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Ele correu através da rua sob os olhos dela, que ria, ainda que se fingisse de preocupada.
Ao chegar ao outro lado da rua correndo ele amparou-a com os braços, abraçando-a em seguida. Ela ria muito e ele riu também, agora também estivera preocupado com ela, e o sentimento que seu coração batia agora era o alívio.
-Remus, você vai ser atropelado, olhe para os lados! – Dorcas avisou-o, vendo-o virar-se para si e sorrir docemente. Ele estendeu-lhe uma mão, indicando que ela atravessasse também. E, por algum motivo, ela imitou-o, correndo através da rua por onde passavam alguns carros.
Remus colocou um braço por cima dos ombros dela e caminhou com a garota, a outra mão dentro do bolso do casaco.
-Vem, vamos comer logo – Os dois seguiram para a padaria logo à frente, um lugar simples, paredes e piso brancos com o rejunto preto, ventiladores brancos e janelas pretas pendurados a eles, as cadeiras de metal brancas e as mesas da mesma cor espalhadas ao lado direito do caixa.
Os dois fitaram os pães por trás do acrílico curvado, indecisos. Remus olhou para Dorcas, que fitava os pães com um dedo indeciso na boca, e teve de sorrir ao sentir aquele sentimento gostoso inundar o seu peito. Decidiu que poderia ver isso para sempre, que nunca se cansaria.
Eles decidiram finalmente o que iam comer, pagando no caixa e sentando-se em uma das mesas mais ao canto, perto de uma janela. Comeram até ficarem satisfeitos, recostando-se nas cadeiras de modo ligeiramente desleixado.
Remus pegou o papel pardo que envolvera seu pão e sacudiu-o levemente para tirar os farelos. Tirou uma caneta do bolso do casaco bege e começou a desenhar, escondendo os riscos que fazia com a caneta com uma mão, olhando para ela de vez em quando, um sorriso maroto leve no rosto.
Dorcas observou-o com uma sobrancelha arqueada, sorrindo divertida. O pôr do sol fazia os raios que entravam pela janela serem dourados, dando mais cor a tudo ali, inclusive a ele, que parecia brilhar em uma tonalidade dourada luminosa. Não conteve o suspiro. Decidiu que podia ver isso sempre, que nunca se cansaria.
-O que é isso aí, Remus? – Ela inclinou-se para ver, mas ele escondeu de seus olhos com a mão.
-Estou quase terminando, espere aí – Ele disse e ela voltou a se sentar na cadeira, fitando a paisagem para fora da janela. Então sentiu um papel bater em sua mão e olhou-o, Remus o entregava para si.
Ela sorriu levemente, seu sorriso inconscientemente cúmplice com o dele. Ele estava ligeiramente ansioso, bobamente ansioso, e ela percebia isso.
Era um desenho. Um desenho palito de o que parecia ser um garoto com uma caixa na mão, uma caixa aberta de onde saíam estrelas, estrelas que deslizavam do céu para entrar na caixa. Ao lado disso estava escrito “para você”.
Dorcas sentiu o peito pular, fitando o olhar ansioso do rapaz, que sorria incertamente. Levou uma mão ao rosto dele, que fechou os olhos para apreciar o seu toque. Ela inclinou-se sobre a mesa e uniu seus lábios aos dele brevemente, voltando ao seu lugar.
Ele pegou a sua mão e colocou-a sobre o seu peito, mostrando a ela o quanto o seu coração estava acelerado. Ela sorriu, o sorriso não demonstrando o quanto o seu coração também estava acelerado.
Remus se inclinou sobre a mesa e fez o mesmo que ela, selando os lábios dos dois e voltando a se sentar. Ela colocou o papel de pão desenhado cuidadosamente no bolso do casaco enquanto ele jogava o lixo dos dois na lixeira.
Remus passou um braço pelo ombro dela e os dois caminharam pela rua calmamente, os corações batendo no meso ritmo.
Afinal, não é isso que o amor é?
“Te dou meu pé meu não,
um céu cheio de estrelas,
feitas com caneta bic,
num papel de pão.”
Zeca Baleiro.
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