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Lily fitou a neve que caía no lado de fora com um leve sorriso nos lábios. Aquele sorriso quentinho que se dá no inverno, quando se lembra de alguma coisa boa. Harry percebeu esse feito da mãe e tentou chamar sua atenção dando uma gargalhada gostosa.


 A ruiva fitou o filho sorrindo de volta, escondendo suas sensações do pequeno, sempre tão perceptivo. Limpou sua boca com um guardanapo e voltou a secar a louça. Céus, ele era tão parecido com James.


 Largou o pano de prato na pia suspirando, antes de ouvir uma voz lhe chamando. Uma voz vinda da sala. Uma voz que não ouvia há quatro meses.


 -Lily? – Ela pegou o filho no colo rapidamente, deixando a cadeira alta onde ele estava sentado cair, correndo para a sala de estar. As lágrimas que se formavam até tentavam, mas nada conseguia aliviar aquela angústia que pressionava o seu coração. Não devia ter se deixado amar tanto aquele homem. Assim não sofreria tanto quando ele saísse assim.


 -James – Sua voz não passou de um murmúrio. Não, ele não estava ali na sala. Mas sua cabeça, ou o formato dela, delineado nas cinzas da lareira, falava com ela. Ele usava a rede de flú, o que a fez chorar ainda mais, pensando em quanto tempo teria que agüentar pela frente, tocando a vida enquanto tentava esconder sua dor de seu filho. Ele batia palmas e sorria, ensaiando ‘papá’ num ‘bebezês’ bem característico. James falou um pouco com o filho, que logo cansou da novidade e foi brincar com a barra do pano do sofá.



 -Lily, só consegui achar uma lareira segura agora – Ele disse com dificuldade, engolindo sua própria saudade – Eu não podia ir aí, não de onde eu estou, arriscaria vocês dois. Mas eu tinha que vir, eu tinha que... – Ele não conseguiu completar a frase, um soluço escapando por sua boca. A mulher calou-o, “shh”, e aproximou-se da lareira, deixando as lágrimas se calefarem no fogo.


 Daquele momento em diante, os dois ficaram em silêncio, se olhando. Harry observava os dois, sentindo que o silêncio era importante, também se mantendo quietinho. Eles não precisavam de palavras com todas aquelas lágrimas para mostrar o que sentiam.


 James fez uma nova tentativa, limpando a garganta e fungando.


 -Eu não posso estar com vocês agora, mas queria que soubessem que eu os amo muito. Estou com Sirius aqui, as nossas missões acabaram convergindo e se transformando em uma só. Não se preocupe, provavelmente estarei em casa a tempo do natal – Mais um engasgo dele, e ela soube que ele pensava na possibilidade real de ter que passar o primeiro natal da vida do filho longe dele.


 Ela sorriu-lhe brevemente.


 -Também te amamos James. Muito, muito. Agora volte lá, porque eu sei que você precisa – Lily disse secando suas lágrimas do rosto e pegando Harry no colo, fazendo-o dar tchauzinho para o pai. James fechou os olhos com força, como se sentisse uma enorme dor física, e desfez a conexão entre as lareiras.


 Lily agüentou suas lágrimas até que conseguisse fazer Harry dormir – o que não demorou muito, o menino era muito ativo e estava cansado. Em seguida ela fechou a porta do banheiro e chorou o mais silenciosamente que podia, sentada no chão com as costas apoiadas na porta, para que ele não acordasse e percebesse que algo estava errado.


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 Ela se sentiu boba, mas não pôde evitar o sorriso besta e o rubor em suas faces quando pegou a guirlanda. Colocou-a dentro do carrinho de supermercado e tocou no nariz do filho, que observava tudo com uma cara de gargalhada. Tudo parecia muito fascinante para ele naquelas horas.


 -A senhora sabe que isso é azevinho, não sabe? A planta do beijo? – Uma senhora abordou-a e a ruiva corou, acenando com a cabeça. A mulher fez um sinal de desaprovação com a cabeça e saiu dali, murmurando coisas como ‘mesmo com um filho’ e ‘aproveitadora’.


 Lily deu de ombros e continuou suas compras com Harry, tentando não ligar para a opinião da mulher. Porque, além do mais, seu filho resolvera que pegar qualquer coisa das prateleiras e colocar na boca quando ela não estava olhando, era bem divertido.


 Chegou em casa exausta e largou as compras na mesa, vendo o filho engatinhar até perto de si e agarrar-se em suas pernas. Passou a mão na cabeça do pequeno enquanto arrumava as coisas nas prateleiras.


 Lily observou o filho brincando calmamente na sala e pegou a última sacola nas mãos. Quase gargalhou consigo mesma, observando o raminho de folhas. Subiu as escadas e entrou em seu quarto, subindo na cama e pendurando o raminho com linha no ventilador de teto, exatamente em cima de onde ficariam as cabeças dos dois. Riu baixo e voltou para a cozinha com um suspiro. Hora do almoço.


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 Ele era a razão de sua existência.


 Uma verdade inconveniente, mas ela sabia disso. Contava dia a dia para dezembro, lembrava dele e tudo se aquecia, tudo ficava bem.




 Amava o filho, amava muito, e se sentia feliz com ele. Mas sua felicidade só estava completa com James ao seu lado. Para beijá-la e dizer-lhe que ia ficar tudo bem. Enquanto isso, ela coletava os momentos gostosos que tinha com o filho, esperando James voltar.


 Porque era ao redor dele que sua vida girava.


 Ele era a razão de sua existência.


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 -Olha lá filho – Lily apontou uma estrela ao longe para Harry, que bateu as mãozinhas sorridente, vendo a neve do colo da mãe. Lily deixou o bebê no chão – bem agasalhado, claro – e ele correu pela neve feliz, sob os olhos da mãe, naquele final de tarde.


 Lily fitou a estrela ao longe mais uma vez, e ela pareceu piscar para si. Fitou-a intensamente, desejando que James estivesse olhando para ela também. Riu baixo então – que pedido bobo.


 Pegou Harry e levou-o para dentro de casa, brincando com ele antes de dar-lhe um banho, uma mamadeira e fazê-lo dormir, indo-se deitar em seguida.


 Sem perceber que a estrela piscava mais fortemente agora.


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 A ruiva ouviu os sinos da igreja trouxa que havia na vila perto de sua casa, arrepiando-se. Podia sentir.


 James estava vindo.


 Lily deixou o filho na cadeirinha na mesa da cozinha e protegeu-o com um feitiço, correndo para fora de casa e observando a descida do morro cheia de neve, o coração pulando, querendo sair pela garganta. Ficou em torno de cinco minutos lá, sentindo-se idiota logo depois.


 Seu coração voltava a adormecer enquanto ela voltava para casa, vendo Harry brincar com a mamadeira de água. Riu e secou o filho com uma fralda de rosto, beijando sua resta em seguida.


 E, de repente, um estalo vindo da sala de estar.


 Lily pegou a varinha e segurou-a bem firme na mão, caminhando silenciosamente pelo corredor, o coração na boca, o medo fervilhando. Não, não, eles não poderiam estar em sua casa, não poderiam tê-la achado...


 A sala estava escura. Totalmente escura. E, quando colocou o pé lá dentro, o pisca-pisca da árvore de natal se acendeu.


 James estava parado no meio da sala, fitando o chão. Seu sobretudo estava sujo e meio rasgado, mas isso não impediu Lily de soluçar.


 -James...? – Só conseguiu sussurrar enquanto o marido caía ajoelhado no tapete da sala, o corpo contraindo-se esporadicamente.


 Lily largou a varinha e ajoelhou-se na frente dele, chorando também. Segurou o rosto dele com ambas as mãos, colando a testa na dele, enquanto ele colocava suas mãos sobre as dela, abrindo os olhos e fitando os dela.


 Beijaram-se, desesperadamente, necessitadamente, e o mundo voltou a girar. As coisas voltaram para o seu lugar e tudo estava perfeito, os lábios colados com os dele, sentindo o coração dele pular no peito do mesmo jeito que o seu pulava.


 Quando se separaram, James ria baixinho, fazendo Lily indagá-lo com o olhar.


 -Sabe o que eu pedi de natal esse ano, Lily? – Ele perguntou e ela fez que não com a cabeça, sorrindo levemente. – Você. – Disse e a beijou de novo, suspirando fundo.


 Lily achou desnecessário dizer que pedira a uma estrela que o trouxesse de volta para casa.


 Pegou Harry na cadeirinha, que já bocejava muito. Ele brincou com o pai, comeu, tomou banho e dormiu calmamente.


 Ao entrar no quarto deles, James só pôde rir ao ver o ramo de visgo sobre a cama, pendurado no ventilador.




 -O que foi, James? – Lily perguntou dobrando a roupa de cama jogada em uma cadeira no quarto, sorrindo levemente. James riu e pegou-a pela cintura, jogando-a na cama e deitando-se sobre ela, só de toalha.

-Meu presente de natal tem duas fases – Ela riu e eles se beijaram.

E, a partir daquele dia, foi natal todo dia, até o fim.




 


 


 




 

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