Perseguição



Melodia: U2
Letra: Bono Vox e The Edge
Leia ouvindo.

Vertigo (U2)

Vertigem


(Tradução livre da autora)



Novembro de 1995. Londres, Inglaterra.



Uno dos três catorce!

(Um dois três quatorze!)



Ele perdera a conta da quantidade de passos e quarteirões que andara.

Que hora para um tio quase desconhecido morrer e lhe deixar um apartamento no fim do mundo… e se o fim do mundo ficava em Londres, para ele era com certeza era aquele maldito bairro chamado Greenwich, já que morava do outro lado da cidade.

Remo Lupin apressou os passos, não podia se demorar mais. Havia uma reunião na qual precisava ir, uma reunião da Ordem da Fênix que não podia sequer pensar em perder.

Ainda pensando no azar de morrer seu tio justo naquele momento, e no quanto precisava chegar àquela reunião, dobrou uma esquina e notou que não sabia direito onde estava.

Não, provavelmente a estação de metrô era virando aquela outra esquina ali na frente.

É, era isso.



Lights go down, it’s dark

(Luzes se apagam, está escuro)



Era de noite, e a escuridão crescente não lhe trazia bons presságios. Mas aquele havia sido o único momento em que tivera tempo de visitar o tal apartamento, entre o emprego temporário e a Ordem.

Então sentiu um arrepio na nuca, um arrepio tão forte que fez com que ele se virasse de supetão.

Havia um daqueles seres parado alguns metros atrás, saído sabe-se lá de onde. Lupin teve um espasmo de desespero quando viu o que significava: Grupo de Extermínio.

Tornou a seguir para o metrô, na esperança de que conseguisse se livrar deles, mas logo percebeu que estava cercado. Quanto mais procurava uma saída entre as ruas, mais dava de cara com eles.

Eles eram cruéis e desalmados, animais selvagens sempre prontos para estraçalhar qualquer pessoa ou criatura. E, sendo Greenwich uma brenha repleta de vampiros, por que o maldito tio tinha de inventar de ter um apartamento justo ali?



The jungle is your head

(A selva é sua cabeça)



Ele sabia que era verdade que tudo vinha de sua cabeça, esse terror e preconceito, nem todos eram assim, havia exceções entre todos os meios. Mas um grupo de extermínio que matava lobisomens não falava tão bem dos vampiros quanto um grupo de caridade que ajudava quem não tinha nada falava dos trouxas.

Não podia evitar, já que via os vampiros se aproximando por todos os lados. E ele lá, sozinho, armado apenas com sua varinha contra sete coisas que mal sentiam a maioria dos feitiços.

Começou a temer seriamente pela sua vida e, embora desejasse muito, não podia fazer suas pernas deixarem de tremer conforme era cercado em uma ruazinha pouco iluminada.



Can’t rule your heart

(Não pode mandar no seu coração)



- Perdido, lobisomem? – disse um deles, o que parecia ser o líder.

Os outros riram com crueldade, mostrando seus dentes afiados e brancos. Eles avançaram mais um pouco, Lupin sacou a varinha.

- Ah, então temos um bruxo! – comentou o vampiro. – Sabe, não vai adiantar muito. A não ser, é claro, que você seja um auror, e dos bons!

Então todos os vampiros se viraram de repente, e mesmo o lobisomem sentiu alguma coisa. Era mais um deles, uma moça de cabelos castanhos e olhos violeta cheios de censura e raiva controlada. Ela também aparecera subitamente, como os outros alguns minutos antes, e estava parada a dez metros do grupo.

- Aí está alguém que não deveria se meter – comentou um deles.

- Eu não teria que me meter se vocês não estivessem atormentando gente do meu bairro – sua voz tinha uma acentuação diferente, um inegável sotaque latino.

- Juju Sem-Coração – disse o líder, lentamente –, dê o fora antes que se machuque, boneca.

- Eu prefiro machucar a ser machucada – tinha um brilho estranho nos olhos e, quando Lupin percebeu, ela já estava atracada numa luta cheia de mordidas e arranhões com o vampiro mais próximo.



A feeling is so much stronger than

A thought


(Um sentimento é muito mais forte que

Um pensamento)




Até ele se atordoou com o fato, mas sentiu que deveria ajudar e aproveitou para disparar um feitiço contra o que estava à sua frente, que voou pelos ares e caiu com força no chão. Enquanto os outros cinco voavam para o pescoço da vampira, ele se empenhava em uma luta pessoal contra aquele vampiro.

Depois de mais dois feitiços, Lupin conseguiu colocá-lo para correr, mas não sabia como auxiliar a estranha. Havia um enorme tumulto, cinco pares de braços e dentes socando e mordendo um único corpo aparentemente indefeso.

Porém bastou o tempo de um piscar de olhos para ele perceber que não era qualquer vampira, ela se libertou dos outros e grudando no pescoço do líder como uma sanguessuga faminta.

Lupin se aproveitou disso para nocautear temporariamente um outro, e logo também estava atracado com dois. Os vampiros não o morderiam, seria fatal para ambos.

- Chega! – ouviu a voz do chefe. – Você não aprende, Giulia! Vocês, vamos embora! Não se preocupem com eles, não poderão se esconder por muito tempo! Estará exilada amanhã, Ju!

Ela ouvira essas palavras sentada no chão, olhando os vampiros carregarem o companheiro para longe.



Your eyes are wide

(Seus olhos estão abertos)



Ela se levantou, e Lupin assistiu a algo que jamais esqueceria.

Sob a luz fraca de uma lua crescente, os arranhões nos braços dela se tornaram mais uma vez pele lisa. Os furos das mordidas em seu pescoço, e mesmo o de uma na bochecha, viraram simples feridas e se curaram, deixando cicatrizes que duraram um milésimo de segundo.

Ele ficou espantado, ouvira muito falar sobre isso, mas nunca havia visto. Era surpreendente.

- Acho melhor você ir para casa – ela disse, olhando em seus olhos. Sua voz era aveludada e macia.

- É, vou – respondeu. – Mas pode, pelo menos, dizer quem é você? Acho que tenho uma dívida.

- Sou Giulia della Paglia Manfredini, moro aqui.

- Remo Lupin, obrigado.

Naquele momento, ele teve a certeza de que ela merecia o máximo de respeito. Estava ensangüentada, com a camisa rasgada na gola (seus seios quase apareciam). Não concordava com o extermínio e idéias que atingiram seu auge naquele outono e arriscava a vida para mostrá-lo.



And though your soul

It can’t be bought


(E quanto à sua alma

Não pode ser comprada)




- Precisa de alguma coisa? – ele perguntou.

- Ah, sim, de um calmante! – Giulia suspirou. – Antes que eu assassine alguém! E cruelmente! Ah, eu ainda mato todos eles, só me dê uma chance! – ela enfatizava muitas palavras ao longo das frases e falava meio cantado, Lupin estranhou.

E piscou, um pouco confuso.

- Eles iam te atacar?

- Iam, e eu talvez não sobrevivesse para contar aos outros.

Os olhos dela ficaram brilhantes, com um ar etéreo, e Lupin sentiu que ela estava divagando, voando longe.

- Desculpe por isso, é minha culpa.

- Não se preocupe, iria acontecer qualquer dia. Mas acho melhor você se apressar, se eles voltarem, não vão perdoar ninguém. Ficaram furiosos.

- Estava tentando chegar ao metrô, mas eles chegaram e – ele sorriu constrangido – devo confessar que não tenho idéia de onde estou.

Com um sorriso maroto de quem acha graça ela falou que o levaria, mais uma vez, enquanto andavam, sua mente estava em outro mundo.



Your mind can wander

(Sua mente pode perder-se)



Ela estancou repentinamente.

- Ei, espere, não posso aparecer no metrô assim, toda suja de sangue e com a camisa rasgada! Acredita que nem me toquei disso antes?

- Espere – não havia muita gente na rua, então a arrastou para um canto e tirou a suéter, depois a camiseta e entregou a ela. – Tome e vista, acho que tenho um lenço para limpar o seu pescoço.

Giulia observou-o recolocar a suéter e arrumou as mangas para ele.

- Assim está melhor – e pediu, com um sorriso. – Se puder se virar eu agradeço.

- Claro – Lupin atendeu.

Depois de alguns segundos, ela avisou que poderia se desvirar e pediu ajuda para limpar o sangue coagulado, já que ela não podia ver onde estava mais sujo. Ele pegou o lenço e passou pela garganta, depois pela bochecha e braços.

- Obrigada, é um homem decente.

Lupin sentiu-se corar ligeiramente.

- Você é corajosa, arriscou sua vida por mim sem nem me conhecer.

Ele olhou em seus olhos e quis ficar para sempre ali. Então Giulia o beijou.



Hello hello

I’m at a place called Vertigo


(Olá olá

Estou num lugar chamado Vertigem)




Ela se afastou e seu rosto se tingiu de escarlate.

- Eu não devia ter feito isso – gaguejou.

- Tudo bem – ele respondeu, sem fôlego, havia sentido uma sensação prazerosa de perigo, como se estivesse no topo de um prédio de 30 andares olhando para o chão lá em baixo, sabendo que não poderia cair ou se machucar. Nunca a vertigem foi tão gostosa. – Sinceramente, não me importo, porque… eu gostei muito.

Ela ficou, se é que era possível, ainda mais vermelha.

- Olha só, anda três quarteirões e vira à direita que você chega se, erro no metrô.

Ela se virou e começou a andar com passos rápidos. Lupin a viu ir embora, com a camiseta um pouco grande destoando da calça social e clássica, postura erguida e correta, ele ainda sentindo um arrepiozinho bom por saber que eram tão diferentes.



It’s everything I wish I didn’t know

Except you give me something I can feel, feel


(É tudo que eu desejava não saber

Exceto que você me dá algo que posso sentir, sentir)




Mas logo aquele arrepiozinho se transformou na sensação desagradável que sentira minutos antes, um pressentimento de que havia mais deles por perto.

Algumas palavras ecoaram em sua mente: “E eu talvez não sobrevivesse para contar aos outros”.

Lembrou que Giulia havia dito que eles provavelmente voltariam e “não perdoariam ninguém”. Ela estava em perigo, assim como ele, mas juntos poderiam fazer alguma coisa.

Lupin correu para o lugar onde Giulia Manfredini havia sumido e, ao chegar lá, teve certeza de que havia um bocado de vampiros. Viu um pouco de sangue no chão, e um espasmo subir por sua espinha, um aviso natural de seu corpo para ter cuidado.

Ele não viu o que o atingiu, mas sentiu mãos fortes se fecharem em seus braços e uma pancada causar uma dor aguda na parte de trás da cabeça.



The night is full of holes

(A noite é cheia de buracos)

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