Iluminnus Totalus



Capítulo 2: Iluminnus Totalus



Era uma noite fria e escura, o silêncio reinava em cada cômodo da casa, com exceção de um quarto situado no segundo andar, onde a voz doce de uma mulher podia ser ouvida, cantando; era uma voz melodiosa, tanto que parecia que até as criaturas da noite se silenciaram para não atrapalhar aquela mistura de riso e felicidade em harmonia, tudo compondo um belo poema, como um feitiço capaz de acalmar as piores feras.

O belo som dava seus últimos suspiros, fazendo dos acordes finais daquela melodia uma mistura de doçura e melancolia. Assim ela cantava todas as noites, sempre adorava cantar e ele gostava de ouví-la, se sentia calmo, protegido, como se nada o pudesse atingir, era a melhor sensação que alguém poderia experimentar. Ela já em silêncio pôs o pequeno corpo adormecido em seu berço, o cobriu com o cobertor e dando-lhe um beijo na testa pequenina, disse em voz baixa:

-Boa noite, Harry.

Era assim que noite após noite fazia Harry dormir, com uma de suas canções favoritas, exatamente como sua mãe fazia com ela quando era pequena. Lílian Potter estava perdida nesses pensamentos quando a porta abriu repentinamente permitindo que um homem de cabelos castanhos entrasse com um sorriso em seus lábios.

-Ouvi você cantar, ele já está dormindo?

-Sim - ela respondeu em voz doce - me pergunto como será a vida daqui pra frente, digo, o que será do mundo em que vivemos quando tudo isso terminar, isso se terminar. Tenha pena daqueles que agora nascem - ela se virou para o berço onde colocara Harry alguns minutos atrás - terão que crescer convivendo com esse inferno!

-Talvez não - a resposta veio quase que imediatamente. A expressão assustada de Lily mostrava sua indignação.

-Como assim, acha que ele será derrotado com tanta facilidade?

-Não estou dizendo isso - Thiago respondeu polidamente -mas também não estou dizendo que ele não será derrotado e, mesmo que isso demore, qualquer lugar se torna o paraíso quando se tem vontade de viver, pode ter certeza disso.

Um sorriso surgiu no rosto de Lílian.

-Você tem razão... por maiores que sejam os perigos que tenhamos de enfrentar daqui para frente, não será ele que nos impedirá de sermos felizes - ela selou suas palavras com um beijo doce e apaixonado.

A noite correu tranqüila, o casal dormia profundamente até que um som quebrou o silêncio e a calma das primeiras horas da manhã; Lílian se levantou apressada para acolher o bebê que não parava de chorar, este mau chegara aos braços da mãe e parou com o estardalhaço que fazia segundos atrás.

-Parece que ele realmente gosta de você! - dizia um Thiago risonho pouco antes de ser atacado por um travesseiro jogado por Lily - Ei! Por que fez isso?

-Nada, só testando o seu humor.

Thiago a fitou contra-feito para depois abrir um grande sorriso enquanto Lily se virava para colocar um Harry aos protestos de volta no berço; era a vez dele de rir, pegando o travesseiro com o qual fora bombardeado, esperou até o último minuto, paciência não era sua característica mais marcante mas ele faria qualquer coisa por isso, até esperar. Só mais um pouco e o alvo estaria num ângulo perfeito - Sabe Thiago, acho que deveríamos falar Dumbledore sobre como estão indo as investigações - Lily dizia despreocupadamente - digo, me sentiria muito mais tranqüila se soubesse que Você-Sabe-Quem não está mais tão interessado em nós... ou melhor, em Harry - ela então se virou e quase caiu para trás com o grande susto que o impacto com o travesseiro lhe causou.

-Ora, desde quando voltou da aposentadoria como um maroto? - dizia Lílian tentando parecer séria diante da brincadeira, o que já era muito difícil sem Thiago dando gargalhadas e, só para completar, parecia que Harry também estava vendo graça na brincadeira - Viu só no que dá? Você vai acabar estragando nosso filho desse jeito. - continuou ela agora rindo também.

-Me desculpe Lily, digamos que dar o troco foi irresistível - disse Thiago com um grande sorriso enquanto se levantava para, logo em seguida, abraçar Lílian afetuosamente - você não vai brigar comigo por uma coisinha dessas, vai?

-É claro que não, agora é melhor descermos para tomar café - dizia ao mesmo tempo que tirava Harry de seu berço e o acomodava em seus braços.

-Seu desejo é uma ordem - mau terminara de dizer essas palavras e tomou sua esposa e filho em seus braços.

-THIAGO!

-Não precisa gritar, apenas não quero que meu amor se canse tendo que ir de um lado para outro da casa andando.

Eles foram para a cozinha e Lílian preparou um bom café da manhã, enquanto ela o fazia, Thiago tentava ensinar sua versão miniatura como jogar quadribol, mas não estava conseguindo muito sucesso.

-... e este aqui Harry é o pomo de ouro!

-... tomo de oulo! - disse um Harry animado apontando para uma pequena esfera com duas asinhas que se debatiam na mão fechada de Thiago.

-Não, é pomo de ouro, no jogo você tem que apanhá-lo a qualquer custo, esta bola é, de longe, a mais importante de to...

-Porque não espera até ele completar uns cinco anos? - uma desdenhosa Lily fez-se ouvir.

-Grandes jogadores não precisam esperar - porém, enquanto ele falava, Harry acabou por soltar um dos balaços pela casa; Thiago correu eufórico para pegá-lo enquanto ele batia nas paredes, no teto e em tudo o mais que ele via pela frente, se jogando em cima dele enquanto passava ligeiro pelo sofá, Thiago pode finalmente imobilizar e devolver o balaço a seu devido lugar - Pensando bem, acho que é melhor esperar alguns anos.

Ambos, Thiago e Lílian riram-se da situação, até que Thiago percebeu que havia perdido na confusão o seu pomo autografado pelo grande apanhador inglês Malcom Roterfire, inconformado por ter perdido justamente aquele pomo que tanto adorava, ficou a procurá-lo no meio da bagunça feita pelo balaço. Ele estava quase desistindo quando...

-Pomo de ouro! - a vozinha de Harry gritou animada enquanto ele segurava a esfera dourada firmemente.

-Ei! - disse um entusiasmado Thiago - acho que temos mais um apanhador na família.

-Era só o que me faltava - exclamou uma Lily risonha com um suspiro - Thiago, o café já está pronto, estou esperando na cozinha.

-Certo - foi a resposta vinda de Thiago enquanto ele tentava convencer Harry a soltar o pomo, coisa que estava ficando um pouquinho complicada; uma vez que este parecia não ter a intenção de devolvê-lo sem luta.

Minutos depois, entravam na cozinha um Thiago aborrecido segurando nos braços um Harry com um sorriso vitorioso, isso se devia ao fato da pequena bolinha dourada que ele prendia firmemente entre suas mãozinhas.

-Ora, você ainda não guardou isso? Não sei se percebeu mas Harry precisa comer! - ponderou uma Lily com cara de poucos amigos.

-E você acha que não quero guardar a pomo? Tente tirá-lo dele para ver se é possível!

No momento que Lílian olhou para Harry, esse encarou-a como se pedindo misericórdia e trouxe o pomo para mais perto de si; ela fitou os olhinhos brilhantes do menino tentando parecer zangada, mas sua voz saiu tão doce quanto a de um rouxinol.

-Desculpe, querido, mas não na hora do café - no momento em que se aproximou o garotinho, para desespero de Thiago, abriu as mãos deixando o pomo livre para fugir. Thiago se jogou sobre ele e, como bom apanhador que era, conseguiu pegá-lo ao mesmo tempo que se espatifava no chão da cozinha.

-Eu consegui - gritou vitorioso do chão erguendo o pomo que rebatia suas asas.

-Estou vendo - foi a resposta de Lily que se segurava na mesa para não cair no chão de tanto rir - agora Thiago, por favor, guarde isso e vamos comer.

Ele se levantou do chão e guardou o pomo de ouro em uma caixa junto com a goles e os balaços. Quando voltou a cozinha, Harry estava sentado em uma cadeirinha alta enquanto comia a sopa que Lílian lhe dava. Ele se sentou à mesa e se serviu de torradas e bacon, olhava feliz para sua esposa e filho e se perguntava por quanto tempo mais toda aquela alegria iria durar, não sabia porque mas estranhos pressentimentos o tinham invadido nos últimos dias, para falar a verdade, ele já vinha tendo essa sensação desde que usaram o Fidelius para se esconder; lembrou-se do rosto de Pedro quando lhe pediu que fosse o fiel do segredo no lugar de Sirius, não tinha certeza se ele poderia arcar com tamanha responsabilidade, mas era a única alternativa, de qualquer forma, Pedro estava incomumente animado para tomar uma atitude a qual apresente alguma dificuldade, ele parecia até animado para isso. Ainda não sabia porque mas isso deixou Thiago demasiadamente preocupado, mas provavelmente ele deveria estar exagerando, Pedro sempre fora alguém a quem todos deixavam para trás e como última opção, deve ter se animado quando, pela primeira vez em sua vida, alguém lhe confiava algo de extrema importância. Sim, deveria ser isto!

Thiago estava pensando em contar o que pensava para Lily quando uma coruja entrou pela cozinha com um vôo sorrateiro, deixando para trás um envelope amarelo escrito com tinta dourada, dentro se encontrava uma carta cujo conteúdo tinha sido feito com a mesma tinta na qual se podia ler:



Prezados Thiago e Lílian,



Espero que não tenham tido problemas até agora e que tudo esteja correndo bem. Por aqui nada mudou, aurores correndo de um lado para o outro, chamados de emergência por toda parte, comensais causando confusão em todo o país e, só para completar, Snape confirmou na reunião que Você-Sabe-Quem tem um informante atuando dentro de nossas fileiras, mas ainda não há nenhuma pista, ao que parece Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado não cita o nome de seu servo por suspeitar de que também há um espião entre os comensais, além disso, Dumbledore proibiu o Ministério de procurar um possível culpado para evitar a especulação e a possível destruição da Ordem.

De qualquer forma, o caos continua reinante, apesar de que, através de uma análise detalhada dos movimentos de Você-Sabe-Quem, podemos afirmar que ele ficou apavorado com o “acontecimento” no Cabeça de Javali, o que pode ser um sinal de que ele não é tão invencível quanto diz. Estamos dando uma olhada na ficha dele quando estudava em Hogwarts, mas não encontramos muita coisa, a vida dele não era das melhores, a mãe foi abandonada pelo pai assim que ele descobriu que ela era uma bruxa, ela morreu logo em seguida e ele teve que morar em um orfanato trouxa onde era considerado estranho e desprezado pelas outras crianças, tanto sofreu nessa parte de sua vida que acabou odiando a tudo e a todos, tentara cometer suicídio três vezes antes de receber a carta convidando-o a ir para Hogwarts, ele aceitou a proposta imediatamente e podemos dizer que esta fora sua salvação. Ele era poderoso, bem acima da média, graças a isso ele não tardou em se tornar muito popular na escola, uma estrela que brilhava mais que as demais, terminou o sétimo ano como monitor chefe e tinha um currículo impecável, era a última pessoa de quem se esperaria coisas como as que tem feito.

Sua vida se deplorou a partir do momento em que tirou os pés da escola, muitas mágoas antigas vieram à tona, se envolveu com todo tipo de bruxo das trevas, mudou de nome e de aparência de modo que, depois de alguns meses, ficou completamente irreconhecível. Nesse meio tempo ganhou um propósito na vida, destruir os trouxas e todos que considerar amigos destes ou uma ameaça a seu plano, depois disto creio que vocês já saibam o que aconteceu.

Por enquanto é tudo o que tenho para vocês, espero anciosamente uma resposta, por favor enviem-na o mais rápido possível. Espero que estejam bem, dêem um abraço em Harry por mim e continuem sendo tão cautelosos quanto for necessário.



De seu eterno amigo,

Remus Lupin



P.S. Em meio a todos os pergaminhos em que andei pesquisando, descobri alguns fatos curiosos que podem ser muito reveladores e de grande ajuda na guerra, enviarei eles para vocês quando o momento for propício.



Thiago devolveu a carta ao envelope assim que terminou de ler, tentando dar algum sentido a tudo o que Remos lhe dissera naquele simples pedaço de papel, ele gostava de escrever de forma completa e sempre se usava de um certo eufemismo, como se quisesse amenizar tudo o que escrevia. Olhava para o nada tirando os enfeites e o exagero de informações contidos na carta, indo exatamente ao que interessava naquela momento. Acordou de sua rápida reflexão quando Lílian pôs um prato de panquecas na sua frente e disse com um sorriso.

-Então, o que Remus disse de interessante?

Remus se tornara o contato deles para o mundo exterior, era ele que enviava e recebia a correspondência do casal e mantinha-os informados sobre tudo o que ocorria. Portanto, era natural que Lílian já soubesse quem era o emissário.

-Ainda não o pegaram - disse um Thiago sério, o sorriso de Lílian morreu em seu rosto - mas parece que ele tem uma fraqueza - ele levantou os olhos para a moça a sua frente - só falta descobrir qual é.

Lílian forçou um sorriso gentil e encarou Thiago com seus olhos verdes que eram capazes de dizer mais de mil palavras silenciosas, fora por aqueles olhos que ele se apaixonou no seu primeiro ano, aquelas duas esferas verdes que exerciam nele um feitiço mais poderoso do que qualquer um que ele poderia aprender em sua vida e, mais uma vez, ele se via preso naquelas piscinas verdes-esmeralda, encantado com sua doçura e meiguice.

-Não se preocupe com isso agora, temos um ao outro e temos Harry também. Tudo vai ficar bem, é só uma questão de tempo até que o peguem e descubram que ele não é o deus que aparenta ser. Agora coma, ou as panquecas vão esfriar.

-Como quiser Lily! - ele deu um beijo suave na bochecha de Lily e se pôs a comer.

O resto do dia correu normalmente, já estava escurecendo quando o primeiro sinal de que alguma coisa estava prestes a ocorrer, uma densa neblina cobria a rua em toda sua extensão, a neblina era incomum naquela época do ano, especialmente com aquela intensidade. Várias possibilidades passavam pela cabeça de Thiago, a maioria foi formada na tentativa de afastar a cruel realidade que ele temia, o destino inevitável que ficava visível na inquietude de seu rosto.

Eram onze da noite quando ele finalmente decidiu que Godric’s Hollow não era mais um lugar seguro, fez o caminho para as escadas com o intuito de avisar Lílian que ela deveria arrumar sua mala pois eles partiriam imediatamente, provavelmente para Hogwarts em busca de ajuda e concelho de Dumbledore. Quase alcançara o segundo andar quando ouviu uma batida na porta, sentiu seu corpo paralizado, não era possível. A batida se repetiu com mais fúria, Thiago passara a suar frio, seus olhos se fixaram no chão, depois nos degraus atrás de si e, por fim, na porta que levava para o hall. A batida se repetiu uma terceira vez quase arrebentando a porta, a casa pareceu estremecer sobre o poder e ódio que pareciam vir daquele som. A quarta batida veio suave, como se fosse o vento a fazê-la, o ar tornara-se repentinamente frio, o som de passos podia ser ouvido percorrendo a casa, uma Lily aterrorizada saiu de seu quarto, o rosto pálido mostrava que ela também escutara o som.

-Mas o que está acont...

-Fuja - foi a resposta feita em baixo tom por Thiago - Pegue Harry e vá, eu vou atrasá-lo! - terminou ele em tom decidido.

Lily acenou com a cabeça afirmativamente enquanto lutava para conter as lágrimas. Estava prestes a alcançar o quarto quando a porta do aposento se escancarou e um riso maléfico fez-se ouvir, a voz fina e arrepiante sobrepujou todo e qualquer som:

-Me desculpe! Acho que acabei interrompendo alguma coisa - um sorriso aterrador surgiu no rosto daquele ser temido e repudiado, era o fim - Bem, sejam bonzinhos e saiam do caminho, ou melhor, tragam o garoto para mim - ele disse frisando cada palavra de forma ameaçadora.

-Vá agora! - Thiago gritou para Lílian que se pôs a correr quarto adentro.

-Não seja tolo, não podem salvá-lo. Ele me pertence - a criatura encapuzada alertou em um tom divertido, levando a atenção de Thiago da porta aberta do quarto para si mesmo - Mas se você insiste...

Thiago levantou a varinha lentamente para o homem a sua frente, este já a tinha em punho.

-Sabe, vocês não precisam morrer, eu só quero ele... aliás, é uma excelente idéia.

Sem chance de reagir, a última coisa que pode ouvir foi um grito rouco e arrastado:

-Império!

Mais uma vez, um riso alto se propagou por todo o ambiente, enquanto um Thiago largava a varinha e se deixava cair no chão. O riso se acalmou aos poucos ao mesmo tempo que um vulto coberto por uma capa subia as escadas murmurando para si:

-Isso mesmo! Durma à vontade, já terei terminado quando voltar a si.

Orgulhoso e supremo ele adentrou no quarto onde uma desesperada Lílian carregava um embrulho de cobertores nos braços, pânico estampado em seu rosto.

-Muito bem, dê-o para mim! - ordenou ele.

-Não, por favor, não o mate.

-Não fale inutilmente se sabe que nada vai adiantar - respondeu ele com desprezo.

Sem saber o que fazer, Lily colocou o bebê sobre a cama e tirou sua varinha de suas vestes. Apontando para o homem a sua varinha, ela disse trêmula mas decidida:

-Não se atreva.

Ele suspirou perante tamanha ousadia, quem ela estava pensando que era? Bom, isso não importava muito agora, mais uma vez ele ergueu a varinha e sibilou descansadamente de forma quase que inaudível:

-Império.

Mau terminara de pronunciar a palavra e uma Lily desacordada desabou sobre o assoalho, deixando a varinha rolar de sua mão até os pés dele, e por ele fora recolhida, indo se juntar a varinha de Thiago no casaco negro que estava usando. Mais uma vez, olhou satisfeito para a cena, fora mais fácil do que pensara, mirou o embrulho de cobertores esparramado pela cama que agora se debatia furiosamente. Voltou-se para a porta e gritou:

-Malfoy! Leve-os daqui, podem ser úteis mais tarde!

-Como quiser meu mestre! - outro homem encapuzado entrou no quarto carregando Thiago por cima do braço, se encaminhou até Lílian, pegou com o outro braço e jogou pó de flú na lareira, entrou nela praticamente arrastando ambos os corpos adormecidos e gritou:

-Mansão Malfoy! - desapareceu no instante seguinte.

O outro homem que prestava atenção em seu servo, olhou para a lareira vazia por um instante e depois virou-se tirando o capuz.

-Agora, de volta ao que interessa!

Na cama, o embrulho de cobertores já permitia ver uma pequena cabeça com dois pequenos olhinhos muito verdes. Ele se aproximou lentamente até o leito, eram os últimos minutos daquela pequena criatura que mau começara a viver, adorava a sensação anterior a matar alguém, era cheia de emoção, uma explosão de sentimentos tão desiguais que era difícil definir o que realmente sentia: o terror da vítima, culpa por tirar uma vida, prazer em matar, orgulho por seu feito, coragem por ser forte a tal ponto, covardia por não poder resolver a situação de outra forma... tudo se misturava naquele mesmo instante, para depois acabar em um mísero segundo, nada mais sentiria depois de tudo, era como se seu coração morresse junto com a vítima.

Seus olhos se arregalavam à medida que a distância entre ele e o pequeno menino de olhos verdes diminuia, o eco de seus passos eram o único som audível naquele momento, dali a alguns segundos ele seria o senhor absoluto novamente, nada de esperanças vindas de profecias ou coisas do gênero. Não! Ninguém mais duvidaria de seu poder. Ele ergueu a varinha apontada para o garoto, a mão trêmula.

-Avada Kedavra!

A luz verde do feitiço chegou ao garoto imponente, porém, ao atingir sua testa, o raio verde e frio se converteu em vermelho vivo que aos poucos tomava forma, primeiro um par de asas, uma cabeça de ave, duas garras, uma cauda suntuosa. O animal queimava em meio a chamas que subiam ao teto e se espalhavam por todo o aposento, enchendo-o de luz. Mechas douradas surgiram no passáro e, logo em seguida, se espalhavam pelas chamas ao redor.

A fênix já bem formada, olhava para o bebê sobre a cama, ora com grande admiração, ora com ternura. Os olhos dourados do pássaro pareciam querer tocar e misturar-se nas belas esmeraldas a sua frente, as mãos de Harry se ergueram tentando agarrar a cabeça da fênix carinhosamente, a expressão que esta demonstrou seria o mesmo que um sorriso para um humano.

Enquanto essa cena se desenvolvia, Voldemort observava confuso e assustado, seu rosto já mostrava os primeiros sinais de desespero quando a fênix repentinamente se voltou para ele. Seus olhos se aguçaram como se percebesse o porquê de estar ali naquele momento, seus olhos arderam em fúria, ela levantou vôo e as chamas que tomavam o quarto se soergueram como se seguissem a ordem de sua mestra.

Um canto sublime vindo de nenhum lugar surgiu, sobrepujando o som de explosões que ocorriam no quarto naquele mesmo instante. Vozes compassadas agora se uniam ao som doce e furioso da música de uma flauta, de um violino e de um piano.

Um já aterrorizado Voldemort foi jogado por uma rajada de ventos cheia de ira que, com toda certeza, não vinha da janela. As varinhas que carregava na capa caíam e se espalharam pelo chão, assim como a sua própria, o pássaro as olhava como se fossem as provas de crimes onde certamente o réu era culpado. Mais uma vez a fênix se ergueu abrindo suas imensas asas, queimando tudo ao seu redor, uma voz sussurante disse:

-Iluminnus Totalus!

Esta fora a ordem para atacar, a fênix avançou em um vôo rasante que atingiu sua vítima sem piedade, um grito de terror foi-se ouvido, sendo seguido por uma explosão de chamas incandescente. Num pequeno canto do quarto, um garoto chorava com a testa queimando com um fogo dourado que se manteve por um breve momento e depois desapareceu deixando uma marca em forma de raio em seu lugar.



Na Rua dos Alfeneiros, um garoto acordava no meio da noite, com a testa doendo. Harry se levantou e olhou-se num espelho, ao mirar a si mesmo, disse em voz baixa:

-Iluminnus Totalus!?!?

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