Perdedora idiota...



- Você sabe que... Como monitor chefe eu tenho certos privilégios, não sabe? – Jimmy sorria encantadoramente, encostado na parede gelada de pedra numa das masmorras.


                 - Tipo um banheiro só pra vocês?

                 - Tipo o que você vai descobrir sozinha.

                
É claro.

                
 - Hm... Como assim Jimmy? – Franziu o cenho, já se sentindo incomodada com o peso dos livros que segurava contra o peito.

                 - Está livre hoje depois das aulas?

                 - É, acho que sim. Não vou morrer se deixar alguns deveres pro fim de semana, estou merecendo uma folguinha.

                 - Com certeza... Você é tão esforçada meu amor...

                
Gabrielle olhou pros olhos azuis de Jimmy, encontrou ali mais do que esperava, eram duas piscinas cheias de carinho, que a fitavam, cheias de meiguice, admiração, sentimentos bons. Ela se sentiu bem. Porém sentiu-se assustada. Ele era intenso demais. Sentiu o coração pular de susto ao ser tirada do devaneio momentâneo pelo contato da pele de Jimmy, que afagava seu rosto com o indicador, delicadamente. Porém, o que conseguiu dizer foi:

               
- Obrigada...

             
   Ele percebeu que ela talvez não estivesse muito confortável.

             
   - Tem algo de errado amor?

                - Ahm... Não. Nada. – e sorriu – Só acho que o Snape não vai gostar se eu me atrasar pra aula dele.

                - Estou te atrapalhando né? Desculpe-me... – e balançando a cabeça negativamente, ele deu um tapinha na testa – Só queria ver se você estava bem...

                - Estou bem sim, obrigada por se preocupar. Então, é melhor eu ir. Quanto à hoje à noite vou estar livre sim, espero você no Salão Principal às Sete.

                - Vou estar lá, leve um casaco.

                - Casaco...?

            
   Ele piscou, e não disse mais nada. Deixou um beijinho no rosto da menina e aproveitou pra sair junto com alguns sextanistas da Corvinal que passavam por ali no momento.

               
- Pelo amor de deus Gabrielle! Você não anda mais com a gente! Vê se larga o bonitão aí e volta pro lugar onde você pertence. – ouviu a voz de Wes.

                 - É verdade DeLarge, junto com os nerds.

             
   Gabrielle se virou pra dar de cara com seus melhores amigos, Felix, Emily e Wes, mas identificou um rosto não amigo parado ali perto.

               
  - Bryan Knight? – Gabrielle arqueou uma sobrancelha, lançando um olhar indagativo pra figura apoiada na porta da entrada da sala de Snape.

                 - Sim?
                - Você e seus seguidores poderiam dar licença pra eu e meus amigos nerds passarem?

                
Dicionário de Gabrielle DeLarge: Bryan Knight. Sujeito altamente irritante, cheio de si, amolador de pessoas pertencentes à Grifinória. Loiro de olhos verdes, alto, um físico agradável. Cabelos pra baixo das orelhas, penteados com gel. Olhar gelado, língua afiada, necessidade por atenção alheia, seguidores risonhos e desprovidos de massa cinzenta, acéfalos. Muitos dizem que Draco Malfoy era seu maior admirador, e se empenhava intensamente em ultrapassar Bryan no posto de maior mala perseguidor de grifinórios.

                 Ele crispou os lábios finos num sorrisinho e esperou manifestações de seus colegas, quando estas finalmente vieram, ele estufou o peito, se inclinou para a garota baixa e sussurrou com a maior cara de pau:
                 
- E se eu não puder? 

         
        É claro que todos sabiam que ele só estava fazendo aquilo porque era a aula de Snape, diretor da Sonserina. É claro que Gabrielle não se importava nenhum pouco.

                  - Se você não puder me dar licença, eu vou te tirar daí a força. – E espetando sua varinha na barriga magra de Bryan, ela sorriu. – Sai daí babaca, estamos tentando estudar.

                  - Do que você me chamou?

                  - Pelo amor de deus Bryan! Não estamos mais no primeiro ano! – Revirou os olhos – sério.

                  - Eu te desafio. Te desafio a me atacar na frente do Snape.

                  - Eu te desafio a parar de ser idiota e sair da frente.
                 
 Outra voz masculina. Meu deus, as pessoas não param de brotar... Pensou ela. Quem acabara de brotar ali ao seu lado era ninguém menos que Chuck. Sua aparência era impecável e não apresentava nenhum indício de alto teor alcoólico citado por Louise.

                
  - Anda.

                  - Oi Chuck, resolveu aparecer? Sentimos sua falta.

                  - Você ainda está falando, Knight?

                 
Bryan já sabia o que queria, seu verdadeiro objetivo não era impedir Gabrielle e seus amigos de entrar, e sim criar uma confusão na porta para que o próprio Snape culpasse os grifinórios e tirasse pontos da casa. Mas com Chuck ali as coisa mudavam, ele tinha seu respeito, tinha o respeito de toda a Sonserina, então Bryan saiu. Gabrielle puxou Chuck pela manga até um canto da sala, tentando disfarçar a preocupação no olhar, afinal, por mais que ele aparentasse estar muito bem, nada o impedia de ser extremamente bom em esconder e ignorar as coisas, o que ela achava mais possível.

                 
 - Ei... Você tá bem?

                  - Por que não estaria?

                  - Ouvi coisas sobre você, mas não sei se é verdade.

                  - Que tipo de coisa?

                  - Coisas como um quase coma alcoólico na sala comunal.

                 
 Felicia. Pensou ele. Será que aquela garota não consegue manter a boca fechada?

                
  - Ficou preocupada?

         
         Droga, ele estava sorrindo novamente.

            
      - Fiquei, afinal, nós somos amigos não somos?

                  - Claro que somos. Mas não precisa se preocupar, está tudo bem.

                 
Snape fez com que todas as entradas de luz na masmorra se fechassem ao mesmo tempo com um simples aceno de varinha. Todos os alunos já estavam sentados, e infelizmente Gabrielle não percebera Wes acenando freneticamente para que ela sentasse antes da chegada de Snape, o que lhes custaram vinte pontos a menos para a grifinória, dez pra cada um.

               
   - Isso é para os pequenos insolentezinhos da Grifinória não acharem que podem fazer o que bem entenderem em minha aula. Posso compreender a falta de tato que é comum entre vocês, mas infelizmente, senhor Black, o bom nome da sua família não vai salvar sua pele dessa vez – Snape estreitou os frios olhos negros – já que a família Black não tem sido grande coisa desde o maravilhoso Sirius.

                 
 Os alunos da Sonserina cochicharam, mesmo respeitando Chuck, achavam o máximo alguém como ele ser criticado por Snape, com a velha implicância pela casa rival.

               
   “Você acha que Snape diria essas coisas se ele fosse da Sonserina?” ”É obvio que não, tá na cara que o problema de Snape é com a grifinória” ”Ele está sendo um idiota... Ouvi dizer que os pais do Chuck pegaram ele com uma sangue ruim, e pagaram pra Dumbledore fazer o chapéu colocá-lo na grifinória como castigo, pra ficar no meio dos impuros... Não é nojento?”

                 
 - Vai demorar pra começar a aula ou vai continuar a se lamentar pelo que aconteceu com o senhor quando tinha a nossa idade? Eu até posso entender que ser pendurado de cabeça pra baixo, ter as calças arriadas e ser forçado a cuspir sabão no meio de um monte de gente não deve ser bom... Mas que tal esquecer o passado? Afinal, eu aposto que ninguém mais te chama de ranhoso.

                  
A sala toda estava boquiaberta, olhavam pra Chuck como se ele tivesse acabado de dar um soco no nariz grande de Snape, que por sua vez, havia paralisado no que pareceram anos de silêncio. Gabrielle já havia se sentado, no fundo da sala, junto aos amigos, e olhou atentamente do professor para o rapaz. Nada, nenhuma expressão de arrependimento, apenas um ar de desdém, um desafio, as mãos no bolso e os intensos olhos acinzentados cheios de malícia combinando perfeitamente o sorriso de lado. Ninguém respirava.

                   
- Onde foi que você...? – O professor finalmente conseguiu dizer, seus negros e perigosos olhos extremamente tensos.

                   - Você devia treinar mais oclumência, principalmente se tenta ensiná-la para alunos como Harry Potter.

                    - Como você...?

                 
  Chuck inclinou a cabeça pro lado, olhando pra Snape como se esperasse que o professor terminasse a frase, com uma expressão de falsa frustração e dúvida.

                   Os alunos da Grifinória sorriam, e tentavam esconder a alegria, apertavam o punho na mesa, seguravam o riso enfeitiçando a si mesmos em silêncio, contavam até dez ou imaginavam as próprias avós de roupa íntima. Snape estava quase transparente de tão pálido, e seus lábios se uniram numa severa linha, e quando falou, sua voz era um sussurro gelado e ácido, se espalhando pela masmorra e se enrolando nas canelas dos presentes:

                 
  - Cinqüenta pontos a menos para a grifinória, pela insolência e mentira do Sr. Black aqui. Espero que seus pais fiquem bastante orgulhosos. Detenção na minha sala, amanhã às seis horas.

                   
Chuck ficou rígido à menção dos pais por Snape, mas quase ninguém percebeu o brilho do ódio passar por seus olhos, nem a respiração alterada pela fração de segundo. O que muitos viram foi à cara de desdém, e o rapaz se sentando ao lado de Felicia sem mais nada dizer.

                     Durante o restante da aula, ninguém mais falou, sequer conseguiram tirar os olhos do professor com medo de serem a próxima vítima. Quando o sinal bateu, os alunos quase se mataram para sair primeiro, o clima na masmorra era realmente pesado.

                     
- CHUCK, ESPERA!

                     
Gabrielle DeLarge estava simplesmente chocada. Apesar da negação de Snape, podia ter certeza de que aquelas coisas eram verdadeiras. Mas como ele sabia? Era impossível.

                      Felicia estava agarrada ao braço do rapaz, e a encarou furiosamente, fazendo sua pele se avermelhar ligeiramente.

                
      - Anda amor, você não tem nada pra falar com essa baranga. – E o puxou pelo braço.

                      - O que você quer?
                     
Nenhum sorriso habitava seu rosto, ele estava tenso, e Gabrielle tinha certeza de que não era por causa da detenção.

                
      - Posso... Falar com você?

                      - Não.
                    
A menina demorou alguns segundos para absorver a informação, e pretendia insistir, mas calou-se ao ver o sorriso triunfante de Felicia. Chuck já se virara para continuar seu caminho, quando Felicia, que o acompanhava, virou para trás e moveu os lábios num silencioso ”Perdedora idiota” e lhe mandou um beijinho.

                     Suspirou. Com certeza era melhor deixar pra lá, não era de sua conta. Ouviu risinhos atrás de si.

                   
  - Parece que seu protetor achou coisa melhor... Realmente, ela é cem vezes mais bonita.

                    
Bryan Knight. Arght, você não cansa?

           
          - Pois é. Com licença, estou indo pro dormitório, preciso chorar urgentemente. – Lançou para a figura incrivelmente alta um olhar com a maior expressão de desprezo que conseguiu reunir, estava cansada.

                  
   Bryan barrou seu caminho, Gabrielle bateu em seu peito esquelético e voltou.

                    
- O que foi? Pra onde foi toda aquela sua intensidade? Aquele uuuh, eu vou acabar com você. – Bryan simulou uma patética ameaça com a voz extremamente aguda.

     
              Gabrielle tirou a varinha das vestes, movimentou-a brevemente, apontando para Bryan.

                 
   - Silêncio.

                  
  A voz do garoto sumiu.

                   
- Acredite em mim, você fica muito melhor assim... Como você pode ser chato, meu deus. – E arqueando as sobrancelhas, entediada, a menina foi de encontro aos amigos que haviam acabado de se retirar da sala.

                     - O que foi aquilo? O que foi aquilo? – Wes estava maravilhado, seu sorriso quase atingia as orelhas, seu olhar estava vidrado em algum ponto do teto.

                     - Não sei... Também não consigo acreditar no jeito como ele encarou Snape. Foi simplesmente... Simplesmente válido levar uma detenção e perder cinqüenta pontos. - Emily também sorria.

                     - Alguém sabe do que ele estava falando pelomenos? – Felix fungou e ajeitou os óculos enormes.

                     - E importa? Você viu a cara do Snape? – Wes soltou uma risadinha gostosa – vou sonhar com isso até morrer.

                 
    Felix deu de ombros

               
      - Só espero que ele não se enfeze o bastante pra complicar nossos exames de propósito. Eu aposto que Snape vai fazer isso... É típico dele, vocês lembram do ano passado, não lembram? Olha só que coisa, como esquecem rápido... Vou lembrar vocês então...

                    - Nos lembramos muito bem, obrigada Felix. – Emily balançou a cabeça negativamente, como se quisesse repelir algo desagradável de perto.

                    
É, eles se lembravam muito bem. Snape ouvira um aluno da grifinória cochichando sobre seu cabelo, usando adjetivos como ensebado, nojento, produtor de óleo, empolgando-se no fim com a sugestão de levarem uma panela para a masmorra:

                     - É simples, nós trazemos a panela, se bater a fome, nós colocamos o milho nela e pedimos pro Snape dar uma torcida no cabelo e já temos o óleo. Pipoca de graça pra turma toda!

                      - Pois é, então vocês também lembram do exame surpresa só pra nós?

                      - É o seguinte Felix: Se dane se nós tivermos um exame surpresa, porque você não vai ir mal nele, ok? Você vai acertar todas, e depois vai sair resmungando sobre o teste, por mais que tenha acertado tudo, depois vai falar mal do Snape, e depois vai subir em cima da mesa da sala dele e começar a gritar sobre injustiça dos testes surpresa, ainda lembrando você, apesar de ter tirado um Excepcional. Não me interessa se formos mandados pro Egito pra dar banho em múmias, ou pro alto das montanhas pra limpar esterco de gigantes. Agora dá pra calar a boca?

                   
  Emily e Gabrielle olharam assustadas para Wes, que mantinha o sorriso triunfante no rosto. Um bico gigantesco se formou nas faces pálidas de Felix, que saiu imediatamente de lá resmungando algo sobre testes surpresa.

                    
 - Nossa Wes... – Gabrielle riu

                     - Ele já estava me dando nos nervos. Agora que eu descobri a utilidade do Black ele fica enchendo o saco?

                     - Ele vai te ignorar por uma semana, você sabe disso. – Alertou Emily.

                     - Tudo por um momento de triunfo. – e seus olhinhos faiscaram de alegria.

                     Gabrielle mordeu o lábio inferior e trocou olhares com Emily.

                     - É verdade Wes... Não sabia que você podia ser tão... Determinado. Tão... Forte. – Gabrielle fez cara de quem está sendo altamente seduzida.

                     - Com certeza. De onde vem tudo isso? Que charme.

                    
E as duas grudaram uma de cada lado de Wes.

                    
- Ah, vocês sabem... É natural. – o gordinho sorriu e deu de ombros, andando com as duas pelo corredor apinhado de gente, se exibindo com um aceno aqui e outro ali.

                     Fred e Jorge acabavam de encher os bolsos com uma grande quantidade do que pareciam ser vagens de feijão, quando Wes passou com as duas garotas em seu encalço. Os gêmeos trocaram olhares incrédulos.
                   
- Duas? – disseram em uníssono, enquanto fuzilavam um sorridente Wes com o olhar.



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