Distração



Harry sentiu como se estivesse sendo sugado por dentro. Ele fora enganado mais de uma vez pela mesma pessoa.


E desta vez parecia não ter volta.


Ele só queria entender: o que encorajava Brandon a fazer aquilo? Qual era o objetivo dele pro trás daquilo tudo?


 


CAPÍTULO 2 – DISTRAÇÃO


 


- Harry! Harry! Ajude! – Hermione tentava socorrer Lavalle juntamente com Rony, mas ele não conseguia esboçar reação. Se ela morresse, eles ficariam presos ali para sempre.


Mesmo que não fosse possível ela morrer de causas naturais – as quais necessitam da ação do tempo – ela poderia ser morta por uma Maldição da Morte, como no caso de “Harry”. Ser envenenada era uma opção muito vaga, já que Professores e Especialistas não têm muito apetite, e um metabolismo muito lento. Isso implicaria na ingestão de doses colossais da substância, do contrário, o organismo levaria alguns séculos para processá-la.


- Seria apenas necessário bolar um pretexto para que ela ingerisse essa quantidade toda, por isso usei-me de uma bebida que ela gostasse. Eu também fiz com que o chá se tornasse cada vez mais viciante a cada gole – Brandon completou o raciocínio.


- Você está praticamente confessando a sua culpa – Harry levantou-se, enojado – porque você faz isso?


- Eu sabia que você iria deduzir assim que ela caísse inconsciente – ele aproximou-se, falando com extrema calma: parecia estar recitando um mantra – ele olhou para Lavalle, se contorcendo no chão. Seu olhar não expressava nada. Parecia gostar daquilo, divertia-se – é claro que eu devia mantê-lo longe por algum tempo – ele continuou, sem tirar os olhos da Especialista, virando a cabeça levemente para a esquerda – desta vez você caiu.


Era difícil de aceitar, mas Brandon estava certo: Harry fora vítima de uma cilada, algo planejado há muito tempo.


- Por que matar a Lavalle? – Harry estava incrédulo. Apesar de saber que havia um plano por trás, não conseguia decifrar qual.


- Ela é tola, tem um coração fraco – ele esboçou um pequeno sorriso de deboche, seus olhos vidrados como os de um cão em um osso – além disso, não é a primeira vez que eu engano você.


Harry estava confuso. Ele estava se referindo ao episódio com o “Harry”, quando ele foi convencido a voltar no tempo e “acidentalmente” tornar-se um professor.


- Eu sabia que era só uma questão de tempo até que nos cruzássemos novamente – Brandon continuou – e o destino me foi solidário, trouxe dois Harrys ao mesmo tempo! É claro que na primeira ocasião eu não reconheci ele, professores não conseguem decifrar professores. Então notei o seu interesse nele e liguei os pontos...


A verdade atingiu Harry como uma faca.


Era aquilo que Brandon queria afinal.


Contudo, Harry não desistiria. Não permitiu que Brandon concluísse o raciocínio, ele e Rony carregaram Lavalle para fora daquela sala juntamente com os outros, enquanto Hermione parecia estar pensando atentamente em algo.


- Bezuário não vai adiantar – disse Brandon, como um professor do jardim de infância ensinando que as tesouras machucam – eu produzi esse veneno – e retirou do bolso o pequeno exemplar da leitura misteriosa de alguns dias atrás.


Ela olhou-o de cima a baixo, segurou sua bolsinha junto ao peito e disse com decisão ao sair da sala:


- Eu sempre soube que você produzia veneno.


 


- Hermione! – Harry havia deitado Lavalle em sua cama, Frederich estava com Derose preparando a máquina para uma eventual viagem de emergência – O que vamos fazer? – ele estava desesperado, com razão. Não queria arriscar tudo numa viagem mal projetada, muito menos projetada por Brandon.


- Foi mesmo muita consideração deles fazerem isso – Rony referia-se a Derose e Frederich – quer dizer, aquele louco deve estar querendo matá-los!


- Isso não é muito animador – Hermione levou-os para longe da cama – não fale dessas coisas perto dela! Ela está com a sensibilidade aflorada! E pelo que li, professores tendem a cometer erros sob pressão, além disso...


- Espere! – disse Harry, um pouco histérico – Você leu?


- Onde? – completou Rony.


Ela revirou os olhos e retirou a minúscula edição de “OS SEGREDOS DO TEMPO POR ADALBERTO GROSKI” da sua bolsinha de contas, como se fosse a mais normal das leituras.


- Eu tinha que manter-me informada! – ela protestou sob o olhar interrogativo dos dois.


- Não é isso – Harry pegou o livro e folheou com curiosidade, as letras miúdas daquele texto sem sentido pareciam não ser o que precisava – há algo aqui que não saibamos?


- Há um apêndice, sim – Hermione tomou o livro pela segunda vez e indicou – e alguns “Casos & Curiosidades”...


- “Casos & Curiosidades”?! – Harry e Rony exclamaram ao mesmo tempo, alarmados.


- Por que não nos contou disso antes?!


- Eu achei que não fossem dar bola...na verdade fiquei com medo que Brandon desconfiasse de algo, sabe, mesmo confiando nele por aquele curto período de algumas horas eu me dei ao luxo de manter a minha mente a salvo –  ela suspirou, folheando o exemplar até uma das últimas páginas, onde podia-se ler o título que ocupava toda a página em letras enormes e entrelaçadas, iniciando a leitura:


“Casos & Curiosidades”


Venho aqui tratar de alguns dos casos mais peculiares que encontrei nesta minha jornada (a lista com a localização de todos os Professores, bem como seus nomes, encontra-se no final deste volume). Espero que faça bom uso destes relatos, e que os tome como exemplos de desastrosas experiências temporais.


Creio que seja absurdamente desnecessário dizer isso, já que lestes todo este volume, e é mister que tenha captado a mensagem. A menos, é claro, que tenha pulado as duzentas e quarenta páginas desta minha obra, por curiosidade, preguiça ou orgulho.


Neste último caso, necessita-se salientar que nada do que será dito aqui tem por finalidade a distração ou o divertimento. Os casos são sérios e verídicos, e por sua notoriedade merecem o respeito que se reserva aos mortos. Se você for um fantasma, por favor, não se ofenda.


Assim, de forma suntuosa esta minha humilde pena abre um parênteses para lhes contar as seguintes histórias


(


 


“O CASO DO DE LOUGH REE”, OU DO “ASSEGURE-SE QUE SUA CARGA ESTEJA BEM PRESA”


 


Ocorreu que alguns séculos atrás, um Herbologista famoso exibiu um largo fascínio por plantas já extintas, de modo que dividiu a sua vida toda entre pesquisar plantas recentes, e enxertá-las de modo a produzir um exemplar que se aproximasse dos espécimes perdidos.


No entanto, por mais que se esforçasse nessa meta, a Comunidade Internacional de Herbologia jamais aceitaria os seus escritos, já que seria impossível provar que aquela planta era REALMENTE uma cópia de um exemplar extinto.


Já podemos imaginar o que ele fez.


Após cerca de sete anos de árduo e contínuo trabalho, ele alcançou sua meta: um exemplar de Girdanius Calostoporus diretamente do Período Jurássico.


Com isso já poderíamos supô-lo satisfeito, mas como é de se esperar, a ganância do homem sempre supera qualquer barreira. Resultado: Christopher Lawliet resolver colecionar plantas de diferentes épocas.


Tudo bem se não considerarmos os acontecimentos próximos ao lago de Lough Ree, no centro da Irlanda, já no nosso tempo – o ano era 1531. Relatos de testemunhas permitem-me inferir que ele havia se tornado um mago gentil até certo ponto. 


Permitia uma vez ao ano que um infeliz visitasse as suas terras em busca da resolução dos seus problemas, obtendo notável repercussão. Devo esclarecer que aquela não era sua época original, uni alguns pontos e descobri que o jovem mago simplesmente havia simpatizado com aqueles ares e fixou base ali, integrando-se à comunidade local.


Contudo, cada vez mais bruxos e trouxas passavam a bater na sua porta buscando os auxílios milagrosos. Ele começou a ficar irrirado com aquilo tudo e decidiu retornar, pois achou que as piadas da CIHB à seu respeito já deveriam ter perdido a graça.


Sem mais delongas, ele regulou sua máquina, arrumou suas plantas e partiu. Sendo imediatamente esmagado- e morto, é claro - pelo peso descomunal da terra, dos vasos e das plantas. A viagem não pôde ser completada, já que as plantas permanecem lá, então presumi que seu corpo deve estar enterrado lá também.


O fato é que naquele dia os habitantes próximos relataram algo como “um grande gargarejo” vindo do lago, e aqueles que se atreveram a averiguar foram expulsos da região pelas plantas exóticas e nunca vistas em assustador estado de crescimento. “Fui lançada aos céus por um bando de Ameixas Dirigíves!” – relatou um anônimo. Depois desse incidente ninguém mais habitou a região, que dizem estar tomada pelas plantas, que causam tanto medo nas pessoas ao ponto de provocar amnésia em alguns


Moral da história: Leve sempre pouca carga – e não deixe sua janela aberta!


)


 


- Eu ouvi isso? – perguntou-se Rony, realmente Adalberto não tinha nenhum senso de coesão.


- Sim – disse Hermione – isso não ajuda muito, quase nada, na verdade – admitiu – mas é o único registro documentado de um Professor, mesmo que Lawliet não seja de fato um, a morrer por causa de uma experiência temporal.


- E o que isso tem a ver com Lavalle? – perguntou Harry, trazendo os dois à realidade – desculpe Hermione, eu realmente entendo que você fez o possível para nos ajudar...


- Eu acho que sei o que pode ser feito – Derose apareceu de repente – olhem aqui – ele trazia um punhado de papéis rabiscados de tinta.


Hermione estudou-os por uns instantes, passando-os para Harry e Rony.


- São anotações? – Hermione ergueu a sobrancelha – de...


- Brandon – ele sorriu – exatamente! Bem, eu não consigo descobrir o que ele fez por minhas habilidades, mas ainda assim consigo descobrir coisas pelo método tradicional! Retirei isso do quarto dele e deixei cópias, ele não vai desconfiar.


- Aqui diz que ele encontrou o veneno em 8°L, 53ºN – Harry leu, consultando imediatamente o apêndice no livreto de Hermione:


 


Lawliet, Christopher – 8ºL, 53ºN; Louch Ree, Irlanda


 


- Acho que já sei o que devemos fazer – ele devolveu o exemplar.


- Mas aqui diz que o veneno tem efeito completo e irreversível em apenas 10 horas! – alertou Hermione, consultando as anotações.


- Temos que tentar – disse Rony.
- É a nossa última chance.




*****

Peço um milhão de desculpas pelo atraso na postagem deste capítulo. Demorei algumas horas a mais - geralmente posto entre as 14 e 17 horas - mas precisei fazer alguns ajustes. É a fase final, então omiti algumas informações propositalmente, mesmo o texto não tendo saido como imaginei inicialmente. 
Estou ansioso para terminar esta fic, no entanto, os meus horários são extremamente corridos, ainda mais semana que vem, quando terei aulas praticamente em tempo integral, mas me esforçarei para fazer a proxima postagem normalmente, mesmo o capítulo já escrito não consigo parar de pensar que há nele algo errado que não "puxa" para o fim.
Mas eu garanto que estou me esforçando ao máximo neste final, e adianto que ele será diferente de tudo o que você já leu!
Um abraço, agradecendo especialmente os comentários e votos,
AUGUSTO
 

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