one
Me, Deery.
James correu pela floresta sem rumo, irritado. Tentou se concentrar no som dos cascos batendo na terra, e não na raiva que estava sentindo. Infelizmente, não estava funcionando.
Odiava brigar com o seu pai daquele jeito, mas ele simplesmente não entendia. Já estava grande o suficiente para entender o significado da palavra guerra, e para entender também o que significava participar de uma. E ainda assim ele queria. Não poderia deixar aquele lorde imbecil estragar tudo, não poderia deixar seus pais lutarem sozinho e ficar em casa calmamente.
Não conseguia.
Então, no meio da discussão, James pegou a chave de portal de emergência de seu pai, que o levava para onde quisesse, e desaparatou em uma floresta estranha, onde se transformou em cervo e começou a correr, tentando aplacar sua raiva.
Ele não entendia sua vontade, não entendia sua angústia, não conseguia entender a necessidade que tinha de não deixar todo mundo que conhecia e amava morrer, de braços cruzados! Sabia que ele estava tentando protegê-lo, mas isso era demais!
James correu, e correu, e correu, até que a floresta acabou e ele estava de frente para um jardim, de frente para uma casa de madeira. Olhou em volta e recuou, lembrando-se de que era um cervo ali.
Lily observou o animal se aproximar de sua casa, curiosa. Aproximou-se lenta e silenciosamente, contradizendo o que o seu pai dizia sobre os animais da floresta. Aprendera nas aulas de trato das criaturas mágicas que, com qualquer criatura, era só tratar direito e eles não a atacariam.
James teve um sobressalto ao ver Lily tão perto de si. Como ela viera parar ali? Estava confuso. Mas não tinha tempo para confusão, pois ela se aproximava rápida e cautelosamente dele. E, por algum motivo, ele ficou paralisado.
-Olha só você... parece cansado – Ela disse olhando o animal nos olhos, tocando-lhe as costas bem devagar. Quando sentiu-se segura, acariciou-o vigorosamente, fazendo James ter um comichão de sair correndo. Antes que algo ruim acontecesse.
-Eu não posso ir dentro de casa agora, estou toda enlameada... – A ruiva disse a si mesma, olhando para os sapatos cheios de lama e em seguida para o céu nublado. – Mas parece que não vai chover. Vou te levar para o rio – Ela segurou o seu chifre com leveza, mas também com firmeza, puxando-o levemente. Não doía e nem ameaçava, mas comandava vigorosamente.
James seguiu-a, surpreendendo-se em como ela conhecia bem aquela floresta. Sabia onde pisar, todas as pedras, e calmamente o guiava por elas. Ela morava ali, por que ele acabara indo pr’aquele lugar?
-Chegamos, é aqui – Ela soltou seu chifre e aproximou-se da água, agachando-se perto das pedras e molhando os braços. Então chamou-o. – Vem, vamos, beba um pouco – Pegou um pouco de água com a mão em concha, aproximando-o dele.
James se aproximou dela e tomou a água de suas mãos. Lily sorriu.
-Isso, bom garoto, é isso aí – Lily acariciou a cabeça dele e riu, levantando-se. O sol finalmente se abriu e começou a ficar quente ali, apesar de todas as árvores em volta. Lily olhou em volta.
- Você não vai se incomodar, não é mesmo? – Ela perguntou e riu depois, começando a abaixar as alças de seu vestido, tirando os sapatos em seguida. James virou a cabeça para o outro lado. Ela estava sem sutiã, e linda. E agora entrava na água, molhando os braços e mergulhando.
James a observou quando a água já não o deixava ver nada que não fosse o rosto e os cabelos dela. Ela sorria para ele, sem saber de nada, e estava mais linda e mais sorridente do que nunca. Havia algo de muito atraente no modo que ela se movia, no modo que ela dava carinho a qualquer coisa viva, no modo que ela era natural o tempo todo. E ele queria absorver aquilo, ficando o maior tempo que conseguia. Ali. Com ela.
James viu uma sombra na água próxima a Lily e ergueu o olhar. Eriçou-se de imediato e fez um som, sem obter resultado. O grande cervo que aparecera atrás dela não recuara, e, James podia sentir, ele estava muito agressivo.
James entrou na água rapidamente e mordeu os cabelos dela, puxando-a. Lily deu um grito e olhou-o. E então olhou para onde ele olhava, gritando novamente.
James fez um som parecido com um rosnado e virou o focinho para a casa dela, indicando para que ela fosse. E Lily foi, pegando seu vestido e seus sapatos, enquanto James encarava o cervo, que bufava.
Os dois bateram cascos e ela virou-se para trás, vendo aquilo. Não pensou muito e voltou a correr, só parando quando se jogou nos braços da mãe, na cozinha de casa.
-Lily, meu amor, o que houve? – A mulher abraçou a filha que tremia e chorava, nua. Começou a pensar o pior.
-Comigo, nada, mãe... – A voz da garota era trêmula enquanto ela voltava os olhos para a floresta. – Mas com ele eu já não posso dizer – Lily afundou o rosto no ombro da mãe e chorou, chorou até adormecer.
Martha Evans checou a temperatura da filha de hora em hora, preocupada.
O que será que ela vira para impressioná-la daquele modo?
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