Brigas e desabafos



Capítulo 11 – Brigas e desabafos


 


         Harry estava cansado, sentia-se assim desde que acordara de seu “grande sono”. Mas, na verdade, só havia passado três dias e ainda era 21 de Outubro.


         A primeira parte de seu plano já estava feita – realizara o Ritual do Sangue Mágico.


         A segunda parte, bom, não daria mais tempo, então era uma mudança de planos.


         E parte três, seria realizada hoje, e, ninguém mesmo iria impedí-lo.


         Trocou de roupa rapidamente, para logo depois transformar-se num aranha pequenininha e ir correndo rapidamente perto do teto. Não poderia correr o risco de seus familiares o verem, bom, os que não fossem quadros.


         O caminho a Sala dos Quadros pareceu muito longo devido ao seu tamanho mínimo, porém, não tardou a chegar no primeiro andar e passar por baixo da porta da Sala.


         Virou uma pessoa novamente e os olhos dos outros Potter viraram-se para ele. A última vez que estivera sozinho ali, ficou numa cama por dois meses, se recuperando.


         Não iria se mais tão tolo do que da última vez.


         Pegou a varinha de Godric, que estava presa ao calcanhar por uma tornozeleira invisível. Não precisava realmente da varinha, mas a varinha de seu ancestral era muito poderosa.


         Realizou uma modificação do Abaffiato, na sala inteira. Estava mais do que imperturbável.


         Agora os quadros estavam curiosos, mas ele não ligou para isso, andou para a frente do grande quadro dos seus pais, que tinham certa preocupação.


- O que vai fazer, querido? – perguntou lentamente Lílian, franzindo a testa, ligeiramente.


- Não vou me arrepender, não se preocupe – ele não conseguiria responder diretamente.


         Guardou a varinha de Godric novamente da tornozeleira invisível.


         Desenhou, no ar, uma linha de cor branca em formato de um círculo. Em cima do círculo, numa mesma cor branca, desenhou um triângulo e logo depois, em cima, um pentágono.


- A somno excitaret saecula. Wake mortis revertens corporum.
Huc etiam alter locus ad vitam finivit ante opus scriptor. By falcem tetigi mors ante horam.
– recitou Harry.


         Uma luz branca invadiu a sala, fazendo todos cobrirem o rosto com as mãos, mas Harry continuou olhando, não queria perder um detalhe.


         Formas disformes surgiram no meio da luz, e, aos poucos, ganharam uma forma definida. Eram duas pessoas, era possível distinguir um homem e uma mulher.


         E, quando a luz apagou, Harry sorriu mais do que jamais tinha sorrido. Seus pais estavam ali, na sua frente, mais vivos (e confusos) do que nunca estiveram.


- O-o que aconteceu? Estou vivo “de novo”? – perguntou Tiago apalpando os braços e a cabeça, para ver se era real.


- Não dá para se renascer os mortos! É impossível! – exclamou Lilian.


         Harry deu um sorriso tristonho.


- Querem saber? Eu fiz Tiago e Lílian Potter voltarem a vida – falou.


         Os dois e o resto dos Potter arregalaram os olhos.


- HARRY TIAGO POTTER! – berrou Lílian com toda sua força.


         As ruivas dos quadros também pareciam mães bravas com o filho, e os morenos sorriam, tal como Tiago.


- Quié? – perguntou, tentando não olhar nos olhos da mãe. Achou que deixá-la voltar a vida seria... Ãhn... Bom?


- O QUE VOCÊ FEZ?! – perguntou, muito enraivecida.


         A esse ponto o feitiço de Harry já não funcionava mais e os “seres vivos” dessa casa já deveriam estar vindo para cá.


- Nada demais – respondeu quietamente, no momento em que os outros irrompiam pelas duas enormes portas duplas da sala.


- O que acont... – mas a voz de Sirius morreu ao ver os dois melhores amigos ali. De pé e respirando.


         Lene desmaiara nos braços de um abobado Sirius, Remo tinha empalidecido, Naomi estava de queixo caído, com Adie ao lado na mesma expressão. E Merk era o mais calmo, encarava tudo divertido.


- Harry, q-querido, o que v-você f-fez? – gaguejou Náh.


         O moreno suspirou antes de começar a falar.


- Olha, eu não fiz aquele Ritual do Sangue Mágico a toa. Não fiz porque queria ficar mais forte e blábláblá. De fato, mais forte queria ficar – corrigiu um pouco a si mesmo, enquanto caminhava e sentava-se no sofá vermelho – Mas eram por dois motivos.


         Ele respirou fundo para continuar:


- O primeiro era lançar um feitiço Obliviate em qualquer um que soubesse sobre o Torneio Tribruxo, e, dessa forma, cancelar ele – o queixo de todos cai – e o segundo renascer meus pais.


- De onde você tira tantos Rituais? – perguntou Adhara, confusa e curiosa, mais curiosa – diga-se de passagem.


         Ele sorriu para a “irmã”.


- A biblioteca do Potter é realmente grande, incontáveis seções e bilhares e bilhares de livros. Mas, no finalzinho, na parte mais antiga, você vai achar uma seção que eu nunca tinha visto até o ano passado: Magia Antiga e Rituais. – ele prosseguiu sua explicação  - Lá vi muitas coisas interessantes. Por exemplo, achei símbolos perdidos.


- Símbolos perdidos? – perguntou Marlene, que já tinha acordado, se abanava para recuperar o ar e a cor.


- Sim. Olhem só, talvez meus pais lembrem. Quando cheguei na Mansão Potter, eu queria ler muito, mas o que mais me interessou foi a animagia. Uma vez, trouxe um livro para cá, nesta sala mesmo, e foi a primeira vez que me transformei. Mas não foi isso, foi o livro. O livro que explicava tinha vários símbolos que eu conseguia entender, mas nunca tinha visto. Depois que achei essa Seção Magia Antiga e Rituais, descobri que aquele livro estava na seção errada.


         Os outros ainda pareciam atordoados. Lílian se aproximou, e sentou-se ao lado do filho.


- E depois? O que mais tem nessa seção? – incentivou Adie a Harry continuar a história.


- Então. O ano passado achei e essa idéia de ter um Ritual da Ressurreição brotou na minha cabeça. Comecei a folhear os livros furiosamente, vocês viram que ano passado eu passava mais tempo que o normal na biblioteca, quando não estava treinando Arte da Luta com Espadas, mas isto não vem ao caso – ele dispensou o assunto da luta com espadas com um aceno de mão – era necessário muita magia para ressuscitar alguém, então, ressuscitar duas era sem palavras. Eu precisava de mais poder, então achei o Ritual do Sangue Mágico. Estava esperando a deixa certa para realizá-lo. Até que pum!  O Torneiro cai e o ataque na Copa Mundial de Quadribol era o tempo perfeito.


         Náh agora parecia furiosa:  - Por que nunca contou a ninguém isso?


         Para a surpresa de todos, o moreno riu.


- Como se vocês fossem deixar eu fazer essas coisas, não iriam deixar eu fazer nem o Ritual do Sangue Mágico para início de história! – exasperou ele.


         Naomi nunca parecera tão brava, ou assim, Harry nunca a viu.


         Seu rosto estava vermelho de raiva, parecia da cor dos cabelos de Lílian. Os olhos demonstravam imensa fúria.


- VOCÊ TEM TODA A RAZÃO! EU NÃO DEIXEI VOCÊ FAZER ESSAS COISAS! O QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO! – todos se assustaram com os gritos repentinos.


         Todos, subitamente, olharam para Harry.


         Ele já estava de pé. Todo seu corpo tremia, da cabeça aos pés. Harry nunca se sentira tão... Confuso. Nervoso.


- Sabe o que estou pensando, Naomi? – ele perguntou retoricamente, e quando respondeu por si, gritava – EU ACHO QUE VOCÊ NÃO É MINHA MÃE, NAOMI! TENHO QUATORZE ANOS, NÃO TENHO MAIS TRÊS!


         E, simplesmente, virou uma aranha, e saiu daquela sala como entrou. Como uma ranha correndo pelas paredes.


         Náh sentiu os joelhos dobrarem, e foi amparada pelo marido.


         O que tinha feito?


 


                                               ooOoo


 


         Harry não sabia o que tinha feito. Por que tinha gritado com Náh?


         Lembrava-se como se tivesse sido ontem o dia em que caíra no tapete da sala e ela imediatamente lhe acolheu como se fosse da família.


“Como assim? Você vai ficar aqui conosco. Eu, Mercúrio e Adie somos sua família. Aliás, sua família está toda aqui!” as palavras dela rodaram na sua mente.


         Riu com a lembrança do nome “completo” dele.


Harry Tiago Real Lupin Black Ravenclaw Griffindor Potter.


         Suspirou, iria se desculpar com Náh, mas amanhã. Estava cansado, e esgotado em magia.


         Tinha uma coisa que ele podia fazer... Abriu a gaveta da cabeceira da cama e tirou um pergaminho de lá. Era uma carta de Gina, a resposta de sua última carta.


 


Caro Harry,


 


         Vou bem também. Espero que você esteja melhor ainda.


         Não perdi, por um segundo sequer, as esperanças de poder te ver novamente.


         Aliás, acho que ainda não te agradeci por ter me salvado três vezes na Copa.


         Obrigada. Mas, escrevo-lhe de novo, para dizer. Espero te encontrar novamente um dia.


         Ficaria honrada, e eu ri muito nessa parte em que escrevi isso.


 


Abraços,


         G.W


 


         Sorriu, o jeito de Gina lhe encatava, muito. Ela conseguia ser formal e informal na mesma carta, conseguia fazê-lo sorrir, e isso era o suficiente.


         Com um estalo de dedos, tinha um pergaminho, uma pena e um tinteiro na mão. A tinta, como sempre, era verde esmeralda. Gostava, realmente, dessa cor.


 


Gina,


 


         Meu dia hoje foi cansativo, espero que o seu não tenha sido tão dicil. Briguei com minha mãe postiça, Naomi Real. Não sei por que estou te contando isso, mas ela é uma Elfa Real, então é, de certa forma, irônico que esse seja seu sobrenome.


         Amanhã espero estar tudo bem, ela parecia realmente nervosa na hora, mas tem bom coração.


         Estou muito cansado, usei magia demais. Então, nem entendo realmente o por que dessa carta, mas me sinto bem lhe contando as coisas.


         Talvez eu entenda, agora, como garotas se sentem com diários.


         Não é ruim contar as coisas a alguém, se for a pessoa certa...


 


Espero que esteja bem,


 


         H.P


 


         E um raio verde surgiu ali ao lado quando assinou. Levantou-se enquanto enrolava o pergaminho e colocava um “P” como selo, e prendia a Edwiges, sua coruja, que estava no peitoral da janela.


- Entregue isso a Gina, em Hogwarts – pediu ele gentilmente e sua coruja saiu planando pelos céus.


         E, finalmente, jogou-se a cama. Morto de cansaço.


 


POV’s Tiago:


 


         Era bizarro eu me sentir vivo novamente. Andar pelos corredores da casa, comer comida de verdade, respirar realmente.


         Demorou muito tempo até eu me acostumar... Ok, não demorou nada. Cinco minutos, na verdade.


         E, depois desses cinco minutos, eu e Sirius praticamente pulavamos e gritavamos “Êêêêêêê!” pela sala, enquanto os outros riam, exceto Naomi, que chorava silenciosamente.


- Ele vai te perdoar – falei quando parei de pular com Almofadinhas.


         Ela me olhou com olhos lacrimosos e vermelhos.


- Acha mesmo? – essa parecia aquelas perguntas de crianças ansiosas, mas Naomi parecia muito mal para se importar com isso.


- É claro, senão, ele não seria o Harry de verdade – fui sincero.


         Mas, esperava não estar errado.


 


POV’s Harry:


 


         Acordou no dia seguinte com algo bicando sua cara, já ia espantar o bicho quando viu Edwiges, furiosa.


         Quando a coruja viu que ele tinha acordado, esticou a perna e Harry automaticamente pegou a carta ali. Edwiges saiu voando pela janela sabe-se lá para onde.


         A carta era de Gina.


 


Harry,


 


         Acha que meu dia foi fácil? Passar os dias sem você está ficando cada vez mais difícil (risos).


         Mas é verdade, sabe, já te disseram que você é engraçado, Sr. Potter? As aulas de Hogwarts estão entediantes, sabe. Acho que você conseguiria torná-las divertidas, até a aula do Profº Binns, um fantasma que fala devagar-quase-parando.


         E é bom ‘descansar essa magia’, hein. Se não... *Careta diabólica*.


         Dá para fazer caretas e risos em cartas? Nunca testei. Espero que você entenda...


         Bom fique bem, ok?


 


Abraços,


         G.W


 


         Agora, eu já tinha uma dose de confiança, eu acho. E sorri do comentário da Gina, será que dava mesmo para fazer caretar e risos numa carta?, pensou ele.


         Desejou uma roupa qualquer no corpo, e com magia ela subtstituiu o pijama que ele usava.


         Desceu as escadas calmamente, passou pelos corredores dando um “oi” para os quadros dos bichos de estimação que a família Potter já teve. Bom, ele não tinha culpa se entendia o que os animais diziam, se habituara tanto a ser animago múltiplo que agora era involuntário, até mesmo quando humano.


         Quando chegou a sala de jantar, toda a família tomava café da manhã.


         Ficou surpreso ao ver que o lugar na ponta da mesa estava desocupado, seu pai não sentaria ali?


         Mas quem estava do lado direito era seu pai, e ao lado de sua mãe. Do lado esquerdo Merk, e ao lado dele Náh. Sirius sentado ao lado de Lílian, com Lene ao lado.


         Remo ao lado de Adhara, e Adie ao lado da mãe.


         Caminhou até a cadeira e sentou-se.


- Oi gente – falou ele.


- Bom dia H.


- Querido.


- Oi Harry!


         Fora recepcionado bem, como se nada tivesse acontecido.


- Olha, Náh – agora as atenções estavam nele – me desculpe por ontem. Eu estava cansado e nervoso, tá? Realmente, me perdoe.


- Oh, querido, eu não planejava ficar brava com você – e sorriu.


         Ele soltou o ar que nem notara ter prendido.


- Mas, então, pai, não vai se sentar na ponta da mesa? Você não é o “homem da casa”? – disse cheio de sarcasmo de brincadeira.


- Entenda uma coisa, filho – falou Tiago sorrindo marotamente – Quem senta na ponta, paga a conta.


- Entenda uma coisa, pai – Harry sorriu mais travesso ainda – Quem senta do lado, paga dobrado.


         E riu da expressão do pai, enquanto os outros o acompanhavam.


         Mas não pode deixar de pensar:


“Serei sempre Harry Tiago Real Lupin Black Ravenclaw Gryffindor Potter, afinal”.


         E sorriu ainda mais ao ver a discussão dos pais e Sirius apanhando de sua madrinha por soltar piadinhas ‘sem graça’.


         Sua vida estava melhor.


         Com sorte, algo que ele não tinha, continuaria assim.

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