Além do véu



- Merda! – Draco exclamou, puxando o sobretudo mais para si, buscando esquentar-se – Odeio essas coisas. Odeio!


 


Harry revirou os olhos ao seu lado, guardando o comentário ferino que estivera prestes a dizer para si mesmo. Não valia a pena discutir com Malfoy. Jamais valeria...


 


Um vento frio soprou pela colina, e ambos os rapazes olharam para cima. O céu sobre eles estava negro, sem uma única estrela para iluminar a escuridão. A luz da lua, por sua vez, reluzia sobre eles, um brilho prata avermelhado, como se o astro da noite sofresse pelo que eles estavam prestes a fazer. Quebrar todas as regras... Naturais... Sobrenaturais...


 


Um uivo ao longe. Ambos viraram as cabeças para a direita. As copas das árvores esvoaçaram, algumas folhas caíram...


 


- Merda! – Draco tornou a praguejar, inquieto.


 


- Shhh! – Harry retrucou, sério, os olhos vidrados no bosque à sua frente.


 


Segundos depois. Poucos minutos. Três vultos encapuzados saíram das sombras.


 


Passos largos. Silenciosos...


 


Harry prendeu a respiração e aguardou a aproximação dos três. Draco praguejou novamente em sua mente, completamente arrependido por estar ali. Mas não podia se arrepender. Aquilo era importante demais para ele... Potter jamais entenderia...


 


- Boa noite, Harry. Draco. – a figura da ponta esquerda disse, erguendo as mãos e abaixando o capuz que cobria sua face.


 


- Lupin. – Harry disse, um sorriso despontando em seu rosto – Boa noite. – disse, meneando levemente a cabeça, na direção dos outros dois vultos, que agora retiravam também os seus capuzes.


 


- Zach e Sarah. – Lupin apresentou os companheiros, polidamente.


 


- Lobisomem, como o Remo aqui. – Zach estendeu a mão, um sorriso cativante no rosto, cumprimentando os bruxos.


 


Diferentemente de Lupin, Zach visivelmente não tinha problemas com sua origem. Transformado desde os cinco anos de idade, o jovem de 23 anos sabia lidar muito bem com suas transformações; tomava suas poções regularmente e adquirira uma enorme habilidade para controlar seu gênio difícil nos períodos de lua cheia. Alto, com cerca de 1.90m, ombros largos e braços definidos, era o lobisomem perfeito que Harry e Draco precisavam.


 


- Oi! – Sarah cumprimentou os dois bruxos, sorrindo, animadamente – Lican diferencial.


 


Draco arregalou os olhos, visivelmente surpreso.


 


- Pensei que fosse lenda. – disse, apertando a mão da jovem, que não aparentava ter mais de 21 anos.


 


- Todos pensam, querido. Todos pensam... – a menina sorriu, aparentemente satisfeita.


 


- Sarah é uma raridade entre os licantropos. – Lupin disse, tranquilamente – Ao contrário de nós, ela consegue controlar suas transformações, tornando-se lobo sempre que precisa, mesmo quando não há lua cheia no céu.


 


- Sou uma espécie de superdotada, como os trouxas costumam dizer. – disse, sem parar de sorrir.


 


- Os dois irão com você. – Lupin explicou, voltando-se para Draco – São excelentes guarda-costas, os melhores que temos.


 


Draco assentiu com um aceno de cabeça. Porém, sem proferir uma palavra. Ainda não acreditava no que estava prestes a fazer. Se pudesse simplesmente matar Harry Potter...


 


- Arg!!! – Sarah voltou-se para as colinas, ao lado do bosque – Que fedor é esse?!


 


O restante do grupo olhou na mesma direção. Zach franziu o cenho e remexeu o nariz, incomodado. Lupin simplesmente abaixou a cabeça e sorriu, um sorriso triste e melancólico.


 


Por uma fresta entre a floresta e as pedras que formavam a colina, duas figuras saíram, cobertas da cabeça aos pés, por longas capas de veludo cinza-escuro. Continuaram andando, sem parar um minuto, até alcançar o grupo que se encontrava no centro da clareira. Aos seus pés, não era possível ouvir as folhas que se partiam conforme as figuras pisavam o chão. Draco mesmo ficou perplexo pela quietude com que os dois caminhavam. Não pareciam sequer tocar o solo...


 


- Boa noite. – uma voz grossa ecoou pela clareira.


 


Um rapaz, de cerca de uns 27 anos, retirou o capuz e cumprimentou os presentes. Sua pele era de um branco pálido, com os olhos verdes oliva e cabelos loiros escuros. Seu sorriso continha um ‘quê’ irônico, o que era acentuado mais ainda pela covinha que se formava no canto direito de sua boca. Seus dentes eram perfeitamente alinhados e brilhantes. Aparentemente estava descontraído e tranqüilo, mas sua postura jamais deixou de aparentar que estava prestes a atacar, se necessário o fosse.


 


- Oi, Mione... – Harry disse, um tanto emocionado.


 


A jovem, ao lado do vampiro, acabara de retirar o próprio capuz. Draco deixou a boca entreabrir alguns centímetros.


 


- Você...? – murmurou, ainda surpreso – Como...?


 


Hermione manteve-se quieta. Seu rosto não demonstrava nenhuma emoção. Draco não conseguiu acreditar. A pele, antes morena, parecia agora mais clara. Os cabelos não eram mais revoltados, mas, sim, perfeitamente encaracolados. Seus olhos, antes da cor de duas amêndoas, pareciam frios e gelados.


 


- Como você está? – Harry tentou retomar a conversa, sem sucesso.


 


- Como você acha que estou? – a voz da morena era fria e repleta de rancor.


 


- Mione, você sabe q...


 


- Sei. – a jovem o interrompeu, secamente – Sei muito bem que você teve culpa! – enfatizou, ríspida.


 


- Hermione. – Lupin disse, pondo fim a discussão.


 


A morena voltou-se para ele e um suspiro escapou por seus lábios.


 


- Professor. – ela disse, sua voz mais branda desta vez – É sempre um prazer.


 


- Sempre. – Lupin concordou, seu sorriso se ampliando.


 


Draco observou a cena, confuso. Para ele, era visível que ambos lutavam contra algo maior que si mesmos. Lobisomens e vampiros. Inimigos eternos. Porém, Hermione Granger e Remo Lupin nunca foram inimigos. Não até se tornarem duas criaturas com naturezas completamente opostas.


 


E, antes de qualquer coisa, como diabos ela havia se tornado um vampiro? E por que toda a frieza para com o antigo companheiro de Casa?


 


Draco pensou e teve um súbito pressentimento. Será que Potter era o responsável pela transformação de Hermione Granger? Será que ele seria capaz de algo tão baixo?


 


- Zach e Sarah. – Lupin tornou a apresentar os amigos.


 


- Dean Winchester. – o outro vampiro apresentou-se, sem deixar de sorrir.


 


- Muito bem. – Hermione disse, respirando fundo, levando um comprimido azul à boca, entregando outro, em seguida, ao seu companheiro – Vamos logo com isso.


 


Dean riu pelo nariz e engoliu o comprimido. Lupin arregalou os olhos, evidentemente surpreso.


 


- É o único jeito. – Hermione disse, estendendo duas pílulas vermelhas para os lobisomens.


 


- O que é isso?! – Harry perguntou, confuso.


 


- Verbena, wolfsbane, raízes de valeriana, asfódelo em pó, losna. – Hermione citou, sem emoção – Em quantidades proporcionais para a necessidade de cada um de nós.


 


- Em suma, vai alterar nossa percepção. – Dean disse, sorrindo marotamente – Vocês serão toleráveis para nós e nós, para vocês. – explicou, fitando Zach e Sarah, que olhavam, desconfiados, para as pílulas na palma da mão de Hermione.


 


- Como saberemos que isso não é uma armação?! – Zach questionou, sério.


 


Os olhos de Dean se estreitaram e um ruído ecoou, baixinho, de seu interior, numa espécie de ranger de raiva.


 


- Calma, garoto, calma. – Hermione disse, tocando Dean no braço – Eles não nos conhecem.


 


Dean procurou se endireitar e deu as costas ao grupo, andando alguns passos pela clareira.


 


- Desculpem-nos. – Lupin pediu, embaraçado, pegando as pílulas e entregando-as aos seus amigos – Mas, Mione... Você compreende, não?


 


- Sem problemas, professor. – a morena esboçou um sorriso – Também reagiríamos da mesma forma.


 


- Ok, então... – Sarah disse, mirando sua pílula, engolindo-a em seguida, fazendo careta – Vamos repassar o que sabemos.


 


- Ao atravessarmos o véu, entraremos na terra dos mortos. – Harry disse, pausadamente.


 


- Por que diabos você está usando ‘nós’ se você não vai?! – Hermione questionou, seu tom frio e baixo causando arrepios no rapaz – Ou por um acaso você decidiu honrar as calças que veste, tornar-se um homem e nos acompanhar?


 


Harry balbuciou algumas palavras ininteligíveis e corou fortemente.


 


- Ele não vai. – Draco disse, um ‘quê’ de desdém impregnado em sua voz – Covarde demais para isso.


 


- Você? – Hermione perguntou ao loiro, depois de olhar com nojo para Harry durante alguns minutos.


 


- Garanto que não vou por livre e espontânea vontade. – o sonserino respondeu, mirando Harry de soslaio.


 


- Enfim. – Zach interrompeu a pequena discussão – Atravessamos o portal com o véu e damos em Hades, ok. – encurtou, sendo prático, uma característica sua – Daí, temos que procurar essa bendita pedra da ressurreição e trazer de volta, só isso?


 


- Basicamente. – Dean respondeu, voltando para perto de Hermione, a abraçando pela cintura com um braço – Acontece que lá não sabemos ao certo o que iremos encontrar, então...


 


- Detalhes. – Hermione e Sarah disseram juntas, surpreendendo-se.


 


- Ok, então vamos logo. – Draco resmungou, impaciente – Quanto mais rápido formos, mais rápido voltamos.


 


- Tomem. – Harry distribuiu pequenos frascos de poções para os presentes – Impedirá que vocês morram ao atravessar o véu. Isso permitirá que vocês voltem vivos para cá.


 


Hermione e Dean trocaram um rápido olhar. Em seguida, a morena fez o mesmo com Remo, que, discretamente, assentiu com um aceno de cabeça. Tudo passou despercebido por Draco e Harry.


 


O grupo destampou os frascos e cada um sorveu o conteúdo de sua poção. Em seguida, rumaram para um palco de pedra antiga e rachada, que continha um arco e um véu negro suspenso. Fora trazido para li diretamente da antiga sala da morte, no Ministério da Magia.


 


- Hermione! – Harry chamou uma vez, mas a menina sequer lhe deu atenção. Afastou-se e imediatamente atravessou o véu, desaparecendo da clareira, sem saber ao certo se ali retornaria um dia...


 


 


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Hermione caminhou alguns passos para o lado, espreguiçou-se. Olhou para frente e deu um suspiro. Realmente, aquilo não era exatamente o que ela esperava encontrar...


 


- Ui! – Dean exclamou, surgindo pelo portal, e indo até Hermione – Noooossa! – disse, olhando ao seu redor – Isso, sim, é um obstáculo...


 


Hermione sorriu pelo nariz, achando graça.


 


- Nooooossa! – Sarah murmurou, os olhos fixos na enorme paisagem que crescia à sua frente – Inacreditável...


 


E era mesmo. Aos seus pés, um enorme penhasco, formado de pedras escuras e limo, tão profundo e sombrio que era praticamente impossível vislumbrar seu fundo. Sua garganta parecia ter milhares e milhares de kilometros de extensão.


 


- Merda! – Draco resmungou, assim que saiu pelo véu, após Zach, e avistou a cena – Merda!


 


- Há uma faixa de terra logo após o precipício. – Hermione disse, segurando o que parecia ser uma luneta aos olhos – Uma floresta... Ruínas... Não dá pra precisar exatamente o que há depois... É como se o horizonte...


 


- Terminasse aí. – Dean completou, sorrindo, marotamente – E é exatamente isso. Estamos no fim do mundo, minha cara. – disse, estreitando os olhos, conseguindo vislumbrar exatamente o que a morena dissera sem precisar de instrumentos - E aposto minha eternidade que a maldita pedra da ressurreição se encontra lá. Onde o horizonte termina...


 


Zach e Sarah trocaram olhares preocupados. Draco coçou a cabeça, nervoso.


 


- Ok, é o seguinte. – Dean voltou-se para o grupo, sério – Agora ou nunca. Se alguém for amarelar no meio do caminho, melhor avisar logo e deixamos esperar aqui até nós voltarmos. Lobos?


 


- Ha ha. – Sarah disse, debochadamente.


 


- Malfoy?


 


Draco nada respondeu, pensativo que estava. Porém, sabia que não poderia voltar atrás. Não agora que já havia cruzado o véu...


 


- Muito bem, então. – Hermione disse, retirando a capa que ainda vestia – Remo explicou a vocês?


 


- Uhum. – Zach assentiu, repetindo o movimento de Hermione, retirando a capa que vestia – Está com as poções?


 


- Aqui. – Hermione passou quatro frascos para cada um. Malfoy ficou observando, sem entender.


 


A morena respirou fundo, tentando manter-se calma.


 


- Não confiamos no Potter. – disse, caminhando alguns passos, parando de frente para Draco – Sabemos que ele quer a pedra da ressurreição, mas não sabemos, exatamente, do que ele seria capaz para obtê-la. Sendo assim, eu mesma preparei essas poções. Temos que tomá-las duas vezes ao dia, todos os dias, enquanto estivermos presos aqui. Impedirá que o efeito do véu recaia sobre nós.


 


- Ou seja, você não morre. – Dean definiu, piscando um olho para o loiro.


 


- Exatamente. – Hermione assentiu.


 


- Acabamos de tomar essa poção. – Draco disse, confuso.


 


Hermione meneou a cabeça, cética.


 


- Aquilo o que o Harry nos deu nem de longe se parece com esta poção. Só três pessoas nesse mundo sabem preparar esta poção e, acredite, o Potter não é uma delas.


 


- E você sabe?! – o sonserino questionou, descrente, começando a se preocupar – E, se souber, o que nos adianta? Se já atravessamos o véu... – seu estômago se contorceu – Iremos morrer... Merda... Eu vou morrer...!


 


- Não, não vai. – Hermione disse, calma – Eu fiz você beber a poção correta antes de entrarmos.


 


- Como?! – Draco questionou, irritado – Eu não me lembro de você...


 


- Assim que você aparatou na clareira com o Potter. – Hermione o interrompeu – Você se lembra de ter tido uma vontade louca, absurda e repentina de ir ao banheiro.


 


- Lembro. – o loiro assentiu, franzindo o cenho – Não entendi nada, afinal, eu não queria fazer...


 


- Maldição Imperius. – Dean explicou, indicando com a cabeça Hermione, enquanto guardava em sua mochila a capa que usara – Você sequer sentiu.  – e riu, achando graça.


 


- Desculpe-me, mas foi necessário. – Hermione explicou-se ao ver o olhar de assombro do loiro recair em si – Não podia arriscar nossas vidas.


 


- Eles? – Draco questionou, olhando para os licantropos.


 


- Remo pegou, hoje mais cedo, as poções com ela. – Zach disse, paciente – Você viu, as duas pílulas vermelhas.


 


- Sabíamos que podíamos confiar nessa sugad... nela. – Sarah disse, corrigindo-se a tempo – Confiamos em Remo e, conseqüentemente...


 


- Mas e a poção do Potter? – Draco não se conformava – O que diabos acabamos de beber?!


 


- Uma mistura risivelmente fraca do que acabei de lhe dar. – Hermione disse, suspirando em seguida – Não seria eficiente nem por dez minutos aqui dentro.


 


- Eu mato aquele desgraçado! – o loiro vociferou, furioso – Mato. Eu juro que mato!


 


Hermione riu pelo nariz, meneando a cabeça negativamente.


 


- Enfim. – Zach disse, parando à beira do precipício – Quando voltarmos, cuidaremos do Potter. Agora... Alguma idéia de como iremos atravessar esse abismo?


 


Desta vez, foram Dean e Hermione que trocaram olhares.


 


- Bom... – o rapaz murmurou, mordendo o lábio inferior, olhando de soslaio para Hermione.


 


- Rapel em positivo. – a morena assentiu, bufante, olhando para o abismo – Não tem outro jeito...


 


- Trouxe um conjunto. – Dean disse, abrindo sua mochila, retirando miniaturas que Draco não conseguiu identificar o que fossem, nem mesmo quando Hermione meneou sua varinha e as devolveu ao tamanho original.


 


Com outro manejo de varinha, a grifinória transformou o único conjunto para a prática do rapel em cinco.


 


- Muito bem, você explica a eles. – Hermione ordenou ao outro vampiro – Eu cuido da iluminação.


 


- Mosquetões, fitas tubulares, ancoragens back-ups... – Dean começou, mas Malfoy ouvia em grego – Corda estática, arnês, luva, freio, capacete, baudriers...


 


Malfoy desistiu. Não conseguia entender uma palavra sequer que o vampiro dizia, mesmo ele demonstrando o que vinha a ser cada coisa. Estava disperso. Não era para menos, afinal, acabara de saber que Potter tentara matá-lo. Não somente a si, mas a todos que estavam com ele ali. Não sabia se deveria confiar em Hermione Granger.


 


“Mas o que diabos...?”, pensou, franzindo o cenho, vendo a garota andar, de um lado para o outro, na beirada do precipício. “Maluca!”, pensou. “Qualquer deslize... e já era...”


 


- Oi!!! – Draco sentiu-se puxado pelo sobretudo, violentamente – Atenção! – Dean disse, soltando-o – Um erro, e eu garanto uma coisa: você só cai uma vez...


 


Draco se desvencilhou do homem, irritado. Detestava ser tratado como criança. Olhou mais uma vez para Hermione, que brandia sua varinha de um lado para o outro, antes de voltar a prestar atenção nas instruções de Dean. Retirou seu agasalho, ficando com a calça jeans, uma camisa de mangas compridas preta e uma camisa de mangas curtas cinza por cima.


 


Arriscou uma nova espiada em Hermione depois de uns dez minutos. A morena continuava andando de um lado para o outro, brandindo sua varinha.


 


- Ora de vestir. – Dean disse, auxiliando cada um no colocar exato do equipamento.


 


Draco percebeu que tanto Zach quanto Sarah ouviam atentamente e obedeciam sem problemas as ordens dadas pelo vampiro. Respirou fundo, pensativo. Teria que tirar aquela estória a limpo mais cedo ou mais tarde. Será que eles já se conheciam de alguma maneira? Será que Lupin dissera algo...?


 


- Mione? – Dean a chamou, no que a morena prontamente se afastou do penhasco.


 


- Estamos prontos. – ela confirmou uma pergunta não feita, abaixando-se e vestindo o equipamento de rapel.


 


Draco teve de se endireitar ao perceber que seu pescoço havia reclinado, involuntariamente, para observar melhor as formas da morena.


 


Pigarreou baixinho, olhando ao redor, sem nada ver. Aquilo era ridículo. O fato de ela ter se tornado vampira com certeza era o responsável pelas mudanças que seu corpo enfrentava frente à grifinória. Afinal, não poderiam ser as curvas dela as únicas responsáveis pelo suor em suas mãos e pelos arrepios que estava tendo na nuca... Seriam...?


 


- Definitivamente, não! – murmurou, irritado, para si mesmo, tentando se controlar.


 


- O quê? – Hermione perguntou, aproximando-se dele.


 


- ‘O quê’, o quê? – o loiro questionou, engolindo em seco com a aproximação repentina dela.


 


- Você disse ‘Definitivamente, não.’. – a morena citou, fitando-o – Algum problema?


 


- Não. – Draco negou, surpreso por ela ter ouvido tão baixo – E pare de prestar atenção no que digo!


 


- Me desculpa! – a morena ergueu as mãos, afastando-se – Não é culpa minha eu ter adquirido uma audição aguçada... Idiota...!


 


Mas as últimas palavras Draco não conseguiu ouvir, pois a morena falara baixo demais para que simples ouvidos humanos pudessem distinguir mais do que um simples sussurro. Dean, no entanto, conseguiu compreender cada palavra, e não conteve uma risada...


 


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Quinze minutos depois e eles já desciam o enorme paredão de pedra. Dean fazia o papel de segurança, tendo sido o primeiro a descer pela corda. Acima dele, encontrava-se Sarah, Zach e Draco. Hermione fechava o cortejo, tendo sido a última a descer.


 


O local encontrava-se iluminado por diversas lamparinas suspensas, espalhadas estrategicamente para que toda a garganta fosse iluminada. As lamparinas desciam conforme o ritmo dos integrantes, sendo, porém, acrescentados a cada momento mais e mais lamparinas por Hermione, conforme o abismo ficava mais fundo e mais escuro.


 


Draco tentava se concentrar no que estava fazendo, afinal, as palavras de Dean ainda ecoavam em sua mente. Sabia que sua vida encontrava-se naquela corda, afinal, não conheciam o lugar o suficiente para que pudessem fazer uma aparatação segura. Todavia, ficava mais e mais complicado descer de costas sem saber o que o esperava lá embaixo. Olhar para cima também não adiantava muito, afinal, era Hermione quem estava acima dele. “Precisava usar um jeans tão justo?!”, pensou, irritado consigo mesmo, por ter olhado a terceira vez para cima...


 


- Mione, mais luz! – a voz de Dean ecoou pelo abismo diversas vezes.


 


A morena reclinou-se para trás, segurando-se com apenas uma mão, meneando a varinha com a mão livre. Novas lamparinas surgiram.


 


- Eca! – ouviu-se Zach murmurar, enojado – Até na terra dos mortos tem musgo e lodo! Nojento! Ergh! Só falta ter barata também!


 


Sarah e Dean riram sem se conterem.


 


Mais quinze minutos. Meia hora. Uma hora...


 


- Droga... – Draco ouviu um murmúrio vindo de cima.


 


Olhou para Hermione, que olhava ao seu redor. Estava provavelmente tão suada quanto ele, tão cansada quanto ele...


 


- Dean? – a morena chamou, sua voz ecoando ao redor – Falta muito até o fosso?


 


- Muito? – ele repetiu, olhando para baixo – Não tenho sequer previsão se estamos no meio do abismo ou não!


 


- Mas que... – a morena tornou a murmurar.


 


- O que faremos? – Sarah questionou, parando de descer.


 


- Só tem uma solução. – Hermione disse, remexendo-se sem parar.


 


- Nem vem com essa! – foi a vez de Dean dizer.


 


- Já estou! – a garota exclamou, no que todos puderam ouvir os xingamentos do vampiro vindos mais de baixo.


 


Draco olhou para cima e não acreditou no que via. Hermione acabara de prender um gancho junto a uma parte da rocha. Anexara um mosquetão, outra corda, um freio...


 


- Você é maluca?! – o loiro se viu dizendo antes mesmo de ter pensado.


 


- Muito bem, todos parados! – Hermione disse, firme, soltando-se da corda em que estava, passando para a que se encontrava ao lado.


 


Antes que Draco pudesse perceber, a morena passou voando por ele, numa queda acelerada rumo ao fundo do penhasco.


 


- Granger, sua louca!!! – ele berrou, segurando-se firme em sua corda, olhando para baixo. Abaixo dele, Dean, Zach e Sarah faziam o mesmo.


 


O que parecia uma eternidade demorou cerca de apenas um minuto e meio. O silêncio, que parecia ensurdecer os quatro, fora quebrado pela voz de Hermione.


 


- Tudo bem, aí???


 


- Tuuuudo!!! – Dean respondeu, alívio presente em sua voz – Aí?


 


- Tudo ok! – Hermione disse, e Draco pôde ver que a morena fazia surgir mais e mais lamparinas no fundo – Mais uns vinte minutos, acho, e vocês chegam aqui!


 


E ela estava correta.


 


Ao chegar ao fundo do abismo, Dean fora ajudado pela morena a se desconectar da corda. Em seguida, abraçara-a fortemente, cumprimentando-a pelo feito.


 


Zach e Sarah fizeram o mesmo, sem o abraço. Draco, por sua vez, a encarou, perplexo.


 


- Da próxima vez que você quiser se matar, avisa. – disse, rispidamente.


 


Hermione simplesmente sorriu, apertando o queixo do loiro, displicentemente.


 


- Sou imortal, não se esqueça. – brincou, afastando-se em seguida.


 


- Ok, agora... Onde estamos? – Zach perguntou, olhando em volta.


 


Draco fez o mesmo. Estavam numa enorme gruta, muitos e muitos metros abaixo de onde se encontrava a entrada para a terra dos mortos.


 


- Por aqui... – Hermione disse, folheando as páginas de um caderno pequeno e grosso, apontando para uma abertura na rocha – Provavelmente, este deve ser o caminho de entrada para o Tártaro.


 


- ‘Tártaro’? – Malfoy repetiu, confuso.


 


- Originalmente, era uma prisão exclusiva para os titãs. – Dean explicou, apoiando-se na parede, olhando para dentro da fenda – Depois, passou a ser tido como o calabouço onde eram aprisionadas as almas amaldiçoadas...


 


- Mitologia grega se aplica aqui? – Zach perguntou, também olhando para o interior da fenda na parede.


 


- Não sabemos ao certo. – Hermione explicou, apoiando sua mochila no chão, sentando-se em seguida para descansar – Descobriu-se que, no passado, o véu por onde passamos fora criado para se estudar a morte, não como uma forma de execução.


 


- Sei... – Dean disse, descrente. Hermione sorriu, mas continuou seu relato.


 


- O véu é tão antigo quanto o próprio Ministério da Magia, como vocês devem saber. Acontece que a idéia de se estudar a morte é mais antiga que tudo isso, remetendo-nos aos primórdios, as mais antigas civilizações.


 


- Descobriu-se que a idéia de se atravessar o mundo dos mortos, numa espécie de viagem, sempre existiu, devido à curiosidade de muitos filósofos e pensadores a respeito do que aconteceria conosco quando morremos. Pra onde iríamos e blá blá blá... – a garota continuou, prendendo o cabelo num coque, alguns fios permanecendo soltos – Enfim, pulando milhares de anos, num belo dia, e entendam que agora vamos passar às especulações... – Hermione continuou, pausadamente, vendo que todos prestavam atenção no que ela falava – Surgiu o conto dos três irmãos. Bom, o que nos interessa é o segundo irmão, Cadmus Peverell. Segundo nos conta a estória...


 


- O irmão do meio pediu à Morte que lhe desse algo que pudesse reviver os mortos, que, no caso, viria a ser a pedra da ressurreição. – Draco disse, meio impaciente – Disso já sabemos. Conto de criança...


 


Hermione o fitou, o lábio inferior trêmulo.


 


- Acho que depois de tudo que já passamos, Malfoy, você deveria ser mais esperto e dar mais crédito a esses ‘contos de criança’... – ela debochou, irritada.


 


- Enfim. – Dean interrompeu, pois conhecia bem o gênio de Hermione e sabia que ela não fugia de uma boa discussão – Ouvi dizer que, na verdade esses objetos que supostamente a Morte tenha lhes dado, aos irmãos, quero dizer, na verdade, foram inventados por eles, certo?


 


- Uhum. – Hermione assentiu, ainda olhando torto para Draco – Cadmus Peverell realmente conseguiu criar a pedra da ressurreição. Paralelamente, porém, um estudioso grego encontrou o véu da morte. Há diversas versões para isso, uma mais fantasiosa do que a outra, mas, em suma, parece que, quando Cadmus criou a pedra, ele descobriu como atravessar para o mundo dos mortos. Claro que, como nos conta a estória, ele se matou para ficar com a amada e blá blá blá, mas acontece que o véu ficou em nosso mundo. Como um portal, que é, exatamente, o que ele é hoje.


 


- Tudo bem, Hermione, mas acontece que a pedra foi encontrada por Servolo Gaunt. – Zach disse, tentando encontrar a conexão entre os fatos – Depois, o Lorde das Trevas a teve em seu poder. Como...? Quero dizer, como um trouxa teve acesso a isso???


 


Hermione olhou de soslaio para Draco e o loiro não entendeu o motivo de as bochechas da garota terem adquirido um tom róseo.


 


- Bom... – a morena disse, sem jeito – Eu fiquei na dúvida com relação a isso também, então, er... eu meio que... como eu sabia que viríamos pra cá, eu... bem, eu...


 


- Ela arrombou o Departamento de Mistérios e descobriu a verdade. – Dean disse, prático como sempre.


 


Draco arregalou os olhos, incrédulo.


 


- Então, foi você? – ele exclamou, zangando-se novamente – Há dois meses...


 


- Achei que deveríamos saber de toda a história. – Hermione disse, cruzando os braços junto ao corpo, defendendo-se – Ou você achou que poderia confiar nas informações que o Potter te passou?!


 


Draco abriu a boca, mas fechou-a logo em seguida, sem saber ao certo o que dizer.


 


- Enfim, de novo. – Dean disse – Continue, Mione.


 


- Bom. – ela recomeçou – O que foi passado de geração em geração foi a pedra da ressurreição, como já sabemos. Todavia, demorou um pouco apenas para que o Ministério viesse a encontrar o véu e o trancasse na Sala da Morte. Eles nunca souberam exatamente como ele funcionava, apenas conseguiram chegar aonde chegamos, que o véu é uma passagem de ida somente para o mundo dos mortos e quem o atravessa, é considerado morto, pois não pode mais voltar. Sabemos disso pelo conto dos três irmãos.


 


- Todavia, eu decidi pesquisar os acontecimentos trouxas na época e descobri esse estudioso grego. – ela exibiu um sorriso, animada – Parece que ele entrou, de fato, em contato com o véu e começou a estudá-lo, mesmo depois de ele ter sido pego pelos funcionários do Ministério. Ele criou várias teorias e tal, entrou em contato com os mais renomados filósofos e pensadores da época e acabou, por fim, por adotar a teoria mitológica que os trouxas conhecessem, hoje, como sendo pura e simples mitologia grega. Claro que ele nunca pôde testar suas idéias, pô-las em prática, mas, conforme ele conversava com outras pessoas a respeito do assunto, mais e mais ele acreditava que estava no caminho certo.


 


- Todos os trouxas, na mitologia grega, acreditavam que havia um reino dos mortos, e, naquela época, não havia um só deus, mas uma infinidade de deuses e deusas, que governavam o mundo e viviam em contato com os mortais. – a garota explicou – Hades era o Deus do submundo, ou, mais popularmente, o mundo dos mortos, exatamente onde nós estamos. Curioso é que tanto a cultura trouxa, quanto a cultura bruxa, esbarram neste fato. Ninguém duvida que, ao atravessar o véu, a pessoa é dada como morta e entra, assim, no mundo dos mortos. Pois bem, até hoje, nós, bruxos, não conseguimos definir como viria a ser o lado de cá, ao passo que, por mais maluco e fantasioso que possa ser, os trouxas já desenvolveram essa teoria.


 


- O mundo inferior deveria ficar a milhares e milhares de quilômetros abaixo da superfície, segundo a mitologia grega. – Hermione dizia, seus olhos brilhando - E seria comporto pelo Tártaro, que seria um grande poço onde se prendiam os titãs, como disse o Dean, e que depois veio a ser considerado como uma espécie de prisão, um verdadeiro calabouço para as almas amaldiçoadas.


 


- Haveria, ainda, a terra dos mortos em si, que, na mitologia, era governada por Hades... – Dean disse, deitando a cabeça no colo de Hermione - ... as Ilhas Afortunadas, onde, segundo os gregos, viviam os heróis e mitos depois que eles morriam. E havia os Campos Elísios, ou uma espécie de Paraíso, onde viviam apenas os homens virtuosos e os que compreendiam determinados mistérios e coisa e tal...


 


- Segundo os escritos gregos, as pessoas que viviam nos Campos Elísios tinham a oportunidade de regressar ao mundo dos vivos, nosso mundo, mas não eram todos que conseguiam. – Hermione explicou, fazendo cafuné nos cabelos loiros de Dean – A maioria acabava por esquecer sua vida anterior, retornando para cá, no caso, para o mundo dos vivos, completamente novo, sem se lembrar de nada. Eu acho... – Hermione falou, pausadamente - ... que, esse estudioso grego pode muito bem ter morrido e voltado para cá, sem ter esquecido uma coisa sequer de sua vida anterior. E, não tendo esquecido, tratou de relatar o que vivenciara para as gerações futuras.


 


- Você está certa, Granger. – Draco disse, cético – É maluco e fantasioso demais para ser verdade!


 


- Não posso fazer nada. – Hermione rebateu, dando de ombros – Mas, pelo que vimos até agora, e estamos prestes a ver, prefiro ter algo em mãos para me guiar, mesmo que seja maluquice, do que ir em frente sem sequer ter uma base de conhecimento. Se esse estudioso grego estiver certo e eu também, ao atravessarmos esta fenda, entraremos no Tártaro.


 


- E o quê, exatamente, haveria no Tártaro? – Zach perguntou, meio temeroso pela resposta que obteria.


 


- O Tártaro seria a primeira parada assim que se entra no mundo inferior. – Hermione disse, pensando, abrindo o livro e folheando algumas páginas – Misturando a cultura romana à grega, devemos encontrar, ali, as almas dos pecadores. Haveria um rio de fogo e uma enorme muralha que tem como função impedir a fuga dessas almas pecadoras... – folheou mais um pouco – Fontes não muito confiáveis dizem haver uma hidra com 50 facas negras que toma conta do lugar, mas não acredito nisso.


 


- E por que não? – Sarah quis saber, curiosa.


 


- Porque a hidra de Lerna é tida como um animal fantástico, com corpo de dragão e nove cabeças de serpentes. – Hermione disse, prontamente – Foi um dos trabalhos de Hércules. Enfim, assim sendo, ela, hidra, não tem mãos. Como iria segurar 50 facas?


 


- No mundo dos vivos. – Zach disse, pensativo – A hidra não tem mãos no mundo vivos! Vai que no mundo dos mortos tem...


 


Todos se entreolharam, silenciosos...


 


- Prefiro pensar que não tenha. – Hermione disse, fechando o livro com força – E, se tiver, nós damos conta, certo?


 


- Certo. – Dean disse, mandando um beijinho para a morena.


 


- Depois do rio de fogo e da hidra, o que vem? – Sarah perguntou, ansiosa. Adorava aventuras...


 


- Haveria um castelo onde os condenados a passar a eternidade ali seriam chicoteados. – Dean explicou – Passado o Tártaro, viria à terra dos mortos. Lá, as almas se transformariam em sombras.


 


- É nesse lugar que os mortos pegavam um barquinho e atravessavam um rio, sei lá qual o nome..., pra chegar à terra dos mortos? – Zach quis saber, forçando a memória.


 


- Caronte levava as almas de barco pelo rio Aqueronte, sim. – Hermione assentiu – Cérbero, o cão de três cabeças, não deixava as almas voltarem para o mundo dos vivos.


 


- Isso é muito maluco. – Draco disse, depois de muito tempo quieto – Bobagem!


 


- Depois disso, haveria os Campos Elísios. – Hermione o ignorou – Que, pela descrição grega, é o verdadeiro Paraíso. O sol brilha constantemente, há cascatas de vinho que, não importava o quanto se bebesse, você era incapaz de ficar embriagado... É aqui que corre o rio da imortalidade, rio Estige...  Ao contrário do que muito pensam, Hades moraria aqui, e...


 


- Espertinho! – Zach e Sarah murmuraram juntos, rindo.


 


Hermione riu também.


 


- Lembra das ruínas que você viu lá em cima? – Dean murmurou, no que Hermione assentiu com a cabeça – De acordo com os escritos, Hades mora num palácio onde o solo é recoberto por asfódelo...


 


- Planta de ruínas e cemitérios... – a morena completou, pensativa – Pode ser... As escrituras também falam de um bosque de álamos e salgueiros... Pode ser a floresta que vimos antes...


 


Todos ficaram em silêncio, pensando em tudo que acabaram de ouvir. Draco custava a acreditar...


 


- Enfim, precisamos dormir. – Dean disse, pondo-se de pé – Aqui parece ser um bom lugar. Eu e Hermione pegamos o primeiro turno, vocês, o segundo. – disse, olhando para os licantropos, que assentiram.


 


- Colchonetes infláveis. – Hermione retirou miniaturas de colchões que, com um aceno da varinha, transformaram-se em verdadeiros colchonetes – Descansem, afinal, o dia amanhã será puxado.


 


- Pensei que vampiros não dormissem. – Draco disse, vendo Hermione preparar sua própria cama para quando terminasse a ronda.


 


A morena sorriu brevemente.


 


- Adoro dormir. – disse – Você trate de dormir bem. Ao contrário de nós, é o que possui menos resistência física.


 


- Como você se tornou um vampiro? – o loiro perguntou, sem se conter.


 


Hermione ajoelhou-se ao pé do colchão em que ele se encontrava, sorrindo, tristemente.


 


- Amanhã, eu conto. – disse, no que ele fechou o semblante – Prometo. – continuou – Agora, durma. Qualquer coisa, me chame...


 


Draco caiu no sono em menos de dois minutos. Não tivera noção de que estava tão cansado...


 


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- Mexeu com você, não foi? – Dean perguntou, voltando da fenda, indo se sentar ao lado de Hermione.


 


A morena abaixou a cabeça e sorriu.


 


- Fazia tempo que não via algum deles. – explicou, a voz embargada – Acho que senti saudades até do Malfoy! – riu, fazendo Dean rir junto.


 


- Sente falta, não sente? – ele perguntou, abraçando-a pelo ombro – De ser mortal?


 


A garota assentiu com a cabeça, observando Draco dormir.


 


- Ser vampiro... – ela começou, tendo que engolir em seco para limpar a garganta - ... não é ruim. – disse, voltando-se para o rapaz ao seu lado – Mas... saber que tudo um dia irá acabar... Meus pais já se foram, os Weasley também irão... As pessoas com quem eu cresci, como o Malfoy, mesmo... Saber que todos eles vão morrer um dia e eu vou continuar... Que as pessoas que eu vá vir a conhecer vão morrer um dia também e eu ainda vou continuar aqui... É simplesmente...


 


- Angustiante? – Dean sugeriu, no que ela concordou, abraçando o rapaz e deixando algumas lágrimas rolarem por sua face.


 


- Eu jamais reclamaria... – disse, pesarosa -  ... se isso... se essa mudança... tivesse sido minha escolha... Se eu tivesse me apaixonado por um vampiro como você... – ela brincou, sorrindo por entre as lágrimas - ... e estivesse decidida a passar a minha eternidade ao seu lado... Mas eu nunca escolhi isso. Eu nunca pude escolher... Isso que é triste, Dean! – o choro se intensificou – Eu ganhei a imortalidade sem sequer pedir por ela! Eu abandonei toda a minha vida por esta nova, sem sequer pedir por isso! Eu bebo sangue todos os dias agora sendo que eu sempre tive horror a sangue! Quão injusta a vida pode ser, me diz? Me diz???


 


O vampiro não respondeu. Limitou-se a puxar a morena mais para si, abraçando-a junto ao peito, fazendo carinho nos cabelos castanhos encaracolados. Começou a sussurrar um antiga canção de ninar em seu ouvido, sabendo que somente ela poderia ouvir aquela melodia suave...


 


Em poucos minutos, Hermione já estava mais calma. Com um pouco mais de tempo, a morena acabara por dormir nos braços do vampiro. Dean continuou a embalá-la até que fosse rendido em sua vigília. Sabia ele que, para ela, era muito difícil aceitar esta nova vida. O último ano fora particularmente tormentoso, uma vez que o amor da vida de Hermione, Rony Weasley, havia se casado com Luna Lovegood.


 


Dean sabia que ela assistira ao casamento escondida. Sabia, porque ele mesmo havia assistido à cerimônia, depois de segui-la. Fora difícil convencê-la de que humanos e vampiros não podem ficar juntos. Fora difícil introduzi-la á nova vida. E em pensar que fora seu irmão, Alec, quem a havia transformado...


 


A transformado depois da guerra. Como um último ato em homenagem ao Lorde das Trevas.


 


Em pensar que a decisão de quem seria transformado coubera a Potter...


 


 


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