two
-Albert! Albert! – Marlene chamou abrindo a porta de casa, tirando o sobretudo e colocando-o no cabideiro do hall de entrada, tirando as luvas e jogando-as na mesinha ao canto em seguida. Deixou a bolsa ali também antes de ir buscar o cãozinho, preso na varanda de casa pela coleira rosa.
-Sim, senhora – O mordomo apareceu grisalho e ligeiramente careca, vestindo o traje de praxe para mordomos.
-Pegue o xampu e uma toalha da Fifi, aquele sem perfume – Ela jogou os sapatos de lado no hall, carregando o cachorro nos braços – Ah, e traga um pente macio também! Temos que pentear esse pêlo bonito, não é mesmo? – Acariciou a barriga do cão preto, que arfou ligeiramente, fazendo-a rir.
Marlene carregou o cachorro até o banheiro do andar de baixo, colocando-o dentro do box. O cachorro ficou ali sentado, observando-a. De um jeito esquisito.
-Agora vamos dar um banho em você... – Ela tirou o cinto que prendia o vestido e colocou-o pendurado no cabideiro do banheiro, ligando o chuveiro e abrindo o chuveirinho, ajustando a temperatura da água para morna.
-Ah, você gosta disso, não é? - Ela colocou o chuveirinho sobre a cabeça do cachorro, que fechou os olhos enquanto ela passava a mão pelo pêlo macio. – Mas é claro que gosta...
-Aqui está, senhora – Albert chegou com uma toalha branca felpuda e um frasco do xampu nas mãos. O cão ganiu.
-Shh, calma, não vou fazer nada de mau... – Marlene disse enquanto o mordomo deixava tudo no balcão da pia do banheiro. Marlene agradeceu-o e ele deixou o local.
-Veja, eu imagino que você tenha problemas com perfumes, esse aqui não tem cheiro – Ela encheu a mão de xampu e levou até o nariz dele. A partir dali, ele ficou quietinho enquanto ela o lavava, enxaguava e enxugava com a toalha.
Quieto até demais.
-O que há de errado com você? – Ela perguntou enquanto, sentada no boxe, penteava cuidadosamente o pêlo do cachorro. Ele apenas fitava o chão tristemente, causando melancolia na garota. – Será que eu te tirei de alguém? – Ele apenas fitou-a e voltou a fitar o chão. Suspirou.
Terminou de penteá-lo e levou-o para seu quarto. Fifi já dormia na sala anexa ao seu quarto, em sua caminha cor de rosa, os pêlos longos e brancos espalhados a sua volta.
-Vai dormir aqui com a Fifi – Abriu a porta do quartinho, mas o cão negro ganiu novamente. – Não quer? Tudo bem então, pode dormir no meu quarto... mas só por hoje, que você ainda está limpinho – Riu baixo e abriu o armário.
Tirou o vestido e as meias-calça, indo para o banheiro e tomando um banho rápido. Não sabia por que, mas o cachorro virara de costas para ela quando começara a fazer isso.
“Cachorro estranho” pensou e deu de ombros, largando a toalha sobre a cama e vestindo a camisola branca de seda, sua preferida. Então deitou-se na cama e tampou-se com o lençol, sorrindo levemente ao ouvir o som da chuva.
Adorava o som de chuva.
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