Está contratado!



Hermione voltava, cansada, de mais um dia de trabalho. Sua têmpora latejava. Seu corpo todo doía...


 


Era bom estar de volta. À sua casa... Seu tão amado apartamento... O melhor de tudo era saber que ele estaria lá... a esperando...


 


Mudara-se para aquele apartamento há pouco mais de um ano. Fred, há pouco mais de quatro meses.


 


Hermione respirou fundo, a chave ainda na porta. Nunca pensara que o ruivo pudesse fazer tanta diferença em sua vida...


 


Abriu a porta, respirou fundo novamente. Dessa vez, sentindo o delicioso aroma que vinha de sua cozinha estilo americana. Um sorriso involuntário surgiu em seus lábios. Adorava quando ele cozinhava...


 


- Hey, amor! – Fred ergueu a cabeça, retirando sua atenção por alguns segundos dos tomates que picava – Jantar em quinze!


 


- Ok. – ela assentiu, soltando cachecol do pescoço com uma das mãos, deixando a pasta na cadeira da sala – Vou tomar um banho e já volto!


 


Saiu da sala, a língua coçando. Sempre ficava doida para chamá-lo de ‘amor’. Mas fora exatamente por isso, por não ter se controlado uma vez, que ele passou a chamá-la assim. Uma forma carinhosa de sempre alfinetá-la...


 


[flashback]


 


- Quadribol é ridículo! – ela dizia, pela milésima vez seguida.


 


- Ridícula é você! – Fred murmurou, recebendo um chute na canela – Ouch! – disse, puxando o pé dela para si, fazendo-a deslizar pelo sofá – Doeu!


 


Hermione tornou a chutá-lo, só para implicar. Ele a puxou mais uma vez e se jogou sobre ela, prendendo-a entre seus joelhos.


 


- Pára!!! – a morena começou a se contorcer, rindo sem parar – Pára!!! Detesto cócegas!!!


 


- E eu não sei? – o ruivo debochou, aumentando o ritmo na cintura da morena, fazendo-a se contorcer e ofegar – Diz! – disse, sua voz se sobrepondo aos gritinhos e reclamações dela – Diz que quadribol é o melhor esporte do mundo!


 


- Não! – a morena respondeu, se contorcendo mais ainda ao vê-lo continuar com as cócegas – Não... é justo! – disse, arfando.


 


- Diz! – ele mandou, sorrindo, achando graça.


 


- Não!


 


- Diz!


 


- Não!!!


 


Mais dez segundos...


 


- Ok, ok! – Hermione disse, completamente vermelha e sem fôlego – Você venceu...! – um longo suspiro – Quadribol é o melhor esporte do mundo. Satisfeito, amor?


 


Fred parou no mesmo instante com as mãos, o que fez com que Hermione fechasse os olhos e agradecesse a Merlin.


 


Seu coração encontrava-se em disparada. Seu peito subia e descia conforme ela buscava desesperadamente por ar. Respirava fundo, tentando se acalmar...


 


Abriu os olhos, pronto para reclamar com o ruivo da brincadeira sem graça. Franziu o cenho, sem entender.


 


- Que foi? – perguntou, vendo que ele a encarava de maneira estranha – Já disse, não disse? Quadribol é o melhor esporte do mundo! – repetiu, fazendo uma careta de deboche.


 


Fred não moveu um músculo sequer.


 


- Que foi, Fred?! – Hermione perguntou, já aflita, erguendo-se nos cotovelos – Quê que aconteceu???


 


- Você. – o ruivo disse, fazendo uma pausa angustiantemente demorada – Me chamou de amor... – disse, remexendo-se todo em cima da garota, seu tom maroto carregado de deboche.


 


- Ai, seu filho da... – Hermione se conteve, batendo-lhe na barriga, afastando-se do sofá e indo para o seu quarto.


 


Trancou a porta, esta batida com força. Ainda ouvia as gargalhadas do ruivo na sala, mesmo quando se deitou, pondo o travesseiro na cabeça, xingando-se baixinho...


 


[flashback]


 


 Olhou para um lado e para o outro, enrolando-se na toalha.


 


- Merda! – murmurou, baixinho, um bico nos lábios.


 


Respirou fundo, contando até três...


 


- Freeeeed! – berrou, no que recebeu um ‘oi!’ vindo da cozinha.


 


Entreabriu a porta do banheiro, uma fresta mínima.


 


- Esqueci meu pijama no quarto. – ela disse, no que o ouviu rir – Fecha os olhos!


 


- De jeito nenhum! – ele berrou, largando o que estava fazendo, indo para o meio do corredor – Quero ver você desfilar de toalha! – disse, vendo-a corar intensamente através da fresta.


 


- Não tem graça! – ela disse, apertando, inconscientemente, a toalha contra si – Fecha logo esse maldito olho! – disse, ignorando o ‘Não tem graça pra você!’ dele.


 


- Não não! – ele repetiu, aproximando-se da porta, sua testa encostando na madeira, seus olhos presos nas íris raivosas dela – Pode ir saindo daí, amor... – debochou – Faz tempo que não vejo você de toalha.


 


- Você nunca me viu de toalha! – ela reclamou, suas pernas, porém, trêmulas.


 


O ruivo riu, afastando-se...


 


- Você que pensa... – murmurou, baixinho, mas Hermione não o ouviu.


 


Tornou a respirar fundo, buscando paciência. Fechou a porta, recostou sua fronte. Um suspiro. Deu um nó lateral na toalha branca, olhou-se rapidamente no espelho.


 


“Idiota!”, pensou, consigo mesma, tentando alinhar os cabelos molhados com as mãos. Um novo suspiro, abriu a porta...


 


- Fiu fiu! – ouviu-o dizer, e teve vontade de voar em seu pescoço.


 


Abriu a porta do próprio quarto, batendo-a com violência em seguida. Ouviu-o rir e voltar à cozinha.


 


- Idiota! – continuou murmurando, irritada, largando a toalha em cima da cama e vestindo a blusa cinza de alças finas – Imbecil! Ele e eu!


 


- Fale por você! – ela deu um pulo ao vê-lo atrás de si, a lateral do corpo recostada na porta – Eu estou adorando ser um imbecil com a visão que estou tendo daqui...


 


- Fred Weasley!!! – a morena exclamou, puxando a toalha correndo e cobrindo suas pernas, pois estava apenas de calcinha – Caia fora daqui. AGORA!!! – enfatizou.


 


O ruivo assentiu, fazendo uma mesura, e saiu, rindo, um sorriso malicioso no canto dos lábios...


 


Fechou o semblante, indignada. Pegou o short do pijama, vestiu-o. Sentou-se na beirada da cama, bufando...


 


Um sorriso zombeteiro surgiu em seus lábios. Gostava de saber que ele gostava de observá-la...


 


Foi para sala, fingindo ainda estar zangada. Pôs a mesa, sem dizer uma única palavra...


 


Fred riu consigo mesmo enquanto a morena punha os pratos e talheres na mesa. Era gostoso vê-la irritada. Hermione ficava tão mais... mais...


 


“Sexy!”, pensou consigo mesmo, rindo brevemente do próprio pensamento.


 


Fitou-a, vendo que ela não entendera o motivo de seu riso. Riu mais ainda. A morena abriu a geladeira, pegou a garrafa de vinho e bateu com a porta. Deu-lhe as costas e continuou o que estava fazendo.


 


Fred estalou o pescoço, hábito que tinha quando cozinhava. Sorriu, baixinho. Adorava estar na cozinha quando Hermione punha a mesa. Era um lugar estratégico em que poderia observar as curvas dela se dobrarem conforme se reclinava para arrumar algo. Soubera disso na primeira vez em que decidiu dar-lhe uma folga e fazer o jantar. Depois disso, cozinhar virou um delicioso hobby...


 


Apagou o fogo, escorreu o macarrão. Pôs o molho sobre a massa, salpicando algumas folhas de manjericão fresco.


 


- Cuidado! – disse, empurrando-a gentilmente com o braço quando ela se virou e quase esbarrou na travessa.


 


Sentaram. Comeram. Calados...


 


- Tenho uma coisa pra te dar! – o ruivo disse, levantando-se de repente, indo até o quarto, que ficava de frente para o da morena.


 


Hermione aproveitou a chance e pôs em prática sua pequena vingança...


 


- Achei interessante. – o rapaz murmurou, entregando uma página do Profeta Diário para a garota – Fala do seu Departamento.


 


Hermione revirou os olhos, bufando. Sabia o que estava escrito. Lera aquela mesma reportagem mais cedo...


 


- Obrigada. – disse, levando sua taça à boca – Mas já li. Babaquice... – murmurou, sem se conter.


 


Fred riu. Sabia exatamente o porquê da raiva da morena.


 


- Parece que seu chefe não acha isso. – disse, implicando como sempre, girando sua taça – Me diga, como é ter Astoria Greengrass como sua chefa?


 


- Ela não é minha chefa! – enfatizou, séria.


 


- Imagino que deva ser estressante... – ele murmurou, debochadamente, sorvendo um gole de vinho.


 


Cuspiu-o logo em seguida, fazendo diversas caretas.


 


- Que mer... Você! – acusou, no que a morena ria sem parar – Achando engraçado, não?!


 


Sem esperar, Fred pegou o conteúdo da taça da morena, menos de um gole, e jogou em sua direção.


 


Hermione repeliu o líquido com um aceno rápido de varinha.


 


- Besta! – disse, dando a língua para o rapaz.


 


O ruivo levantou-se e foi beber água. Xingando a morena baixinho, prometeu se vingar. Porém, sabia que, internamente, não o faria, afinal, ele começara com as implicâncias naquela noite.


 


Retirou a mesa, Hermione lavou a louça. Sentaram-se no sofá, afastados um do outro. Em menos de dois minutos, Fred a puxou pelo cotovelo e a aninhou em seus braços.


 


Gostava de tê-la perto de si. De sentir o cheiro do xampu de pêssego que ela usava... De ver as horas passando em frente à TV, de vê-la pegar no sono agarrada à camisa do seu pijama...


 


Hermione gostava de ficar ali. De sentir as batidas do coração de Fred. De sentir o peito dele subir e descer conforme respirava... Gostava principalmente quando fingia pegar no sono... Quando ele a carregava no colo para cama... Quando a cobria e lhe dava um delicado beijo de boa noite na testa...


 


Era assim entre eles. Sempre seria. Eram mais que amigos. Mas sem saber exatamente o que eram...


 


Ambos sabiam que o carinho que sentiam um pelo outro era mais do que uma simples amizade. Ambos, porém, jamais expuseram seus sentimentos em palavras...


 


Seus corpos tinham necessidades que eles negavam fazia tempos... Tinham medo de machucar um ao outro... Tinham medo de que aquilo tudo acabasse...


 


Fred não queria mais sair dali. Hermione não o forçava mais a encontrar um apartamento. Tudo estava certo de uma maneira torta... Perfeitamente torta...


 


Mal sabiam eles que, em pouco tempo, o errado viraria certo, e o certo viraria errado. Pois eles não seriam mais duas pessoas confusas. Dois amigos dividindo um apartamento e sentimentos mútuos.


 


De dois, passariam para três... Três corações... Três sentimentos... Três pessoas confusas... Fred... Hermione... e Draco...


 


************************************************************************************


 


Draco pensou milhares de vezes antes de entrar na loja. Sabia que aquilo seria loucura... Porém, ou cometia uma loucura agora ou poderia dar adeus a qualquer possibilidade de um futuro decente...


 


Respirou fundo, entrando na loja n◦ 93. Mal deu cinco passos e foi recebido por um ruivo alto, a cara séria, os braços cruzados junto ao corpo.


 


- O que quer aqui, Malfoy?! – um dos gêmeos questionou, sério.


 


- Vim em paz. – o loiro disse, sabendo o quanto aquilo estava lhe custando – Vim por conta disso. – e desdobrou o recorte de jornal que trouxera no bolso traseiro de sua calça.


 


O rapaz ergueu uma sobrancelha, desconfiado.


 


- Desde quando tem interesse em trabalhar conosco?! – o ruivo quis saber, arrancando da mão de um garoto que passava uma varinha falsa com que ele tentava bater em outro menino menor.


 


- Desde quando as entrevistas são feitas no meio da loja?! – o loiro rebateu, firme.


 


- Desde quando eu sou um dos donos. – Jorge disse, um sorriso sarcástico nos lábios – FRED! – gritou, chamando o irmão.


 


- Que fo... Quê que ele faz aqui?! – o outro gêmeo questionou, olhando Malfoy de lado.


 


- Quero o emprego. – Draco respondeu, sem esperar por Jorge.


 


- Não contratamos comensais. – o ruivo disse, firme.


 


- Excelente. – o sonserino assentiu, tentando se conter – Pois não sou um! – e estendeu os braços, erguendo ambas as mangas da camisa.


 


Os irmãos se entreolharam, sem nada dizer. Conheciam-se bem o suficiente para compreenderem um ao outro sem palavras...


 


- Escuta. – Draco disse, tentando ao máximo passar por humilde – Sei que vocês não gostam de mim, eu menos de vocês. – disse, no que os gêmeos abriram as bocas ao mesmo tempo – Mas eu preciso desse emprego. – enfatizou, sério – Realmente preciso!


 


- Por quê?! – Fred quis saber, sério.


 


Draco respirou fundo, retirando um folheto de dentro do bolso.


 


- Curandeiro? – Jorge murmurou, descaso e surpresa impregnados em sua voz – Você quer ser curandeiro?


 


Draco assentiu com um aceno de cabeça.


 


- Preciso de um emprego pra pagar a mensalidade e tudo o mais. – disse, detestando-se por aquilo. Odiava dar satisfação aos outros.


 


- E por que não usa sua fortuna? – Fred quis saber, olhando-o, desconfiado.


 


- Porque eu não tenho mais fortuna. – o loiro disse, revirando os olhos – Meu dinheiro está bloqueado. Todas as contas que meus pais abriram, estão bloqueadas. Só serão descongeladas depois de uma avaliação do Ministério e eu já sei que isso pode demorar meses, talvez anos. Não posso esperar tanto tempo!


 


Mais uma vez, os gêmeos se entreolharam...


 


- Por que aqui?! – Jorge perguntou, levando as mãos aos bolsos da calça – Quero dizer, por que nós? Por que a Gemialidades Weasley?


 


Draco respirou fundo, trocando o peso de uma perna para outra.


 


- O horário é perfeito pra mim. – disse, sendo prático – O curso de Curanderia só vira integral no último período, ou seja, no terceiro ano. Até lá, posso fazer as aulas à noite e trabalhar aqui durante o dia. Vou conseguir pagar o curso, o material, minhas despesas... Até que o Ministério desbloqueie minhas contas.


 


Fred assentiu com um aceno de cabeça.


 


- E isso não tem nada a ver com o fato de você não conseguir outro emprego. – Jorge murmurou, debochado, vendo os punhos do loiro se fecharem.


 


- Apesar da ajuda da Ordem, ninguém quer me dar um emprego. – Draco assentiu, impaciente – Pensei até em tentar um cargo no Ministério, mas os cursos, em sua maioria, são durante o dia, o que me tira a chance de conseguir um emprego decente.


 


- Poderia trabalhar durante a noite. – Fred sugeriu, no que o loiro fez uma careta.


 


- Prefiro estudar a trabalhar de noite. – o sonserino disse, respirando fundo – E então? Vão pelo menos me dar uma chance?


 


Um novo olhar entre os gêmeos.


 


- Espere aqui. – Jorge disse, saindo com seu irmão para os fundos da loja, levando consigo uma jovem de não mais de 17 anos, que trajava calça jeans e uma blusa de mangas, além do avental laranja da loja.


 


Draco olhou ao seu redor, andou de um lado para o outro. Tinha que admitir que a loja dos gêmeos era bastante interessante.


Bruxa Maravilha, uma das melhores linhas de poção do amor que se pode encontrar no mundo da magia... Caramelo incha-língua, cremes de canário, fantasias debilitantes, febricolate, feitiços patenteados para devanear... Fogos espontâneos Weasley, kit mata-aula, mini-pufes... Orelhas extensíveis, nuga sangra-nariz...


 


O loiro sorriu ao pegar uma caixa que dizia “marcas negras comestíveis”.


 


Um pigarro chamou sua atenção. Ele devolveu o produto para a prateleira. Prendeu a respiração, esperando...


 


- Você está em experiência. – Fred disse, enfatizando cada palavra, enquanto Jorge entregava ao loiro um avental laranja com o nome da loja bordado em alto relevo.


 


- Suzana irá lhe explicar como as coisas funcionam. – Jorge disse, o olhar preso no loiro, indicando a jovem de cabelos negros e mechas rosa ao seu lado – Qualquer dúvida, pode perguntar a ela.


 


- Você começa amanhã. – Fred explicou, ao ver que o loiro já amarrava o avental em sua cintura – Abrimos as 8:00, os funcionários chegam as 07:30.


 


- Precisamos pôr tudo em ordem. – a menina disse, um sorriso brilhante nos lábios – Chegue cedo e eu direi o que deve fazer.


 


Draco assentiu com um aceno de cabeça, seu eu interior pulando de alegria.


 


- Hoje é terça. – Fred disse, explicativo – Se não fizer nenhuma bobagem até domingo, será contratado.


 


- Abrimos todos os dias. – Jorge disse ao ver que o sonserino abrira a boca para perguntar – Das 08:00 as 19:00, de segunda a sexta. 08:00 às 17:00 aos sábados. Das 09:00 as 13:00 nos domingos.


 


- Temos um sistema de escala entre todos os funcionários. – Fred continuou – Cada um tem direito a uma folga por semana. Podem trocar entre si as folgas, caso precisem.


 


- Caso seja contratado. – Jorge tomou a fala – Terá direito ao que a Lei Bruxa de Ensino lhe confere: em dias de prova, trabalhará meio período apenas.


 


- Sem descontos, sem compensação de horas. – Fred explicou, antes que Draco perguntasse algo.


 


O rapaz assentiu com um aceno de cabeça. As vantagens não eram em nada ruins...


 


- Entendeu tudo? – Jorge quis saber.


 


- Nenhuma dúvida? – Fred perguntou.


 


O loiro apenas assentiu e negou com a cabeça.


 


- Ok, está dispensado. – os ruivos disseram, em uníssono.


 


- Até amanhã! – Suzana o cumprimentou, voltando correndo para os fundos da loja onde dois garotos ameaçavam brigar e derrubar alguns produtos das prateleiras...


 


Draco respirou fundo o ar gélido do Beco Diagonal assim que saíra da Gemialidades Weasley. Definitivamente, jamais pensara que aquilo fosse dar tão certo...


 


************************************************************************************


 


Hermione se espreguiçou na cama, demoradamente. Virou de um lado para o outro, sentindo o lençol de linho enrolar-se em suas pernas. Um sorriso bobo... Adorava os sábados...


 


Era o dia em que podia acordar mais tarde, pois não tinha a obrigação de acordar cedo para ir trabalhar. Também era o dia em que podia dormir mais tarde, pois o dia seguinte sempre seria domingo e ela poderia permanecer na cama por mais tempo... O tempo que quisesse...


 


Também podia ter o dia todo para si. Se quisesse ficar em casa sozinha vendo algum filme ou ir visitar seus pais. Fazer compras ou visitar o zoológico ou algum museu... Independentemente do que optasse, seria sua escolha. E Hermione adorava isso...


 


Pôs-se de pé, alongou-se. Ajeitou alguns fios de cabelo, saiu do quarto.


 


- Bom dia, flor do dia. – sorriu ao ver o ruivo sentado a mesa, uma torrada na mão.


 


- Bom dia. – disse, apanhando uma xícara e colocando café – Já está pronto? – comentou, ao ver que ele usava uma calça jeans e uma camisa de mangas compridas vermelha.


 


- Meu dia de chegar cedo à loja. – ele explicou, levantando-se e pondo um cachecol branco – Vai aparecer por lá hoje? – perguntou, segurando o apoio da cadeira que ela usava.


 


- Posso pensar no seu caso... – brincou, tomando um gole do líquido fumegante – Quer almoçar comigo? – arriscou, seu eu interior na expectativa.


 


- Posso pensar no seu caso... – o ruivo devolveu, rindo da careta que ela fez – Podemos almoçar no Beco mesmo. As 13:00 está bom pra você?


 


A morena fez que sim com a cabeça. Fred sorriu e depositou um beijo na bochecha dela, muito próximo da linha da boca.


 


- Nos vemos mais tarde! – disse, entrando na lareira da sala.


 


Hermione balançou os cinco dedos, dando tchau. Soltou um longo suspiro. Precisaria pensar na roupa que iria usar...


 


************************************************************************************


 


Malfoy andava de um lado para o outro, tentando se controlar. Estava prestes a explodir. De nervoso. De desespero...


 


- Só mais um dia... – repetia para si, como um mantra, carregando uma caixa debaixo de um braço e repondo o estoque de creme de canário nas prateleiras – Só mais um dia...


 


- Vai tomar uma água! – a voz de Suzana ecoou atrás de si, onde a jovem repunha o estoque de poções do amor – Tem suco de abóbora também. Nina acabou de fazer!


 


- Obrigado, Suzie. – o rapaz disse, sorrindo em resposta – Daqui a pouco, eu trago mais varinhas falsas.


 


- Vai, vai! – a menina assentiu, balançando as mãos na direção dele, sempre um sorriso nos lábios...


 


Draco bebeu dois copos de suco. Gelado, como ele gostava...


 


- Quente aqui! – uma outra garota, Nina, de 18 anos, entrou no pequenino espaço que servia de despensa, pegando um copo de suco para si também.


 


- É sempre assim? – o loiro perguntou, indicando com a cabeça a frente da loja.


 


Nina riu pelo nariz, ainda bebendo.


 


- As aulas estão para começar, sempre tem mais movimento. – assentiu, paciente – Mas você está indo bem. – disse, pondo mais suco em seu copo, tentando encorajá-lo – Tem grandes chances de ficar. Se depender de Suzie e de mim, você fica! – anunciou, piscando um olho para o loiro.


 


Draco ficou feliz ao ouvir aquilo.


 


Voltou para a loja, atendeu um grupo de segundanistas de Hogwarts. Repôs alguns itens nas prateleiras, atendeu mais clientes.


 


Era quase 12:00 dia quando os gêmeos lhe chamaram nos fundos, dizendo que iriam anunciar sua decisão no final do expediente. Draco ficou apreensivo, mas decidiu dar o seu melhor. Aquela vaga seria sua, tinha que ser...


 


Saiu por volta das 14:00 para almoçar, Suzie o acompanhando, Jorge assumindo seu lugar na loja. De início, ficara surpreso ao ver os gêmeos trabalhando. Realmente trabalhando. Achara que, como donos, eles apenas ficavam dando ordens aos seus funcionários. Todavia, como Nina mesma dissera, em seu terceiro dia, os gêmeos gostavam de pegar na massa. Agora, entendia o sucesso da loja dos Weasley...


 


Voltou, trabalhou mais e mais. Parecia que a loja, já apinhada de adolescentes e alguns pais, sempre dava um jeito para que coubesse mais clientes.


 


Dirigiu-se a uma jovem alta e magra, que trajava um vestido branco liso, meia calça preta e uma jaqueta de couro, também preta. Botas de cano curto e salto fino. Os cabelos encontravam-se presos num coque com um pauzinho de madeira. Sorriu, baixinho. “Poderiam ter mais clientes assim...”, pensou, aproximando-se.


 


- Boa tarde. – disse, educadamente – Seja bem-vinda a Gemialid... Granger?! – exclamou, surpreso, quando a morena virou em sua direção.


 


- Olá, Malfoy. – ela o cumprimentou, um sorriso nos lábios – Já soube que você é o mais novo funcionário daqui. – continuou, ainda sorrindo – Meus parabéns!


 


- Ainda não é... Ainda não está nada certo. – o loiro disse, ainda desconcertado. Afinal, sentira-se atraído... pela sabe-tudo!


 


Hermione simplesmente deu de ombros, voltando a olhar as prateleiras.


 


- Feitiços patenteados para devanear. – Draco murmurou, notando o que ela tanto lia.


 


- São excelentes. – a morena explicou, pegando alguns – Principalmente quando se está no trabalho... – murmurou baixinho, e o loiro teve a certeza de que ela havia acabado de dizer em palavras o que pensara, sem se dar conta, porém.


 


- Aqui. – ele lhe entregou uma pequena cesta, no que ela agradeceu.


 


Sabia que precisava ser educado com ela. Sabia que ela era amiga dos gêmeos. Sabia que um deles dividia o apartamento com ela...


 


- Ainda tem... orelhas extensíveis? – ela perguntou, olhando rapidamente em uma pequena lista que trazia consigo.


 


- Quantas? – o rapaz perguntou, parando em frente à prateleira, no final do corredor.


 


- Três. – ela disse, pensando em si, Gina e Luna – E me vê uma caixa de febricolate, um kit mata-aula e uma caixa de creme de canários, por favor.


 


Draco a fitou intensamente, uma sobrancelha erguida.


 


- Que foi? – a morena questionou, sem graça pelo olhar dele sobre si. Tentou ignorar o fato de que seu ventre se contorcia conforme ele a encarava.


 


- ‘Kit mata-aula’? – ele repetiu, um tom irônico em sua voz.


 


Hermione revirou os olhos, bufando.


 


- É para o filho de uma colega de trabalho! – anunciou, paciente – Presente de aniversário.


 


Draco deu-lhe as costas, rindo, indo pegar o pedido da morena. Hermione o seguiu, sem nada dizer...


 


Soltou um longo suspiro, tentando desviar o olhar. Porém, não conseguia tirar os olhos de cima do loiro...


 


Draco estava diferente. Crescera alguns centímetros, deveria estar com quase 1.80m. Seus cabelos loiros estavam um pouco mais compridos atrás e curtos na frente. Um arrepio percorreu a coluna de Hermione quando ele ergueu as mangas da camisa até os cotovelos...


 


Revirou os olhos, tentando ignorar os arrepios que a visão daqueles braços seminus lhe causou. “Idiota!”, pensou consigo mesma. “Fred tem braços mais definidos e fortes!”.


 


Ainda assim, sempre comparando a anatomia do sonserino com a do amigo grifinório, Hermione não pôde deixar de ver como a blusa se ajustava perfeitamente ao corpo, principalmente ao peito largo. Como a calça jeans escura caía como uma luva nas pernas compridas. Como Draco, antes magrelo e sem graça, conseguia ter um bumbum mais desejável que o de Fred...


 


- Granger?! – ela foi tirada de seus devaneios pela voz alta e grave dele – Você ta me ouvindo ou o quê?! – perguntou, pelo que parecia ser a terceira vez – Quer mais alguma coisa???


 


- Não, obrigada! – a garota agradeceu e Draco não entendeu o motivo de ela corar. Sabia que ela não prestara atenção em uma única palavra que dissera antes, mas aí a ponto de corar...


 


Viu-a agradecer mais uma vez e se dirigir ao caixa. “Maluca!”, pensou, uma careta na face pálida. Todavia, pegou-se inclinando a cabeça de lado para vê-la melhor quando um grupo de garotas passou por ela.


 


Repreendeu a si mesmo, indo atender outros clientes que entravam na loja. Tinha muito com o que se preocupar para ficar perdendo seu tempo com Hermione Granger. Por mais bonita e atraente que tivesse ficado...


 


************************************************************************************


 


O último cliente saiu às 17:15. Às 17:40, o caixa já estava fechado.


 


Draco estava tenso, esperando Fred e Jorge saírem do depósito, nos fundos da loja. Recostado em uma das diversas estantes que havia no local, o sonserino evitava morrer de ansiedade...


 


Os gêmeos apareceram, Nina, Suzie e Hermione atrás de si. Pelo que o loiro pôde entender, apesar de não fazer parte do corpo de funcionários ou de ser um dos donos, a opinião dela era de considerável importância. Pensou se isso tinha algo a ver com o fato de ela e Fred Weasley morarem juntos. Pensou se havia algo entre eles que ainda não sabia...


 


- Sente-se. – Fred pediu, no que Draco pegou um banquinho de madeira e obedeceu. Jorge e Hermione encontravam-se sentados no balcão, Nina e Suzie cochichavam entre si ao lado deles.


 


- Bom, Malfoy, é o seguinte. – Jorge começou, sendo prático – Todos nós conversamos e avaliamos o seu desempenho durante esta semana. Já deu pra perceber que eu e Fred nunca tomamos as decisões sozinhos.


 


- Gostamos de ser democráticos. – o outro gêmeo explicou, rapidamente – Assim sendo, foi por unanimidade que decidimos que você fica com a vaga.


 


Draco arregalou os olhos e deixou o queixo cair. Alívio recaiu sobre o seu ser. Conseguira. Finalmente conseguira...


 


- Mas... ‘unanimidade’...? – repetiu, meio confuso, seu olhar recaindo mais uma vez naquele dia sobre Hermione.


 


A morena simplesmente piscou-lhe um olho e sorriu, uma covinha surgindo em seu belo rosto.


 


- Exatamente, Malfoy, unanimidade. – Jorge disse, alheio ao que se passava. Fred, porém, olhava feio para o sonserino, sem perceber que seus punhos haviam se fechado com força – Todos nós queremos você aqui. Por quê? Mudou de idéia?!


 


- Não! – o loiro disse, rápido demais, provocando risadas nas meninas.


 


- Tire sua folga amanhã. – Fred disse, seu tom sério pegando a todos de surpresa – Acertaremos toda a papelada na segunda.


 


Draco assentiu com um aceno de cabeça, exibindo um sorriso branco e perfeito.


 


- Obrigado. – forçou-se a dizer, no que Jorge sorriu-lhe e Fred, deu de ombros, ainda carrancudo.


 


- Isso pede uma comemoração! – Nina exclamou, agachando-se atrás do balcão, pegando sua bolsa transversal vermelho-sangue – Happy hour no Duende Verde?


 


- Tô fora. – Jorge disse, também se preparando pra sair – Combinei com a Kate de jantarmos hoje.


 


Nina e Suzie reviraram os olhos e Draco tentou conter um sorriso fingindo um acesso de tosse.


 


- Tô dentro! – Suzie disse, animada – Mione, Fred???


 


- Fiquei de passar nos meus pais, sinto muito. – o ruivo disse, inventando – Vem comigo? – perguntou, suas íris azuis presas nas de Hermione – Mamãe vive reclamando que você nunca passa lá!


 


- Uhm... – a morena murmurou, meio sem jeito – Sinto muito, Fred, mas eu quero mais é sair pra dançar hoje... – explicou, vendo o ruivo arregalar os olhos, surpreso por sua rejeição – Podemos ir lá amanhã! – ela sugeriu, apressada – A loja fecha cedo, podemos ir almoçar e passar a tarde com eles, o que acha?


 


O ruivo pensou em dizer não, mas a simples idéia dela, sozinha, com Draco Malfoy, não lhe agradou em nada...


 


- Tudo bem, vamos amanhã, então. – disse, no que Nina e Suzie soltaram gritinhos de alegria.


 


- Vamos, então, que daqui a pouco me atraso! – Jorge disse, e todos saíram da loja.


 


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