#capítulo dois



Capítulo Dois
Ou
So I Can Find Someone To Relyon


- O quê? – Marlene arregalou os olhos, surpresa – Roubaram até mesmo teu cavalo?


- Exatamente – James Potter confirmou com um pesar na voz – Aqueles facínoras desgraçados!


- É de se espantar que ainda tenha as tuas roupas no corpo – Dorcas comentou sarcástica e ácida – Tem certeza de que ainda estás de ceroulas?


Lily, sem muito saber o que dizer ou fazer, pestanejou calmamente, inspirando fundo.


- Dorcas, não comece – Lily pediu cansada.


Dorcas tinha um gênio muito ambíguo e destemido. Ora era extremamente afável e compreensiva; outra mal suportava uma troca de olhares e se confortava demonstrando uma branda apaticidade e fervorosas frases zombeteiras.


- Se eu não estivesse, logo notarias – James retorquiu usando o mesmo tom que a menina.


Lily quis rir, porque ninguém ousava desafiar a personalidade sempre em combustão da filha do boticário. Nem mesmo seu pai teimava com ela; sabia que era inútil fazê-lo e que pouco ganharia. Ele julgava que a ausência de uma figura materna fez com a que a filha se tornasse arredia e desacreditada nas mais simples coisas. Chegava até a desmerecer a confiança de Artemis, Marlene sempre dizia.


Uma longa e estreita estradinha surgiu na relva, guiando-os para caminhos desconhecidos. A Princesa, que já estava confusa e perdida, não sabia se deveria opinar quanto àquilo. James Potter não fez objeção alguma e meramente as seguiu. Ele, por mais que conhecesse aquele vale, não sabia como chegar ao Rio do Pó e se tivesse que ser compelido a acatar as direções das damas não estava ficando insatisfeito. Se existisse uma maneira a chegar ao Rio, ele deveria alcançar aquele jeito, pois era sua única salvação. Precisava chegar lá a tempo, antes que não conseguisse desenvolver o enredo de seu futuro. E James Potter almejava seu futuro tanto quanto gostaria de deixar sua raiva passar pela Princesa.


Certo, a Princesa era bonita. Mas tinha constatado e aceitado que nada o faria mudar de opinião. Beleza era um impasse muito relativo. Ouvia que a família real era muito ajustada e irradiava felicidade por entre os olhos brilhantes, mas chegar a ponto de desistir por conta de um rosto intocado? Jamais. Caminhando lado a lado com Lily, seu corpo lhe mandava sinais de que deveria esquecer-se da honra. Aquela podia ser a única menina sã do vilarejo. Princesa ou culpada, ainda aparentava ser uma garota bastante ingênua e indulgente. James tinha que continuar a agir como um velho sábio cego. A cegueira incômoda lhe tomara e seria preciso muito mais do que um gesto bondoso ou cordial para lhe tirar daquele estado raivoso.


- Não que eu quisesse notar, meu caro – Dorcas retorquiu entediada.


- Por favor, podem parar? – Marlene quis saber. A diversão morrera e só conseguia pensar no quanto aquilo era irritante. Dorcas não conseguia parar nunca?


- Ainda bem que não precisarei conviver tanto tempo com vocês, porque só se passaram algumas horas e já as detesto – James falou ressentido.


- Não seja por isso, nobre cavaleiro sem cavalo. Pode seguir seu próprio rumo – Dorcas retornou com seu tom ácido.


- Mas ele pediu ajuda, Dorcas – Marlene lembrou, parecendo surpresa.


- Pediu nada! Você que foi burra e acreditou que estaríamos indo a algum lugar com esse imprestável!


- Escuta aqui... – James se enfureceu.


- Ei, ei! – gritou Lily, mostrando-se sempre complacente e ponderada – Isso não nos levará a nada. Não podemos agora ser impedidos por nossos orgulhos. Eu quero escapar dessa, vocês querem escapar dessa. Então, temos que nos ajudar, está bem?


- Ah, falou a mente sã desse lugar – James ironizou, mas Lily não notou seu tom de voz.


- Cale a boca, seu seqüestrador de araque! – Dorcas gritou.


- Ele não nos sequest... – Marlene logo se impôs, mantendo a cabeça baixa. Não gostava muito de contrariar Dorcas.


- Ah, é, porque você tem a plena certeza de que ele não nos matará assim que chegarmos a esse Rio longínquo! – devolveu a outra, muito furiosa.


- Eu dei a minha palavra! – James disse.


- Que palavra foi aquela, hum? Uma porcaria de um camafeu enferrujado! Rá, como se agora eu estivesse muito tranqüilizada!


- Tu não sabes da minha história, então não tentes julgar meus atos, okay? – James pediu, irritado.


- Não estou julgando você. Eu sei que tipo de homem você é!


- Ah, sabes? Então que tipo de hom... – James começou a retrucar, mas parou ao ouvir um bufo da Princesa.


- Por Artemis, conseguem fechar a boca? – Lily perguntou, sentindo seu estômago roncar.


O jantar tinha sido servido há tempos e Lily se limitara a comer pouco, pois era dia de semana e sua mãe não lhe permitia se estufar como nos banquetes de sábado. O Sol ainda não dava indícios que iria raiar logo, mas o grupo necessitava que a luz os guiasse mata adentro. A umidade estava se impregnando nas roupas e nos cabelos de todos, fazendo-os respirar ofegantes e rápidos. O cansaço já os pegara há muito, mas sabiam que se arranjassem uma desculpa para descansar não sairiam mais do lugar. As meninas, que tinham acordado cedo, especialmente Marlene, não sabiam como ainda estavam de pé. Necessitavam sentir seus músculos relaxarem e suas cabeças penderem tranqüilas em algum lugar. Lily, sentindo inveja das roupas leves de Dorcas, tremia de frio e não aceitava sua derrota. Apesar de estarem nas mãos de um rapaz que pouco conheciam (que só tinham aceitado sua palavra de honra por sobrevivência), agradeceu por não estarem mais sozinhas. Sabia que se algo acontecesse a alguma delas (principalmente a Princesa e a Marlene), James faria o possível para salvá-las. A Princesa não estava cem por cento certa quanto a isso, mas repelia os pensamentos negativos. Quase fora morta, era verdade, mas seu seqüestrador estava se revelando bastante tolerável e tolerante. Costumava imaginar cavaleiros muito bondosos e amigáveis (não que James não estivesse sendo, no máximo, amigável), entretanto algo dentro de si lhe sussurrava que James não era bem assim. Não que a cena que antes tivesse protagonizado não tivesse acobertado seus julgamentos quanto a ele, mas sentia que não era apenas aquilo. Se ele tinha se tornado saqueador e sequestrador por opção (largando assim sua nobre casta) era porque havia motivos completamente irreais para Lily, que estava acostumada a ser afastada das comuns tragédias do Vale.


- Tens razão, Lily Evans – James concordou aliviado por alguém tomar partido.


Lily não respondeu, meramente acenou positivamente.


- Creio que devamos descansar – ela disse. Derrapando sobre as folhas e sobre a terra molhada, não conseguia mais caminhar. Suas pernas reclamavam e imploravam por uma trégua. Seus ombros tensos já não suportavam mais os imprevistos da noite.


- Ainda bem que alguém mencionou isso – Dorcas falou ofegante, agarrando os lados do corpo, que se retraíam sôfregos.


- Não acho que... – James Potter franziu a testa, olhando panoramicamente. Desejava olhar para algo que não tivesse envolvido por folhas ou musgos.


Esperava ouvir sons desconexos e imprecisos.


Nada.


Somente os grilos e as cigarras pareciam querer dar seu sinal de vida.


- Ah, por favor! – Marlene suplicou. Seu semblante estava suado e afogueado.


- Certo, okay – James colocou as palmas das mãos para fora. A verdade é que ele mesmo não mais suportava caminhar pela noite infinita.


As meninas se entreolharam. Estavam no meio do nada. Descansar como? Tranqüilas é que não iriam conseguir.


A Princesa suspirou. Ela, a princesinha mais bem guardada da região? Nunca.


- Falta muito para o Rio do Pó? – James questionou a dama de companhia.


- Sinceramente?


- É.


- Não faço a mínima idéia, Potter – Marlene sorriu sem jeito – Posso lhe fazer uma pergunta?


- Talvez – respondeu o outro.


- Acho que já sabe o que queremos – Dorcas falou a James.


James, mesmo resistindo à confusão, demonstrou surpresa.


- Sei? – James riu cético.


- Potter, sabes que tudo o que procuramos são respostas – Lily disse, secando o rosto.


James sorriu inconscientemente. O gênio forte da Princesa encantava erroneamente o cavaleiro.


- O que queres saber, Princesa? – James procurou um local seco que estivesse preenchido pela terra, sem folhas secas ou gramíneas.


- O que o Rei lhe fez? – Lily quis saber.


James limitou-se a rir amargurado.


Achava que ele fosse o questionador. A Princesa, ele achava, era tão reprimida e ordenada, que não deveria ser de seu caráter quebrar alguma regra. E a regra, naquele momento, era: não pergunte para não saber sobre coisas desagradáveis.


Ignorando os olhos indagadores e céticos das damas, James se ocupou em vasculhar por galhos para construir uma fogueira que desse para aquecer o grupo. Tentando empurrar o momento crucial para depois, fingiu não estar se importando com as meninas em seu redor, tensas.


- E então? – Dorcas, que estava com os braços cruzados abaixo dos seios, franziu a testa, desopilada, assim que enxergou as primeiras faíscas de um fogo baixo que estava pronto para se alastrar sobre os gravetos que James amontoara.


- Deixe-me terminar, senhorita. Assim estaremos mais aconchegados – James respondeu calmo.


- Certamente – Dorcas não se incomodou em assentir.


- Precisa contar a história toda, James – a Princesa lhe disse em um tom tão amistoso, que ele chegou a duvidar.


Havia tempos que ninguém o chamara pelo nome. Sua mãe, tão morta e enterrada quanto uma minhoca seca, fora a última que o chamara por James. Seu pai, há muito também descansado na terra, nem chegara a conhecer. Era quase um órfãozinho desprovido de ambições. Quando criança invejava os garotos amados por mãe e pai.


- Contarei o que precisam saber, Princesa – James lhe respondeu seco.


- Garanto que é muita coisa – Dorcas assegurou.


- Veremos – James riu pequeno.


A fogueira surgiu pequena e com a cor dos cabelos de Lily. Quente e vívida, logo encheu o perímetro de alívio e arrepios.


- Pode começar, por favor? – Dorcas pediu.


- Você é bastante impetuosa, hein, madame? – James comentou.


Lily suspirou mais uma vez e rolou os olhos.


- Acalmem-se, garotas – James olhou para Lily de soslaio.


- Eu quero saber por que preciso lhe levar até o Rio do Pó – Marlene comunicou.


- Eu quero saber o que fará conosco – Dorcas disse.


Lily aguardou James pronunciar algum sussurro.


- O que acham que posso fazer com vocês? – James perguntou.


- Se eu realmente soubesse, não estaria lhe perguntando isso – Dorcas disse com frieza.


- Não sei se posso mesmo fazer algo contra vocês.


- Você é um seqüestrador, ou até mesmo um assassino – Dorcas o desmereceu.


- Estás se esquecendo de um detalhe, querida – James soltou um risinho; Dorcas comprimiu os lábios, não apreciando suas palavras – Vocês estão em três e ainda não clareou.


- Isso quer dizer que é um covarde?


- Não, isso que dizer que estou em desvantagem – James a corrigiu.


- Covarde – Dorcas repetiu.


James e Lily rolaram os olhos, impacientes.


- Aconcheguem-se, que logo lhes contarei o que sei, certo? – James prometeu, aquecendo as mãos frias pela irradiação do fogo.


Lily, que já sabia que ora ou outra James iria contar a história, não se desesperou ou se exasperou. A verdade viria e somente teriam que esperar.


- Estou com fome. Espero que você tenha roubado umas coisas boas do seu pai – Marlene disse a Dorcas, espiando o interior da bolsa de couro costumeira.


- Geléia de morango, pedaços de carne seca e... ah, geléia de pêssego! – Dorcas comemorou feliz – Água, alguém? – ofereceu.


James, Lily e Marlene aceitaram o cantil cheio.


- Não acabem com tudo agora, por favor. Ainda temos que achar um rio decente no meio desse lugar. Espero que esse maldito Rio do Pó tenha água boa – Dorcas reclamou.


- Não tem. O Rio é contaminado – James contou.


- O quê? – Lily surpreendeu-se – Por quê?


- Não sabes por que ele é chamado de Rio do Pó? – James perguntou à Princesa. Ela sacudiu os cabelos revoltos e brilhantes, negando.


Marlene e Dorcas olharam para James, na expectativa. Marlene, que tinha sido criada até aos dez anos à beira do Rio, também não conhecia a história. Seu pai tinha sido um escravo levado por bárbaros e sua mãe lhe entregara ao Rei assim que a seca começou a levar as famílias da comunidade. A mãe de James, por acaso, também tinha sido morta pela seca, mas há pouco mais de cinco anos. Ele voltara de uma rebelião e encontrara a mãe jazida na vala comum do povoado. Então, começou a agir por si só. Para quem deveria voltar?


- A seca aniquilou o povoado, que do Rio tirava a água para beber e para os alimentos. Com a seca, logicamente, vieram as mortes, que ocasionaram o depósito excessivo de elementos incomuns ao solo, matando-o. Hoje, se conseguir chegar até lá, apenas encontrará pó. O pó das vidas que foram roubadas pela pobreza – James explicou com gratidão na voz.


- Espere. E é para lá que quer voltar? – a Princesa arregalou os olhos – Por quê?


- O velho Menfis ainda vive lá – ele lhe disse.


- Quem? – todas perguntaram ao mesmo tempo.


- O Mago – James deu de ombros.


As meninas se entreolharam. Nunca tinham visto um mago. Claro, muitos se diziam magos, mas não eram. Não que magos fossem vistos com bons olhos. A maioria da comunidade do Vale caçava magos. Lily não apreciava os fins de semana por causa disso. A gritaria podia ser ouvida de seus aposentos, e também todo o fogo que tomava conta da praça principal. Temia os Rituais de Purificação.


- Nunca conheci um mago – Marlene comentou alegre. James estranhou.


Não que tivesse algo errado com Menfis. Bem, tirando o fato de que era um mago. Por isso, se escondia. James sempre voltava ao Rio do Pó, mas como tinha passado os últimos meses muito longe do local de partida, não soube qual depressão se encaminhar. James sempre voltava para lá por causa de Menfins. James, que cresceu sem pai, só sabia recorrer a um homem, e esse homem era o Mago. Não que tivesse aprendido seus artifícios, longe disso. James Potter era um cavaleiro, não um bruxo. Mal sabia a diferença entre as cicutas.


- Menfins é um grande amigo – James resumiu.


- Você... bem, você é da família dele? É um bruxo também? – Marlene perguntou, com sua voz como num vacilo.


- Não, não – James quase quis rir. Mas então se decepcionou. Desejava ter nascido filho do Mago – Ele era amigo do meu povoado. É um Khvateush. Quando eu morava lá, ele era apenas um Varezenem.


- Um o quê e depois o quê? – Dorcas exclamou.


- Antes era um praticante e agora é um Iluminado – James explanou.


- E você quer encontrá-lo por quê... ? – a Princesa ficou curiosa.


- Eu fui traído. Alguém quer me sabotar. Preciso da ajuda dele – Fez-se silêncio – Ou melhor, nós precisamos da ajuda dele.


- Precisamos por quê? – Dorcas quis saber, hesitante – Eu não preciso da ajuda dele. O que ele pode fazer por nós? Uma poção contra os Espíritos da Terra?


- Não acho que ele esteja se referindo aos Espíritos, Dorcas – Lily disse.


- Não, não foram os Espíritos da Terra que me traíram – James negou.


- Traíram-lhe de que modo, cavaleiro? – Marlene perguntou.


- Há um mês fui seqüestrado e mantido em uma casa a mando de uma donzela. Bem, talvez não fosse uma donzela, já que parecia que gostaria de acabar de verdade comigo – James falou.


- Com que objetivo? – Lily questionou.


- Não sei, Princesa – James arqueou o corpo, mostrando-se desapontado por não ter a resposta.


O silêncio fez-se presente por alguns minutos. O grupo dividiu as geléias e a carne por tempo suficiente para que todos saciassem a fome. O sono foi pegando aos poucos as meninas, mas tentaram resistir para que chegasse a vez da grande história.


- E seu pai? – a voz sonolenta de Marlene bateu nos ouvidos de todos, rompendo o barulho da mata.


- O que tem ele? – James perguntou. Sabia que ela se referia ao seu pai de modo amigável, quase solidário.


- Bem, não foi ele que foi largado na Travessia dos Mortos?


- Ah – James fez. Ao gostava de falar sobre o pai. Sentia-se vazio sempre que pensava nele. Tinha convivido muito pouco com ele e o Mago lhe tinha suprido as necessidades infantis dele. Não sabia bem se sentia a falta do pai ou se o ódio que sentia por terem o arrancado dele era por mera honra familiar – Encontram muitos na Travessia dos Mortos, não?


- Então o Archie Potter que o Rei tanto gosta de falar não era seu pai? – Lily arregalou os olhos com a coincidência.


- Bem, era. Era meu pai.


- Pelo que sei, então, seu pai foi morto pelo Rei ou a mando deste – Dorcas falou.


- Exatamente.


Lily se contraiu. Detestava aquilo. Detestava o poder que seu pai tinha.


- Meu pai... ele matou o seu pai? – Lily tornou a arregalar os olhos, mas agora impressionada e culpada.


- Matou, Princesa. Ora, por que a surpresa? Ele é o Rei – James riu, odiando a face enjoada da Princesa.


- Mas por quê? Ele nunca conta essa parte.


- Não sei. Realmente não sei. E um dos motivos pelo qual estou retornando ao Rio do Pó é esse. Quero respostas. Quero saber o que levou o Rei a me deixar órfão de pai aos dois anos – James justificou.


- Tens certeza de que foi o meu pai? – Lily perguntou cética.


- Que outro Rei temos por aqui? – James zombou.


- Ah – Lily falou brevemente.


Então, estava nas mãos de James Potter por conta de um assassinato que não cometera? Ele tinha seqüestrado a Princesa por pura vingança? E depois lhe tiraria a vida, exatamente como o Rei tinha feito?


Oh, grande honra, James Potter.


Matar por matar é sempre um fundamento muito recorrente, não?


- Ouçam, só preciso encontrar respostas. Não quero lhes machucar. Não sou desse jeito. Não sou terrível – James falou, olhando para a Princesa. Ele, enfim, seria piedoso? Justo com a Princesa?


- Mas já matou alguns, imagino – Dorcas disse, duramente.


- Obviamente, a alguns tive que fazer mal, mas não faria nada às senhoritas. Eu lhes dei minha palavra, não?


- Não, você nos mostrou um colar - Dorcas negou - Isso, a meu ver, não chega a se aproximar de um juramento digno – cruzou os braços, teimosa.


- O que posso fazer para você confiarem em mim?


- Dê seu sangue por nós, que começo a acreditar – Dorcas falou.


- Não, não precisa de tudo isso! – Lily logo interviu na conversa – Eu fiquei satisfeita. Sei que não nos machucará.


- Lily! Você não pode ceder desse modo! – Dorcas se alterou.


- Dorcas, ele está nos mantendo a salvas, não? Isso já não é motivo suficiente para seguirmos com ele?


- Quem realmente garante que ele nos protegerá até o final?


- Eu farei o possível, madame, juro – o cavaleiro garantiu.


- Juras por quem? – a Princesa perguntou.


James a olhou confuso. Ela não estava do seu lado?


- Bem, por quem quer que eu jure? Minha família está morta! – James explodiu – Eu apenas quero resgatar a honra de meu pai.


- E se for preciso me sacrificará, presumo – Lily ergueu as sobrancelhas.


- Não, Princesa – ele negou – Reconheço que meu primeiro instinto foi querer acabar com você, mas acho que você me será útil.


- Você disse que não me faria nada até chegarmos ao tal Rio. Quem me garante qu... – Lily disse.


- Não posso tocá-la mais. Você não entende.


- Por que não entendo? E por que não podes mais me tocar?


- Eu... bem, eu não sei. Há algo em você. Você me impede de tocá-la.


- O quê? – Lily perguntou confusa.


- Eu não sei, não sei! – exclamou ele, desesperado – Mas você carrega algum tipo de... aura. Sabe?


- O que é uma aura? – Marlene quis saber.


- Eu não possuo aura! – Lily gritou.


- Deve ser magia de Princesas – Dorcas arriscou, olhando para ambos.


- Magia de Princesas? – James e Lily perguntaram ao mesmo tempo.


- Bem, papai me conta que fazia poções para esse tipo de requerimento. Às princesas que queriam sanar os pecados e se tornarem santas – Dorcas informou.


- Mas eu não quero ser santa! – Lily retorquiu – Eu apenas sou uma Princesa comum...


- Não interessa – James cortou o assunto – Você me repele de um modo que não consigo nem mesmo ficar perto de você.


- Desculpe-me – Lily falou.


- Lily! Você não pode pedir desculpas por não poder ser morta! – Dorcas riu.


- Oh – Lily riu baixo.


- Acho que é melhor descansarmos aqui até o Sol nascer – James disse.


- Não sei se conseguirei dormir com esses animais me olhando – Marlene contou, fitando para o negrume por entre as árvores.


- Eu vou ficar acordado – James prometeu.


- Não, acho que não convém – Lily o contrariou.


- Quer ser atacada, então? Okay, fique à vontade – James deu de ombros.


- Não é isso – Lily riu – Só não acho que devemos lhe cansar tanto. Ficarei acordada com você.


- Tens certeza?


- Absoluta.


- Mas Princesa, você precisa...


- Marlene, vás dormir, certo? Assim que o Sol aparecer, continuaremos – Lily disse.


Marlene os observou por mais alguns minutos, até conceder ao sono uma bela viagem aos seus sonhos. Dorcas, meio a contragosto, também adormeceu em pouco tempo. James e Lily ficaram acompanhando o crepitar da fogueira, até ambos bocejarem em busca de alívio para o cansaço.


- Queres mais água? – James lhe perguntou.


- Não, obrigada – Lily disse.


Ao ficar fitando o rosto tão delicado, mesmo na sombra, James não conseguiu parar de pensar por que não conseguia se desfazer daquela sensação de compaixão que lhe tomara minutos depois que soltara Lily. O que havia nela?


Talvez Menfis pudesse lhe ser útil com isso também.


Será que a Princesa era uma Sugadora de Alma?


Não, pelo que James sabia, não existiam essas criaturas perto do Vale.


- Princesa?


- Hm? – respondeu ela, sonolenta.


- Devo acrescentar que não a culpo. Teu pai é um ser muito maligno quando quer.


- É o dever dele. Ser Rei não é fácil – quis adicionar “E ser Princesa também não”, mas não achou que ele entenderia.


- Matar sem motivos?


- E se ele tivesse um motivo?


- Não diminuiria a minha raiva.


- Imaginava que não.


- Achas que é disso que preciso? – James perguntou.


- De quê?


- De um motivo.


- Você só precisa de um para acabar comigo – Lily lembrou-lhe.


- Eu não posso acabar com você! – James exclamou.


- Podes.


- Não, você é... diferente. Não és como as outras.


- Sou Princesa, e isso me leva a crer que eu seja mesmo diferente das outras.


- Não, não tem a ver com o teu sangue. Só se teu sangue fosse mágico. Mas sei que não é.


- Não, caso contrário já teriam me matado quando criança – Lily confirmou.


- Exato.


- Achas que sou... especial?


- Nasceste especial – James falou, olhando-a como se apenas isso a denunciasse.


- Não, não por conta disso – Lily sorriu mínimo.


- Não acho que sei do que estejas se referindo, então – James juntou os lábios, desculpando-se.


- Nunca mais podes me tocar?


- Não sei. Não consigo nem mesmo querer matá-la.


- Juras?


- Juro.


- Como sei se não estás mentindo?


- Porque não estou! – James riu; Lily também riu.


- A Vossa Alteza é uma Princesa. Nunca que tocaria em ti. És uma donzela – James se desfez dos pensamentos impuros e desejou estar o mais longe possível daquela dama – E prometo que nada a arrancará de minha vista.


- Vais me ajudar?


- Não queres minha ajuda?


- Tenho escolha?


- Não muitas, creio – James tornou a rir – E não sei o que lhe dizer para lhe confirmar que a protegerei.


- Não precisas. Confio em ti, nobre cavaleiro – Lily sorriu amável, mas logo seu sorriso desmoronou e seu rosto ficou cético e sério – Mas tens que prometer que não se apaixonará por mim.


James riu.


Por que, céus, James Potter se apaixonaria por aquela garota?


E por todas nuvens do mundo, ela era Princesa!


- Por que me apaixonaria por ti?


- Prometa-me – Lily continuou a olhá-lo.


- Bem... se é o caso, prometo.


- Se quebrar tal promessa não me responsabilizo por ti, certo? – Lily lhe contou.


- Eu é que estou responsável por você, Princesa. Não complique tudo, por favor – James brincou.


Lily não riu ou sorriu. Tentou manter o semblante o mais estável possível. Não podia demonstrar o que detestava. 

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N/a: eu sei, eu mereço a chibata! Demorei, não foi? :/ Desculpem por favor (: Mas estou aqui. Yeey *-* Então, espero que tenham aproveitado o capítulo dois. Fiz meio na correria, porque não queria que minha inspiração terminasse, e não sei o que você realmente acharam dele. Então, comentem e deixem suas opiniões. Nem que seja para xingar (Y) Provavelemente até mereço isso, nunca se sabe. 

Nina H. 


15/01/2011

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