Inspetor Hostil
O segundo ano letivo de Hogwarts iniciara. Tiago estava tendo um romance com Valerie Harrington, artilheira da Corvinal. Uma menina morena de olhos cor de mel.
Alvo passou a viagem inteira na mesma cabine que Scorpio e Rose, discutindo sobre a oportunidade de escolher somente as matérias que lhes interessassem.
Assim que chegaram a Hogwarts se dirigiram ao salão principal, recebendo os alunos primários. Depois da seleção das casas, iniciou-se um banquete de boas vindas. Tiago cumprimentava os novatos da Grifinória, que o admiravam e insistiam em sentar-se perto dele.
– É verdade, então? – uma voz esganiçada soou da mesa dos grifinórios. – Malfoy e Potter se tornaram realmente amigos?
Quase todos olharam Tiago primeiro, e em seguida para Alvo, que sentava na frente de Malfoy. Tiago imaginara que um dia as pessoas estranhariam isso. Mas nem mesmo ele podia reclamar. Alvo estava se saindo muito bem na Sonserina.
– Depois de tudo o que aconteceu? – a voz do mesmo menino do terceiro ano da Grifinória continuou.
– Cale a boca, Finnigan! – Malfoy disse em alto e bom som, numa voz arrastada de puro tédio. Scorpio estava mais alto do que no ano anterior e seus cabelos estavam jogados para trás, de modo que ondulações muito louras arrastassem pela nuca.
Robson Finnigan corou. Sua intenção não foi provocar. Disse aquilo apenas para ter certeza do que estava acontecendo. Pois estava quase certo de que a amizade entre Scorpio e Alvo não iria durar muito.
– Não me mande calar a boca, Malfoy. – disse Robson, um pouco inseguro. Não queria arranjar uma briga logo no primeiro dia de aula, mas não podia permitir que um aluno do segundo ano falasse assim com ele. Robson era filho de Simas Finnigan com uma mulher trouxa, que era advogada.
– Então não fale a nosso respeito quando não for convidado! – disse Alvo, tranquilamente, provocando risadas na mesa da Sonserina, que adorava quando seus favoritos eram notados.
– O que foi agora, Potter? Vai dizer que você não sabe! O pai e o avô do seu amigo deviam estar em Azkaban!
A atenção do salão estava voltada somente para a discussão das duas mesas. Os olhos frios de Scorpio tornaram-se fendas. Sabia que o que Robson dizia era verdade, mas jamais iria admitir. Colocou a mão no bolso, com intenção de pegar a varinha, mas foi detido por Alvo, que apertou o seu pulso.
Robson viu que Scorpio não respondeu. Por impulso e desejo de ser o centro das atenções continuou:
– É isso aí! Todo mundo sabe que os Malfoy subornam o ministério, como sempre fizeram. Por isso estão em liberdade.
No instante em que terminou de falar, o cálice que Robson segurava foi estilhaçado, batendo os cacos de vidro contra uma bandeja de prata. Os alunos que estavam perto deram um pulo. Alvo percebeu que Scorpio apontava sua varinha discretamente na direção de Robson Finnigan. Pelo visto, Malfoy lançara um feitiço mudo.
– Já chega! – disse a diretora Minerva, finalmente percebendo o que ocorrera. – Quem foi o responsável por isso?
– Foram eles, professora! – disse Robson apontando o dedo trêmulo para Alvo e Scorpio.
Minerva McGonagall foi em direção aos dois sonserinos com um olhar desapontado. Alvo deu um suspiro forçado. Scorpio não alterou sua expressão facial, fria e ameaçadora. Em nenhum momento negou sua culpa.
– Apenas eu fui o responsável. – murmurou Scorpio, secamente.
– Não precisa me encobrir, Malfoy. – complementou Alvo, dando uma risada sarcástica. – Sou tão culpado quanto você.
– Sofrerão detenção. – disse a diretora, calmamente. – Lázaro irá se encarregar de vocês dois.
– Com licença, professora... Mas acho que Finnigan deve vir conosco. – prosseguiu Alvo. – Foi ele quem começou com tudo isso. Não foi, gente? – então os alunos da Sonserina concordaram profundamente, berrando xingamentos referentes a Robson, fazendo com que os demais alunos se abismassem.
– Muito bem... O Sr. Finnigan irá com vocês. – finalizou Minerva, fazendo sinal para que a acompanhassem.
Os três alunos seguiram a diretora até o final do corredor, onde estava um homem alto, magro, de cabelos ralos e grisalhos. Usava um tapa olho e sorria perversamente.
– Acompanhe-os até a sala do professor Greengrass. O castigo deles será organizar todos os livros de poções. – a diretora olhou mais uma vez para os três. – Vocês podem demorar um pouco. Mas assim que terminarem irão direto aos seus salões comunais. Boa noite.
A diretora se voltou ao salão principal. Lázaro Jones mostrou um sorriso grande e dourado. Ele lembrava um pirata, muito acabado com um casaco preto e surrado.
– Vocês não durarão muito tempo em Hogwarts se sofrerem detenções freqüentemente. Eu serei o responsável por tornar cada tarefa um inferno. – disse Lázaro, com orgulho, indo em direção as escadas.
Assim que chegaram à escura sala do professor Adolf Greengrass se depararam com enormes pilhas de livros empoeirados sobre as carteiras.
– O trabalho de vocês é separar os livros antigos dos novos, colocando-os nas estantes de cada categoria sem usar magia.
– Como os trouxas fazem? – perguntou Malfoy, desdenhoso. Jones encarou-o sem responder e continuou com suas explicações:
– Os livros antigos deverão ser colocados naqueles caixotes ali, serão doados. – Jones apontou para o canto da sala. – Estarei do lado de fora, para garantir que não irão a lugar nenhum até terminarem.
Assim que o inspetor saiu e bateu a porta, a sala ficou extremamente escura. Não era possível ver muita coisa. As janelas estavam trancadas e a única luz vinha de um pequeno lampião deixado em cima da mesa do professor.
– Esse abutre caolho só pode estar brincando! – exclamou Scorpio, pegando o lampião, de modo que a luz chamejasse em sua face pálida. – Como vamos enxergar o que está escrito nos livros! Acho muito improvável que a McGonagall tenha mandado ele nos trancafiar aqui sem luz!
– Lumus Máxima! – disse Alvo, com a varinha erguida. Então um enorme jato de luz saiu de sua varinha marrom de corda cardíaca de fênix. – Agora sim.
– Brilhante! – disse Robson. A luz revelou seu rosto sorridente bem em frente a Malfoy. – Mas acho melhor não usarmos as varinhas.
– Ninguém pediu a sua opinião. – a voz de Scorpio saiu pesada e seca. Robson ficou quieto. – Seu mestiço imundo!
Robson Finnigan ficou vermelho. Não conseguiu pensar no que responder e por um momento pensou em atacar Malfoy com as próprias mãos. Alvo encarou Scorpio atordoado. Apesar de saber que seu amigo detestava qualquer tipo de relação com trouxas, nunca o vira demonstrar isso na frente de um aluno de Hogwarts que não fosse da Sonserina.
O ambiente agora estava muito claro. Os três garotos começaram a separar os livros como havia sido mandado. Scorpio fazia de má vontade e demoradamente, como se nunca tivesse sido obrigado a arrumar alguma coisa. ‘’Eu não acredito que estou fazendo isso!’’, murmurava constantemente.
Havia se passado mais de duas horas e ainda havia muitos livros a serem organizados. Robson não olhava na direção de Scorpio de jeito nenhum. Toda a vez que o fazia, este o encarava ferozmente. Alvo era o mais rápido dos três e era o único que não devia estar ali realmente. Mas preferiu isso ao ver seu irmão o avaliando de longe, como estava fazendo no momento da briga no salão principal. E também precisava vigiar Scorpio caso ele novamente tentasse enfeitiçar Finnigan.
A porta se abriu ligeiramente. Lázaro Jones os encarou furioso. Segurava um castiçal com cinco velas acesas.
– O que foi que eu falei sobre usar magia? Apague esta varinha agora, Sr. Potter!
– Então nos traga mais lampiões! – disse Robson, finalmente encorajado.
– Que foi que disse? – Jones transmitiu um olhar desafiador.
Uma voz calma e masculina surgiu atrás do inspetor. Um homem robusto de cabelos negros entrou na sala.
– Deixe disso, Sr. Jones. Os meninos estão cansados. Hoje é a primeira noite que passam em Hogwarts este ano. E tenho certeza de que não queriam gastá-la na sala de poções. Todos os outros alunos já estão descansando.
– Mas eles estão cumprindo uma detenção! E nesse caso é proibido usar magia! Foi a própria diretora McGonagall que...
– Tudo bem, Sr. Jones. Então vou eu mesmo ajudá-los a terminar. – disse o professor Hazel, sorridente.
Lázaro abriu a boca como se fosse dizer algo, mas não disse nada. Não ousaria discutir com um professor. Virou-se e desceu as escadas, mancando e sussurrando coisas. O professor de Defesa contra a Arte das Trevas se agachou em frente aos livros e começou a separá-los, sem usar a varinha.
Os três garotos sorriram aliviados. Em seguida começaram a ajudar o professor. Ficaram mais uma hora cumprindo a detenção. Tempo suficiente para Alvo ter certeza de que Emperor Hazel era o melhor professor que Hogwarts já teve.
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