Anos 40




— Srta. Foster, por favor nos diga o que está acontecendo... O Professor Dumbledore disse que a Srta. parecia nervosa, mas agora não quer nos contar qual é o problema? — dizia o Diretor. Ele me olhava de um modo severo, sem saber exatamente como deveria proceder naquela situação. O professor Dumbledore, no entanto, parecia tranquilo e me encorajava a falar com seu olhar sereno. Sinceramente, eu não sabia o que fazer. Achei que só tinha passado mal e que o prof. Dumbledore iria me ajudar. Na verdade, achei que estava sonhando... Afinal, Dumbledore está morto.




— E-eu... não sei como dizer isso... Acho que estou louca. — os dois ficaram preocupados. — Professor Dumbledore, eu tomei uma poção que inventei e... acho que estou delirando.. sabe? Quer dizer, tem muita coisa estranha nesse sonho... Tipo o senhor, e esse cara aí, e lá fora, e os alunos... — eu apontava enquanto pontuava os fatos estranhos que encontrei, achando sinceramente que tinha alguma coisa errada comigo.




— Entendo... Diretor, o senhor poderia por favor nos dar licença por um minuto? — perguntou Dumbledore. O Diretor se retirou, parecendo ofendido, mas ainda assim aceitando o pedido do outro. — Srta. Foster, compreendo que tomar poções ainda não testadas pode nos trazer vários problemas, mas acho que a srta. está bem de saúde. Tem certeza que é só isso...?




A minha vontade naquele momento era de gritar e dizer que minha vida era um desastre e que a culpa era toda dele que não conseguiu impedir o próprio aluno de se tornar daquele jeito, e de deixar bem claro que ele tinha que rever suas prioridades e em quem confiava, porque certamente estava mais gagá que qualquer um que eu já tinha conhecido. Deixá-lo saber que não estava tudo bem e que meu mundo era só sombras, sem luz nenhuma; que era como viver ao lado de dementadores. Mas a culpa não era de ninguém: era minha. Fui eu quem os deixou sozinhos aquele dia. Fui eu quem disse que não me importava com o perigo. Fui eu quem disse que Aquele-que-não-deve-ser-nomeado não atacaria Sonserinos, principalmente se eles fossem sangue-puros. A culpa é minha.




— Professor, com todo o respeito... será que eu posso voltar pro meu mundo agora? Por mais que aqui seja bacana, acho que nada vai trazer meus pais de volta... — sem esperar resposta alguma, me levantei e comecei a andar até a porta. A qual estava trancada. Virei-me para o senhor que me olhava por seus olhos azuis. Ele parecia com pena.




— Sente-se. — eu, como uma boa aluna trancada naquela sala, obedeci. — Conte-me o que aconteceu com eles. Conte-me sobre o seu dia.




Nem preciso dizer que ele é estranho. Antes achava que eu era maluca, e agora quer saber sobre o meu dia! É por isso que o Profeta vive dizendo que ele está velho demais, que não é capaz de proteger Hogwarts e que é meio insano pra confiar naquele Potter. Tudo se encaixava nesse meu delírio, menos o fato de que Dumbledore está morto e que aquele diretor é um completo desconhecido para mim. E, de qualquer forma, se o delírio é meu, eu posso dizer o que quiser, não é?




— Ok. Tudo começou há uns quatro meses, quando eu ainda estava de férias.  Eu fui ao Beco Diagonal e, quando voltei, meus pais estavam mortos. Sabe? Tipo, caídos no chão, uma expressão de horror nos rostos, e a Marca Negra pairando no céu acima da minha casa. É claro de Você-Sabe-Quem foi o culpado, mas ninguém sabe por quê! Minha família tem o sangue puro, éramos favoráveis às causas dele, e aspirávamos nor tornar Comensais da Morte. Foi um completo mistério pra todo mundo. Eu tive que ir morar com uns parentes que não conhecia. Eu estava, estou, me sentindo perdida e sem saber o que devo pensar. Não sei como minha vida vai ser agora. Eu odeio aquele Lorde! Se soubesse como, o mataria! — desabafei tudo o que pude. Minha revolta, minha tristeza. Dumbledore apenas me olhava, parecendo confuso e interessado. Com um gesto, ele me disse para continuar. — Então, quando eu vim para Hogwarts, minha amiga disse que eu não poderia voltar no tempo e deixar tudo direito. Aí eu pensei: “Mas é claro que posso!” E fiz uma poção, porque é no que sou melhor graças ao Professor Snape, e coloquei os ingredientes que achei que me fariam voltar no tempo, junto com a Felix Felicis pra dar sorte e me ajudar no que eu mais buscava. Mas agora eu acho que estou maluca, porque o senhor morreu e esse diretor não é o Snape e não tem uma lápide no jardim lá fora. Tenho certeza de que estou delirando, e eu só quero deitar na minha cama e chorar até não ter mais lágrimas, e dizer que a Mackie estava certa e... — ele dava palminhas nas minhas costas enquanto eu falava e as lágrimas escorriam pelos meus olhos. Não sei quando comecei a chorar, mas foi como se estivesse lavando minha alma. Eu não tinha chorado pelos meus pais ainda.




Ele me olhou como se soubesse o tamanho do peso que eu carregava nas costas, como se pudesse curar todas as minhas dores. É por isso que todo mundo adorava o Dumbledore. Então, eu senti algo estranho. Foi como um filme passando diante de meus olhos: todas as lembranças, tudo o que aconteceu. Só pude chorar mais ainda, curvando o corpo e balançando, desamparada. Eu não queria ser fraca desse jeito... O professor ficou em silêncio, esperando que eu me acalmasse. Pedindo desculpas em um murmúrio, dei um jeito de engolir minhas lágrimas. Eu tinha que ser mais como a Mackenzie: forte, destemida e corajosa.




— Srta. Foster... Sinto muito lhe dizer, mas... acho que sua poção funcionou. Não faço idéia do que significa metade das coisas que a srta. disse, não sei quem é esse bruxo que matou seus pais e nem quem é esse diretor Snape. E como pode ver eu estou vivo. Diga-me, em que ano estamos? — eu ouvia tudo atentamente, os soluços ainda encontrando um caminho pela minha garganta. Piscava, confusa, tentando entender o que ele queria dizer. Disse que estávamos no ano de 1997, logicamente. Ele sorriu. — Estamos na década de 40, srta. Foster. Devo parabenizá-la ou dizer que sinto muito?




Como assim? Então... deu certo! Deu certo! Comecei a rir loucamente e abracei o professor, sabendo que agora tudo ia ficar bem! Tudo o que eu tinha que fazer era levar meus pais comig... Meus pais. Anos 40. 1997. Não.. nasceram. Merda. Senti meu rosto esquentar, minhas pernas tremerem e o desespero tomar conta da minha mente.




— Professor... E-e agora? O que eu faço...? — eu estava em estado de choque, sem saber se saía correndo ou ficava ali, sem saber se deveria preparar a poção de novo ou... ou o quê? Felizmente, somente uma pessoa naquele lugar parecia estar preocupada.




— Minha cara, não se preocupe! Prepararemos a poção novamente e tudo ficará bem! Diga-me como a srta. a preparou e eu pedirei ao Professor Slughorn que ele cuide disso, sim? — ele sorria jovialmente, como se não tivesse nada preocupando sua mente brilhante. Achei estranho sua calmaria, mas lhe dei a lista de ingredientes e modo de preparo. Pelo jeito, surpreendi um dos maiores bruxos da minha era, porque ele arregalou os olhos e balbucilou alguma coisa que não entendi. Mas logo voltou à sua máscara despreocupada e me disse que tudo daria certo.




Depois disso, o professor Dumbledore me guiou para fora e explicou o que estava acontecendo por ali. Falou que eu ficaria no dormitório da minha casa e que compareceria às aulas normalmente (e usaria os materias que ele mesmo conjurou. Brilhante!) e diria à todos que antes estudava em casa, mas meus pais acharam que seria melhor que eu viesse à Hogwarts no último ano. Uma história bem bolada, o suficiente para durar um mês.




· · ·




Naquela mesma noite, os elfos do castelo trouxeram roupas e tudo o mais que eu precisasse. Encontrei uma cama vaga no dormitório feminino da Sonserina, com meus poucos pertences sobre a colcha. Ver aquilo; uma nova vida que eu ia ter, amigos diferentes, sem família, sem nada foi demais para mim. Eu deveria ter ouvido minha amiga, deveria ter aceitado seu conselho de não mexer no passado. Por que eu sempre desobedeço? Sou uma pessoa horrível e agora vou pagar por isso vivendo em um mundo completamente diferente do meu.




Enquanto eu me martirizava, não notei as outras garotas do dormitório me rodeando, todas parecendo preocupadas e confusas com a minha presença ali. As ignorei e me joguei na cama, fechando as cortinas e me fechando na minha própria bolha de solidão. Mas parece que elas não entendiam... Uma delas afastou a cortina e sentou-se na beirada da minha cama, olhando-me com pena. Pena. Todo mundo parecia ter pena de mim.




— Está tudo bem com você? — ela perguntou com sua voz aguda. Apenas balancei a cabeça negativamente. Eu não queria explicar nada a ninguém. Não agora. — Eu vou pedir um chá para você.




Quem era ela? Eu não queria nada além de voltar para onde pertenço! De qualquer maneira, não sei se ela retornou... Assim que ela desapareceu pelas cortinas, afundei minha cara no travesseiro e dormi. Dormi porque dói demais ficar acordada. Dói saber que, para quem não tinha nada, agora eu estava totalmente perdida. O professor Dumbledore poderia até tentar me ajudar, mas eu sabia que havia uma planta dos ingredientes que só floria a cada 50 anos. Em 97 ela floriu. O que significa que, agora, irá florir em 47. E ele me disse que estamos em 42. Ou seja: vou ficar presa aqui por, pelo menos, cinco anos. Cinco anos sem ninguém. Fingi que não percebi as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.