazer esse feitiço na intensidade correta que acabasse por olhar através do corpo da paciente e ver o que há atrás dela, não dentro. Ao mesmo tempo, também era pedido que essa pessoa tivesse estômago forte, pois a visão do interior do corpo humano, ou animal, nunca foi bonita. Ebe era a pessoa certa. Especialista no feitiço, e sem medo de inclusive tocar no interior de um corpo de carne. Sem sentir vergonha, ela olhou para o interior do útero de Lílian. Não imaginem a cena. Por favor.


- Querida. Eu tenho que te falar que...


Lílian prendeu o fôlego, na expectativa pela resposta.


- Você está grávida já faz um mês.


Lílian ficou maravilhada.


 


- O que?! – Tiago exclamou a pergunta, claramente apavorado. Lílian havia recebido alta. Falara com cada um dos seus amigos e os tranqüilizara. Depois voltou pra casa, acompanhada do marido. Então, ela contou sobre a gravidez.


- Você não gostou da notícia? – perguntou Lílian, aborrecida.


- Você está brincando?! Eu sempre quis ser pai! – ele a beijou, apaixonado. E encostou sua testa ao dela. – Quanto tempo?


- Um mês.


- Então eu tenho apenas oito meses para me preparar. – ele pensava alto, voltando seu rosto para o alto. – Quer avisar aos outros?


- Lógico. Eu já prometi a Quimera que ela seria a madrinha do meu primeiro filho.


- Ih, então já temos um problema.


- Deixa eu adivinhar, você prometeu ao Sirius que ele seria o padrinho do seu primeiro filho.


- Pois é. Na realidade, eu prometi isso a ele, antes mesmo de eu pensar que estaria apaixonado por você. Bom, eles vão ter que aceitar, porque nenhum Potter quebra promessas.


- Ah, a minha mãe vai ficar tão feliz. Vou mandar uma coruja. – ela correu em direção ao corujal da casa.


- Lil, eu preciso voltar pro trabalho! – Lílian ouviu seu marido gritar para ela, então ela voltou para a sala. – Deseja alguma coisa? Sei que mulheres grávidas tem desejos estranhos.


- Não. Não desejo nada.


- Então, eu estou indo. – ele beijou em seu rosto, e já se preparava para aparatar, quando Lílian o puxou pela veste.


- Na realidade...  de repente eu fiquei com uma vontade de comer alguns pacotes de sapo de chocolate. Me manda uma dúzia?


- Claro. – Tiago a cumprimentou em despedida, com um gesto semelhante ao bater continência, mas apenas com dois dedos. Então ele aparatou.


 


A casa dos Potter, era, na realidade, uma pequena mansão. Era de conhecimento geral que os Potter, desde tempos antigos, gostassem mais do conforto que do luxo. Por isso a moradia tinha apenas dois andares. Não era muito larga, nem muito comprida. Tinha o tamanho ideal. Tinha cinco quartos, no andar superior. Todos eram suítes. O maior para o casal. E até antes da gravidez, todos os outros quatro quartos eram para hóspedes. Agora, o quarto mais próximo pertencia ao filho do casal que estava a caminho. Que outrora, fora de Tiago em sua juventude até a morte dos pais por conta de uma doença.


No andar térreo, o inferior, tinha o hall de entrada, que se ligava a sala de estar e ao escritório. O escritório era ligado por uma porta a biblioteca da casa. E a sala de estar era ligada a sala de jantar. Já a biblioteca era ligada a sala de jogos. Ao lado da sala de jogos, estava a cozinha. Tinha um corredor, que começava do escritório, e ligava biblioteca, sala de jogos, cozinha, sala de estar e de jantar. Com uma escada no final.


No andar superior estavam os quartos já mencionados. Todos ligados por um corredor. Mas logo ao lado do final da escada, tinha um conector que levava a uma escada circular. E esta escada circular dava acesso ao corujal. Uma pequena torre circular que se sobressaía. Lílian cantarolava, saltitando toda feliz, ao entrar no corujal. Em sua mão estava um pedaço de pergaminho onde escrevera uma carta para os pais. Ela encontrou sua coruja, Geórgia, dormindo em seu poleiro. Uma coruja branca salpicada de castanho nas asas. Ao lado da coruja de Tiago, a Kanela. Esta toda castanha.


- Olá, querida. Sinto muito por acordá-la em seu momento de descanso, mas eu estou tão feliz. – a coruja branca respondeu com um pio interrogativo. – É que eu estou grávida. – a coruja respondeu com um pio admirado. Era engraçado como bruxos e corujas pareciam se entender tão bem, ou talvez, só Lílian e Tiago tivessem esse dom. – Pode mandar essa carta para os meus pais?


A coruja estendeu sua garra, e Lílian amarrou a carta nela. Ela a pegou na mão e foi até a janela sem vidraças. Para então soltá-la. Lílian suspirou ao admirar o vôo de sua coruja.


 


- Sirius! – Tiago exclamava ao entrar com ímpeto no Quartel-General dos Aurores, chamando a atenção de todos os presentes.


- O que foi? A Lílian desmaiou de novo?


- Eu vou ser pai!


- O que?! – espantou-se Sirius. Para então ficar maravilhado. – E eu vou ser o padrinho?


- Sim. E a Quimera será a madrinha!


- O QUE?! – Sirius ficou enfurecido. – EU NUNCA QUE VOU SER PADRINHO AO LADO DAQUELA QUIMERA! AQUELA MULHER É GOSTOSA, MAS É MUITO CHATA!


- Não tem volta. A Lílian prometeu a ela, e eu a você. E palavra de Potter não-


- Não volta atrás. Eu sei.


- Será que eu ouvi direito? – a voz rouca de Olho-Tonto Moody, fácil de ser reconhecida, estalou bem próximo ao ouvido de Tiago, que se delimitou a pular para frente, se virando no meio do pulo. – Ótimo reflexo, Potter. Continue assim. Entretanto, você não sentiu que eu estava logo atrás de você, se eu fosse um bruxo das trevas, você já estaria morto. Lembre-se: Vigilância constante!


- Ok... vou me lembrar disso.


- Eu ouvi você falar que vai se tornar pai, Potter.


- É. Não é demais?


- Lógico que não é! Como ousa formar uma família quando se é um auror. Você devia saber que é altamente perigoso ter uma família nessa profissão. Um bruxo das trevas pode usá-los para chegar a você e te matar. E o que você acha que aconteceria a sua família, depois que vocês fosse morto? Soltos, com certeza que não seriam! O que é que você tem na cabeça? Se tornar pai?


- Eu vou ser pai! – dessa vez, Franco Longbottom entrava com ímpeto anunciando as boas novas.


- Outro desajuizado! – exclamou Moody.


- O que? – Franco estava confuso.


- Também vai ser pai? – perguntou, Tiago.


- O que? Também?


- Eu também vou ser pai.


- Eu também! Parabéns!


- Não. Eu é que dou os meus parabéns! – os dois futuros pais apertaram as mãos e se abraçaram. Felizes.


- Eu também vou ser pai.


Tiago se desvencilhou do abraço com Franco, e encarou o recém-chegado. Era Arthur Weasley. O humilde e feliz funcionário da Seção de Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas. Muito conhecido e querido pelos Aurores.


- Nah! Mas isso não é mais novidade para você. – disse Tiago, bem-humorado, fazendo o outro rir. – Esse filho, é o quinto?


- O sexto. A última gravidez foi de gêmeos.


- Puxa. Seis filhos... parece ser um número legal de se ter... – Tiago pensava consigo mesmo. – E quando está para nascer o seu filho?


- Março. É a data prevista. E a data do nascimento de seus filhos? Para qual mês foi previsto?


- Julho. Lá pro final de julho.


- A do meu filho também é para final de julho.


- Sério?


- Nossos três filhos vão para Hogwarts, na mesma época. Podem acabar se tornando amigos.


- Pelo menos, vocês tiveram juízo e a sua esposa pediu licença do trabalho, não é, Longbottom? – perguntou Moody.


- Mas é lógico. Ela se encontra em casa, descansando. Minha mãe até veio para cuidar dela.


- Chega dessa conversa sobre filhos. – reclamou Sirus. – Eu vim trabalhar, não para conversar como as meninas fazem.


- Ei! – as garotas que ouviram, protestaram.


- O senhor Black tem razão. – disse Moody. – Voltem ao trabalho. Todos vocês. Inclusive você, Arthur.


- Entendido.


E cada um voltou para o seu lugar. Tiago sendo treinado por Longbottom. E Sirius pelo Moody.


O trabalho de Tiago costuma ser tranqüilo, se ele não for chamado para cuidar de algum problema. A maior parte do tempo se constituía em preencher relatórios, revisá-los, aprender novos truques, praticar duelos, combates. Afinal ele ainda estava em treinamento, na fase do último estágio. Claro que “cada dia é um dia diferente”, e isso se mostrou verdadeiro quando Tom Riddle, aquele com quem Lílian gritara por ser um mesquinho sem coração, entrou acompanhado pelo Ministro da Magia, Cornélio Fudge.


- E esse é o Quartel-General dos Aurores. – dizia o ministro, mostrando o lugar dividido por cubículos.


- Me parece um bom lugar para se trabalhar. Me pergunto se estaria precisando de dinheiro.


- Sem dúvida, estamos sempre precisando de dinheiro para investir nos novos equipamentos. Talvez ampliar a área. Seria uma boa ter mais aurores, sempre há tantos perigos.


- Com certeza.


A conversa dos dois homens ilustres era ouvida por Tiago e Sirius, os mais próximos da entrada. E ambos se divertiam, zombando e debochando do jeito do ministro e do bruxo filantropo. Sua risadas, aparentemente, chamaram a atenção do último, pois este acabou falando em tom de agradável surpresa:


- Ora, se não é o marido daquela nascida-trouxa que gritou comigo mais cedo. Potter é o seu sobrenome, não é?


- Ah... sim. Sou Tiago Potter. Um auror em treinamento. E este é o meu melhor-amigo, Sirius Black.


- Boa tarde.


- Um Black. Devo comentar que eu tenho um grande prestígio pela a sua família. São todos tão tradicionais. Eu admiro famílias como os Black.


- Então você não é uma boa pessoa. – resmungou Sirius, num tom que só Tiago ouviu. Entretanto, pareceu que Riddle entendera a mensagem.


- E a sua esposa, senhor Potter? Ela desmaiou enquanto gritava comigo. Espero que ela esteja bem.


- Ah. Quanto aquilo, senhor, eu realmente sinto muito. A minha esposa, principalmente, se sente envergonhada por ter gritado com o senhor. Não que ela não acredite no que ela disse. Aliás, ela defende sua posição com determinação.


- Claro.


- Mas é que ela não estava em estado normal. Foram os hormônios.  Ela está grávida, descobrimos isso hoje.


- Oh, que maravilha. – ele pareceu bem mais interessado na conversa. – E para quando o nascimento está previsto?


- Final de julho.


- O sétimo mês?


- É. O sétimo mês. O filho do Franco também está para nascer nessa época.


- Franco Longbottom?


- Sim, senhor.


- Ele e a esposa são aurores conhecidos, e muito poderosos, não é?


- É. Sim.


- E o senhor?


- Sou um auror em treinamento.


- Certo. Auror. É uma excelente profissão. Eu adoraria continuar essa nossa conversa, que está bem interessante, mas eu preciso ver mais do ministério. Eu pretendo doar dinheiro para o departamento que mais necessitar. Algo importante. Cuide bem de sua esposa, meu jovem. Ela se encontra no estado mais vulnerável da vida dela.


Era a impressão de Tiago, ou aquilo pareceu soar mesmo como uma ameaça? Um aviso de quem pretende fazer mal a alguma pessoa?


- Isso foi uma ameaça? – Sirius verbalizou os temores de Tiago quando o filantropo partiu do Quartel-General.


 


As noites de dezembro sempre foram geladas. A neve cobria o chão e os telhados das casas, fazendo as casas parecerem com bolo com glacê de baunilha. Tudo era muito bonito, apesar do incômodo que a neve se revelava ser para quem a conhecia de perto. Mesmo assim, mesmo que tudo ficasse bonito coberto de neve, uma mansão abandonada e com as suas janelas quebradas em Little Hangleton, continuava com o seu ar fantasmagórico e assustador. Antigo lar de moradores imponentes e tão milionários quanto mesquinhos, todos foram encontrados mortos com expressões de susto. Nome da família? Riddle. Um casal e seu filho. Todos muito bonitos por fora, principalmente o filho do casal. Mas horríveis por dentro, principalmente o filho do casal.


Certa noite, seus corpos foram encontrados frios e imóveis na sala de estar da mansão pela empregada. Na época, a cidade ficou em polvorosa, querendo saber quem fora o assassino. As suspeitas acabaram caindo sobre o jardineiro da família, Franco Bryce, por ele possuir as chaves de toda a casa, já que não havia sinais de arrombamento. Mesmo que ele declarasse insistentemente que naquela noite ele vira um rapaz jovem, de cabelo escuro e alto, perambulando ao redor da mansão. Por fim, ele acabou sendo libertado por falta de provas que caracterizasse um assassinato, ficando pra cuidar do jardim. Mesmo que a cidade inteira ainda acreditasse que ele era um assassino.


Mal sabiam os moradores, que Franco Bryce acabou por se tornar a refeição de uma cobra imensa após sofrer uma morte indolor antecedida por uma luz verde. Uma maldição imperdoável lançada por um homem encapuzado que se autodenominava Lord Voldemort. Na sala de estar da mansão, a figura encapuzada se encontrava sentada numa cadeira alta como se essa fosse um trono. Aguardando que um de seus servos viesse servi-lo. Com a imensa cobra enrolada ao pé da cadeira.


Outra figura encapuzada se materializou a sua frente, fazendo a cobra chiar, a segunda figura lhe fez uma reverência digna para um rei. Ou um lord. E perguntou:


- O que deseja de mim, milorde?


- Preciso que levante todo o passado, toda a vida dos Potter e dos Longbottom. Quero o histórico das notas em Hogwarts. O que todos dizem sobre eles. Quero vê-los em ação e determinar se eles são mesmo poderosos. Também procure por outros casais de bruxos poderosos que terão um filho no período de final de julho. É tudo o que ordeno.


- Se me permite perguntar, milorde, por que deseja tal informação? E por que a pede a mim?


- Eu não lhe devo respostas, nem satisfações. Vá, e faça o que mando.


- Perdão por minha intromissão, senhor. – e a segunda figura encapuzada partiu da sala como viera.


A figura ficou sozinha com os seus próprios pensamentos. Ponderando sobre aquelas palavras que ouvira. Então, sozinho, ele começou a recitar:


- As trevas agem ocultas sob as cortinas do palco. Um monstruoso poder cresceu, alimentado pelo mal, e pelo vazio da alma. Seu detentor já age, tramando a queda da luz, hoje fraca, que governa o mundo atual. Todavia, aqueles que regem nossos tempos, farão nascer aquele que portará a nova luz do mundo. Facilmente reconhecido pela marca da luz de um raio, o Raio da Aurora virá ao mundo nesta data: O fim do sétimo mês. Gerado por aqueles poderosos que lutam para reacender a luz do mundo. Ele aprenderá a ser luz. – ele ponderou mais uma vez, as duas últimas frases. – Gerado por aqueles poderosos que lutam para reacender a luz do mundo. Ele aprenderá a ser luz... aquele que irá nascer para me derrotar, nascerá de pais poderosos que lutam por um mundo melhor. Essa é a interpretação. E ele terá uma marca. Devo ter paciência e aguardar.


 


Fim do 1.


Mas continua no 2.


 


n.a.: Tom Riddle apareceu em tudo quanto é lugar. O desgraçado não parava de surgir na minha mente. Ele é muito intrometido. Ou muito ocupado. O relato do desmaio foi baseado no relato de minha irmã de quando ela desmaiou uma vez. Ela diz ter sido daquele jeito, embora ela não tenha apagado de vez. Aliás, uma dica para quem presenciar um desmaio: nunca dê líquidos ou água para a vítima de desmaio, e levante os pés da pessoa acima do nível do corpo, sendo que ela deve estar deitada. Se virem uma pessoa com sinais de que irá desmaiar, faça-a sentar e abaixar a cabeça. Os desmaios são causados pela falta de circulação do sangue no cérebro, e a posição da cabeça abaixada e dos pés acima do nível da pessoa que estiver deitada, ajuda a fluir o sangue pro local. Digo isso, porque os vizinhos deram café a minha irmã, o não deveria ter sido feito, quando ela desmaiou anos atrás. A maioria das pessoas não sabe como fazer. Eu, aliás, só soube porque pesquisei a respeito.


Sobre a parte da mansão dos Riddle, eu pretendo seguir um rumo semelhante ao de Rowlling, mas com todas as minhas idéias e criações. Eu detesto usar o que já foi usado, então eu pretendo ser o mais original possível.


Bom, o que me dizem? Eu gostei da profecia que escrevi. Quero saber da opinião de vocês. :)

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