Capítulo 3



Capítulo 3


 


— O que você está fazendo?


Hermione deixou de lado a mesa pesada e olhou à sua volta. Potter estava apoiado contra a prateleira mais próxima olhando para ela. Ele havia trocado de ca­misa e parecia ter estado ali um bom tempo, o que a irritou profundamente, por alguma razão.


— Estou empurrando esta mesa — ela explicou, como se falasse com uma criancinha.


O olhar dele sugeriu que fosse falar mais uma vez sobre sarcasmo. Obviamente, ele mudou de idéia, pois disse:


— Vou perguntar de novo. O que você está fa­zendo lutando com essa mesa...


— Ela está no caminho — ela retrucou. Por três ve­zes ela teve que se espremer para pegar um livro para um freguês, e nas três vezes bateu com a canela. Isso era o suficiente. Ela não levou dez minutos para se dar conta de que toda a loja precisava ser reorganizada...


— Não faz sentido ter livros à mostra se ninguém consegue alcançá-los — ela disse.


— ... se tudo o que precisava ter feito era ter me chamado que eu viria ajudar — ele terminou, ao ir até o outro lado da mesa para movê-la com suas mãos fortes. — Então, Hermione, onde quer que eu a ponha?


Ele estava de frente para ela, braços abertos, ombros fortes. Meu Deus. Tão... ali na cara dela. Tão... físico. Pior que isso, ele tinha um olhar que parecia tentá-la a entender aquela pergunta da ma­neira que quisesse. Ela limpou a garganta e saiu do , caminho.


— Em lugar nenhum.


— Mesmo?


Ele inflou aquela palavra de significado. A maior parte era descrença. Ela achou que a resposta que ele esperava fosse em qualquer lugar. Ela estava errada ao pensar que podia lidar com o tipo dele. Harry Potter não era um tipo. Ele era único.


Há muitos anos ela pensou que ele fosse único e bom...                                                                              


— Mesmo — ela disse, ignorando o fato que ela estava muito mais quente do que deveria naquele clima frio de março, além do aquecedor fraquíssimo ali na loja, mas nada nesse mundo faria com que ela tirasse o suéter.


Agora ela entendia que ele era único e provo­cante...


— Nesse caso, é melhor tirar os livros daí primei­ro. Se as pernas se soltarem, talvez eu consiga co­locá-la na van.


Único e irritante...


— Na van?


— Você quer tirá-la do caminho, não quer? Tem um lugar lá na loja onde posso deixá-la.


— De jeito nenhum!


— Não me incomodo. — E ele fez algo com a boca, um canto levantou em algo diferente de um sorriso, mas era, com certeza... alguma coisa. — Eu adiciono esse serviço à conta.


Uma gota de suor escorreu pela nuca de Hermione. Único e sexy.


Não! — Oh, meu Deus. — Digo... — Ela não fa­zia idéia do que estava dizendo. — Esquece. — E então: — Você já acabou?


— Prontinho para a inspeção, madame.


— Ótimo. Isso quer dizer que já posso ir.


Ela virou de costas para a mesa e foi até a porta da frente, girou a tranca, fechou um pino próximo no chão e deu um pulo ao se virar e encontrar Harry logo atrás dela.


— Você esqueceu um — ele disse, esticando o bra­ço acima dela para fechar o pino no topo da porta, dando a ela uma visão privilegiada do seu peitoral e um cheiro masculino — couro, loção após barba, óleo da junta da janela...


— Tem certeza em relação à mesa? — ele perguntou, ao se afastar e deixá-la escapar.


— O quê? Oh, sim. — Ela tinha quase 30 anos, pelo amor de Deus. Ela não babava mais. Nem mesmo Draco a deixava desse jeito. Nem ao menos chegou perto disso, mas era como se, uma vez abai­xada a guarda, ela agora se encontrava vulnerável... — Eu me distraí por um instante. — Ela pegou uma mecha de cabelo que se soltara da presilha e ajei­tou-a atrás da orelha. — Acontece nesse trabalho.


— Você está no ramo de remoção de móveis?


Ela sorriu.


— Não, Potter. Eu estou, ou pelo menos esta­va, até recentemente, no ramo de gerência empre­sarial. — Embora a razão pela qual uma pessoa tão boa em gerenciamento fizera um serviço tão me­díocre em sua própria vida era difícil de enxergar. Draco, ao contrário de Harry Potter, nem ao me­nos estivera em sua lista...


— É mesmo? E isso envolve remover móveis?


— Envolve lidar com problemas — ela disse.


— E a mesa é um problema. Diga-me, princesa, se eu lhe dissesse que tenho um problema, você não teria o impulso incontrolável de resolvê-lo para mim?


Ela não podia acreditar que ele acabara de dizer aquilo.


Ela não podia acreditar mesmo que estava rubo­rizada...


— Sinto lhe informar, mas você vai ter que entrar na fila. Nesse momento, eu é que estou com pro­blemas demais, e até que encontre um emprego e um lugar para viver... — ela parou. Isso era bem mais do que ele precisava saber. — O que eu não preciso é de ficar encarregada de uma livraria à bei­ra da falência. Assim como tudo mais nessa área. O que há de errado com essas pessoas? Com um pou­quinho de imaginação — e uma camada de tinta fres­ca — essa área poderia se tornar numa atração de verdade.


— Sua imaginação deve estar um pouco animada demais. Essa área precisa vir abaixo para que pos­samos começar do zero.


— Você só pode estar brincando. Prior's Lane é cheia de personalidade. Repleta de história. A cate­dral e o castelo atraem muitos visitantes e aqui já foi o lugar onde eles vinham gastar dinheiro.


— Não depois que o shopping foi construído.


— O novo shopping não passa de uma cópia de vários outros em todo o país. Aqui a coisa é diferente.


— Sem dúvida nenhuma.


— Tudo o que precisa é de alguns lugares decen­tes para se comer, algumas reformas e a publicida­de correta para atrair lojistas de volta para esta área. Como a Portobello Road ou The Lanes em Brighton.


— Esse ramo de antigüidades não está um tanto quanto saturado?


— Esqueça esse ramo. Antigamente, havia lindas lojinhas por aqui. Ainda há algumas, embora tenha que procurar por elas. Uma boa confeitaria, uma dellicatessen italiana maravilhosa — você mesmo já experimentou os produtos de lá —, e tem uma loja de materiais de construção que parece algo tirado dos anos 1950. Uma peça rara. Ainda é possível se comprar parafusos avulsos por lá. Pregos pelo peso. — Ela pôde ver que ele não entendia. — O que a Prior's Lane precisa são os tipos de lojas que não se vê mais em nenhum lugar. Por aqui tinha um aviário, um chapeleiro...


Um chapeleiro?


— Bem, está certo, mas quando eu era criança, vivia olhando para aquela vitrine e sonhando... — Ao ver a expressão no rosto dele, ela percebeu que estava meio perdida em seus pensamentos nostál­gicos. Ela deu de ombros e disse: — Isso é comprar com diversão.


— Certamente, isso é uma coisa de menina — ele disse. E, então, com um sorriso que deveria ser um crime: — Embora eu goste do som de parafusos soltos.


Ela considerou responder com: insinuações não são nada atraentes num homem, mas decidiu que ignorá-lo seria muito mais sábio, e disse simples­mente:


— Não que isso seja da minha conta, é claro.


— Posso ver que você não considerou isso nem por um segundo.


— Não precisei de um segundo. Um olhar foi tudo o que precisei. — Seria um projeto interessante, algo que valeria muito a pena. Se ela não tivesse outros problemas mais imediatos para resolver. — Não te­nho tempo para mais nada. Nem para ficar arras­tando móveis por aí. E, além do mais, imagino que Maggie goste daqui exatamente do jeito que está.


— Talvez. Ou talvez ela só não tenha ninguém para ajudá-la com essas coisas. Talvez você esteja fazendo um favor a ela.


— É possível, mas, de qualquer maneira, isso não é da minha conta. Quanto lhe devo?


Ele deu de ombros.


— Como você apontou, não é da sua conta.


— Eu lhe chamei. Eu pago a conta.


— E por que eu não mando direto para o dono?


— Mas eu não sei quem é.


— Eu sei.


— Certo. — E então ela franziu a testa. — Seria ele o responsável por uma janela quebrada?


— Se ele tentar se safar, telefono para você e en­tão me leva para jantar como você prometeu.


Ela ignorou o pequeno tremor de ansiedade que cruzou seu corpo. Ela já cometera erros demais esse ano e não era nem Páscoa ainda.


— Não lhe prometi nada, Potte. E a grade e o alarme de segurança?


Ele abriu um sorriso maroto.


— Ah, bem, isso é outra história. Mas estou aber­to a negociações.


Recusando-se a se deixar levar por mais uma insinuação, ela disse:


— O sr. Duke não vai se incomodar com esse bis­cate? Usando a van dele, e seus materiais para fa­zer serviços por fora?


— Duke nunca ficará sabendo.


— Sei.


— Sabe mesmo, Hermione?


Ela sabia era que ele a estava envolvendo num esquema para subtrair seu empregador.


— Talvez seja melhor eu telefonar para ele e cui­dar da conta diretamente com o chefe.


— Você está tentando me encrencar? Depois que desisti do meu almoço por sua causa?


— Não. Não, claro que não — ela disse. — Imagino que você prefira o pagamento em dinheiro pelo alar­me — ela disse, tentando se recompor e se lembrar de onde havia deixado a bolsa.


— Já disse, não quero o seu dinheiro.


Ela nunca antes tivera tanta dificuldade em se livrar do olhar de um homem.


— Isso é muita generosidade de sua parte — ela disse. — Tenho certeza de que Maggie ficará muito feliz quando eu lhe contar.


Ele sorriu mais uma vez. Não foi o sorriso com­pleto, foi um sorriso mais pensativo, deixando-a com um sentimento desconfortável, dando-lhe a entender que ele sabia de algo que ela não sabia. Mas tudo o que disse foi:


— É melhor eu lhe ensinar como ligar o alarme antes de ir.


Ir? Então era só isso?


Ele se virou e foi na frente, na direção do escri­tório.


— Quer checar a janela?


É, aparentemente era só isso mesmo. Ela pegou a xícara de café que abandonara e to­mou um gole, apenas para umedecer os lábios.


— Está ótimo. Muito obrigada. Você fez um óti­mo trabalho.


— Quer dizer, então, que me recomendaria para os seus amigos?


Amigos? Ela não tinha nenhum amigo. Ela tra­balhava demais para ter amigos. Ela tinha colegas, conhecidos do mundo dos negócios e um ex-namorado traidor. Nenhum dos quais queria falar com ela nesse momento. Ou talvez nunca mais.


— Claro.


— Você hesitou por uma fração de segundo nes­sa, Hermione, mas valeu pelo esforço. — Ele se virou para o interruptor que pregara na parede. — Isso é muito simples. Vire a chave quando sair. Para bai­xo, liga; para cima, desliga. Demora dez segundos antes de começar a berrar a todo vapor acordando até os mortos.


— É só isso? Não existe um código que eu preciso saber?


— Não. Isso não é nada muito sofisticado, é ape­nas um fio de contato conectado à porta de trás e à janela — ele disse, enquanto lhe mostrava como fazia —, mas é muito alto, o que normalmente é sufi­ciente para deter o ladrão. Tem certeza de que não quer que eu lhe ajude a mover a mesa antes que eu vá embora?


— Tenho.


— Tudo bem. Então já vou. — Ele tirou um cartão do bolso da camisa e entregou a ela. — Esse é o meu celular, caso você tenha mais algum serviço por aqui.


Ele já estava indo embora? Dessa maneira? Ela esperava que, pelo menos, ele repetisse a oferta do jantar. Ele falara sobre isso diversas vezes. Mas, não, ele entrou na van, e depois de um aceno casual, foi embora.


Certo. Bem, tudo bem. Ela queria mesmo que ele fosse.


Ela fechou a porta.


Agora ela também podia ir embora.


Primeiro, ela escreveu um bilhete avisando aos fregueses que a livraria estaria fechada temporaria­mente, e colou-o na porta. Em seguida, depois de pagar pelos livros que comprou, contar o dinheiro na gaveta e escrever uma nota dizendo exatamente quanto era, ela pôs os livros numa sacola e enfiou-os na bolsa de compras da sua mãe. Em seguida, pegou as flores, ligou o alarme e saiu pela parte de trás da loja, assegurando-se de que a porta estava bem fechada.


Hermione pôs as flores na mesinha-de-cabeceira e se inclinou sobre a cama.


— Maggie?


— Olá, querida — ela disse, parecendo bem pe­quena naquela cama de hospital. Muito frágil. — São lindas.


— Foi mamãe quem as enviou. Ela pediu para lhe dizer que jogará suas cartelas no bingo. E dividirá os prêmios.


Maggie riu.


— É assim que fazemos. Ela é muito querida. E você também. Não sei o que teria acontecido comi­go se você não tivesse me encontrado lá.


— Só fiz o que qualquer um teria feito — ela dis­se. — Como está se sentindo?


— Uma estúpida. Continuo a dizer-lhes que não há nada de errado comigo exceto por alguns arra­nhões. Só fiquei um pouco tonta, só isso.


— Bem, não vou lhe incomodar por muito tempo mais. Tenho certeza que descanso é a melhor coisa para você agora. Mas pensei que poderia estar preocupada com a loja.


— Não, querida, você disse que ia tomar conta dela e eu acreditei.


— Chamei alguém para consertar a janela e tran­quei tudo direitinho. — Não pareceu necessário in­comodá-la com os detalhes do alarme rudimentar que Potter instalara por lá.


— Você foi muito boa.


— Não foi nenhum incômodo. O rapaz que con­sertou tudo disse que enviaria a conta para o dono.


— O dono? — Maggie tentou rir, mas era aparen­temente muito esforço para ela. — Quero ver. Ele não conserta nem as coisas que deveria.


Hermione ofereceu-lhe água, ajeitou-a nos travessei­ros e disse:


— Não se preocupe com isso agora. — Ela teria de ir à Dukes's Yard para ver se encontrava Potter e acertava tudo. — O que preciso mesmo saber é o que você deseja que eu faça com o dinheiro da ga­veta? Está bem guardado, mas deveria estar no ban­co. E tem a chave também. O que você gostaria que eu fizesse com ela?


— Dinheiro? Só havia uns trocados.


— Bem, eu fiquei por lá enquanto o rapaz con­sertava a janela e os fregueses continuaram a che­gar. E, claro, comprei dois livros. Tem um dinheirinho bom lá...


Ao dar-se conta de que os olhos de Maggie ha­viam se fechado e que ela estava falando sozinha, Hermione pegou as flores e foi em busca de algo para colocá-las dentro.


Na volta, ela foi parada por uma enfermeira.


— Você telefonou hoje cedo? Parente da sra. Crawford?


Oh, meu Deus. Ela já havia esquecido daquela mentirinha.


— Sim — ela disse. — E não. Meu nome é Hermione Granger, e liguei sim, mas não sou exatamente parente dela. Eu sabia que vocês não me dariam notí­cias dela a não ser que eu fosse.


— Então, quem é você?


— Ninguém. Bem, obviamente, eu sou alguém... — Ela parou. — Minha mãe a conhece. Fui eu quem a encontrou e chamou a ambulância. Desculpe.


A enfermeira franziu a testa.


— Então, você é uma vizinha?


— Também não. Apenas uma freguesa na livraria dela. Algum problema?


— Nada que um parente — ou um vizinho — não pudesse ajudar. O fato é que Maggie precisa de al­guns objetos pessoais. Camisola, escova de den­tes...


— Ninguém mais veio visitá-la? Ela não lhe pe­diu para telefonar para ninguém?


— Ela nos disse que o filho está fora do país e se recusou a nos dar um telefone de contato. Disse que não havia nada que ele pudesse fazer e não fazia sentido preocupá-lo com isso.


Harry sugerira, de certo modo, que ele não ia querer ser incomodado. Ela dissera a verdade quando disse que não conhecia Jimmy Crawford. Era bem possível que ele fosse mais velho do que Potter, claro.


— Creio que você não saiba como entrar em con­dito com ele, sabe?


— Não, não sei. E a sra. Crawford está certa sobre uma coisa: ele não vai poder ajudar com a escova de dentes. — E, então, como parecia não haver mais nada que ela pudesse dizer: Para ser sincera, estou com as chaves. Se isso ajudar, posso pergun­tar se ela quer que eu vá buscar seus objetos de uso pessoal. — E torcer para encontrar um vizinho que possa assumir essa situação. — Por quanto tempo ela ficará no hospital?


— É difícil dizer. A sra. Crawford disse que teve uma tonteira súbita. Estamos fazendo alguns tes­tes, mas é bem provável que ela tenha tido um infarto leve.


— Nesse caso, alguém vai ter que entrar em con­tato com o filho dela e dizer o que aconteceu, para que ele possa fazer o que for necessário.


Hermione notou que por mais que estivesse preocu­pada com a situação de Maggie a enfermeira viu algo atrás dela que pareceu tirar toda a sua atenção.


Esse algo era nada mais nada menos que Harry Potter.


Sem a calça jeans. Ele estava vestido com calça social, uma camisa suave e uma jaqueta fina de ca­murça. E ele carregava um buquê de flores que fa­zia as flores que ela carregava parecerem comple­tamente inadequadas, embora ela estivesse grata de­mais por ter se dado ao trabalho de lavar os cabelos e colocar uma maquiagem no rosto para se preocu­par com isso.


Não que ela esperasse encontrar Harry mais uma vez, mas havia sempre a chance de esbarrar em alguém dos tempos da escola. Alguém que pudesse se lembrar dela. Pelo menos foi isso que dis­se a si mesma.


Sua mãe não dissera uma só palavra sequer, mas ficou muito feliz em lhe passar as chaves do velho carro, evitando assim que Hermione pegasse três ôni­bus para chegar até o hospital.


— Também gostei de lhe ver novamente, princesa.


— Por favor, não me chame mais disso. Ele deu de ombros.


— Como está Maggie?


— Tão bem quanto o esperado. — E, então, ao ver a expressão de esperança no rosto da enfermeira: — Desculpe, mas esse não é o filho de Maggie. É ape­nas um homem de biscates. — Ela olhou para ele. — Por que está aqui? Oh, não, não venha me dizer. Maggie disse que o dono do prédio se recusaria a pagar pelo vidro.


Os olhos dele escureceram por um momento e ela sentiu o calor de pura raiva.


— Tenho certeza que quando você parar para pen­sar vai desejar não ter dito isso.


Ela não precisava de tempo para pensar, já esta­va arrependida. Mas é que havia algo sobre toda aquela testosterona indomada que a irritava além da conta. Mas pelo menos ela sentia algo. Até mes­mo irritação era melhor do que a depressão pela qual vinha passando nas últimas semanas.


— Ela está aqui, Potter— ela disse, ao se virar e caminhar na direção da enfermaria onde Maggie estava, com vários outros pacientes. Ela não olhou para trás para ver se ele a seguia. Não era necessá­rio. Os pescoços virados no caminho lhe assegura­vam que ele estava bem atrás.


— Ela está dormindo — disse Harry.


— Por favor, não se sinta obrigado a ficar se você tiver algo mais importante agendado — ela disse, ao colocar o vaso que segurava em cima do armário. — Ficarei feliz em dizer que você veio, rapidamente, quando ela acordar.


— Não estou com pressa. — Ele sorriu para a jo­vem enfermeira e lhe entregou as flores que trou­xera. — Você pode encontrar um vaso para colocá-las, meu doce? — A garota ficou ruborizada e as pe­gou, sem dizer nada.


— Por que você não pediu uma xícara de chá, com leite e açúcar? —Hermione perguntou. — Enquanto esta­va com o sorriso ligado.


— Você se lembrou. — E ele a fitou por um instante com um olhar tão profundo que ela sentiu um calor subir ao rosto. E, então, satisfeito, ele se virou para Maggie, cujos olhos agora estavam abertos.


— Olá, Maggie — ele disse, dando-lhe um beijo na testa. — Ouvi dizer que você foi à guerra.


— Harry... — ela sorriu. — Que bom ver você. Você veio visitar alguém?


— Você. Fiquei sabendo sobre o ocorrido e vim ver se precisava de algo. Quer que eu tente entrar em con­tato com Jimmy? Quer que lhe diga o que aconteceu?


— Ah, não. Não precisa incomodá-lo. Ele está ocupado demais para voltar correndo para casa a cada cinco minutos — ela disse.


— Alguém tem que cuidar da loja — ele disse. —Hermione tem feito um ótimo trabalho...


— Maggie —Hermione interrompeu. A última coisa que Maggie precisava agora era ser incomodada com assuntos da loja. — Você vai precisar de algumas coisas. Ficarei feliz em ir buscá-las para você.


E em seguida disse:


— Você tem um vizinho ou amigo para quem deseja telefonar?


— Oh, não, isso seria difícil. Não há muitos vizi­nhos por lá. As pessoas costumavam morar em cima das lojas, mas ninguém mais faz isso. Hoje em dia indo é escritório.


— Escritórios? — Hermione olhou para Harry, aguar­dando uma explicação.


— Maggie mora no andar de cima da livraria — ele disse. — Achei que você soubesse.


Ela o fitou. Então, foi por isso que ele consertou o alarme? Claro que sim. Droga, agora sim ela se sentia mal.


— Não — ela disse. — Gostaria que você tivesse mencionado. Eu poderia ter trazido algumas coisas dela comigo. — E mais uma vez ela desejou ter mantido a boca fechada. Discutir com ele não ajudaria em nada. Nada disso era culpa dele. — Deixa para lá, posso ir pegá-las agora. Tem alguma coisa em particular que gostaria que eu trouxesse, Maggie?


— Que gentileza, querida, mas não precisa se preo­cupar comigo. Continuo a dizer a eles aqui no hospi­tal que não vou ficar. Se eles apenas trouxessem minhas roupas...


— Você ainda não pode ir para casa, Maggie — Hermione disse com cuidado. — Terá que ficar por mais um tempo, até que eles terminem os testes.


— Oh, não, isso vai ser impossível. Como Harry disse, não há ninguém para cuidar da livraria.


Hermione olhou para ele. Que homem estúpido e sem consideração. Preocupando a pobre mulher.


Ele sorriu de um modo que sugeria que ela se arrependeria profundamente sobre o comentário sobre o biscate e disse:


— Como estava dizendo, Hermione fez um ótimo tra­balho hoje. Na verdade, ela estava pronta até para mover uns móveis de lugar...


— Já era tempo. Eu estou para chamar alguém para tirar aquela mesa de lá. Estou sempre batendo com a perna nela.


— Então ela é com sua garota. Trabalha com ge­renciamento...


— Não tem nada a ver com gerenciamento de loja de varejo...


— E, olha só que sorte, ela também está atrás de emprego. Por que não pede que ela assuma a loja até que você esteja bem para trabalhar? — ele pros­seguiu, como se ela não tivesse falado nada.


— Oh, eu não poderia incomodá-la — disse Mag­gie, economizando a Hermione ter de explicar porque não podia.


— Não seria incômodo, seria, Hermione? — Harry persistiu. — Vocês têm muitas coisas em comum. Ela está bastante interessada em restaurar a área da Prior's Lane para deixá-la como era no passado.


— Oh, nem me faça começar com esse assunto -disse Maggie.


— Não, de verdade, adoraria ajudar, mas...


— E tem o apartamento do último andar. Ainda está vazio, não está? Hermione está procurando por um lugar para viver, também.


— É mesmo? Bem, imagino que viver com sua mãe é um tanto quanto restritivo para vocês duas. O apartamento precisa de uma limpezinha. Todas aquelas escadas são um esforço muito grande para mim, hoje em dia.


— Potter! —Hermione interveio. — Maggie, não liga para ele. A última coisa que você vai querer é al­guém que você praticamente não conhece cuidan­do da sua loja e vivendo no andar de cima.


— Ah, eu conheço você desde que nasceu, Hermione. E sua mãe é o tipo de pessoa em quem confio cega­mente. Mas não é só a loja. Preciso ir para casa por causa de Archie.


— Archie?


— Archie? — Harry ecoou. Quem ou o quê era Archie?


Ele não pode ficar lá sozinho, pobrezinho — disse Maggie, sem dar conta dos olhares aterroriza­dos na direção dela, enquanto ela se esforçava para ficar acordada, com todos os medicamentos que tomara. — Ele sofre tanto quanto fica só. E, é claro, ele precisa de alguém que o alimente. — E então: — Você encontrou a comida dele, não encontrou, que­rida?


Bem, isso tirou o sorriso do rosto de Harry. Não que ela tivesse alguma razão para estar feliz.


— Claro que sim — disse Harry, antes que ela pudesse confessar. E acrescentou: — Você ficaria bem sozinha por um tempinho enquanto eu e Hermione vamos até a cidade buscar algumas coisas para você?


— Eu não preciso de carona. — Ainda mais na garupa daquela moto. — Tenho meu próprio trans­porte. Tem alguma coisa em especial que você pre­cisa, Maggie? Ou deixará por minha conta?


— Não se incomode com isso, querida. Já lhe dis­se, estou indo para casa. — Ela fez um esforço para tentar se sentar, para mostrar-lhes que estava falan­do sério, e logo em seguida desmoronou sem for­ças sobre os travesseiros. — Bem, talvez você esteja certa. Devo passar a noite aqui. Mas só se você pro­meter que vai ficar com Archie.


— Claro que ela vai ficar — Harry prometeu por ela. — Não vai ser problema, não é mesmo, Hermione?


— Sem problemas — ela disse, depois de uma pequena hesitação. — Falaremos sobre isso quando eu voltar, mas agora preciso ir e pegar as suas coisas. Potter ficará lhe fazendo companhia até que eu volte. — Ela olhou para ele. — Isto se você não tiver um encontro com alguém.


Ele sorriu, nem um pouco incomodado pela vi­sível hostilidade dela.


— Bem, agora, isso só depende de você, Hermione.

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