Um presente especial

Um presente especial

 

.....

 

- Você não vai levantar?

A voz de Harry parecia vir de alguma outra dimensão, estava distante, era quase um sussurro. Certamente estava sonhando.

 

- Hey! Estou falando com você!

A voz ecoou um pouco mais forte, e ele maneou a cabeça para a direita, abrindo relutantemente os olhos. Harry já estava vestido, sentado na sua cama o olhando, e parecendo impaciente. Muito a contra gosto, Rony sentou-se, colocando as longas pernas para fora da cama.

 

- Pensei que não fosse acordar nunca, estou te chamando há horas. – disparou Harry revirando os olhos.

 

- É véspera de Natal, estamos de recesso, qual o problema em dormir?! – perguntou Rony emburrado, passando as mãos nos olhos para enxergar melhor o amigo.

 

- É, mas você disse ontem que precisa ir ao beco diagonal hoje, e que tinha que ser de manhã. – lembrou o outro enquanto ajeitava os óculos no rosto.

 

Sim, ele precisava ir ao Beco Diagonal, e sim tinha que ser de manhã. Hermione chegaria naquele tarde, e não poderia comprar seu presente se ela estivesse junto!

 

- Você já comprou o presente da Mione? – Perguntou Rony enquanto andava até o banheiro, como um sonâmbulo, sem olhar para Harry. Tinha a estranha sensação de que toda a vez que falava na amiga seu rosto denunciava seus sentimentos confusos por ela.

 

- Não – respondeu o outro sem notar as orelhas ruborizadas do ruivo, enquanto amarrava o cadarço do tênis.

 

- O que você pretende dar a ela? – sua voz foi abafada pela porta do banheiro.

 

- Um livro, eu acho – deu de ombros Harry, falando um pouco mais alto para ser ouvido pelo outro.

 

Livros... ele e Harry sempre davam livros para Hermione, mas esse ano havia economizado e não compraria um livro, queria dar a ela algo especial, que a fizesse lembrar dele. Sim, estava ficando maluco, sabia disso!

 

......

 

Depois de um demorado banho, Rony desceu lentamente as escadas. Harry já estava sentado à mesa, o prato cheio de ovos com salsicha.

 

- Finalmente, mocinho – disse Molly, colocando mais torradas e suco de abóbora na mesa. - Vamos, sente-se, sente-se.

 

Ele não hesitou, sentou e encheu o prato com tudo que estava na mesa. Sentia-se realmente faminto!

 

- Mãe, nós vamos ao beco Diagonal hoje – murmurou Rony com a boca cheia.

 

- Não fale de boca cheia, Rony – ralhou a senhora, olhando o filho com reprovação.

 

- Eu vou junto – anunciou Gina, depois de engolir apressada, o pedaço de torrada que tinha na boca.

 

- O que vocês vão fazer lá? – Perguntou a mulher, colocando as mãos na cintura, próximas ao quadril, parecendo insatisfeita. Depois do que acontecera ao marido, a Sra. Weasley andava visivelmente nervosa e apreensiva.

 

- Comprar os presentes de Natal! – exclamou Rony impaciente, como se aquilo fosse óbvio.

 

- Se apressem então, porque não quero ninguém atrasado para o almoço. – Concordou Molly, suspirando resignada. – E, por favor, tomem cuidado. - Ela sacudiu a cabeça parecendo desolada.

 

....

 

- Tem certeza de que esse é o meio mais seguro? – Perguntou Harry olhando enfastiado para o pó de flu, lembrando-se da última vez que havia viajado daquela forma.

 

- Sim, querido, é o meio mais seguro – afirmou Molly lhe oferecendo o recipiente com o pó de flu.

 

- Hey, Harry, não se esqueça, é beco não biboca – disse Rony sorrindo debochado, como se tivesse lido os pensamentos do amigo.

 

...

 

Embora fosse véspera de Natal, o Beco Diagonal estava estranhamente calmo. Alguns poucos bruxos e bruxas andavam de um lado para o outro, parecendo apressados. Ainda que as pessoas se recusassem a acreditar em Harry e Dumbledore, todos pareciam apreensivos, temendo que uma catástrofe acontecesse a qualquer momento.

 

- Gina, um perfume custa muito caro? – perguntou Rony com as mãos no bolso, quebrando o silêncio, enquanto os três andavam pelas ruas apertadas.

 

- Perfume? Não sei, por quê? – Perguntou a ruiva curiosa, analisando o irmão e notando que suas orelhas estavam ficando incrivelmente vermelhas.

 

- Estava pensando em comprar um – murmurou tão baixo que os outros mal ouviram.

 

 

...................................

 

 

Hermione tentava controlar a ansiedade. Queria ter ido com eles, mas Dumbledore e McGonagall acharam melhor que esperasse até a véspera de Natal. Ela protestou, argumentou veementemente que deveria ir junto, que poderia ser útil, mas foi inútil e no fim teve de aceitar a decisão do diretor.

Finalmente, hoje, o Nôitibus a levaria até a Ordem. Mas precisava admitir que aqueles dias longe de Harry e Rony haviam sido terrivelmente longos e pesarosos... E ainda sentia-se injustiçada!

Dumbledore veio pessoalmente lhe dizer para ficar calma, que o pai de Rony estava fora de perigo, isso era realmente reconfortante, mas ela queria estar ao lado de Rony, ela era su
a melhor amiga afinal, tinha direito de estar ao lado dele nesse momento difícil.

Bufou indignada, enquanto apertava Bichento contra o peito, sem notar que esmagava o gato. Bichento soltou um gemido estrangulado, suplicando para que ela o deixasse respirar.

 

- Oh, Bichento, desculpa! – Ela soltou o gato, que correu para debaixo na primeira poltrona que avistou.

 

- Senhorita Granger! – McGonagall entrou na sala comunal, despertando a curiosidade de alguns alunos, muito séria e alinhada, como sempre. Hermione levantou depressa, olhando para a professora ansiosa.

 

- Você já está pronta?

 

- Ah, sim, desde ontem à noite!

 

- Pois então pegue seu malão e seu gato, vou levar a senhorita pessoalmente até o embarque do Nôitibus. Hermione estranhou tamanho cuidado, mas não questionou, pegou depressa o malão e Bichento e acompanhou a professora, sentindo seu coração bater mais rápido e descompassado.

 

...

 

Quando entrou na velha mansão dos Black notou que estava estranhamente silenciosa. Tonks a acompanhara até ali, medidas de segurança. Esse era o lema de todos os integrantes da ordem ultimamente!

 

- Vamos, Hermione, Molly deve estar na cozinha preparando o jantar. Arthur já não está mais no St. Mungus desde ontem, se recuperou bastante rápido.

 

Ela concordou com um aceno de cabeça, largando Bichento.

 

- Eu levo seu malão – avisou Tonks, levitando a bagagem de Hermione com um breve floreio de varinha.

 

 

A garota abriu a porta da cozinha, apreensiva. Era estranho, mas tinha medo das sensações que a tomariam quando visse Rony novamente.

 

“Não seja boba, Hermione, você não o vê há apenas três dias!”

 

- Hermione, querida! – Molly limpou as mãos no avental e veio ao seu encontro, a abraçando carinhosamente. – Fez uma boa viagem até aqui?

 

Ela sorriu afirmando com um aceno de cabeça. A verdade é que andar de Nôitibus era assustador, e ela teve a impressão de que vomitaria diversas vezes ao longo da viagem. Virou discretamente a cabeça para os lados, como se procurasse por alguém. Bem, ela de fato procurava.

 

- Eles estão lá em cima, pode subir – disse a Sra. Weasley sorrindo bondosamente. – Ah! Tonks! – a auror acabara de entrar na cozinha. – Vai ficar para a ceia de Natal, não é mesmo?

 

Hermione não ouviu a resposta de Tonks, já subia as escadas em direção aos quartos, sentindo suas pernas estranhamente bambas.

 

Um forte estampido fez Hermione sobressaltar-se.

 

- Mionizinha, desculpa não queríamos assustar você – Fred sorriu de um modo que ela considerou extremamente preocupante!

 

- Finalmente, não agüentava mais o Roniquinho lamentando dia e noite sua ausência – Jorge falou em um tom dramático. Hermione sentiu as bochechas corarem, mas revirou os olhos para os gêmeos.

 

- Oi para vocês também.

 

- Então, Mione, como estão as coisas em Hogwarts?

 

- Admita aquela escola não tem a menor graça sem a gente!

 

- Hey, deixem ela em paz. – Hermione sentiu o coração falhar uma batida ao ouvir aquela voz que conhecia tão bem.

 

- Calma, maninho, só estávamos sendo educados e dando as boas-vindas à sua... hum... amiga?!

 

Rony fuzilou Jorge com os olhos.

 

- E eu que pensei que o humor dele fosse melhorar quando Hermione chegasse. – Fred olhou para seu irmão gêmeo, fingindo estar desolado.

 

- Ah, calem a boca vocês dois! – bradou Rony envergonhado.

 

Hermione ficou parada, sentindo suas bochechas cada vez mais quentes.

 

- Hermione – Harry veio ao seu encontro a envolvendo carinhosamente com os braços, e ela agradeceu por poder sair daquela situação constrangedora.

 

- Ah! Harry, como você está? – perguntou, pensando porque Rony não havia a envolvida num abraço caloroso como Harry fizera?

 

“Inferno sangrento!” Rony ficou parado observando a cena, se amaldiçoando por ser um completo estúpido. Ele sequer dissera oi para ela.

 

- Ah, maninho, desse jeito o Harry vai conquistar a Mione antes de você. – cochichou Fred baixinho, fazendo Rony tremer de raiva involuntariamente.

 

....

 

Depois do desastroso encontro dos dois no corredor, Rony não falou com Hermione pelo resto da tarde. Estavam agora sentados na mesa da cozinha dos Black. E ele não pode deixar de observar o quanto ela estava encantadora. Usava um suéter azul e os cabelos estavam presos com uma presilha apenas de um lado, os cachos caiam graciosamente pelos ombros, e ela sorria de uma forma que parecia iluminar todo o ambiente.

 

- Hey, fecha a boca, maninho. – Gina sussurrou ao seu lado.

 

- Ah, cala a boca, Ginevra – disparou mal criado, voltando a comer. Ouviu a irmã rir e sentiu vontade de lhe enfiar uma colherada bem farta de purê de batatas na boca para que ficasse quieta.

 

Hermione percebeu que o Sr. Weasley, embora ainda muito machucado, parecia bastante bem.

Desviou o olhar uma ou duas vezes durante o jantar, fazendo com seus olhos encontrassem os de Rony.
 

Hermione sabia que os comensais e Voldemort estavam lá fora, ficando cada vez mais fortes e ameaçadores, uma guerra estava prestes a começar, mas os olhos de Rony a faziam esquecer tudo, aquecendo e tranquilizando o seu coração como se não houvesse nenhum mal capaz de os atingir.

Depois do farto jantar, os adultos os expulsaram da cozinha, alegando que já era tarde e deveriam ir dormir. De fato era tarde, e ela estava realmente com sono. Subiu as escadas, acompanhando Harry, Gina e Rony. Notou que Rony vinha por último, andando anormalmente devagar... Olhou para trás intrigada. Rony estava estranho!

Quando chegou ao último degrau, sentiu a mão do garoto segurar seu braço, um arrepio lhe percorreu a espinha sem nenhum aviso prévio.

Ergueu os olhos assustada, encontrando os de Rony fixos no seu rosto.

- Er... Só queria desejar boa noite. – Ela notou que a voz do garoto vacilou, e se perguntou o que estava acontecendo com os dois. Por que desejar um simples boa noite os deixava constrangidos?

- Boa noite, Rony – sorriu encorajadora, tentando não parecer nervosa. Recebeu dele um sorriso tímido, e notou que seu coração bateu mais depressa simplesmente por ele estar sorrindo. Sentiu os dedos de Rony afrouxarem o aperto . Ele largou seu braço e andou em direção ao quarto que dividia com Harry.

O ruivo constatou que estava definitivamente maluco! Sentia-se terrivelmente confuso e constrangido, e se questionava desde quando ele ficava tão desconfortável ao desejar um simples boa noite...

 

...........................

 

Gina já havia levantado da cama e olhava contrariada para seu novo suéter Weasley quando Hermione abriu os olhos, ainda sonolenta.

- Você não gostou? – perguntou sobressaltando a ruiva, que se virou depressa para encará-la.

- Bem, é que não é realmente uma surpresa, sabe?! – explicou dando de ombros. – A propósito, Feliz Natal, Hermione!

- Feliz Natal! – desejou bocejando e sentando-se na cama. Percebeu que havia uma pilha de presentes ao seu lado. Começou a abri-los lentamente, e notou que Gina a observava parecendo ansiosa.

Tirou um belo vestido lilás de uma embalagem quadrada e bonita, adornada com temas natalinos.

- Minha mãe sempre insiste em me dar vestidos – ela sorriu, colocando a embalagem do outro lado, e pegando o próximo embrulho.

- Que livro é esse? – perguntou Gina curiosa, se debruçando sobre a amiga.

- É um romance trouxa, O corcunda de Notre Dame. Meu pai não quer que eu abandone a cultura trouxa de maneira nenhuma...

Depois de abrir quase todos os seus presentes, Hermione pegou uma caixa muito bonita, era azul clarinho com detalhes em vermelho, que eram pequenas rosas, e tinha um bonito laço.  Parecia uma embalagem trouxa, mas como os únicos trouxas que lhe mandavam presentes eram seus pais, e já havia aberto o deles, pegou a embalagem olhando-a com curiosidade. Era muito bonita, e parecia ter custado realmente caro. Não podia ser do Harry, havia acabado de abrir o presente do amigo, um exemplar novinho de Ervas medicinais da bruxaria contemporânea.
 

“Oh, não... será que é do... Viktor?” Tanto cuidado ao escolher um presente para ela só podia ser coisa do búlgaro. Recebera inúmeras cartas dele convidando-a para passar o Natal na Bulgária desde o fatídico baile de inverno do quarto ano.

Suas bochechas avermelharam. Ela pensara ter sido bem clara ao dizer a ele que seriam apenas amigos!  

Hermione abriu a embalagem com cuidado, estava tão nervosa que não notou o sorriso gigantesco da ruiva ao seu lado.

Dentro da caixinha tinha um frasco de vidro cheio de um líquido perolado, com uma delicada tampa em forma de flor.

Ela sentiu sua respiração ficar mais rasa, admirou o frasco por vários segundos, completamente estarrecida.

- E, então, o que tem na caixa? – perguntou Gina que continuava sorrindo ao seu lado.

Hermione pegou o vidro e sorriu; um sorriso tímido, as mãos trêmulas. Tirou a tampa e deixou a fragrância invadir suas narinas. Era delicado, mas ao mesmo tempo marcante! Um cheiro suave e inebriante.

- Gostou? – a ruiva perguntou astuta, enquanto prendia o cabelo num rabo de cavalo.

- Sim, muito – respondeu Hermione ainda embriagada com o aroma, que por algum motivo que fugia a sua compreensão, fazia com que ela sentisse uma gostosa sensação de euforia.

- Que bom! Eu ajudei a escolher. – Gina sorriu pra si mesma, finalmente seu irmão estava fazendo algo certo.

Hermione desviou os olhos do vidro que tinha nas mãos e mirou a ruiva, confusa, abriu a boca uma ou duas vezes e quando finalmente conseguiu pronunciar um “como assim?”, Gina já descia as escadas para tomar café da manhã.

Ela ficou vários segundos com a boca levemente aberta, tentando assimilar o que acabara de sentir e ouvir. Não podia ter sido... não, não mesmo!

Largou o vidro com cuidado sobre a cama, pegando novamente a caixa. Havia um pequeno envelope laranja.

Hermione, espero que goste.

Feliz Natal!

Afetuosamente,

Rony.

Seu coração de repente se arremessava tão furiosamente contra seu peito, que Hermione teve medo que escapasse. Sem que percebesse, seu sorriso se estendia de orelha a orelha. Pegou mais uma vez o frasco e o abriu. Borrifou seu pescoço, levando os punhos até ali e os passando delicadamente sobre a pele, espalhando o cheiro por todo o seu corpo.

 

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Rony desceu as escadas da casa dos Black rapidamente, torcendo intimamente para que Fred e Jorge nunca soubessem que havia gastado todas as suas economias para comprar um presente para Hermione, caso contrário seus irmãos nunca mais o deixariam em paz.

Adiou o máximo que pôde sua descida, mas estava morrendo de fome e seu estômago começava a protestar.

Da sala já se podia ouvir Molly gritando com os gêmeos e as risadas de Ginny, Harry e Hermione.

Por que estavam rindo? Gina não teria contado a todos que havia dado um presente de Natal a Hermione, e não livros, como sempre fizera! Ele mataria sua irmã mais nova com as próprias mãos, mas antes disso arrancaria cada fio de cabelo ruivo daquela aspirante a Fred e Jorge...

Ouviu a risada de Hermione dessa vez um pouco mais alta, e suas entranhas voltaram a se contorcer de forma dolorosa. Hermione.

Ela estava ali, certamente já havia aberto seu presente, e talvez fosse disso que ria acompanhada de seus irmãos e Harry. Um arrepio percorreu seu corpo. O amargo gosto da insegurança regeu seus sentidos, o deixando um pouco abatido.  O que ela diria quando ele entrasse na cozinha?

E se ela estivesse perguntando a sua mãe quantos anos de mesada
ele havia economizado para lhe comprar um perfume? Engoliu em seco, sentindo seu estômago afundar.

Pé ante pé, foi se aproximando da porta aberta. As risadas e conversas ficavam mais altas. Sentiu suas mãos começarem a suar frio.

“Patético, você é patético, Ronald Weasley!”

Abriu a porta devagar, torcendo para que ela não fizesse muito barulho e chamasse a atenção dos presentes na cozinha. Por sorte estavam todos tão entretidos com as transformações que Tonks fazia com o próprio rosto, que não notaram sua entrada.

Respirou aliviado, sentando ao lado de Harry, de frente para Hermione. Ela parecia ainda mais bonita. As bochechas estavam coradas, provavelmente porque estava rindo. Tinha os cabelos presos num rabo de cavalo bem feito e vestia uma jaqueta cor de jeans. Perfeita! Tudo que uma garota precisava para ser encantadora.

Sentiu suas orelhas queimarem quando notou que ela o olhava, ela o pegara a observando, mas não parecia irritada, pelo contrário. Ela sorriu e seus dentes brancos e bem alinhados fizeram alguma coisa rugir alto dentro do seu peito.

Após o café, a Sra. Weasley os enxotou da cozinha, dizendo que os pouparia dos afazeres hoje, por ser Natal.

 

- É entediante ter que ficar o dia todo preso dentro dessa casa que fede a mofo – bufou Rony se atirando em uma poltrona. Hermione havia subido com Gina, e o garoto não pode evitar sentir-se frustrado. Ela não dissera nem mesmo um “Obrigada.”

- Por que não aproveita para terminar os deveres de poções e transfiguração? – sugeriu Harry querendo irritar ainda mais o amigo.

- É, talvez seja uma boa ideia. – o ruivo levantou-se parecendo desanimado, Harry o fitou incrédulo.

- Hey, você está bem?

Rony deu de ombros, se arrastando até o andar de cima. De repente estudar não era uma ideia tão ruim, principalmente se isso fosse ajudá-lo a ficar mais tempo perto de Hermione...

...

- O que você está fazendo? – perguntou curioso ao ver Hermione abaixada, quase deitada embaixo de uma grande estante que ficava no corredor.

- Ah, eu... er... estou procurando o Bichento, ele sumiu desde ontem a noite. – Ela ficou encabulada por ter sido pega tão desprevenida.

- Como alguém pode perder tempo procurando aquela bola de pelos laranja de cara amassada. – Exclamou desdenhoso.

- Ronald, não fale assim do meu gato – empertigou-se Hermione ficando de pé.

- Por quê? Ele é mesmo uma bola de pelos laranja de cara amassada. - Como ela podia? Ela dava mais atenção àquele gato estúpido do que a ele! Por acaso o gato tinha economizado meia vida e armado um esquema de segurança digno do Prof. Moody, para poder comprar um perfume estúpido para ela?

 

Hermione revirou os olhos, indo na direção contrária ao do garoto. Teria sido uma ótima oportunidade para agradecê-lo, mas ele sempre tinha que provocá-la e fazer com que perdesse a paciência!

- Mione... – chamou usando seu melhor tom de arrependido.

Ela se virou, o mirando com uma sobrancelha erguida.

- Você, er... não quer me ajudar com os deveres de Poções e Transfiguração? Ela não iria se recusar estudar! Era a desculpa perfeita! Pensou triunfante.

- E por que eu ajudaria? – Ela cruzou os braços, olhando-o ainda com a sobrancelha erguida.

- Porque hoje é Natal! – disse o ruivo sorrindo de lado, fazendo Hermione esquecer porque estava irritada há segundos atrás! Ele ficava tão adorável quando não estava xingando ou amaldiçoando o mundo... Na verdade, ele era adorável também quando amaldiçoava e xingava.

- Bem, se você me ajudar a encontrar o Bichento, eu te ajudo com os deveres. - Ela disse contente por estarem entrando em um acordo.

- Maldito gato! - Rony se questionou se esse gato imbecil sempre estaria entre eles...

Ela sorriu vitoriosa, e ambos entraram no quarto escuro e desorganizado que ficava ao final do corredor.

- Nossa, adorável!

- Cala Boca, e olha embaixo da cama, Rony.

“Que mania que ela tem de sempre mandar em mim!”

- Está escuro, não vejo nada! - De repente Rony percebeu que estavam sozinhos e incrivelmente próximos e um aroma estonteante fazia com que ele se sentisse meio idiota.

- Não sei se você sabe, mas é um bruxo e tem uma varinha! – disse Hermione sarcástica. Ela deveria estar sendo gentil com Rony, deveria agradecer o presente que ele havia lhe dado, por que era tão difícil dizer obrigada?

Ele bufou audivelmente e tirou a varinha do cós da calça, indo em direção ao enorme guarda-roupa, onde Hermione procurava pelo gato.

- Mione...

Hermione se virou assustada, colidindo contra o garoto que estava parado à suas costas. Rony a segurou, impedindo que ambos caíssem.

- Você me assustou – exclamou levando a mão ao coração, sentindo seu corpo tremer involuntariamente por estar tão próximo ao dele.

- Desculpa! – Sussurrou Rony sentindo o cheiro dela penetrar seu cérebro. Aquele cheiro era inebriante. - Que cheiro bom – disse rouco, muito próximo ao ouvido dela. Hermione sentiu um arrepio percorrer-lhe toda a espinha, e suas pernas vacilaram, a respiração quente de Rony batendo contra seu pescoço a impedia de pensar. Pensou em algo para dizer, mas seus pensamentos pareciam desorganizados. Ficou muda por alguns instantes olhando nervosamente para os olhos azuis que a miravam de uma forma desconcertante.

Se desvencilhou dos braços do garoto, sentindo as bochechas arderem.

- Acho que ele não está aqui. – exclamou constrangida, notando que Rony ainda a olhava de uma forma estranhamente perturbadora.

- É, acho que não. – Rony parecia ter recobrado a consciência, e Hermione notou que suas orelhas estavam vermelhas.

- Vem, vamos fazer as deveres, qualquer hora o Bichento aparece. – disse depressa, sem saber o que fazer com as mãos, sentindo-se terrivelmente envergonhada.

Ele concordou, seguindo Hermione pelo corredor de volta ao quarto que dividia com Harry, tentando não pensar nos instantes assustadores que acabara de viver.

Ela abriu a porta, mas ficou parada, impedindo que ele entrasse.

- Ron... er... obrigada... pelo presente. – Hermione ficou na ponta dos pés e beijou a bochecha do ruivo, num ato impulsivo, que surpreendeu o garoto e a ela mesma.

Rony sorriu, e enrubescendo murmurou um contido "de nada".

Ela entrou no quarto, dando passagem a ele, sorrindo ao notar que seu ato o deixara desconcertado.

Afinal, não fora tão difícil assim dizer obrigada!

E, sem saber ela acabara de dar o melhor presente de Natal que Rony Weasley poderia ter ganhado.

 
 

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N/A: Esta short não é algo arrebatador ou brilhante, não mesmo, e peço desculpa se criei falsas expectativas em alguém :(

A fic é apenas uma tentativa de imaginar como foi o momento em que Rony decidiu comprar um perfume para Hermione de Natal; afinal, precisamos admitir que um perfume é um presente bastante sugestivo e exige uma certa dedicação na hora de se escolher. Confesso que fiquei frustrada com a forma como J.K. abordou esse momento no livro. Só sabemos que Rony deu um perfume a Hermione, porque ela diz: “aquele perfume foi realmente diferente, Rony”, na página 411 do quinto livro.

Bem, queria dizer também que esta short só está sendo postada porque a Viviane, minha Beta, fez um ótimo trabalho. Me faltam palavras para agradecer a dedicação e o empenho com que ela vem trabalhando nas Fics. Não bastasse ter me ajudado a tornar a Short menos entediante, ainda me fez uma ótima sugestão para a capa: a de usar a fanart maravilhosa da Lillywmw para ilustrar esse momento entre os dois.

O que seria de mim sem a Beta mais sensacional do fandom brasileiro (me desculpem, mas sim, minha Beta é a melhor...rs...), e sem a mais brilhante e talentosa fanartista do Universo?

E, claro, o que seria das minhas Fics se não fossem os leitores sensacionais que tenho! Porque é fato, os leitores Ron e Hermione são, sem sombra de dúvidas, os mais Bloody brilliant! :)

Bem, queria desejar um ótimo Natal a todos, e dizer-lhes que foi maravilhoso compartilhar esse ano ao lado de vocês! Essa interação e paixão que compartilhamos por Ron e Hermione faz meus dias mais felizes! E muito obrigada pelo apoio incondicional que vocês sempre me dão!

Um grande beijo a todos vocês!!!!

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