Capítulo IX
Oi, oi povo!!!
Chegamos ao primeiro capítulo da segunda parte do livro, a partir daqui as coisas começam a se revelar e se encaixar. Comecem a fazer suas apostas, vamos ver quem é o vilão da história.
Nana, nossa que poético o seu comentário!! É, o dilema do Draco não é fácil. Podemos até pensar que seja sim fácil, mas pra aquela época, muitas outras coisas tinham prioridades distintas, não é fácil combater o orgulho e as tradições de família. O que você faria se fosse você.
Bjs e boa leitura!!!
*****
Hermione entregue à vertigem dos pensamentos que lhe enchiam o cérebro, caminhava apressadamente, ansiosa por se ver junto do pai e de Alexis, provavelmente bastante inquietos pela sua prolongada ausência. Pensava na conversa que há pouco tivera com o Conde Malfoy e durante a qual ele havia revelado o profundo sofrimento e a luta pungente que lhe avassalavam a alma. “Como conseguiria libertar-se desse orgulho de casta, dessas falsas idéias, e cumprir o seu verdadeiro dever, apoiado numa incontestável vocação? Ah! Iria rezar por ele, a fim de que Deus o iluminasse e lhe desse a suficiente energia para quebrar de vez essas cadeiras!” — pensava Hermione.
“E esse Parkinson, como era adulador! Que criatura falsa e desprezível!” — Sentia grande desprezo por esse homem irritante com o seu servilismo melífluo. “Talvez Ginny tenha razão em supor que ele almeje para a filha a dignidade do título de Condessa Malfoy, a fim de enxertar a sua tenra nobreza nesse velho tronco secular. Naturalmente, não devem ignorar a precária situação financeira dos Malfoy e decerto, por isso mesmo, vêem mais probabilidade de levar a bom êxito tal objetivo. Mas como estão enganados nesse caso!... Sim, creio que jamais o Conde Draco...”
Interrompendo os seus pensamentos, Hermione evocou o lindo semblante de Pansy e disse de si para si, com algum mal-estar: “Entretanto, nunca se pode afirmar nada com certeza. Se ela lhe agradar e se ele se sentir ameaçado de completa ruína...”
A jovem acabava de entrar no atalho que ia dar no portão dos fundos do parque de Runsdorf. Ouviu-se um galopar de cavalos na estrada. No momento em que ia abrir o portãozinho, um cavaleiro e uma amazona entraram pelo atalho. Reconheceu imediatamente o Barão de Parkinson e sua filha.
— Em Nunsthel estão a indagar qual foi o seu fim, jovem heroína — disse o barão num tom sarcástico — Por que fugir como se tivesse sido a autora do crime e negar-se a receber as felicitações?
— Não havia nenhuma razão para me demorar lá, e o senhor mesmo poderá reconhecer isso — replicou Hermione friamente.
— Oh! A senhorita é modesta, muito modesta... Uma humilde violeta que gosta de se esconder sob a sombra do velho Runsdorf...
Estas palavras, pronunciadas pelo barão com estudada ironia, foram acompanhadas de um risinho zombeteiro de Pansy, cujos olhos negros fitavam a Srta. Granger com a mais maldosa das expressões.
Hermione replicou secamente:
— Sou o que devo ser em minha situação e não me apraz, absolutamente, ser felicitada por um ato muito natural que outra qualquer pessoa faria estando em meu lugar.
— E que a senhorita faria por qualquer pessoa, não é? Hum! Permita-me que eu ponha isso em dívida, Srta. Granger! O movimento não teria sido certamente tão instintivo, tão pronto, se se tratasse de outra pessoa que não o Conde Malfoy...
O sangue subiu ao rosto de Hermione.
— Que significa essas palavras, barão? — disse ela, a cabeça altivamente erguida.
— Não se ofenda. A senhorita não é a primeira jovem que se enamora do Conde Draco e eu mesmo me reprovaria, já que se apresentou esta ocasião, se não a prevenisse do perigo que a ameaça. Os dotes físicos e intelectuais do conde, o prestígio da sua classe, influíram sobre a senhorita. Talvez ele goste de lhe fazer a corte por uns momentos, para se distrair. Mas pense na decepção, na dor que vai sentir quando perceber que, apesar de toda a sua inteligência, de todo o seu valor moral, a senhorita foi apenas um simples brinquedo nas mãos desse grande fidalgo que, nem por sombras, teve a idéia de uma aliança desigual!
Os olhos de Hermione se enevoaram, fitando com rancor os olhos falsos daquele homem desprezível que a interpelava com irônica malícia.
Era ela agora que zombava dele:
— Como o senhor soube arranjar depressa um romance do qual me fez a mais infeliz das heroínas! E, sendo o senhor amigo do Conde Malfoy, deu-lhe um papel muito ridículo de vilão! Mas tranqüilize-se! Pode estar certo de que os seus temores não passam de pura imaginação. Entretanto, agradeço-lhe a solicitude, tanto mais desinteressada quanto, segundo o senhor diz, o conde nunca fará uma aliança desigual, mesmo que seja ricamente dourada.
Mal terminou estas palavras, inclinou ligeiramente a cabeça e entrou no parque.
— Insolente! — disse raivosamente Pansy, cujo rosto ficou vermelho de cólera.
O barão deu de ombros.
— Ela foi cutucada e isso é o essencial. Como a julgo bastante altiva, de agora em diante desconfiará de si própria e do conde. Este, provavelmente, está em vias de se apaixonar por ela, coisa, aliás, bem compreensível, porque essa moça é realmente belíssima, dotada de raro encanto e de elegância tão notável quanto a da cônega. Além disso, possui uma inteligência muito acima do comum. Confesso-lhe, Pan, que eu gostaria de vê-la longe daqui, porque, apesar do orgulho dos Malfoy, ela ainda pode ser um sério obstáculo aos nossos projetos.
— Bem que o vejo. Ela é uma fortaleza! O senhor nem conseguiu intimidá-la — disse Pansy, colérica, chicoteando a montaria.
Se a jovem Baronesa de Parkinson pudesse ver nesse momento aquela que considerava como sua rival, teria ficado satisfeita. Hermione andava lentamente por uma das alamedas do parque como se, repentinamente, tivesse sido dominada pela fadiga. Seu coração batia descompassadamente, suas faces escaldavam. Esse Parkinson, hipócrita e maldoso, acabava de insultá-la, fingindo canalhamente que lhe prestava um obséquio. Julgava, sem dúvida, que ela atrapalhava os planos de sua filha de atrair por todos os meios a atenção do Conde Draco. Que engano o seu! O conde estimava a filha do professor Granger – e isso em alto grau, pois de modo contrário não lhe teria confiado as suas dúvidas, o seu secreto sofrimento, mas quanto a se apaixonar por ela...
E por que imaginara esse homem que ela, Hermione, obedecera a outro sentimento, que não a um instintivo impulso altruístico, ao lançar-se na frente do criminoso que ameaçava o jovem senhor de Runsdorf? Hermione estava convencida de que, se por exemplo a cônega estivesse no lugar do sobrinho, teria agido do mesmo modo. Oh! Como a humanidade é má!
Em uma das voltas da alameda, sentou-se num dos velhos bancos. Precisava dar tempo para se refazer da emoção que a dominava, por que senão o professor e Alexis perceberiam tudo em seu rosto. Ora, era inútil irritá-los com a narrativa do incidente ocorrido com os Parkinson.
Quando se sentiu mais senhora de si, enveredou por um atalho que levava ao seu apartamento. Ao dobrar o ângulo do edifício, viu à sua frente o Conde Malfoy, que chegava pelo outro lado.
— Assustei-a, senhorita? — perguntou ele, vendo que ela se sobressaltou ao vê-lo.
As faces da moça estavam rubras.
— OS passos se ouvem mal neste chão molhado, não é mesmo, senhorita?
— Não, eu estava meio distraída... E estou ainda com os nervos um pouco abalados, mas não me assustou.
— A senhorita precisa tomar um calmante e repousar um pouco. Parece que está muito fatigada. O Dr. Slughorn verá amanhã ver o ferimento de sua mão. Está sentindo muita dor?
— Pouca, bem suportável.
— Tanto melhor! Fico, assim, mais tranqüilo. Eu vinha também contar-lhe que o Sr. Weasley julga reconhecer naquele homem o filho da velha Bagshot.
— Aquele que a abandonou?
— Sim, um indivíduo muito mau, de quem ela não tem notícias há muitos anos. Talvez saibamos alguma coisa quando ele se restabelecer. Ah! Eis o professor!
No limiar da porta envidraçada apareceu Adrian , que não conteve uma exclamação de susto ao ver toda enfaixada a mão da filha. Hermione o tranqüilizou. Depois, o Conde Malfoy, convidado para entrar, narrou o que acontecera. Hermione teve que ouvir todos os seus elogios e agradecimentos. Em seguida, retirou-se para repousar, conforme lhe fora recomendado; mas, em vez de se dirigir ao seu quarto, tomou, por intermináveis corredores, o caminho da capela, situada na outra extremidade do castelo.
Só a lâmpada do tabernáculo é que punha um ponto luminoso na escuridão do pequeno santuário, severo e sombrio como todo o velho Runsdorf. Ma meia-obscuridade, Hermione adivinhou a cônega, ainda envolta no seu manto preto, ajoelhada junto à balaustrada.
A jovem ajoelhou-se também, apoiando a fronte nas mãos unidas. Ficou assim um longo tempo, procurando ver claro em sua alma transtornada por estranha emoção. Depois estremeceu, erguendo para o tabernáculo um olhar angustioso, pensando:
“Que loucura! Não, isso não pode ser, sei-o bem, meu Deus! Oh! Senhor, tende piedade de mim! Iluminai-me! Daí-me forças para que eu possa cumprir o meu dever e para que eu esqueça o que compreendi hoje! Oh! Meu Deus, Todo Poderoso, não me desampareis! Daí-me forças para ocultar este amor que só agora adivinhei em meu coração!”
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!