O dia anterior a festa
No dia seguinte, ao acordar, Harry sentiu uma coisa diferente e curiosa. Pela primeira vez desde em muito tempo tinha tido sua primeira boa noite de sono, e o mais estranho, sem nenhum sonho.
- Devia estar muito cansado ontem de fazer o trabalho sujo da minha tia pra dormir desse jeito. – Afirmou ele olhando para o teto e percebendo que estava descascado.
- Igual a minha vida. Sem cobertura, nem cor.
Olhando para o lado ele percebeu em cima da feia mesinha de cabeceira sua tão valiosa carta. Ficara lendo até dormir, dominado por palavras tão doces e ao mesmo tempo tão urgentes como se, apenas lendo-as uma chama, que com certeza não lhe pertencia, perpassasse sua pele e o levasse a quase se ferir no calor daquele sentimento.
Tinha receio do que poderia sentir. Receio de perder o pouco controle que tinha sobre sua vida. Mas, apesar de ter amigos maravilhosos, nunca se sentiu amado e por menor que fosse sua experiência em matéria de garotas, ainda ansiava por sentir o fogo da paixão lhe queimando o peito, suas adagas a lhe perfurar a carne com um sofrimento tão delicioso que por mais fundos que fossem os arranhões ele sempre pediria por mais.
Assustou-se ao pensar dessa forma.
- Eu nem sei do que estou falando. Pensou, se levantando rapidamente da cama.
O dia parecia lindo por trás da janela. Tão lindo que Harry a abriu e soltou sua Edwiges para celebrar seu bom humor naquele dia e depois de limpar sua gaiola, cantarolando uma canção de amor sem nem perceber do que se tratava, começou a guardar suas coisas para ir ao encontro de seus amigos.
As quinze pras três ele tentou se despedir de seus tios em vão e se dirigiu pra pracinha onde Hermione já lhe esperava acompanhada pelo pai de Ron, Arthur Weasley. O sorriso dos dois o acompanhou desde que ele os viu no finalzinho da rua onde se encontravam os balanços da pracinha, e o recebeu quando deles se aproximou.
- Como vai Harry? - O cumprimentou de forma formal e costumeira, o pai de seu amigo.- Teve um bom começo de férias?
- Preparado pra sua festa? - Perguntou uma sorridente Hermione. - Aposto que desta você nunca vai se esquecer.
- Eu nunca tive uma festa de aniversario Mione. E vindo de vocês tenho certeza de que nunca terei uma igual. Mas, cadê o Ron?
- Foi fazer companhia a Gina e, pasmem, a Luna para ir comprar roupas novas para sua festa. – Respondeu a garota.
- Loony Lovegood vai estar na minha festa?
- E Neville Longbotom. Completou o sr Weasley.
- Achei que já que eles tinham ficado ao nosso lado em... você sabe. Era legal chamá-los para fazerem parte da sua festa. Fiz mal? Perguntou uma amedrontada Mione.
- Não. - Responde Harry.
- Além do mais Ron está tentando faze-los ficar juntos. Parece que pode dar certo.
- È... faz sentido. Luna e Neville, você e Ron...
- De jeito nenhum. - Responde uma Mione vermelha até as unhas do pé. -Luna e Neville, Gina e você e é só. Perfeito. Sem discussões.
- Você já comprou o castiçal gigante? Pergunta Harry.
- Como assim?
- Porque já que você e o Ron vão ficar de vela, terão que se apoiar em algum lugar!
- Muito engraçado senhor Potter. Mas percebo que a conversa de ontem deu resultado e você está realmente pensando na idéia de dar uma chance a Gina.
- Meu medo continua firme, mas é tão bom ler e reler aquela carta. E é preciso conversar, entender o que se passa no coração da Gina. Talvez ela tenha se arrependido do que escreveu.
Mas no fundo, pensava Harry, torcia pra que ela tivesse mudado de idéia sim, mas que fosse para uma idéia onde o amor dela fosse maior e mais forte. Forte como um vírus mortal que Harry não via a hora de se alastrar pelo seu corpo.
A viagem foi tranqüila. E quando chegaram Harry se pegou pensando se tinha alguém vigiando seus passos ou se Voldemort não estava tão ativo assim. Nenhum ataque, nenhum olhar de medo. Aquilo parecia estranho.
Mas percebeu que não se importava e quando viu ao longe uma construção tão torta que parecia preste a desabar, a única coisa que se pegou pensando foi em um par de olhos castanhos.
A Toca continuava a mesma, com seus barulhos estranhos, suas explosões, seu excesso de tricô e com aquela aparência que Harry não conhecia, mas se pudesse nomear diria que se parece com “casa de avó”. Até começarem os gritos.
- Fred, George. Parem com isso já. Vocês vão acabar explodindo a casa.
- Não se preocupa não, mamãe. Se ela sobreviveu torta desse jeito esses anos todos com certeza umas explosoezinhas de nada não vão joga-la no chão. - Responde uma voz que Harry reconheceu como a de George.
- Não quero saber. Seu pai, Harry e Mione já chegaram e eu quero a casa limpa e no mesmo lugar quando Ron e as meninas chegarem amanhã.
- AMANHÃ. - Gritou Harry sem querer.
- Tudo bem, Harry querido? – Molly Weasley vinha descendo as escadas e, assim como toda a casa, ouviu o grito dele.
- As meninas queriam comprar vestidos e buscar o menino Longbotom, Ron foi acompanha-las e como a avó de Neville ligou aqui pra toca pedindo que ele só saia durante o dia resolvi, pelo bem de todos, que eles poderiam passar a noite por lá mesmo. Mas não se preocupe, amanhã, seu aniversário, todos estarão aqui para desfrutar de sua festa. – Explicou a Sra Weasley.
Os gêmeos, que vinham descendo a escada, completaram:
- Inclusive a Gina, que temos certeza que vai desfrutar de muito mais que uma festa.
Ao que Harry ficou completamente vermelho, os gêmeos deram grandes gargalhadas, Sr Weasley se segurou pra não rir e Molly deu um pequeno sorriso indulgente, no que foi acompanhada por Hermione.
- Vamos subir Harry, você conhece o quarto, mas mesmo assim tenho que conversar com você. - Falou Hermione o puxando pelo braço, entre palavras de incentivo dos gêmeos quanto a Gina.
- Quero ler a carta!
Hermione pedia com um olhar que demonstrava tanto súplica quanto cobrança.
- Quem falou que quero lhe mostrar? – Fala Harry se divertindo com a curiosidade da garota.
- Por favor?
- Claro Mione. Tava só brincando. Toma. – Harry a retira do bolso e entrega a amiga um pedaço de papel já quase rasgado de tanto manuseio.
- Nossa, mas você leu bastante né? Podia ler pra mim?
- Anh.
- È. Seria muito romântico escutar um menino lendo palavras de amor. Mesmo que sejam para outras pessoas. – Uma Hermione com lágrimas nos olhos se vira pra Harry e pede engasgada:
-Por favor.
Assustado com a atitude Harry responde:
- Você não precisa disso Hermione. Um dia, ele vai, não escrever, mas dizer pra você e pra quem quiser ouvir, que ele te ama. Nós dois sabemos disso.
- Eu não agüento mais esperar. São só brigas, nenhum carinho. Como posso ter certeza de que ele me ama? Ciúmes? Amigos sentem ciúmes uns dos outros.
- Amigos não tentam negar seus sentimentos de carinho um com o outro. E é o que ele faz. Nega com todas as forças que te ama e se força a acreditar nisso.
E puxando a amiga contra seu peito afirma que Ron é muito bom nisso, mas que toda máscara tem que ser retirada um dia, e o dia de Ron estava mais próximo do que ele ou ela imaginava.
Hermione passou grande parte da tarde escutando Harry ler a carta, com a cabeça em seu colo, agradecendo por poder presenciar, já que não poderia viver por enquanto, um amor tão forte e tão lindo como o que Gina deixava tão explícito naquela carta.
Ali estava, em palavras, toda a alma de Gina, seu coração, seu sofrimento e suas angústias, e Hermione nunca iria comentar isso com o amigo, mas um amor daquele não seria totalmente satisfeito até ser completamente sentido, não só pelos dois corações, mas pela união dos dois corpos. E pensando no porque e quando aconteceria co ela, adormeceu, nos braços de Harry.
Harry percebeu que a amiga tinha pegado no sono e, colocando seu óculos na cabeceira da cama, não a acordou, mas sim se aninhou ao seu corpo, onde dormiram felizes da presença reconfortante um do outro, sabendo que o dia de cada um ser feliz iria chegar e para acordar, no que seria o dia mais revelador de suas vidas.
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