Capitulo V



Capitulo V:


 


Gina continuava em seu estado de embaraço e raiva algumas manhãs depois, quando tirou o carro da ga­ragem para ir ao cais ver se algum dos barcos de pesca que vira chegar estava disposto a lhe vender peixes.


Sentia raiva por sua própria fraqueza. Depois de viajar toda aquela distância para desafiar Harry, es­tava agora se escondendo e evitando ser vista até que seus hormônios a fizessem parar de chorar em mo­mentos inapropriados, escondendo-se dentro de casa, com portas trancadas, dando longas caminhadas na praia para encontrar um lugar isolado onde pudesse ficar ao sol, e dirigindo para os morros para explorar trilhas naturais.


Um segundo encontro embaraçoso com Hermione Granger aconteceu numa barraca de frutas e legumes na estrada, onde Gina havia parado em uma de suas caminhadas para comprar algumas verduras. Estava tirando o dinheiro da bolsa para pagar quando um carro parado no acostamento a fez virar a cabeça.


- Olá! - chamou Hermione Granger do assento do motorista de um carro moderno. Usava um vestido justo e uma maquiagem pesada, mas dessa vez tudo que Gina notou foi a aliança de casamento no dedo curvado sobre o volante. - Quer uma carona de volta para casa?


- Não, obrigada, vou para outra direção. Preciso me exercitar - disse Gina, enquanto pagava a conta.


- Tem certeza?


Gina podia ouvir o ceticismo na voz da outra mu­lher. Não parecia provável que preferisse carregar uma sacola de verduras debaixo de um sol quente quando a lógica seria ter comprado no caminho de volta.


- Tenho certeza. - Estaria sendo injusta? Pergun­tou-se Gina. De acordo com Harry, a pobre mulher só estava tentando proteger o cliente, ou o próprio investimento, mesmo se fosse com inquestionável vigor.


- Gostaria que pelo menos eu levasse suas compras para casa? Posso guardar na nossa geladeira, enquan­to você termina sua caminhada.


Nossa geladeira? Era ridículo o quanto a simples palavra possessiva a irritava.


- Não, obrigada. Não vou muito mais longe. - Em­bora Harry tivesse dito que não existia nada entre eles, Gina ainda sentia que havia mais do que apenas um interesse profissional da parte da morena.


- Tudo bem, então. Se não posso convencê-la...


- Não, mas obrigada por ter parado. - A outra mulher riu.


- Aposto que você desejou que eu tivesse seguido... direto para o cais.


- O pensamento passou pela minha mente - admi­tiu Gina.


- Bem, se isso é um consolo, querida, Harry esta­va muito nervoso quando voltou de sua casa outro dia. Queria saber o que nós tínhamos conversado.


- Você contou a ele?


Dessa vez, a risada de Hermione foi genuína.


- Está brincando? Depois de ele ter reclamado que não conseguiria escrever nada enquanto você estives­se por perto, e então agiu como se eu tivesse violado um dos dez mandamentos, contando a você? Deixe-o com seus ataques de nervos! Imagino que você tam­bém não lhe contou muita coisa. Apenas o bastante para acalmá-lo.


Sem esperar resposta, Hermione acelerou e partiu.


- Droga! - murmurou Gina. Eu queria odiá-la e agora ela não permitirá.


Prepotente, porém direta e divertida... Gina podia entender porque Harry gostava de trabalhar com Hermione.


Era tudo culpa dele. Se não tivesse manipulado as duas mulheres com seu comportamento, ela e Hermione poderiam até ser amigas. Mas, é claro, Harry não ia querer que isso acontecesse... Os dois lados opostos de sua vida se unindo, em vez de manter as linhas demarcadas rigidamente.


E ainda havia uma outra razão para não gostar de Hermione, lembrou-se. Ela era, obviamente, ótima em seu trabalho. Sua posição com Harry era valorizada e segura, enquanto a de Gina era incerta e instável.


Ele não teria problemas em encontrar um novo amor, mas bons editores eram muito raros para os padrões de Harry.


Tentando adiar o inevitável, Gina acabou se con­centrando em coisas triviais, como no cachorro de três patas que surgia do nada toda vez que ela saía de casa, lambia-lhe os pés num cumprimento e a olhava com expressão triste até que ela lhe desse alguns biscoitos ou um pouco de iogurte. Ou no roedor evasivo cujo barulho a assustava de dia ou de noite.


De repente, ocorreu-lhe que poderia perguntar a Harry se era bom em caçar ratos. Talvez fosse uma maneira de se aproximar dele. Mesmo que ele apenas lhe indicasse um exterminador de ratos, já era alguma coisa. E se Harry se oferecesse para procurar o ani­mal... melhor ainda.


Um súbito desejo de comer peixe afastou a idéia do rato e sugeriu uma aproximação com ele mais natural. Diziam que se chegava ao coração de um homem através do estômago, e, de acordo com o que Gina lera, as águas de Oyster Beach eram famosas pela abundante variedade de peixes.


Harry adorava escalopes de peixe.


Ele costumava dizer que não possuía muitas habi­lidades culinárias e, como não havia restaurantes na pequena comunidade, talvez oferecer-lhe sua refeição favorita pudesse restabelecer a comunicação entre eles. Se também tivesse de convidar Hermione por educação... que assim fosse. Poderia até descobrir coisas novas. Afinal, era graças a Hermione que agora sabia mais sobre alguns fatos intrigantes da vida de Harry, como, por exemplo, a dislexia que o bebê dele talvez herdasse.


Saindo do cais com uma sacola plástica repleta de peixes limpos, Gina dirigiu-se para o carro. Quando já estava entrando na garagem da casa, lembrou-se que precisava de cogumelos para o molho. Iria até o mercado na cidade. Engatou a marcha à ré e pisou no acelerador. Então ouviu um barulho estranho e per­cebeu que tinha batido em alguma coisa. Brecou imediatamente e saiu do carro. Ao lado do pneu tra­seiro, estava o cachorro de três patas, não mais irritando-a com suas lambidas, mas totalmente imóvel. Grata pelo pneu não ter passado por cima do cão, mas aparentemente apenas o atingido na lateral, Gina voltou para o volante e, com mãos trêmulas, dirigiu um pouco para a frente, certificando-se de que o ve­ículo estivesse bem longe da vítima caída.


Quando se ajoelhou ao lado do cachorro, ficou aliviada em ver que agora ele tremia e gemia, mas uma mancha no ridículo rabo a fez pensar que fosse sangue.


- Oh, meu Deus! - Sentindo-se de culpada, tocou no pêlo do animal, cuidando para não causar-lhe ain­da mais danos. - Vai ficar tudo bem - murmurou com pesar. - Vou levá-lo ao veterinário e ele cuidará de você.


Sabia que jamais conseguiria levantar o imenso cachorro e colocá-lo no carro sozinha. Nem tinha idéia de onde havia um veterinário próximo. Avisando para o cão que voltaria logo, correu para a porta da frente da casa de Harry e bateu violentamente. Assim que ele abriu, ela disse, nervosa:


- Eu atropelei um cachorro. Acho que ele pode estar muito ferido, mas não tenho certeza. Ele está deitado lá, e não sei a quem pertence, ou o que fazer. Há um veterinário por aqui, ou um médico que possa ajudar? - Mas, em seu pânico, Gina não esperou res­posta e correu de volta para o cão, não querendo deixá-lo sozinho.


Harry a seguiu, praguejando quando viu o animal, agachando-se a seu lado e correndo os dedos ao lon­go do pêlo grosso, a fim de procurar por ferimentos.


- Foi culpa minha. Eu não olhei direito - explicou Gina. - Ele correu atrás do carro quando eu estava dando marcha à ré. Graças a Deus, não era uma crian­ça. - O pensamento a fez tremer. - Eu não estava correndo, mas acho que ele, ou ela, entrou embaixo da roda.


- É ele - disse Harry. - O animal é macho - afir­mou enquanto manipulava com cuidado cada uma das três patas e acalmava os lamentos do cão com mur­múrios indistintos.


- Oh, eu não tinha certeza... com todo esse pêlo. - Ela suspirou. - Ele anda por aqui desde que cheguei e não sei de onde veio. Você acha que o coitado vai ficar bem?


- Não sei. Não sinto nada quebrado, mas precisa­mos levá-lo a um veterinário, caso ele esteja sangran­do internamente. Há uma clínica a trinta quilômetros daqui, perto de Whitianga.


Sangramento interno! O estômago de Gina se re­volveu, enquanto Harry continuava:


- O único sinal visível de problema é esse sangue no focinho. - Ele retirou uma das mãos da cara do cachorro e virou-a para mostrar a mancha vermelha em sua palma. - Sentindo uma súbita náusea, Gina virou-se de costas e vomitou ali mesmo na grama.


- Desculpe-me. Foi o susto - murmurou, pegando o lenço que Harry lhe estendeu, para limpar a boca.


- Você não bateu a cabeça? - perguntou ele, o rosto pálido e preocupado.


Ele parecia mais abalado do que Gina já o vira, obviamente tentando acalmar-se, e ela percebeu que estava considerando uma concussão. Gina pôs a mão sobre o abdome, ciente da fragilidade da vida, e gra­ta por ser cautelosa.


- Não. Eu estava usando o cinto de segurança. E, de qualquer forma, não estava correndo.


Com um suspiro de alívio, Harry pegou o cachor­ro pesado com certa dificuldade e ajeitou-o contra o peito. Enquanto se erguia com o animal aninhado ao corpo, Gina correu para abrir a porta de trás do carro, mas ele já estava indo na direção oposta.


- Aonde você vai? - chamou ela, ansiosa.


- Ele, obviamente, não vai caber deitado em seu carro. Tenho um veículo com tração nas quatro rodas, que é maior e não o sacudirá tanto. Pegue as chaves com Hermione e peça-lhe para ligar para a clínica ve­terinária. O número está numa agenda vermelha em minha mesa de trabalho.


Quando Gina retornou, sem fôlego, Harry já tinha deitado o cão num tapete sobre o banco traseiro do Land Rover. Pegou as chaves das mãos dela e sentou-se no banco da frente.


- Espere! - disse ela quando ele ligou o motor. Ele a olhou impaciente pelo vidro aberto.


- Não há necessidade de você ir. Sei onde estou indo...


Mesmo com as mãos trêmulas, Gina conseguiu abrir a porta de trás.


- É claro que tenho de ir. Eu o machuquei. Sou responsável por ele. Não posso abandoná-lo aos cui­dados de outra pessoa.


- Ninguém a está acusando de abandoná-lo. Você pediu ajuda, era tudo que podia fazer. E não tenho tempo para discussão...


- Então, pare de discutir e comece a dirigir - or­denou Gina, entrando na parte de trás do carro, baten­do a porta. Sentou-se ao lado da cabeça do cachorro e colocou o cinto de segurança.


- E se alguma coisa acontecer no caminho? - per­guntou ela enquanto Harry dirigia. - Você tem de se concentrar na estrada. O coitado já está assustado por causa da dor. Pode se machucar de novo se entrar em pânico. Talvez não esteja acostumado a viajar de carro. - A voz dela se transformou num sussurro: - Al­guém precisa estar aqui para segurar sua pata, certo, garoto?


O cachorro estava deitado de lado, e de repente lambeu-lhe a perna abaixo do short caqui.


- Oh! Ele me lambeu. Você acha que isso é um bom sinal?


- Lamber você é sempre um sinal que alguma coisa boa está para acontecer - veio a resposta zombeteira.


Gina olhou para a cabeça de Harry.


- Como pode brincar numa hora como essa?


- Que momento melhor para tentar afastar pensa­mentos negativos? - disse ele. - Humor em momen­tos adversos é um mecanismo de defesa humana muito comum.


É claro que era, e particularmente para Harry, pensou ela. Anedotas e jogo de palavras que evitavam perguntas inconvenientes era a distração perfeita para os verdadeiros sentimentos de Harry. Ela não fazia exatamente a mesma coisa quando tentava proteger-se para não amar demais?


Gina sentiu um movimento contra sua perna, o cão tentando valentemente se mover para seu colo, como se quisesse confortá-la com o seu perdão. Aproximan­do-se mais, acomodou o focinho contra sua coxa.


- Quem será o dono dele? - perguntou para Harry. - Você sabe? Um cachorro com três patas deve ser conhecido na vizinhança.


- Ele não deve ter dono. -Gina o interrompeu:


- E claro que tem! Possui uma identificação, mas cada vez que tento ver a etiqueta em seu pescoço, ele foge. Deve pertencer a alguém que não cuida bem dele. Não acho que o alimentem direito. Ele está sempre me rodeando.


- Se você se inclina sobre ele com aquele biquíni roxo, posso entender por quê.


Ela encontrou os olhos de Harry no espelho retro­visor.


-Harry! Estou falando sério. Ele parece sempre faminto.


- Ele é obviamente um parasita.


- Não diga isso. Ele pode ouvir você - protestou Gina, colocando uma das mãos sobre a orelha do cachorro. - Se o dono não o alimenta apropriadamen­te, ele não tem escolha senão ser parasita. Afinal, possui apenas três patas.


- Parece que o cachorro conquistou seu coração. -Gina ignorou o comentário.


- Os pêlos são muito embaraçados. Precisaria de uma boa escovada.


- Ele é vira-lata - respondeu Harry. - Provavel­mente rola na sujeira.


- Donos tão negligentes deveriam morrer.


- Pensei que você fosse contra a violência.


- É só modo de falar - disse ela impaciente. - Do­nos de animais de estimação devem ter responsabili­dades.


- Ele é mais um estorvo do que um animal de es­timação.


Agora, ela ficara verdadeiramente aborrecida.


- Não é culpa dele. Não deveriam deixá-lo vagar por aí.


- Talvez ele precise vagar.


Gina cerrou os dentes para controlar sua raiva. Como podia amar um homem tão insensível? E como um homem tão sem sentimentos poderia amar uma criança? Inclinou-se contra a cabeça do cachorro de modo carinhoso.


- Mas é perigoso...


- Aqui é campo, Gina. As pessoas não deixam seus cães trancados em apartamentos.


- Mas ele poderia pelo menos ficar num jardim cercado.


- Oh, pelo amor de Deus, seja realista! - Harry a olhou pelo espelho. - Ele detesta ficar preso. Fica irritado se você tenta prendê-lo ou mantê-lo atrás de um cercado. Poderia se matar tentando quebrar a cerca para se libertar.


Gina arregalou os olhos surpresa quando enten­deu.


- Este cachorro é seu!


Harry voltou a olhar para a estrada.


- Ele não tem dono!


Tudo se juntou. O fato de Harry ter praguejado e parecido preocupado. De ter o telefone do veterinário à mão. E, acima de tudo, a óbvia tentativa de manter o autocontrole.


- Talvez ele não tivesse dono um dia. Mas é seu cachorro agora, não é?


-Ninguém queria um vira-lata inútil. - Harry encheu os ombros. - Ele teria sido sacrificado. - Ela entendeu aquela explicação como um sim.


- Por que ele só tem três patas?


- Ele tinha quatro patas quando chegou à minha porta - disse Harry secamente. - Perdeu uma das patas traseiras quando tentou arrebentar uma cerca feita de corrente que coloquei para mantê-lo "seguro". - Harry olhou rapidamente para trás. - O que, é cla­ro, o fez parecer ainda menos atraente para os que gostam de cachorro, que querem um cão de raça ou algum cachorro útil ou bonito.


- Então, quando você o adotou?


- Eu não o adotei. - Harry falou como se ela o tivesse acusado de uma maldade. - O veterinário disse que ele era o tipo de cão que não podia ficar confinado. Nunca possuí um animal, mas deixei-o vagar pela minha área até que alguma solução, que não uma injeção letal, pudesse ser encontrada. Isso foi há cinco anos, logo depois que construí a casa. Infelizmente, ninguém nunca respondeu aos anúncios, e, portanto, continuo com ele.


- E ainda nega o fato profundamente!


Harry tinha construído a casa depois que escreve­ra o primeiro livro, pensou Gina. E embora pudesse categorizá-la como apenas um lugar para escrever, um refúgio temporário, era mais do que isso. Era um lar. Secretamente, estivera construindo raízes.


- O que acontece com ele quando você vai embo­ra? - perguntou Gina, curiosa. - Se ele odeia ficar preso, obviamente, não pode ir para um canil.


- Eu geralmente o deixo com um amigo do vete­rinário, que mora próximo ao morro. Às vezes, pago uma pessoa da região para vir morar na casa.


- Ele não fica triste?


- Não que se perceba. Ele gosta de companhia, mas não de ter um dono. Precisa da liberdade de ir e vir.


Harry podia estar falando de si mesmo, pensou Gina, impressionada pela similaridade psicológica. Ambos tinham problemas com elos. Ela sempre in­dagava sobre o passado familiar de Harry, mas ele nunca respondia a seus comentários. Tudo que ela sabia era que ele havia ficado órfão na adolescência, com a morte da mãe, e não tinha contato com o pai. Suspeitava de abuso, mas não ousava perguntar.


Todavia, tinha mais uma questão, a qual requeria uma resposta urgente:


- Qual é o nome dele?


- O cachorro não veio com certidão de nascimento.


- Você deve ter-lhe dado um nome.


- Uma vez que ele nunca atende quando o chamo, não adianta muito.


- Então, qual é? Deixe-me adivinhar. - Ela fingiu pensar. - Rumpelstiltskin!


Ele quase sorriu.


- Não? Rover? Parece apropriado para a natureza dele.


Não houve resposta do cachorro ou do homem.


- Spot? Montmorency...


- Prince - interrompeu ele.


- Prince. - Gina repetiu e sentiu um desconforto na garganta. Harry tinha dado o nome a seu cachorro feio, peludo e desajeitado de Prince, não se importan­do com o que a genética tinha cruelmente negado ao animal.


Ela baixou os olhos para esconder as lágrimas. Harry podia agir como se não quisesse compromissos, mas a existência de Prince sugeria que, em algum nível, desejava estabelecer elos emocionais na vida. Podia escolher não amar, mas podia amar, e amava.


E se um amor podia forçar a entrada no coração dele, por que um outro não poderia?


- Sinto muito por ter machucado Prince - murmu­rou Gina. Ele a perdoaria um dia se o cachorro mor­resse? - Eu devia ter tomado mais cuidado.


- Ele também deveria - Harry a consolou. - Prin­ce adora fingir que persegue carros. Já foi atropelado antes. E foi um acidente, Gina.


Ele parecia fatalista, mas ela sabia que estava sim­plesmente internalizando seu medo.


- Espero que ele fique bem.


- Logo descobriremos. A clínica está próxima.


O veterinário que foi cumprimentá-los segurando uma maça de metal era um homem alto e magro com expressão bem-humorada.


- O que Prince aprontou agora, Harry?


- Não foi ele, fui eu... - começou Gina, mas Harry ergueu uma das mãos para interrompê-la, enquanto colocava o cachorro sobre a maça.


O médico o examinou por um momento e disse:


- Vamos levá-lo à sala de cirurgia para ver se ele precisa ser operado. Mas vamos tentar a opção mais barata. - Ele sorriu para Gina. - Esta sou eu. As mãos e os olhos de um veterinário são as ferramentas mais valiosas.


- Eu vou pagar, e não me importa quanto vai custar - disse ela. -Apenas faça tudo que puder...


- Não seja tola - disse Harry, alisando a cabeça do cão. - Posso arcar com as minhas próprias despe­sas. Mande a conta para mim, como sempre, Ken.


- Mas...


- Por favor, Gina. Pare de fazer drama. Não preciso de seu dinheiro por culpa - avisou ele quando pararam para que o médico abrisse a porta da sala de cirurgia.


Gina sabia que era o medo que o fazia agir com agressividade, mas ainda doía ouvi-lo declarar que não queria nada dela, e precisou apoiar-se contra a parede.


- Você está bem? - perguntou o veterinário, no­tando a palidez de Gina.


- Estou apenas um pouco tonta.


- Ela vomitou antes de sairmos - acrescentou Harry desnecessariamente.


Ken a estudou com atenção. Oh, Deus, ela espera­va que veterinários não tivessem instintos especiais para detectar gravidez em humanos.


- Talvez você deva sentar-se um instante. Christy!


- ele chamou a recepcionista. - Traga um copo de água para Gina, enquanto Harry e eu cuidamos de Prince.


- Estou bem - murmurou ela, mas Ken já havia desaparecido dentro da sala de cirurgia com a maça, enquanto Harry hesitava do lado de fora.


- Tem certeza que é só tontura? Está enjoada de novo? - Ele olhou para a porta fechada e para Gina novamente, o semblante claramente perturbado.


Harry nunca vacilava. Sempre sabia quais eram suas prioridades e jamais temia tomar decisões.


- Vá - insistiu ela, tirando-o da agonia da indeci­são. - Não preciso de você. Prince precisa. Vá ver o que está acontecendo com o seu cachorro. - E como ele ainda hesitasse, empurrou-o. - Vá!Preciso ir ao banheiro.


E tendo lhe dado liberdade para seguir sua vontade, Gina saiu para beber a água, e foi para o banheiro e vomitou, sob o olhar de seis hamsters gordos que de­coravam o calendário do veterinário atrás da porta.


------------------------------------------------------

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.