Doença



Ele precisava de uma porta.


E sabia que ninguém fiava andando pelas ruas no Dia das Bruxas reparando em acontecimentos estranhos.


Ele desaparatou algumas quadras além, perto da igreja. Não havia ninguém lá, apenas uma grande construção vazia. Entrou e buscou uma porta que ficava logo embaixo de uma escada em caracol, bastante escondida dos olhares curiosos.


Então, antes que pudesse mudar de idéia, retirou a chave presa no seu pescoço e usou na maçaneta. Não aconteceu nada extraordinário com a porta.


Até que ele abriu.


 


CAPÍTULO 1 – DOENÇA


 


Foi como receber um jato de água morna. Num segundo ele estava na igreja, e no outro estava de volta à ilha de Brandon, sem aquelas roupas e aquela vassoura quebrada.


- Harry! – Hermione, que estava debruçada no parapeito do segundo andar daquela torre, desceu em disparada.


- Quanto tempo vocês ficaram me esperando? – ele estava curioso para ver se o atraso que Frederich supôs era grande.


- Três dias – Rony surgiu detrás de uma coluna.


- Todo esse tempo? – ele estava assustado.


- Pelo menos você está a salvo! – argumentou Hermione.


- E o nosso diagrama? – ele se deu conta que dali pouco tempo estaria de volta ao Largo.


- Não sei dizer – Hermione acenou negativamente com a cabeça – nós passamos a maior parte do tempo aqui...


- E quando não, Brandon nos enchia de comidas – completou Rony – é realmente impressionante a quantidade de chá verde que a Lavalle é capaz de ingerir! Acho que ela tomou tudo sozinha desde aquele café.


- Talvez ela tenha que tomar uma grande porção para sentir o gosto, já que a bebida é fraca – argumentou Harry – se bem que com a comida, um pouco só já basta.


- É – terminou Hermione, sem ter muito que dizer – mas...


- Como foi lá? – perguntou Rony.


Harry ficou um instante em silêncio, suspirou.


- Perfeito – ele disse – eu fui um bebê bem preguiçoso...


Os dois riram, entendendo que Harry não queria falar muito sobre aquilo.


- Vamos contar pros outros que você voltou – sugeriu Hermione – eu aposto que eles estão jantando nesse momento. A propósito, eles têm feito muito isso. Acho as comidas do Brandon muito gostosas, e não sei onde ele arranja tanta! Ele também está muito mais simpático!


Harry deu razão para a amiga. Depois daquilo que havia passado, estava confiando muito mais em Brandon. Mas não tinha certeza de quanto tempo aquilo iria durar.


Quando eles voltaram para a sala de estar – que ainda estava convertida em cozinha – Harry foi recebido pelos demais por uma salva de palmas.


- Eu disse para confiar em mim!! – Brandon veio todo em sorrisos puxando Harry pelos ombros mais para o centro do grupo.


- É... – ele estava meio assustado.


- Nós não vamos perguntar o que aconteceu lá – disse Derose – fomos nós que planejamos aquilo!


Harry estranhou.


- Não, não foi tudo armado – explicou Frederich – tudo o que eles disseram para você foi verdade, apenas trabalhamos para não causar nenhum dano.


- Obrigado – ele limitou-se a dizer; já que seus instintos estavam apitando – onde está Lavalle?


- Aqui! – ela surgiu perfeitamente normal detrás de um tonel transparente repleto de sua bebida favorita.


Harry resolveu não comentar sobre o chá.


- Acho melhor servirmos o jantar então! – sugeriu Brandon, e todos concordaram.


Quase imediatamente a mesa foi reposta, ganhando uma toalha branca com padrões elaborados. Cortinas cheias de pregas desceram nas janelas encobrindo o crepúsculo, e tão logo tocaram o chão se transformaram nos painéis de madeira anteriores. As pregas nas cortinas correspondiam aos veios da madeira de aspecto nobre.


Uma vez estando todos servidos – desta vez de uma imensa variedade de massas, Harry indagou:


- Vocês terminaram o diagrama?


- Oh, ainda não! – Derose gesticulou com seus dedinhos miúdos – Na verdade nem começamos a adaptação.


- Como assim? – Rony estava preocupado.


- Lembre-se – explicou Lavalle – “não se pode passar duas vezes pelo mesmo rio”.


- Entendi! – interrompeu Hermione – Nós “mudamos” ao passar por aquela história do “outro professor” e do Voldemort, da mesma forma que um rio renova as suas águas constantemente. Assim, é de se imaginar que Harry tendo encontrado os pais ele “mudaria”, e não teria sentido renovar o diagrama!


- Exatamente! – concordou Frederich – quanto menor for a antecedência com que se faz o diagrama, maior a probabilidade de êxito.


- Por isso vamos iniciar a transcrição amanhã bem cedo, e até o meio-dia o diagrama estará pronto – tranqüilizou Derose – creio que haja tempo suficiente para o senhor calibrar sua máquina?


- Claro! – concordou Frederich – se Harry sofreu um desvio de três dias em vinte anos, para calibrar uma viagem de três anos o esforço será mínimo!


- Só por curiosidade – começou Harry – quais são os riscos se fizermos uma viagem sem corrigir o diagrama?


- Eu não sei – respondeu Frederich – vocês podem parar em épocas completamente diferentes, se tronarem Professores – ele suspirou – e também pode ser que não aconteça nada, na verdade essa última é bastante provável. No entanto, acredito que vocês não estão dispostos a dar margem ao erro, estão?


- De forma alguma! – Hermione balançou a cabeça em negativa.


- Foi o que eu pensei – ele concluiu – mas não se preocupem, dentro de algumas horas vocês estarão em casa.


Aquela perspectiva se abateu sobre eles de uma forma inesperada.


Depois de tantos atrasos e contratempos.


Eles finalmente voltariam para casa.


E isso não deixava de ser estranho; pois, de alguma forma, Harry havia se afeiçoado àquelas pessoas. No entanto, nunca havia de fato se despedido. Sempre havia alguma coisa que o impedia disso. Só que agora era diferente.


Ele diria adeus.


Pela última vez.


E não teria como retribuir nenhum dos enormes sacrifícios que os quatro haviam feito. Já que eles poderiam simplesmente ter virado as costas no exato momento em que Harry os encontrou. Por que eles ofereceram ajuda?


- Por que eu achei que seria bom fazer algo de útil, sair da minha zona de conforto, da minha inércia e da minha solidão – Lavalle respondeu à sua pergunta mental – foi por isso que eu quis te ajudar. Seria um pouco libertador.


Ela frisou aquela última palavra enquanto um brilho peculiar tomava conta dos seus olhos. Harry percebeu que talvez estivesse fazendo algo útil por ela.


- Eu achei que seria curioso – Derose também respondeu – nunca havia visto nada parecido...


Então todos olharam para Brandon.


- Seus curiosos! Perguntem primeiro ao Frederich!


- Eu tinha mais ou menos a obrigação de ajudá-los, já que a pessoa que me indicou disse que eu era a única alternativa.


Todos olharam novamente para Brandon.


- Creio que ainda é cedo para esclarecer os motivos.


Tudo foi tomado por um anticlímax relativamente cômico, um silêncio quebrado apenas pelo som de Lavalle esvaziando outra xícara de chá


- O que acontece se você beber demais? – Rony perguntou.


- Nada! – Lavalle respondeu – É preciso uma dose muito maior do que a ingerida por mim para causar algum dano! Mas eu consigo sentir o gosto, o que é o melhor de tudo!


- Ora, estamos falando de chá, não de veneno! – Brandon começou a rir, enquanto Lavalle servia mais uma xícara.


- Realmente, não vejo como isso daqui possa me envenenar!


Como que guiadas por um imã, todas as peças daquele quebra-cabeças começaram a se encaixar na cabeça de Harry.


- Hermione! – ele esperou que a amiga tivesse chego à mesma conclusão que ele, mas mesmo que tivesse não havia muito que ser feito.


- Realmente não... - repetia Lavalle, enquanto seus olhos reviravam e ela caía no chão inconsciente, seu corpo tomado pelo veneno de Brandon.




*********

Então, o que acharam deste capítulo?
Daqui por diante vamos ver em quem confiar, e finalmente descobriremos quais são as verdadeiras intenções de Brandon.
Vocês acham que o Harry vai conseguir se safar dessa, ou vai ficar "preso" no Tempo?
Comentem e votem, por favor, a fic está no seu final.
Agradeço imensamente a todos pela leitura, e aviso que esta foi minha última atualização das férias. Nesta segunda começo e terceirão - agradecendo a Merlin por ter vários capítulos de vantagem. Já estou escrevendo o último, e gostaria de saber suas teorias!
Um abraço,
AUGUSTO 

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