Epilogo
Epílogo
Harry se viu em uma casa decadente. A mobília na sala onde se encontrava estava caindo aos pedaços, como se a muito tempo ninguém morasse ali. O ar ali dentro estava estagnado, provando que a há muito tempo ninguém abria as janelas para arejar a casa, e o cheiro de podridão e morte ainda persistia no lugar.
Como se soubesse onde estava, como se soubesse o que esperava por ele ali, Harry começou a explorar a casa. Ele chegou ao corredor, que estava um pouquinho mais claro, graças às grandes janelas de caixilhos que havia de cada lado da porta de entrada, e começou a subir as escadas, abençoando a poeira grossa que cobria a pedra, porque abafava o som dos seus passos.
No patamar, viu um homem velho virar à direita, Harry o seguiu, sem conseguir dizer uma palavra de aviso ao homem e viu que no finalzinho do corredor havia uma porta entreaberta de onde saía uma luz vacilante, que projetava uma longa nesga dourada no chão escuro. O velho foi se aproximando mais, segurando a bengala com firmeza. A alguns passos da entrada, conseguiu entrever uma faixa estreita do quarto adiante. Harry o seguiu, intrigado, com uma sensação de dejà vu e uma leve dor, como algo pinicando, na cicatriz em forma de raio na testa.
O fogo estava aceso na lareira. O velho parou e escutou com atenção, porque uma voz masculina falava dentro do quarto; parecia tímida e temerosa.
-Sobrou um pouco na garrafa, milorde, se ainda tiver fome. - e Harry reconheceu a voz. Suas mãos se fecharam em punhos de raiva.
-Mais tarde — respondeu uma segunda voz. Esta também pertencia a um homem, mas era estranhamente aguda e fria como uma rajada repentina de vento gélido. Alguma coisa naquela voz fez os poucos cabelos na nuca de Harry ficarem em pé. — Me leve mais para perto do fogo, Wormtail.
Harry virou a orelha direita para a porta, para ouvir melhor. Ouviu o tinido de uma garrafa que alguém pousava sobre uma superfície dura, depois o ruído prolongado e seco de uma cadeira pesada arrastando pelo chão. Tanto Harry quanto o velho viram de relance um homenzinho, de costas para a porta, empurrando a cadeira conforme lhe pediram. Usava uma longa capa preta, e tinha uma grande pelada na parte de trás da cabeça.
Depois, ele desapareceu de vista.
-Aonde foi Nagini? — perguntou a voz fria.
-N... Não sei, milorde — disse a primeira voz, nervosamente. — Saiu para explorar a casa, acho...
-Você vai ordenhá-la antes de nos recolhermos, Wormtail — disse a segunda voz. — Vou precisar me alimentar durante a noite. A viagem me deu uma enorme canseira.
Houve um momento de silencio, antes que a voz que pertencia a Wormtail falasse novamente.
-Milorde, posso perguntar quanto tempo vamos ficar aqui?
-Uma semana — disse a voz fria. — Talvez mais. O lugar é razoavelmente confortável, e ainda não podemos dar seguimento ao plano. Seria tolice agir antes do fim da Copa Mundial de Quadribol.
-A... A Copa Mundial de Quadribol, milorde? — admirou-se Wormtail. - Me perdoe, mas... Não compreendo... Por que precisamos esperar o fim da Copa Mundial?
-Porque, seu tolo, neste exato momento estão chegando ao país bruxos do mundo inteiro e todos os bisbilhoteiros do Ministério da Magia estarão em campo, à procura de sinais de atividades incomuns, verificando identidades e tornando a verificá-las. Estarão obcecados com a segurança, tentando impedir que os trouxas percebam alguma coisa. Por isso vamos aguardar.
Harry tinha olhos e ouvidos única e exclusivamente para o que se dizia na sala, sem perceber que o velho se aproximava mais da porta, tentando entender o que se dizia lá dentro
-Milorde continua decidido, então? — perguntou Wormtail em voz baixa.
-Claro que estou decidido, Wormtail. — Agora havia um tom de ameaça em sua voz fria.
Seguiu-se uma pausa e então Wormtail falou, as palavras saíram de sua boca num atropelo, como se ele estivesse se obrigando a falar antes de perder a coragem.
-Poderia ser feito sem o Harry Potter, milorde.
Outra pausa, mais longa, e então...
-Sem o Harry Potter? — sussurrou a segunda voz. — Entendo...
-Milorde, não estou dizendo isso porque me preocupo com o garoto! - explicou Wormtail, a voz subindo esganiçada. — O garoto não significa nada para mim, nadinha! É só porque se usássemos outro bruxo ou bruxa, qualquer um, a coisa poderia ser feita muito mais rapidamente! Se o senhor me permitisse deixá-lo por algum tempo... O senhor sabe que posso me disfarçar com muita eficiência... Eu voltaria em apenas dois dias com a pessoa necessária...
-Eu poderia usar outro bruxo — disse a primeira voz, baixinho — é verdade...
-Milorde, faz sentido — disse Wormtail, parecendo muito mais aliviado — pôr as mãos em Harry Potter seria tão difícil, ele está tão bem protegido...
-E então você se oferece para ir buscar um substituto? Estranho... Talvez a tarefa de cuidar de mim tenha se tornado cansativa para você, Wormtail? A sugestão de abandonar o plano não seria apenas uma tentativa de me abandonar?
-Milorde! N... Não tenho nenhum desejo de deixá-lo, absolutamente nenhum...
-Não minta para mim! — sibilou a segunda voz. — Sempre percebo, Wormtail! Você está arrependido de ter voltado para mim. Eu o horrorizo. Vejo você fazer careta quando olha para mim, sinto você estremecer quando me toca...
-Não! Minha devoção a milorde...
-Sua devoção não passa de covardia. Você não estaria aqui se tivesse aonde ir. Como posso sobreviver sem você, quando preciso que alguém me alimente a intervalos regulares? Quem vai ordenhar Nagini?
-Mas o senhor parece tão mais forte, milorde...
-Mentiroso — sussurrou a segunda voz. — Não estou mais forte e uns poucos dias sozinho seriam suficientes para me roubar a pouca saúde que recuperei com os seus cuidados desajeitados. Silêncio!
Wormtail, que estivera resmungando incoerentemente, calou-se na mesma hora. Durante alguns segundos, Harry não ouviu nada exceto o crepitar do fogo.
Então o segundo homem recomeçou a falar, num sussurro que era quase um silvo, Harry reconheceu o chamado em língua de cobre.
-Tenho minhas razões para usar o garoto, como já lhe expliquei, e não vou usar mais ninguém. Esperei treze anos. Mais uns meses não me farão diferença. Quanto à proteção que rodeia o garoto, creio que o meu plano funcionará. Preciso apenas um pouco de coragem de sua parte, Wormtail, e você encontrará coragem, a menos que queira sentir o peso da cólera deLord Voldemort...
-Milorde, tenho que falar! — disse Wormtail, agora com pânico na voz. — Durante a nossa viagem repassei mentalmente o plano, milorde, o desaparecimento de Berta Jorkins não passará despercebido por muito tempo, e se dermos seguimento a ele, se eu enfeitiçar...
-Se? — murmurou a primeira voz. — Se? Se você der seguimento ao plano, Wormtail, o Ministério jamais precisará saber que mais alguém desapareceu. Você fará isso em surdina, sem confusão; eu bem gostaria de fazer isso pessoalmente, mas na minha condição atual... Vamos, Wormtail, mais um obstáculo vencido, e o caminho até Harry Potter estará livre. Não estou pedindo que você aja sozinho. Até lá, o meu fiel servo terá se reunido a nós.. .
-Eu sou um servo fiel — disse Wormtail, com um levíssimo traço de aborrecimento na voz.
-Wormtail, preciso de alguém com cérebro, alguém que nunca tenha vacilado em sua lealdade, e você, infelizmente, não satisfaz nenhum dos dois requisitos.
-Eu o encontrei — disse Wormtail, e agora decididamente havia irritação em sua voz. — Fui eu que o encontrei. Fui eu que lhe trouxe Berta Jorkins.
-É verdade — disse o segundo homem, parecendo achar graça. — Um lance de genialidade que eu nunca teria achado possível em você, Wormtail, embora, a verdade seja dita, você não fizesse ideia do quanto ela seria útil quando a pegou, não é?
-Eu... Eu achei que ela poderia ser útil, milorde...
-Mentiroso — disse novamente a primeira voz, a zombaria cruel mais acentuada do que nunca. — Mas não nego que a informação da mulher foi preciosa. Sem ela, eu nunca poderia ter traçado o nosso plano, e por isso você terá a sua recompensa, Wormtail. Vou deixá-lo realizar uma tarefa essencial para mim, uma que muitos seguidores meus dariam a mão direita para realizar...
-V... Verdade, milorde! Qual...? — Wormtail parecia outra vez aterrorizado.
-Ah, Wormtail, você não quer que eu estrague a surpresa! Sua parte virá bem no finalzinho... Mas, prometo que você terá a honra de ser tão útil quanto Berta Jorkins.
-O senhor... O senhor... — a voz de Wormtail saiu repentinamente rouca, como se sua boca tivesse ficado muito seca. — O senhor... Vai... Me matar, também?
-Wormtail, Wormtail — disse a voz fria suavemente —, por que eu iria matá-lo? Matei Berta porque precisei. Ela não servia para mais nada depois do meu interrogatório, completamente inútil. Em todo o caso, haveria perguntas embaraçosas se ela tivesse voltado ao Ministério com a notícia de que encontrara você nas férias. Seria melhor que bruxos presumivelmente presos não esbarrassem em bruxas do Ministério da Magia em hotéis à beira de estradas...
Wormtail murmurou alguma coisa tão baixinho que Harry não pôde ouvir, mas fez o segundo homem rir — uma risada sem alegria, fria como a sua fala.
-Poderíamos ter alterado a memória dela? Mas os Feitiços da Memória podem ser desfeitos por um bruxo poderoso, como eu provei ao interrogá-la. Teria sido um insulto à memória da bruxa não usar as informações que ela me forneceu, Wormtail.
Harry e o velho continuavam paralisados, apenas ouvindo a conversa que se passava na sala. Harry tentava guardar na mente todos os detalhes. Se isso era mesmo uma visão... uma visão que ele provavelmente teve da primeira vez, mas não se lembrava completamente... lembrar todos os detalhes dela só poderia ajudá-lo ainda mais a fazer os planos para o ano seguinte.
-Mais um feitiço... Meu fiel servo em Hogwarts... E Harry Potter será praticamente meu, Wormtail. Está decidido. Não haverá mais discussões. Mas fique quieto. .. Acho que ouvi Nagini...
E a voz do segundo homem mudou. Harry conseguia ouvir os silvos embaixo das palavras que para ele eram inglês. Voldemort estava conversando com sua cobra, Nagini, e não havia nada que Harry pudesse fazer para impedir que a cobra falasse sobre a presença do velho trouxa na mansão decadente.
Alguma coisa deslizava em sua direção pelo chão escuro do corredor, e quando se aproximou da nesga de luz, Harry percebeu que era uma cobra gigantesca, no mínimo, com três metros de comprimento.
A cobra passou pelo homem paralisado de medo, e Harry apenas podia observar tudo, compreendendo todas as palavras que se passavam entre a cobra e o homem na poltrona.
Enquanto estava parado ali, incapaz de interceder pelo homem, a conversa voltou a acontecer, em inglês, no quarto ao lado.
-Nagini trouxe notícias interessantes, Wormtail.
-Ver... Verdade, milorde? — respondeu Wormtail.
-Verdade. Segundo Nagini, tem um velho trouxa parado do lado de fora do quarto, escutando cada palavra que dizemos.
O velho não teve a menor chance de se esconder. Ouviu-se passos e em seguida a porta do quarto se escancarou. Um homem baixo de cabelos grisalhos e ralos, um nariz pequeno e pontudo, olhos lacrimosos, parou diante dele com uma mescla de medo e susto no rosto.
-Convide-o a entrar, Wormtail. Onde está a sua educação?
A voz fria vinha de uma velha poltrona diante da lareira, mas não era possível ver quem falava. A cobra, por sua vez, se enroscara no tapete podre diante da lareira, em uma medonha imitação de bichinho de estimação.
Wormtail fez sinal para o velho entrar. Embora continuasse profundamente abalado, ele segurou com firmeza a bengala e, coxeando, cruzou o portal.
-Você ouviu tudo, trouxa? — perguntou a voz fria.
-Do que foi que o senhor me chamou? — perguntou o velho, desafiando-o, porque agora que estava dentro do quarto, agora que chegara a hora de agir, ele se sentia mais corajoso, sempre fora assim na guerra.
-Chamei-o de trouxa — disse a voz calmamente. — Isso quer dizer que você não é bruxo.
-Eu não sei o que o senhor quer dizer por trouxa — respondeu o velho, com a voz mais firme. — Só sei é que esta noite ouvi o suficiente para despertar o interesse da polícia, ah, isto eu ouvi, O senhor já matou uma vez e está planejando matar mais! E vou-lhe dizer outra coisa — acrescentou, numa súbita inspiração —, minha mulher sabe que estou aqui e se eu não voltar...
-Você não tem mulher — disse a voz fria, muito baixinho. — Ninguém sabe que você está aqui. Você não disse a ninguém que vinha. Não minta para Lord Voldemort, trouxa, porque ele sabe... Ele sempre sabe...
-É mesmo? — retrucou Franco com aspereza. — Lord é? Ora, não tenho muito respeito pelos seus modos, milorde. Vire-se e me encare como homem, por que não faz isso?
-Mas eu não sou homem, trouxa — retrucou a voz fria, quase inaudível devido ao crepitar das chamas. — Sou muito, muito mais do que um homem. Mas... Por que não? Vou encará-lo... Wormtail, venha virar minha poltrona. - O servo deu um gemido. - Você me ouviu, Wormtail.
Lentamente, com o rosto contraído, como se preferisse fazer qualquer coisa a ter que se aproximar do seu senhor e do tapete em que se deitara a cobra, o homenzinho se adiantou e começou a girar a cadeira. A cobra ergueu a feia cabeça triangular e sibilou baixinho quando as pernas da poltrona se prenderam no tapete.
E, então, a poltrona ficou de frente para o velho e ele e Harry viram o que havia nela.
A bengala caiu no chão com estrépito. Ele abriu a boca e soltou um grito. Gritou tão alto que nunca ouviu as palavras que a coisa na poltrona disse ao erguer a varinha. Houve um relâmpago de luz verde, um ruído farfalhante e Franco Bryce desabou. Morreu antes de bater no chão.
A trezentos quilômetros dali, o garoto chamado Harry Potter acordou assustado. E o primeiro pensamento que se passou pela mente dele foi:
-Maldito Wormtail! Conseguiu fugir sem que ninguém ficasse sabendo!
Harry aproveitou-se do fato de que se lembrava perfeitamente do sonho, e anotou tudo num pedaço de pergaminho. Afinal, saber pelo menos parte dos planos de Voldemort com certeza o ajudaria a planejar seus próprios planos de atrapalhar a volta do monstro de cara de cobra.
N/a: Como prometido... aí está o epílogo! Boa parte dele é sim o primeiro cap de CdF... mas... eu precisava de um link entre as duas histórias, não é mesmo? A continuação será mais... emocionante! Pelo menos é esse o plano... aguardem noticias sobre Walking Away por aqui!!
Ah! e COMENTEM! É sempre bom ver o que vocês tem a dizer...
Não garanto que a continuação vai sair logo... faculdade finalmente saiu da greve, então tenho que me reorganizar... até a proxima!
Comentários (1)
Muito boa a fic!! Adorei a ideia. Já tem continuação??
2012-04-30