Não conseguir esquecer

Não conseguir esquecer



Draco não teve sossego. Seus passos lentos ecoavam no silêncio dos corredores desertos enquanto sua mente explodia em pensamentos ruidosos. Tentava negar a si mesmo que a tarde não passara de um simples encontro, parte de um plano construído nos mínimos detalhes. Havia seduzido Hermione e agora se aproveitava dela como bem entendesse... Então por que raios havia sentido um pungente desapontamento quando a garota anunciou que teria de partir? Qual era o motivo de tê-la abraçado tão fortemente assim que ela disse que não seria possível encontrarem-se até a semana seguinte? Malfoy teve a nítida sensação de que as coisas estavam fugindo de seu controle.


            Ao chegar à entrada da Sonserina, teve de concentrar-se absurdamente para que pudesse se lembrar da senha, e quando a sussurrou, hesitante, e a entrada se revelou, ainda estava de cabeça baixa e receoso. Mal pôde notar que, acomodados nas mesas do Salão Comunal, seus amigos conversavam animadamente sobre algum assunto sem relevância. Surpreendeu-se ao levantar o olhar e perceber que estava sendo observados pelos presentes. Pansy o olhava com perplexidade, enquanto Crabbe e Goyle trocavam bolinhos entre si, saboreando-os demoradamente, mais preocupados com as guloseimas do que com o amigo. Draco desejou que nenhum deles estivesse ali; não estava com humor para bater papo e não queria ser incomodado.


- Onde você esteve, Draco? – Era Pansy. Ele devia saber que ela não o deixaria em paz. Azar o dela, Draco estava sem paciência para interrogatórios.


- Já disse o que tinha que fazer, Pansy. Não lhe devo satisfações. – Ele disse grosseiramente, se dirigindo aos dormitórios.


- Espere. – Pansy gritou, em um tom autoritário que não lhe era comum. Parecia estar furiosa. – Uma pirralha me disse que você esteve na biblioteca... Com a sangue-ruim Granger.


            Draco foi pego de surpresa. Geralmente, quando se encontrava com Hermione, planejava desculpas convincentes caso algum inconveniente os visse juntos. Nunca houve sequer uma menção que ligasse o nome dele ao de Hermione, mas, ao que parecia, alguém resolvera dar com a língua nos dentes. Ele respirou fundo, tentando lembrar-se de uma das inúmeras mentiras que já havia inventado para justificar a companhia de Hermione, e tudo o que precisou fazer foi adequá-la a situação.


- Como já te disse, Pansy, fui cumprir minha detenção. Não esperava que o castigo fosse tão nojento, mas não tive outra escolha a não ser estudar um capítulo inteiro de um livro qualquer com a insuportável da Granger. Fico contente que tenha acabado. Espero que você não volte a me importunar com assuntos que me desagradem, Pansy. Boa noite.


            Malfoy não tinha certeza se a tinha convencido. Foi incapaz de detectar possíveis falhas em suas palavras, mas não se importou realmente caso Pansy não tivesse acreditado nele. Seu estado era de completa indiferença aos amigos, e tudo o que podia perturbá-lo naquele momento tinha os cabelos ondulados, uma inteligência acima da média e provavelmente estava terminando os trabalhos que ele, mais cedo, tinha interrompido.


            Não se importou em deitar de uniforme na cama arrumada que lhe pertencia. As vestes, sempre impecáveis, já estavam amassadas; o que o fazia lembrar-se dos momentos envolventes que passara com Hermione há menos de uma hora. Olhou fixamente para o teto, fitando a imensidão branca que lhe engolia, e logo, sem ao menos se dar conta, já tinha os pensamentos no corpo ágil e delicado dela, em seu jeito de beijá-lo, em suas mãos quentes percorrendo cada centímetro do corpo alvo dele.


Mas que diabos” ele pensou consigo mesmo, incapaz de privar-se das visões tentadoras que sua mente insistia em mostrar-lhe. Não suportava revê-las, e, mesmo assim, não conseguia se livrar delas.


            Levantou-se da cama em um salto, decidido a ocupar sua mente com algo que fosse capaz de bloquear os olhos amendoados de Hermione. Ao voltar ao Salão Comunal, com os olhar estreitado de raiva, chamou Pansy de maneira rude, e juntos saíram sem dizer uma palavra. Permaneceram em silêncio, Malfoy conduzindo-a para um corredor vazio, sem qualquer ruído ou perigo. Encostou o corpo franzino de Parkinson na parede, e não hesitou em beijá-la com uma voracidade que beirava a fúria. As mãos apertaram a cintura de Pansy, indelicadas e impacientes, e deixaram grandes marcas vermelhas na pele muito branca da garota. Ela, porém, não reclamou. Amava Malfoy e estava disposta a dar o que ele lhe pedisse, mesmo que fosse o consolo de uma tarde de detenção. Correspondeu ao fervor do garoto como pôde, e, ingenuamente, nem por um momento suspeitou que estivesse sendo usada, com os carinhos sem sentimentos que lhe eram concedidos, para abafar uma paixão que estava sufocando o destemido Draco Malfoy. 

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