Fingimento Acadêmico dos que E
Capítulo cinco. – Fingimento Acadêmico dos que Estudam para deixar o Ministério Manipular Você.
O Lince se contorcia na carteira de madeira e rabiscava a ponta de seu pergaminho. Se sentia estranha, ansiosa. Erguia os olhos profundos e azuis a todo momento para fixá-los em Flitwick, que agora demonstrava como executar um feitiço de cima da sua pilha de livros – usava-os como uma espécie de pódio para ganhar altura. Os alunos em geral levantavam as mãos de tempos em tempos para fazer perguntas.
- Explicarei novamente, não tem importância! – a vozinha de ratinho de Flitwick soava de cima da pilha de livros, enquanto sacudia um cálice de prata na mão. – Evanesco. – e o conteúdo do cálice desapareceu.
Alguns alunos da Sonserina faziam bolinhas de papel no fundo da sala e a jogavam na cabeça de Lince, que fingia não sentir nada e mantinha os olhos ou no pergaminho, ou no professor.
- O feitiço é simples – ele dizia com a voz fina, alcançando uma nota particularmente aguda no final – A água é conjurada para dentro do cálice e se não tiver enfeitiçada, é bebível. Vocês devem apontar a varinha para o cálice e mentalizar a água, ouçam o barulho dela batendo no fundo do recipiente, materialize-a. – e então o Profº. Flitwick apontou a própria varinha para o cálice – Aguamenti.
Os alunos estavam boquiabertos ao ver a água jorrar da varinha do professor para o cálice. Flitwick o ergueu e bebeu depois de saudar a sala.
- Quero todo mundo tentando!
A sala começou a se movimentar de repente e todos pegavam os cálices de prata à sua frente e tentavam enchê-lo com água. Lince apontou a varinha para o seu próprio cálice e murmurou sem vontade alguma o feitiço, que não fez nada mais do que derramar poucas gotas. Alexander Warneck apontou a varinha com tanta força para o cálice que parecia querer furá-lo, o que resultou num potente esguicho de água em seu próprio rosto. Alexander tossia e recuperava o fôlego quando Flitwick franzia o cenho para ele.
- Calma meu rapaz... Calma... Você está no caminho certo é claro, mas precisa ir devagar.
Lince apertou a beira da carteira para não cair na risada, mordendo o lábio inferior com tanta força que sentia dor. Os alunos da Sonserina não ficaram felizes ao ver que ela se divertia e então proporcionaram-na mais uma chuva de bolinhas de papel. A menina já irritada então, fechou os olhos e apontou a varinha por trás das próprias costas e mentalizou o feitiço: Protego... E quando a próxima bolinha foi tentar acertá-la, ricocheteou no escudo criado por ela e voltou para os próprios lançadores.
Flitwick pareceu ter percebido o movimento e arqueou as sobrancelhas espessas, ainda se equilibrando no monte de livros:
- Ora, o que é que está acontecendo aqui, senhores? Reconheço um feitiço escudo quando o vejo.
Lince revirou os olhos, teria que explicar que os babacas da Sonserina estavam enchendo o saco mais uma vez?
- Foi muito bem executado, é claro, senhorita Florean, o que lhe renderá quinze pontos para a Corvinal. E pela audácia dos jovens cavalheiros ali atrás, Marlo e Philips terão lindos quinze pontos descontados de sua amada Sonserina.
Os alunos da Grifinória e Corvinal aplaudiram momentaneamente enquanto Lince procurava um local que achasse adequado enfiar a cabeça para desaparecer e ocultar seu rosto vermelho.
- Venho observando que apresenta uma certa facilidade com feitiços senhorita Florean, será que poderia nos mostrar o que consegue fazer com o Aguamenti? – acrescentou.
- Ah... Não... Não sou tão boa assim não... – ela gaguejou timidamente.
- Não seja modesta, vamos lá.
- Acho melhor não... Professor...
Ela sentiu Linette a cutucar com força nas costelas.
- AI! Tudo bem eu mostro! – rosnou após fuzilar a amiga com o olhar. E então suspirou, ergueu a varinha e executou um excelente feitiço não-verbal que encheu imediatamente o seu cálice.
- Pelas barbas de Merlin! – Flitwick parecia tremer de excitação, fazendo os livros balançarem precariamente embaixo de si – Além de executá-lo perfeitamente, ainda não precisou verbalizá-lo! Ficarei contente em acrescentar mais trinta pequenas pedras azuis na ampulheta da Corvinal minha cara Florean.
Lince sentiu um quentinho de contentamento em seu interior, adorava quando Flitwick ou McGonagall a elogiavam, pois eram os professores de suas duas matérias favoritas: Feitiços e Transfiguração e na sua opinião, os melhores da escola. É claro que em tempos passados adorara Defesa Contra a Arte das Trevas também, mas agora que a disciplina era lecionada por Dolores Umbridge as aulas eram simplesmente monótonas e insuportáveis.
Enquanto Linette dava tapinhas de aprovação nas costas de Lince, a menina deitou a cabeça na mesa e ficou feliz quando Flitwick voltou a atenção na explicação teórica do feitiço, para retomar a prática mais tarde quando treinassem o feitiço como um dever a ser entregue. Um dever a menos para ela, que recebeu outro tapinha encorajador de Flitwick conforme deixava a sala.
Linette saltitava ao lado da amiga, atravessavam a multidão de uniformes negros rumando para a aula seguinte.
- O que é agora? História da Magia né?
Lince fez uma careta, Linette entendeu.
- Arght, já temos outra aula de Defesa Contra a Arte das Trevas? Grande defesa, ficar lendo aquelas porcarias de livros... Como isso vai me ajudar a botar fogo no traseiro de algum Comensal da Morte?
- Devíamos é queimar aquela megera viva.
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- Hem Hem.
Várias cabeças de viraram na direção de Umbridge, sentada em sua escrivaninha com os braços gordos largados em cima de papéis rosa.
- Bom dia meus queridos alunos – ela silenciou por um momento, esperando em resposta o treinado e costumeiro coro de ˝boa tarde professora Umbridge˝– guardem as varinhas, apanhem as penas e passem para o capítulo seguinte de seus exemplares. Como sempre, não precisarão falar.
Por alguns minutos o som de penas arranhando pergaminhos encheu a sala. Alunos trocavam olhares pesarosos e outros arriscavam imitações grotescas de Umbridge escrevendo com sua pena cor-de-rosa, um deles Linette, forçando Lince a se segurar para não rir da perfeita imitação.
Tinha vontade de rir, mas também tinha vontade de chorar, de gritar, de lançar feitiços em Umbridge. Aquela mulher maléfica estava acabando completamente com o ensino em Hogwarts, e justamente com uma de suas matérias favoritas, aquela megera. Sentada ali com suas roupas repulsivas, seus gatinhos e babadinhos enquanto o mundo explodia do lado de fora do castelo.
Pessoas sendo torturadas e morrendo enquanto ela sorria com sua boca sapal e rasgada, pedindo para que ignorassem completamente todas as verdades, para que se concentrassem nos livros à sua frente e nada fizessem, que deixassem Voldemort vencer. Pro inferno com A Alta Inquisidora de Hogwarts.
Já tinha lido aquela porcaria de livro dezenas de vezes e podia identificar completamente cada parte de cada capítulo se pedissem, mas a informação ali contida era inútil e sem sal: nada que poderia realmente ajudar quando a guerra estourasse, nem em sua própria defesa, o que era irônico, pois a matéria se chamava justamente Defesa Contra a Arte das Trevas, fazendo Lince pensar que seria mais adequado Fingimento Acadêmico dos que Estudam para deixar o Ministério Manipular Você.
Qual era a deles?
- O que nós fazemos? – sussurrou Linette após espetar a pena no livro.
Lince sabia que a grande maioria da Corvinal já havia devorado o livro que estava na frente dela agora, e não tinham nada pra fazer na aula a não ser encarar Umbridge. Sentiu um ímpeto de gritar com a mulher crescer, desejou jogar seu livro nela e berrar o quanto ela era incompetente deixando que aquilo acontecesse. Que Você-Sabe-Quem acabasse com ela no final de tudo aquilo, se não pudessem se proteger direito a culpa seria dela e daquele Ministro igualmente incompetente.
- Acho que não temos muito a fazer, a não ser pensar na vida. - respondeu-lhe.
Ou esperar que algum aluno da Grifinória faça estardalhaço.
Os alunos não ousavam mexer com Umbridge com exceção de poucos, que segundo ela mesma garantia, recebiam suas punições de forma adequada, mas mesmo assim havia os mais atrevidos que não se conformavam com o que estava acontecendo na escola.
Ela fitava a boca larga da professora, e foi como se estivesse olhando para o Ministro da Magia parado ali, negando todos os acontecimentos, estimulando a confiança nas pessoas... Mas que tipo de Ministro da Magia era aquele que mentia e impedia as pessoas de se salvarem? Queria lutar contra aquilo, pegar sua varinha agora mesmo e sair derrubando qualquer brutamontes que não estivesse do lado do bem. Começando pela Alta Inquisidora de Hogwarts.
Voldemort estava voltando, não demoraria muito, podia sentir. Estava voltando e levaria consigo o maior número de pessoas possível... Derramaria muito sangue trouxa e se necessitasse, muito sangue bruxo, para atingir seus objetivos. Agia nas sombras, oculto e protegido por várias forças, as forças de seus poderes, de seus Comensais, de seus aliados e partidários, as forças de quem o encobria e o escondia, quem o negava, e quem impedia que falassem sobre ele, pensassem nele.
Era simplesmente um pânico, as pessoas não aceitavam... Não podiam ver? Quanto mais fugissem do assunto e quanto mais se restringissem estariam se afastando do ponto principal? Como eram eles capazes de calar Harry Potter? De dizer que o garoto era pirado quando tudo, absolutamente tudo a sua volta denunciava explicitamente a volta de Você-Sabe-Quem?
Dumbledore.
Quão malucos estavam todos? Duvidavam de Dumbledore, o maior bruxo existente.
Não era à toa que a achavam louca, se mal podiam acreditar em Dumbledore.
Teve seu surto de raiva interna interrompido por cutucões insistentes nas costelas e a voz nervosa e rápida de Linette:
- Lince... Lince... O que tem de errado com você?
Ela franziu o cenho. Como assim, errado?
Seguiu o olhar de Linette até sua mão e percebeu que apertara a pena tão forte que perfurara profundamente sua pele, que sangrava. Soltou um longo suspiro e com alguns acenos de varinha ela mesma fechou seu ferimento e limpou o sangue sem chamar a atenção de ninguém. Se perguntou se talvez a aula fosse mais divertida se ficasse se furando e se curando até que o sinal batesse, mas achou a idéia um tanto idiota, pois não gostava de dor.
Finalmente o sinal bateu, e então poderiam deixar a sala e seguir para a próxima aula. Lince lançou um último olhar furtivo para Umbridge, que sorria inocentemente, dando-lhe um ar medonho e infantil, antes de sair da sala.
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