Minhas Garotas
Capítulo 2 – Minhas Meninas
Severus não se sentia cansado. Dormira não mais do que três horas e acordara por causa de um sonho horrível. Ele – e somente ele – sabia que aquilo não era apenas um sonho. Era apenas confuso como um sonho, mas, mesmo que ele não aceitasse, era a mais pura verdade.
Eram flashes correndo num fluxo apressado: Seu pai, sua mãe, gritos, sangue. Tudo visto debaixo. Ele não se lembrava da cena como um todo. Os médicos diziam que era uma memória suprimida.
Lembrava-se de Eileen, sua mãe, gritando com todas as suas forças e tentando chegar até sua varinha. Lembrava-se de Tobias puxando-a pelas pernas e cravando seu punho nas costas dela. Ele estava sentado no canto da cozinha. Observando aquele homem abusivo e nojento fazer todas aquelas maldades.
Inútil. Fraco. Como ele pôde deixar aquilo acontecer? Todos diziam que ele era um bruxo poderoso, com habilidades excepcionais na luta contra o mal. Pelo visto, não era tão bom assim.
Sua próxima lembrança era o funeral. Eileen deveria ter sido enterrada junto a sua varinha, mas não foi. Aquele crápula levou o precioso artigo com ele quando fugiu. Talvez ele achasse que poderia fazer magia ou que poderia vender aquilo para alguém que acreditasse em magia.
Por vezes, pensou que deveria tirar “Snape” de seu sobrenome. Ele abominava o homem que lhe dera essa marca – sim, aquilo era uma marca negra dentro dele – e não desejava de forma alguma que qualquer sinal dele permanecesse por perto. Mas seria em vão. A genética era forte demais, na aparência, ele se parecia demais com Tobias. Acabou desistindo da ideia após olhar-se no espelho.
Não importava mais. O que ele fez estava feito. E Severus sentia-se culpado desde então. Ele não fora bravo o suficiente para salvar a única pessoa com quem ele podia contar.
Além de Lilly, é claro.
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Enquanto se vestia, lembrou de quando a conheceu.
Era outono e as folhas avermelhadas das Maple Trees que rondavam sua casa caíam aos poucos na grama em volta. Ele corria pela rua com os braços abertos, como se fosse um avião. Estava estranhamente feliz, mesmo que completamente sem motivo.
Pelo contrário. Saíra de casa minutos antes para não ter que explodir copos. Preferia não lembrar por que, afinal, aquele acabou sendo o melhor dia da sua vida.
Como corria distraído pelo cheiro das folhas caindo e um esquilo correndo a sua frente, não percebeu a grande pedra que estava solta e bem em seu caminho.
Ele já estava acostumado às várias pedras soltas na miserável Spinners End, onde morava. Elas, aliás, eram bem mais comuns do que as pedras presas ao solo. Mas lá, em Privet Drive, isso era um pouco diferente: as pedras estavam quase todas bem alojadas em seus devidos lugares e era raro achar um desnível.
Raro, mas não impossível. Talvez por um milagre, ou apenas um toque de mágica, Severus tropeçou naquela que provavelmente era a única pedra solta em toda a calçada. E caiu exatamente em frente à porta da casa número 4, justamente quando a menininha dos cabelos ruivos e olhos esmeralda saía para chorar escondida.
Secando as lágrimas suavemente com a manga da camisa, Lily foi ver o que aquele estranho garoto fazia sentado em frente à soleira de sua porta. Severus, por outro lado descobriu algo totalmente novo para ele. Seus olhos negros, fixos na garotinha, conseguiam enxergar um halo cobrindo-a, como uma incrível luz dourada vinda do Céu.
Suas mãos começaram a suar e ele sentia que não levaria mais que alguns segundos para que seu rosto começasse a corar. Tentou disfarçar e deu o máximo de si para levantar e sair andando antes que ela chegasse ao seu lado.
Não foi o bastante.
Ao perceber que Severus queria fugir, Lily deu um passo mais longo e lhe estendeu a mão, para que ele pudesse levantar sem cair novamente.
- Acho que você está precisando de ajuda, não é mesmo? – Seguiu-se uma risadinha constrangida de ambos.
- Me... Me desculpe, mas acho que quem precisa de ajuda é você. – Respondeu logo se arrependendo amargamente. – Posso perguntar por que a senhorita estava chorando?
- Senhorita? Quantos anos você tem? 20? Haha. Pode me chamar de você. – Olhou para os lados e continuou num tom um pouco mais baixo: - Ou de Lily, se quiser. É o meu nome, afinal. E o seu?
- Eu me chamo Severus. Severus Snape. Sou da Spinners End, aqui perto.
- Muito prazer, Severus, Severus Snape.
Ele resolveu aceitar a ajuda de Lily e se levantou.
- Não quero ser enxerido, mas a sen... você não respondeu a minha pergunta. Por que estava chorando?
Lily corou rapidamente. Logo olhou para baixo e deixou uma única e solitária lágrima escorrer de seu olho direito. Quase num cochicho ela respondeu:
- Se eu contar... Promete que não me achará louca?
- Mas é claro que eu prometo. – disse compreensivo o garoto.
- Eu... Consigo fazer coisas... Que ninguém consegue.
- Como o quê?
- Venha comigo. Eu vou lhe mostrar. – Fez uma pequena pausa. – Só não conte para ninguém que eu posso fazer isso.
- Não vou contar nunca. Eu prometo. – Disse entendendo-lhe o dedo mínimo da mão direita. – Promessa de mindinho.
A garota deu uma larga risada. Ele não entendeu por que e permaneceu com a mesma cara. Ela percebeu que não era para ser engraçado e acabou por entrelaçar seu próprio dedo com o dele.
- Sabe, Sev. Posso te chamar de Sev, né? – Ele balançou a cabeça positivamente. – Acho que nós vamos ser ótimos amigos.
Lily passou o braço por trás das costas de Severus abraçando-o. Ele retribuiu, mesmo que um pouco constrangido, colocando seu braço por cima do ombro da garota.
Os dois andaram por alguns quarteirões rumo ao sol e passaram um bom tempo juntos naquele dia.
Severus sentiu-se feliz como nunca fora na vida. Ele sabia, desde aquele instante, que só mesmo a morte os separaria.
Pena que aquele sentimento não se concretizou no futuro.
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Um toque nada sutil no ombro de Severus o fez acordar para a realidade.
Lucius Malfoy o cotucava com sua maldita bengala.
- Anda logo, mestiço. Não faça a nossa nobre casa perder pontos apenas por que você quer sonhar um pouco mais. – Concluiu com a risadinha arrogante de sempre e um olhar malicioso, seguido da frase dita do modo mais preconceituoso que poderia existir: - Quanto àquela sangue-ruim com quem você anda de um lado para o outro, dê um jeito de fazê-la largar do seu pé. O Tom não gosta nada, nada dela.
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Fim do Segundo Capítulo
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Gente, por favor comentem ;-;
Falta de comentários me deprime ;--------;
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