Os Primeiros Amores
Caro leitor, você realmente não espera que eu narre detalhadamente cada ano de Viviane Lloyd em Hogwarts, certo? Que bom, sabia que entenderia. Vamos dar outro pulo temporal para seu terceiro ano na escola, em 1974. É quando as coisas começam a nos interessar.
O ponto inicial do capítulo é quase o mesmo do outro, o Expresso de Hogwarts. Naquela manhã fria de setembro, pairava um silêncio incomum sobre a estação. No dia anterior, um casal de bruxos fora encontrado morto. No céu, uma caveira com uma língua sinuosa em forma de cobra. O motivo dos assassinatos permanecia obscuro, mas o criminoso era conhecido: aquele Voldemort, ou Você-sabe-quem, como faziam questão de chamá-lo, começava a gerar o pânico.
Havia quatro anos ele subira de ambicioso-determinado para bruxo-das-trevas-temido-e-procurado. A cada dia, mais e mais pessoas apoiavam seus ideais de raça pura e se juntavam aos seus seguidores, os Comensais da Morte. Acredite-me, você odiaria encontrar com eles no meio de um passeio ao entardecer. Uma legião de homens e mulheres mascarados disparando feitiços contra qualquer trouxa que visse, fazendo uso inclusive de maldições imperdoáveis para atingir seus objetivos.
O que Viviane pensava daquilo é que era uma loucura completa. Ela era a melhor aluna de poções da turma, e se orgulhava demais disso. E daí que seu pai era trouxa? Talvez, se fosse sangue-puro, pudesse achar as propostas de Voldemort convincentes, porém ela não era e não via sentido.
Naquela manhã, estava saboreando o silêncio do trem quando ouviu vozes conhecidas.
- Não tem mais nenhuma vazia, Tiago.
- Tem que ter, Pedro.
- Droga, Sírius, você devia vir um pouco mais cedo e guardar, foi isso que combinamos.
- E você acha que minha mãe aceita essas coisas?
- Cala a boca.
- Ei, olha a Viviane.
Os quatro grifinórios entraram no campo de visão da cabine e abriram a porta, sorrindo para ela. Sírius logo se sentou sem cerimônia.
- Querida Vivs, estamos sem cabine.
Ela olhou com desagrado. Não era tão íntima deles assim.
- Bom dia, Viviane – Remo sorriu ao colocar o malão no bagageiro.
- Que bom que um de vocês ainda tem educação, né? - Ela suspirou. - E, a propósito, sei que não se importam com o meu consentimento, mas podem ficar.
- Ah, sabíamos que não ia negar – disse Tiago, virando a cabeça para fora ao ver uma ruiva passar.
- E então, como foi de férias? – Remo novamente. Ele era o único que parecia se lembrar que a garota fora praticamente obrigada a dividir a cabine com eles.
- Tedioso. Ótimo. E vocês? - Ela disse.
- Passei duas semanas na casa da minha vó – comentou Pedro, animado. - Não fazia isso desde que era criança.
- Tá, tá – Potter, sem prestar atenção. - Eu encontrei Lílian Evans no Beco Diagonal.
- Aposto que foi sem querer – Viviane sorriu. Todos sabiam que ela recusara um convite para sair com ele na última visita a Hogsmeade
- Claro que sim – Sírius logo emendou, um tom zombeteiro na voz rouca de adolescente.
Tiago deu um largo sorriso. Não importava o quanto tentassem usar Lílian Evans para tirar sarro dele, o garoto sempre se safava.
- Olha só, faz 15 minutos que chegamos e você nem foi procurar a Guilhermina, Siriusinho.
O Black ficou um pouco constrangido, mas deu um jogadinha de cabeça para o lado para desarrumar o cabelo e fez cara de esperto.
- Potter, Potter... deixa eu te explicar... você não deve ficar atrás das garotas assim.
Viviane deu um meio-sorriso com o canto esquerdo da boca.
- Essa Guilhermina... é a Ventura, da Corvinal?
Os quatro garotos assentiram.
Guilhermina Ventura era uma moça estranha, muito estranha, mas sem dúvida era linda. Tinha cabelos escuros sempre presos, seus olhos da cor do mel viviam vagando por mundos estranhos, lugares que só ela via. Perdida em pensamentos, não prestava atenção em nada e tinha uma memória por vezes incrível, além de um senso de lógica indiscutível. Aos 14 anos, Guilhermina conhecia um bom pedaço da história bruxa e trouxa, além de saber o funcionamento teórico de coisas como bisbilhoscópios e vassouras (estudara os feitiços que os faziam funcionar, e como agiam, o que causavam, a energia que tomavam… enfim, tudo). Amava física, principalmente a não-mágica, sabia as teorias de Einstein e, pasmem, entendia-nas.
Havia muita expectativa quanto ao seu futuro. Alguns diziam que ela seria um grande gênio da comunidade bruxa, outros, que era louca de pedra. De fato, várias das coisas que ela falava não faziam sentido a muitos bruxos bem formados. Mas o seu destino cabia somente a ela e, naquele momento, a única coisa que a preocupava era seu livro de metafísica que ficara displicentemente repousando ao lado de sua cama, na cidade de Haverhill. Quando se deu conta, o trem começava a chacoalhar.
Falou com as duas amigas com quem dividia a cabine, porém nenhuma delas tinha um coruja. Suspirou e levantou-se. Duas cabines à frente, viu uma garota magra e loira arrastando seu malão. Foi ajudada por um rapaz de cabelos castanho-claros, Remo Lupin.
Foi um susto quando Guilhermina apareceu à porta. Era como se tivesse sido invocada pela menção de seu nome alguns segundos antes, uma espécie de mágica não-intencional e poderosa. Apenas Carolina Selwyn, recém-chegada, não se deu conta do clima de espanto que se instalou.
- Alguém pode me emprestar uma coruja? - Perguntou a morena, sem olhar na face deles.
Sírius logo se prontificou. Viu aquilo como uma oportunidade real de conversar com Guilhermina, a primeira em muito tempo. Foi todo feliz com ela até sua cabine e de bom grado deu a perna da coruja marrom para a garota amarrar um bilhete.
Depois disso, ela se sentou e ficou olhando para uma mancha no chão, sem dizer nada. Aquilo o deixou surpreso.
- Gui, eu posso falar com você? - As duas outras garotas nas cabine deram risadinhas e taparam as bocas com as mãos. - Em particular. - Ele emendou, olhando de esguelha para elas.
- Ah... pode... sobre o quê?
Ele a levou para fora da cabine e foram para o primeiro vagão do trem. O garoto tomou coragem e olhou fundo nos olhos dela enquanto escolhia as palavras certas. Estavam parados no corredor, e aluninhos os olhavam pelas portas.
- Guilhermina, é que eu queria que ficássemos juntos.
- Juntos? - Sua expressão foi de desconcerto. Inclinou um pouco a cabeça para o lado.
- É, sabe, namorar – Ele dissera alguma coisa errada? Engoliu em seco.
- Black, eu não sei porque você diz isso.
É, ele com certeza dissera alguma coisa muito errada. Suou frio por um segundo, antes de tentar falar o certo.
- Eu... gosto de você, não vejo por que não...
A morena olhou para o lado, pareceu analisar.
- Ah, se você quiser mesmo... pode até ser...
Algo explodiu no peito de Sírius. Ele deu um sorriso bobo, pegou na mão dela. Os olhos de Ventura pareceram se focar nos dele pela primeira vez desde que se conheceram. E ela sorriu.
Aquele foi um ano atribulado para Viviane. Na verdade, seria o ano fundamental para a definição de seu futuro. Naquele ano, ela entrou para sua primeira banda. Mas não nos adiantemos.
O professor Dumbledore, no discurso de abertura, anunciou um curso extra-curricular de defesa pessoal contra as artes das trevas a ser ministrado toda sexta-feira à noite a partir de outubro. O motivo, segundo ele, era preparar os alunos para possíveis ataques de bruxos das trevas, e todos sabiam o que isso queria dizer, não é? Voldemort.
Se fossem muitos os inscritos, passariam por processos de seleção, pois a matéria seria realmente pesada. Viviane sempre se interessara muito por isso, achava qualquer coisa que envolvesse a palavra “trevas” muito fascinante. Animou-se com o curso, mal podia esperar para as inscrições a serem abertas.
- Vai ser bobagem – falou Carol Selwyn na mesa de jantar, cortando um pedaço de vitela. - Eles vão nos adiantar matéria. Querem que os trouxas se sintam mais seguros, só isso.
- Talvez, mas vai ser legal. - Mastigou um pouco de pudim de carne. - Que matérias novas vai começar esse ano?
- Aritmancia, trato de criaturas mágicas e estudo dos trouxas. E você?
- Runas, adivinhação e trato de criaturas também.
- Adivinhação? Para quê você vai querer isso? - Carol franziu suas sobrancelhas loiras para a morena, que corou.
- É que às vezes eu sei de umas coisas que não tinha como... simplesmente, sei, entende, daí achei que seria legal.
Carolina riu delicadamente e tomou um gole de suco de abóbora.
- Ah, Vivs, eu sempre soube que você era esquisita.
Continuaram comendo, e Viviane sentiu certo alívio pelo amiga não considerar premonições como coisas de outro mundo, quando ela mesma se assustava às vezes. Naquela noite, mais um sonho veio. Tinha a ver com pessoas gritando. No entanto, elas não pareciam atemorizadas ou em pânico... estavam simplesmente felizes. Em seus rostos, o suor escorria e acentuava a excitação, as bocas se mexiam freneticamente.
Ainda com uma lembrança vaga disso na cabeça, ela subiu as escadas do dormitório para o salão comunal da sonserina. Uma olhada rápida no mural procurando alguma coisa sobre o curso de defesa contra as artes das trevas, mas nada dele. Só que tinha algo muito interessante lá, mas muito interessante mesmo:
Procura-se guitarrista para banda de classic/hard rock. Os integrantes atuais são do quarto ano, Corvinal. Interessados, favor se apresentarem a Augusto Abbott ou Alexandre Bowman na sala 7 do quarto andar na próxima sexta-feira, ás 17 horas.
Quatro dias depois, ela deu uma última dedilhada em sua velha guitarra vermelha e a guardou novamente no case. Dirigiu-se nervosa para o quarto andar e chegou um pouco depois das cinco e quinze. A sala sete estava com a porta aberta. Dentro dela, a garota viu dois corvinais conversando com um garoto meio vesgo de seu ano, provavelmente querendo a vaga também. Ela deveria falar alguma coisa ou só entrar? Arriscou:
- Ahn... olá?
Os três se viraram para ela.
- Sim? - Falou um dos corvinais, de cabelo castanho enrolado.
- Abbott e Bowman?
Ele ensaiou um sorriso.
- Veio sobre a vaga de guitarrista?
- É, vim.
- Pois bem... nos fale um pouco de você, sua metas, seus objetivos e porque merece entrar na nossa banda.
Ela se sentiu completamente desconcertada.
- Falar um pouco de mim e por que mereço?
O outro, de cabelos negros, deu uma risada.
- É brincadeira dele. Senta aqui e me diz, qual seu nome?
- Viviane Lloyd.
- Certo. Então você toca. Desde quando?
- Ah, desde os sete anos – ela sentiu certo alívio enquanto puxava uma cadeira para a frente deles. Não estava pronta para perguntas profundas, apenas tinha ensaiado uma musiqueta.
- Isso é mais que qualquer um que eu conheço – o de cabelos enrolados para o de cabelos negros.
- Com certeza – ele respondeu. A seguir, de novo para ela: - E com quem fez aula?
- Na verdade nunca fiz aula – um sinal de decepção no rosto deles. Ela precisava consertar, desesperadamente. - Meu tio me ensinou, ele tem banda.
- Qual? Será que a gente conhece?
Ela ficou escarlate, porém não pôde evitar um sorriso:
- Bom, vocês devem conhecer. Ele toca na Exilados da Montanha.
Os três garotos arregalaram os olhos.
- Seu tio é o Pedro Webber? - Assombro irrestrito. Ela sabia que isso aconteceria.
- Bem, ele não é meu tio biológico, mas ele casou com a tia Miosótia...
- Toca um pouco pra gente – o dos caracóis na cabeça.
Ele pegou uma guitarra branca que estava colocada sobre uma carteira ao seu lado e entregou a ela. Era uma boa peça, sem dúvida. Tinha sido lustrada recentemente, Viviane reparou, ao tocar deliciada as cordas novas, tão diferentes das que se esticavam em sua Jackson gasta. Pegou o instrumento e colocou-o invertido no colo, com o cabo na mão direita, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Não viu os olhares trocados entre os garotos quando começou a tocar uma música dos Rolling Stones com calma, os acordes feitos de ponta cabeça.
- Está bom – falou o garoto de cabelos negros. - Mas era só ter avisado que era canhota.
- Não, eu toco assim mesmo. O Pedro não tinha nenhuma guitarra pra canhoto e também não acreditava que eu ia pegar gosto. Mas eu levei a sério – deu de ombros. - Hoje eu toco normal assim.
Os corvinais se entreolharam, depois para ela e o garoto vesgo:
- Vamos conversar um pouquinho, podem esperar lá fora?
Foram cinco minutos tensos entre os dois concorrentes. Eles não conseguiram conversar, apenas trocar palavras esparsas. Viviane começou a andar em círculos, assistindo a tensão quieta do corvinalzinho encostado na parede. Ela achou que ia fazer um buraco no chão, algo parecia ter mudado o fluxo do tempo... tudo ia tão devagar...
Por fim, depois de uma eternidade, a porta da sala se abriu e o garoto dos cabelos negros falou:
- Olha, gostamos de vocês dois, mas desculpa, Kirk, achamos que a moça combina mais com a banda.
O menino deu de ombros, disse um obrigado baixo e foi embora. Viviane, por sua vez, mal pôde acreditar. Seu coração bateu acelerado e descompassado quando ela apertou a mão deles. Era um sonho começando a se realizar, era um objetivo que mantinha em seu peito desde os sete anos, desde que conseguiu segurar uma guitarra pela primeira vez.
- Sou Augusto Abbott, vocalista. Bem-vinda à Simetria – o de cabelos encaracolados deu um sorriso aberto e branco.
- Alexandre Bowman, baixista. Bem-vinda, Viviane. Seu primeiro ensaio é sábado.
Quando ela voltou para a sala comunal e contou a novidade a Carol, a loirinha explodiu de felicidade. Pois é, Carol estava sempre feliz, às vezes até demais. De olhos azuis, aguada e magrela, é aquela com quem Viviane trocava algumas palavras no primeiro capítulo, lembra? Ela tinha o dom da energia constante, ninguém nunca a vira triste ou desanimada em Hogwarts. Naquele instante de comemoração, ela se tornou ainda mais radiante.
- Foi muito fácil, garota. Você deve tocar bem.
- Tenho certeza que foi por causa do meu tio. Droga, agora que pensei nisso, não queria que tivesse sido assim... eu sou uma boa guitarrista...
- Fica calma. Se te escolheram, é porque você mereceu. Agora vamos subir e toca alguma coisa pra eu ouvir.
- Carol, já me ouviu tocando milhares de vezes.
- Mas agora é diferente, você faz parte de uma banda, não é só uma desocupada – ela riu, mas não gostou muito da música dos Stones. Não disse nada. Carol quase nunca dizia, não é mesmo?
Os grifinórios aproveitaram mais a novidade. Desde a viagem, ficaram mais próximos, conversavam eventualmente nos corredores e, uma vez, Sírius e Tiago se sentaram com Viviane e Carol na beira do lago, num sábado. Foi um dia estranho porque Carol não parava de rir, estava irritante.
Sírius, aliás, parecia constantemente irritado. Remo confidenciou uma vez que era porque Guilhermina preferia física quântica a ele. O garoto fazia tudo o que podia, mas a moça sempre voltava para os livros e para aquelas dimensões estranhas que ninguém mais via. Por fim, ele, ao que parecia, resolveu aproveitar toda a liberdade que Ventura lhe dava para curtir os amigos e atazanar o zelador e aquele tal de Snape sempre que podia. Ele e os amigos aprimoravam as travessuras a cada dia, tinham mais detenções nas costas que qualquer um. Remo, embora aparentasse ser o mais calmo, participava (e palpitava) da maioria das coisas.
Viviane sabia que ele tinha um problema, mas nunca descobrira qual. O modo como ele se cobrava não era normal, ele tinha que ser o melhor em tudo... mas quem era ela para dizer que ele estava errado?
No sábado, Viviane foi para a sala 7 ensaiar pela primeira vez. Sentiu-se um tanto idiota andando com o case nas costas pela escola, mas foi um alívio quando chegou e o outro integrante aprovou suas dedilhadas. O bateirista era muito gordo e forte, e, embora não o tivesse visto tocar, Viviane teve pena da bateria dele.
A menina estava acostumada com o clima de ensaios, mas não esperava encontrar isso em Hogwarts. Depois que entrou, os garotos trancaram a porta e jogaram um feitiço qualquer. Então Augusto Abbott tirou um pacote de cigarros do bolso, acendeu um e passou aos outros integrantes. A garota pegou um sem muita certeza. Nunca havia fumado, mas não custava nada experimentar. O gosto era ruim, embora a sensação fosse realmente boa. E de fato, a única conseqüência mais imediata foi Carol comentar que ela estava fedendo naquela noite, quando Viviane assinou a lista de interessados no curso extra-curricular.
- Me conta os detalhes do ensaio.
- Não tem muitos detalhes. Eles só me passaram uma lista de partituras que tenho que tirar e discutiram colocar novas no repertório. Ensaiamos uma só, e mais ou menos, porque o bateirista estava sem a bateria. Foi um acústico, mas ficou legal. O vocalista é o Augusto Abbott, ele tem um cabelo bonito – deu um sorriso culpado.
Desceram para o dormitório com Viviane contando como eram os outros integrantes, mas Carol não parecia realmente querer ouvir, e ela se calou.
Assim, setembro passou bem rápido e sem novidades, e finalmente chegara o momento que Viviane tanto esperara. Quatro de outubro, às 20 horas. Ela e um restrito grupo de alunos conseguira passar nos testes de aptidão para o Curso Extra-Curricular Avançado de Defesa contra as Artes das Trevas.
Na fila para a primeira aula, nas portas do castelo, ela encontrou Tiago Potter e Remo Lupin. Logo depois Sírius Black chegou de mãos dadas com Guilhermina Ventura, que parecia ignorá-lo um pouco menos do que antes. Observou com desagrado Severo Snape por ali, não conseguiram se dar bem depois do tinteiro. Vivs se aproximou dos grifinórios solteiros, seu rosto radiando excitação. Carol se despediu dela e seguiu para a masmorra da Sonserina, não sem antes lançar um olhar estranho para Guilhermina.
- O que deu nela? – perguntou Tiago, quando o rabo-de-cavalo loiro desapareceu para as bandas das masmorras.
- Nem imagino. Ela anda estranha. - Deu de ombros. Não podia ser nada.
- Vamos, apressem-se! – Era Filch, o recém-contratado zelador. Ele mostrara um certo gosto para o sadismo um dia, quando encontrou Viviane fora da cama no meio da noite. Ela tivera insônia e resolvera dar uma voltinha pela masmorra. Detenção.
Ele conferiu os nomes um por um:
- Bamch, Black, Conelly… – e assim foi. Ele fuzilou especialmente Sírius e Tiago, porém não podia fazer nada para machucá-los naquele momento.
Os alunos seguiram o guarda-caça Hagrid até perto de Hogsmeade, mas tomaram uma outra trilha antes de entrarem no vilarejo. Rumaram para uma casinha afastada, fora de qualquer bairro. Era um casebre que estava com as luzes acessas, e a porta, aberta. Tinha a cobertura feita de telhas precárias, a parede estava em muitos pontos sem reboco. Nada nascia à sua volta, e os alunos se perguntaram há quanto tempo ninguém cuidava de lá. De dentro, vozes os intrigaram.
- Não pode fazer isso, Dumbledore! Se o Ministério descobrir, você será expulso do cargo!
- Não irei temer o Ministérios dentro de minha própria escola. Deixemos isso por um instante, parece que os estudantes já chegaram.
Então outra voz murmurou algo. Era uma voz feminina e baixa, sussurrada:
- Mandei-os entrar.
Dumbledore apareceu sob o portal e pôs um sorriso no rosto jovial. Sua longa barba prateada continha um ou dois fios de uma coloração acaju. Os óculos escorregaram ligeiramente antes que ele os empurrassem para o lugar com a ponta do indicador direito.
- Acho que esses jovens querem conhecer logo a nova professora! Arnoldo, resolveremos isso depois – falou, com um tom sério, para dentro da casa. – Senhora, espero vê-la em Hogwarts amanhã para conhecer o castelo. E vocês! Entrem, entrem!
Ele saiu seguido por um homem de meia idade e expressão carrancuda. Então os alunos puderam entrar e ver a mulher.
A primeira sensação de Viviane foi de choque. Esperava uma velha feita e baixa, ou coberta de cicatrizes, mas se deparou com uma moça lindíssima. Ela era alta e esbelta, seu cabelo castanho como madeira tinha um caimento lindo, embora estivesse quebradiço e ressecado. Seu nariz centralizado era fino. E a boca... como explicar o modo do lábio inferior encostar no superior? Os dedos compridos estavam escondidos sob luvas grossas. O corpo era modelado perfeitamente, os seios médios, a cintura finíssima.
A pele de alabastro esticada sobre os ossos elegantes e fortes passava uma sensação sobrenatural. Porém nada que se comparasse a seus olhos. Eram de um azul irreal, inacreditável. Eram iguais, exatamente iguais. A simetria era regra na professora. Mas havia algo... qualquer coisa no conjunto que fez Viviane ter um mau pressentimento, a impressão de que um vacilo seria fatal. Provavelmente a expressão séria demais, ou a sombra que parecia se ocultar atrás de seus olhos estonteantes.
- Não vos necessitarão sentar hoje – disse, quando os alunos já se perguntavam onde estariam as carteiras e cadeiras. Sua voz soou alta e autoritária, o olhar percorrendo a turma um por um. Demorou-se mais em Remo. – Não haverá aulas teóricas nesse primeiro mês. Por hora, alguma informação que precisais saber. Meu nome é Érica Winters, vós deveis chamar-me Senhora ou Senhora Winters, e apenas isso. Não aceito brincadeiras de nenhuma natureza, minha aula é séria e pesada. Duvido que todos vós chegueis ao final do curso. Hoje farei um teste para avaliar pessoalmente vossas habilidades, e não espereis que eu vos ajude em caso de necessitação. - Ela os olhou com desprezo e cruzou os braços. - Aprecio inteligência e ação rápida, espero que pelo menos um de vós possua as duas capacidades unificadas. Dúvidas? - Todos calados e assustados. Ela parecia um general cruel dando ordens ao seu exército. - Então afora, o curso começou.
***
1 - Respondendo aos comentários:
'juliiana vance :) .: que bom que você gostou do começo, espero que goste desse aqui também! O que a Viviane tem a ver com isso? Bom, ela estudou em Hogwarts, era um ano mais novo que os marotos, mas isso não impediu que ela tivesse uma relação bem... interessante com eles. Ela influiu na vida deles de alguma forma, e eles influiram muito na dela também. No próximo capítulo, eles continuam se esbarrando, eles se esbarram muito naquela escola xD
Chris Black: é díficil ter calma quando 4 anos de planejamento e projeto vão afundando sem leitores, comentários, votos, sem nada. Espero que eu não desanime de novo, porque eu preciso contar essa história, senão eu fico louca...
2 - Capítulo 3 será chamado "Disfarces".
3 - Sem comentários, não haverá um capítulo 3 para se chamar "Disfarces". Estou disposta a colocar essa fic em hiatus para extravasar minha fúria literária (o que quer que seja isso).
Bjos a todos, L.W.
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