capítulo quatro;



Capítulo Quatro
Ou
It Could Be Wrong But It Should've Been Right


Gabinete A; 16:55h; Segunda-feira


- Estamos sem saída – Rose declarou para Boris.


Boris pigarreou e se manteve quieto. Estava sentado em uma das cadeiras estofadas da sala de Rose sorvendo uma xícara de chá mentolado.


- Não estamos conseguindo as provas concretas suficientes – Malfoy disse.


- O que conseguiram arrancar do menino?


- De Malcon?


- É.


- Que ele era apaixonado por Tamara.


- Sinceramente – Rose começou -, acho que devemos dar um voto de confiança a ele. Acho que as pistas estão caindo na pessoa errada.


- Também creio – Scorpius concordou – Agora resta saber quem foi o de mente burra que achou que pudesse nos enrolar.


- Ou os de mente burra. Poderia ter sido mais de uma pessoa.


- Ainda não interrogamos o pai de Tamara – Scorpius lembrou-se.


- Pensemos: todas as respostas que encontramos é apenas uma palavra. Inveja. Deve ter outro motivo. Algo que ainda não sabemos – Rose falou frustrada.


- Vingança?


- Deve dar quase no mesmo. A inveja gera vingança.


- Problemas familiares?


- Problemas psicológicos! – Boris berrou como se estivesse comemorando um gol.


- Não – Rose balançou os cachos, insatisfeita – Deve ser algo que não estamos conseguindo captar.


- Não são todos os casos que são complexos, Rosie – Malfoy disse.


Rose comprimiu os lábios, porque estava irritada consigo mesma. Ela se levantou e começou a revirar na pilha das fotos dos suspeitos. Adelaide, Jeremy, Libby, Patricia Novak, Malcon McDoney e Cornélio Luff.


Rose olhou para os cabelos da vocalista. Riu mentalmente. Aquela ali fazer algo contra Tamara? Ela era muito pequena até mesmo para matar um cachorro. Jeremy, provavelmente, estava mais perdido do que se podia imaginar. Talvez as drogas tivessem comprimido seu cérebro. Libby? Suspeita. Claro que sim. Ela estava se irritando com a perseguição e aparentava estar dissimulando sempre. A mãe de Tamara podia entrar no jogo, se não fosse tão sentimental ou solitária. Malcon apenas estava contribuindo para o verdadeiro assassino saírem ilesos do caso. Ele era o peão que o assassino estava disposto a sacrificar. Cornélio. Talvez fosse o jeito rude ou a indiferença, mas Rose podia jurar que o imaginava fazendo uma coisa tão bruta quanto matar Tamara.


- Preciso fazer uma pergunta a Malcon – Rose olhou subitamente para Scorpius e para Boris, muito determinada.


- Sobre o quê? – a curiosidade de Scorpius chamou a atenção de Rose.


- Sobre Cornélio e Libby.


- Então são duas perguntas – Scorpius corrigiu.


- Não, os dois estão contidos em uma só pergunta – a ruiva negou simplesmente - Vem comigo? – ela lhe perguntou.


- É melhor que vá – Boris disse.


E no minuto seguinte, Rose tinha reunido sua bolsa de trabalho, as fotos de Libby e de Cornélio e entrado no carro junto com Scorpius. 


x.x.x


Biblioteca Municipal; 17:18h; segunda-feira


Malcon estava com fones de ouvido e balançava a cabeça nos ritmos das guitarras e das batidas da bateria da música que ouvia. Escrevia compulsivamente e lia trechos do livro em sua frente. Parecia que somente ele estava presente na biblioteca.


- Nirvana – Scorpius disse.


- O quê? Ele está tentando chegar ao nirvana? – Rose perguntou, desconfiada.


Malfoy riu.


- Não, ele está escutando Nirvana.


- Uma banda? – Rose perguntou.


- É.


- Ah – Rose falou e então cutucou o ombro direito de Malcon, que se virou assustado.


- Ah, caramba, que susto, mulher! – ele exclamou, aborrecido e ao mesmo tempo aliviado.


- Desculpe o intrometer – ela disse, mas logo emendou: - Preciso lhe fazer uma pergunta. Tente ser verdadeiro, okay?


- Claro – Malcon disse em uma careta.


- Libby e Cornélio se conhecem?


Malcon franziu a testa, coçou a cabeça e deixou o i-pod de lado.


- Acho que não – o garoto disse, mas então sua expressão mudou e ele falou: Ah, espere! Acho que sim. É. É isso aí. Tamara me contou que teve um dia que o viu almoçando com Libby, e quando foram se despedir, eles se beijaram – Malcon disse, calmamente.


Rose soltou um muxoxo de felicidade e sorriu.


- Mas o que isso prova, Ros...? – Malfoy deixou a pergunta no ar e também estampou um sorriso vitorioso nos lábios – Ah meu Deus, claro! Tão, tão óbvio!


- O que foi? – Malcon perguntou curioso.


- Não foi você quem matou Tamara – Rose afirmou com convicção.


Malcon ficou ainda mais sério.


- Não, não fui eu mesmo. Eu já tinha dito – ele disse – Mas se não fui eu, então quem foi?


- Libby e Cornélio.


- Vocês... opa! Vocês estão achando que eles estavam mancomunados?


- Cornélio é casado. Libby é a amante dele – Scorpius explicou.


- É, e ele aproveitou que Libby detestava toda a atenção que a irmã recebia por ser tão talentosa e propôs um plano para acabarem de vez com Tamara – Rose disse triunfante.


- Ah, meu Deus. Mas Libby é a irmã de Tamara. Ela não pôde ter feito isso! – Malcon ficou horrorizado.


- Acredite, eu já peguei casos muito mais complexos e pavorosos – Rose assentiu.


- Bem, então... – Malcon começou.


- Obrigada pela ajuda, Malcon – Rose disse, já dando as costas para o menino.


Ela olhou para Scorpius e ligou para Wilson. Estava na hora da papelada começar a ficar oficial.


x.x.x


Rua Bevis Marks; 17:44h; segunda-feira


- Libby Novak? – Rose chamou, depois de ter pressionado a campainha mais de três vezes.


- E se ela...


- Não pode ser! Não faz nem quatro horas que conversamos com ela! – Rose gritou irritada.


- Você poderia se surpreender ao perceber o quanto essa gente é rápida – Scorpius disse.


- Vamos arrombar – Rose sugeriu.


Scorpius ficou feliz por ter que meter o pé na porta. Havia anos que não precisava fazer aquilo.


Quando a porta se escancarou, tudo o que enxergaram foram os mesmos móveis. A TV, a bancada escura da cozinha, o abajur da sala. Tudo preservado com muito cuidado. No entanto, os armários de roupas estavam vazios e os papéis de cima da mesa do escritório haviam sumido.


- Ela fugiu – Scorpius resumiu.


- Rápida demais, rápida demais – Rose resmungou furiosa.


- E se Cornélio também estiver fugindo? Precisamos ir até seu escritório.


- Não, nada disso. Vamos apenas perder tempo e perdê-los definitivamente. Vamos direto para o aeroporto – Rose disse mandona.


- Mas e se eles ainda não estiverem no aeroporto?


- Acredite, uma hora eles irão chegar.


x.x.x


Aeroporto de Londres Heathrow; 18:23h; segunda-feira


Todas as viaturas que Rose conseguiu reunir estavam estacionadas nas entradas e nas saídas do aeroporto.


Era apenas questão de minutos para prender os verdadeiros assassinos.


- Droga, cadê eles, hein? – reclamou Scorpius.


Rose suspirou e o ignorou. Ela achava que era a única impaciente dali.


Nisto, enxergaram civis correndo e uma orla de policiais armados andando apressados no sentido contrário.


- O que está havendo? – Rose perguntou mecanicamente.


Scorpius apertou os olhos para onde a maioria dos viajantes saía. A entrada para os banheiros.


Ouviram-se tiros.


Rose arregalou os olhos.


Então, seu radiofone chiou.


- Senhorita Weasley? – o homem chamou afobado.


- Sim?


- Achamos os dois. Mas acho que é melhor evacuar a área.


- Por quê? O que você está vendo?


- A mulher está dando uma chave de braço no cara e ainda apontando uma arma para a cabeça dele. Venha até aqui.


Scorpius logo correu para junto de Rose, que ia em direção aos banheiros.


- Ela irá matá-lo? Mas achei que estavam juntos nessa! – berrou Rose enquanto corria.


- Acho que o jogo virou.


No meio do caminho, encontraram um policial com uma maleta nas mãos.


- É de Cornélio Luff – ele disse, entregando a maleta para Rose, que logo a abriu.


Encontrou lá dentro um papel amarrotado, que dizia:


“Ela tentou. Eu tentei. Não conseguimos por completo. Agora ela acha que pode me matar. Só queria não tê-la convidado para participar desse jogo”.


- Ela enlouqueceu de vez – Scorpius disse perplexo.


- Ah, meu Deus, vamos lá! – ela exclamou, deixando a mala em um banco próximo.


Ambos encontraram Libby toda descabelada, segurando Cornélio Luff pela garganta. A arma estava apontada para seu maxilar e ele parecia suar muito.


- Por favor, Libby – ele suplicou.


- Eu já mandei calar a boca, seu imundo! – ela sussurrou e viu Rose e Scorpius se aproximando – Ah, olhe quem chegou!


- Pelo amor de Deus, ajudem-me! – Cornélio pediu.


Rose olhou-o com nojo.


- Se não tivesse mentido desde o início, não precisava fazer esse papelão, senhor editor – Scorpius disse com veemência.


- Ela me obrigou. Ela disse que poderíamos sair ganhando dessa!


- Cornélio! Eu pedi silêncio! – Libby disse, com voz de bebê.


- Libby, por favor, não faça isso. Eu não valho muita coisa. Foi você quem começou com essa.


- Shhhhi! – ela fez e pressionou ainda mais a arma contra a bochecha flácida de Cornélio.


- Libby, acalme-se – Rose disse – Largue Cornélio e nós poderemos conversar.


- Não tenho nada para conversar com vocês! Vocês só atrapalharam o meu plano! – Libby gritou com fúria.


- Libby, você já vai ser presa... não complique as coisas – Scorpius aconselhou.


- Calado! – ela retribuiu – Estou farta de todo mundo dizendo o que tenho que fazer, o que tenho que ser ou que deveria ser mais como Tamara!


- Tudo bem, tudo bem – Scorpius disse – Mas abaixe a arma, certo?


- Eu detesto a minha família podre. Minha mãe só sabia fazer elogios à Tamara. Eu? Ha, ela nunca se deu ao trabalho de me parabenizar por nada! Simplesmente eu sou a filha renegada!


- Entendemos o seu desespero, mas matar mais alguém não irá amenizar nada, Libby – Rose disse.


- Que se dane! Eu já estou mesmo ferrada! E esse idiota aqui, ao invés de me ajudar, só me ferra também! – ela chutou Cornélio, que se encolheu.


- Libby, nem sempre a vida é ótima, você sabe disso. Mas não há motivos para acabarmos com a felicidade alheia só por que estamos tendo um péssimo dia – Rose falou.


Libby ofegava. Estava farta de tudo. Dos conselhos, dos elogios que nunca iram direcionados para ela, e principalmente da irmã.


- A dor não vai passar. Você já matou Tamara. Isso a aliviou?


- Não – Libby respondeu baixo.


- Então, o que me diz de agir civilizadamente? Assim você não se fere, e todos saem okay dessa.


- Todos? Todos? – Libby riu com amargura.


- Tudo bem, nem todos – Scorpius consertou -, mas você não precisará manchar ainda mais o seu nome.


Libby olhou para todas as armas apontadas para ela e percebeu que estava muito mais do que ferrada. Estava indo para um caminho sem volta. Já tinha aprontado o que planejara, mas de nada aliviou.


O que mais lhe restava?


A arma, então, caiu de sua mão e ela largou Cornélio.


- Eu odeio a minha vida – ela declarou, ajoelhando-se impotente no chão.


Logo Rose algemou Cornélio, que bradava com Libby.


- Você tem o direito de permanecer calado. Tudo o que disser pode ser usado contra você – Rose lhe disse.


Scorpius deu conta de Libby. Ela estava cansada e aceitou quase de boa vontade ser arrastada para a viatura.


Os dois ouviram palmas ecoarem pelo saguão e não deixaram de sorrir. Aquele era o trabalho deles.


Rose sentou-se ao lado de Scorpius em um dos bancos do McDonald’s.


- Quer um lanche? – ele perguntou.


- Não – ela riu.


- Café?


- Não, obrigada.


- Acha que poderíamos conviver por mais algum tempo juntos? – Malfoy lhe indagou.


Rose pensou.


- Sinceramente?


- É.


- Acho que estou aprendendo a aturar você – ela sorriu, fazendo-o também sorrir.


- E isso significa que...?


- Mais outro dia com você não seria nada mal. Mas só mais um dia – ela esclareceu.


Ambos riram.


x.x.x


Audiência Número 45; 09:00h; quinta-feira


A Excelência pediu para Cornélio prosseguir. Ele obedeceu.


- Conheci Libby em um show da banda que ela promove. Nós nos apaixonamos e começamos a ter um caso. Encontrávamos- nos toda sexta-feira à tarde. Almoçávamos juntos. Um dia Tamara foi tirar satisfação de nossa relação e disse que eu tinha que parar de ver Libby, o que levou Libby a enlouquecer. Com o desgosto de Tamara por saber que sua irmã estava tendo um caso comigo, Libby planejou a noite do crime. Chamou a irmã para o show, levou-a para casa e esperou Malcon McDoney aparecer. Ele a Tamara passaram algumas horas juntos, e assim que ele foi embora, Libby me ligou, dizendo que estava indo para a casa da irmã. O plano era esconder o canivete de Malcon, que ela já tinha roubado há algum tempo, e usá-lo como arma contra Tamara.


- E por que não encontramos as digitais de Libby Novak no canivete de Malcon McDoney? – a advogada perguntou.


- Libby era esperta. Usou luvas cirúrgicas. Não queria ter dedo na morte da irmã. Então, uma vez que estava lá dentro do apartamento de Tamara, a fez desmaiar usando éter e a envenenou com Diazepam.


- E o senhor tinha consciência das atitudes de Libby?


- Tinha.


- E preferiu não interferir?


- Bem, é.


A advogada andou pala sala por alguns segundos.


- O senhor ainda será condenado por saber do crime, sabe, não sabe? Por mais que não tenha propriamente executado o crime, omitiu ter conhecimento dele.


- Eu sei – ele disse.


- Culpado! – a Excelência gritou.


Ouve um burburinho geral, mas moderado, que ocasionou um intervalo de cinco minutos. Alguns advogados foram em busca de café, enquanto os demais permaneceram em seus devidos lugares.


Minutos após a saída rápida e exaustiva de Cornélio Luff, Libby Novak apareceu sendo flanqueada por dois guardas. Ela parecia estar calma demais, como que completamente satisfeita com suas ações.


- Libby Novak – a juíza assentiu, sem expressão.


Libby nada disse ou fez.


- A senhorita tentou incriminar Malcon McDoney e também mentiu descaradamente para a senhorita Weasley e para o senhor Malfoy.


- E que queria que eu fizesse? Dançasse a Macarena para eles?


A juíza ergueu as sobrancelhas, ofendida.


- Eu matei minha irmã e não me arrependo. Se é isso que queria ouvir, acho que estou liberada para aproveitar os meus dias de cadeia, não?


- Ainda bem que sabe o que fez.


- Eu que planejei. Eu saberia o que fiz – Libby disse.


A Excelência assentiu.


- Muito bem, todos sabemos que você é culpada – ela falou com rancor – Sessão encerrada.


Muitos se juntaram fora da sessão. Os familiares dos culpados choravam ou se lamentavam compulsivamente.


Rose foi para junto de Scorpius.


- Parece que é nosso último dia juntos – Rose falou.


- Você já quis uma máquina do tempo para reviver os momentos felizes que teve com uma pessoa? – Scorpius perguntou, com as mãos nos bolsos.


- Eu acabei de sair de um relacionamento que eu julgava ser maravilhoso. Acho que uma máquina do tempo apenas atrapalharia nosso amadurecimento, sabe.


- E se eu disser que isso não tem nada a ver com o seu ex?


- Presumia que não tivesse nada a ver com ele.


- Acha que poderemos sair algum dia novamente?


- Só quando eu me atirar aos leões.


- Eu posso ser um leão. Não do tipo selvagem, mas um leão legal.


- Você está... fazendo o quê? Tentando me convencer que trabalhar com você não foi o meu pior pesadelo?


- Foi?


- Mais ou menos – ela deu de ombros – Você até que é um cara legal.


E dito isso, Rose começou a caminhar para longe de Scorpius. Precisava do silêncio de seu gabinete. 



;;;

N/a: hey hey *-* então, né, mas um capítulo (: Esse demorou um pouquinho mais porque a minha beta estava um tanto ocupadinha (: espero que estejam aproveitando a fic *-* beijo beijo ;*


N/b: ARRRAAAAA, sabia sabia sabia. Não é a toa que sou boa detetive (de tanto ver Law & Order que dá nisso). Sahhhas. Enfim, não sei o que falar, porque mais uma fez a Nina fez um capítulo tão divo *------*. E mais uma vez está acabando a fic. Vou chorar...

Nina H.


15/03/2011

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.