Preparativos



O corredor os cuspiu depois de uma porta dupla de carvalho, que dava para uma escadaria. Harry ficou aliviado: depois de horas poderia respirar um pouco de ar puro, pois a escada conduzia para um espaço aberto. Harry tirou o paletó e afrouxou a gravata. Eles ainda vestiam trajes de gala.


O céu estava limpo e estrelado, e o vento soprava ameno de uma direção ignorada. Harry olhou para os lados ao subir a escadaria, pois o corredor parecia estar flutuando sobre um imenso lago que ficava no centro da mansão. Era possível ver as janelas iluminadas nas margens.


Os quatro seguiram caminhando os vários metros que os separavam das três cúpulas colossais, iluminadas como imensos faróis indicando o caminho. Harry desejou que aquele fosse o caminho correto.


CAPÍTULO 9 – PREPARATIVOS


 


- Antes de seguirmos – começou Harry – é bom que você nos explique melhor o que Brandon estava fazendo no seu quarto.


- Boa idéia – concordou “Harry” – No caso, ele apareceu com o pretexto de me entregar o mapa para que eu chegasse ao observatório. Quando ele me disse seu nome, tudo ficou claro como água. Percebi que suas intenções não eram boas, embora ele quisesse ajudar vocês, e também me ajudar, havia algo a mais por trás disso.


- E então você resolveu juntar-se a nós? – perguntou Hermione.


- Sim – respondeu “Harry” – somos a mesma pessoa, não faz diferença quem triunfe – ele repetiu.


- Tem alguma idéia do que podemos fazer, então? – perguntou Rony.


- Não – ele respondeu – mas acho melhor perguntar a eles.


“Harry” abriu outro conjunto de portas duplas, desta vez de ferro fundido, revelando o cômodo.


Como de praxe, era muito maior do que aparentava ser visto de fora, principalmente no sentido da altura. A torre era bastante larga, quase do tamanho do Grande Salão de Hogwarts, e possuía três níveis bem definidos. O primeiro era uma réplica quase idêntica do escritório de Frederich, mantendo as devidas proporções. As paredes eram cobertas de estantes cheias de livros, e cada centímetro delas estava caprichosamente polido, refletindo as luzes das tochas e dos abajures nas mesas de leitura ordenadas sobre o tapete espesso e verde.


No nível mais alto ficava o telescópio: uma magnífica estrutura em latão da era Vitoriana. Sua lente deveria ter pelo menos um metro e meio de diâmetro, e apontava para fora da cúpula em mármore rosa. Apesar do enorme peso aparente, o conjunto todo era apoiado apenas sobre um piso de treliças metálicas. De cada lado havia uma pequena porta que deveria levar às cúpulas menores adjacentes.


Mas o que era mais impressionante ali, com certeza era o que havia no segundo nível.


Repousando no espaço escuro entre a biblioteca e o telescópio, havia uma perfeita réplica do Sistema Solar, não de ferro ou madeira, mas de planetas propriamente ditos. A superfície do sol irrompia em todas as direções, e as luas de Júpiter faziam seu balé na mais perfeita sincronia. Não suficiente, havia também uma numerosa fileira de minúsculos asteróides que colidiam constantemente uns com os outros, e de vários pontos da sala surgiam pequenos cometas em sua rota lenta rumo ao Sol.


Ficaram ali admirando por longos instantes tudo o que havia de novo no cômodo, tanto que demoraram a constatar que Lavalle, Derose e Frederich se encontravam ali.


Frederich dava voltas e mais voltas admirando os volumes de enciclopédias nas estantes, Lavalle brincava distraidamente com um dos abajures, girando a lâmpada em todas as direções e Derose se encontrava no terceiro nível, usando o telescópio.


- Hum, hum – Harry pigarreou, e imediatamente os três professores olharam assustados para a porta, como se estivessem fazendo algo errado.


- Fiquem calmos – disse Hermione – Brandon está num lugar bem seguro – ela sorriu, no entanto virou-se rapidamente e fechou a porta, trancando-a com uma imensa barra de aço.


- Sei – disse Derose, rumando para algum lugar atrás do telescópio. Harry havia esquecido que ele sabia do passado.


- Pelo visto precisamos de um plano – Lavalle sorriu, dando paz ao abajur, no que Derose surgiu de dentro da lareira, até então escondida por Lavalle.


- E a história é bem comprida – acrescentou Derose, apagando uma brasa em sua capa.


- Parem de querer adivinhar, seus exibidos – Frederich sentou-se numa das mesinhas. Ele era o único dos professores que não tinha poderes especiais, além do “Harry” – deixem eles falarem!


- Ok, ok – Lavalle chiou; talvez todo esse estresse fosse devido ao isolamento – mas depois não diga que eu não avisei!


- O que vocês têm para nos contar? – perguntou Derose, embora ele já soubesse de tudo.


- A história é um pouco comprida – Harry começou, e nos quarenta minutos que se seguiram ele revezou com Rony e Hermione a narrativa.


Mas apenas Frederich ficou boquiaberto, é claro:


- Viu? Eu lhes avisei que era perigoso fazer acordos com os Especialistas! – Frederich partiu pra cima dos quatro – nada contra você – ele acrescentou, após uma olhar severo de Lavalle – mas eu disse que Brandon seria o mais instável e, portanto, o mais perigoso dos três! Só Deus sabe o que ele pode estar tramando, uma vez que pode prever o futuro!


- Isso não está ajudando em nada, Frederich – objetou Lavalle, a voz extremamente entediada.


- E porque a senhorita pensa que é a melhor Especialista? Saiba que a senhorita é a única! – desta vez foi Derose que atacou Lavalle, seus dedos pequenos e roliços já iam pegando a varinha quando Harry o impediu. E só conseguiu porque o professor tinha dois terços da sua altura.


- Ei! Parem! – disse Harry, sua voz ecoou nos pavimentos superiores, ressoando no telescópio de latão – fazer isso não vai adiantar nada, só vai facilitar o trabalho de Voldemort!


Eles olharam para Harry com os olhos miúdos, como se estivessem levando uma bronca do próprio pai.


- Desculpe – os três disseram em uníssono, Derose guardando a varinha.


- Ei! – Hermione o abordou de repente – vocês têm varinhas?!


- É claro que nós temos varinhas – respondeu Frederich – com o quê você acha que eu ligo a minha máquina?


- Você sim – concordou Hermione – mas, e os Especialistas?


- Nós também – respondeu Lavalle – afinal, somos todos bruxos.


- Com certeza – disse Derose.


- E sua varinha ainda...funciona? – perguntou Rony em tom de deboche, e Derose fechou a cara.


- Bem ou mal – ele respondeu – ainda é muito mais útil que a sua.


Seguiu-se um momento cômico de silêncio.


- Certamente são muito poderosas – afirmou Harry, que já tinha alguma experiência com varinhas antigas – já devem ter lançado vários feitiços, e aprendido muito ao longo desses séculos.


- Na verdade – interrompeu Lavalle – nós só usamos a magia em caso de extrema necessidade, mas sim, as nossas varinhas são de fato muito poderosas.


 - O problema não é esse! – interrompeu “Harry”, já impaciente – deveríamos estar discutindo como derrotar Voldemort! Ou melhor, como fazer que você o derrote – ele apontou para Harry.


- Eu não, o Harry de 1998 – corrigiu Harry.


- Essa história está muito confusa! – disse Lavalle, pressionando as têmporas.


- Não se preocupe – disse “Harry” – pra tudo há um jeito!


- E agora você tem um plano? – perguntou Rony, que há quarenta minutos havia ouvido de “Harry” que ele não tinha a mínima idéia do que fazer.


- Agora sim – ele sorriu.


- E me dê apenas um motivo pelo qual devemos confiar em você – disse Frederich, como sempre desconfiado.


- Eu sou sua única esperança.


Todos digeriram aquela informação por alguns segundos.


- Ele, ou eu – disse Harry – tem razão. Ele é a nossa única chance.


- Pois então, “única chance”, qual é seu plano milagroso? – perguntou Derose.


- É bom que seja rápido! Temos menos de vinte e quatro horas! – lembrou Lavalle.


- Vamos repassar rapidamente o que aconteceu na Mansão dos Malfoy – disse Hermione.


- Nós podíamos entrar lá usando Poção Polissuco e o cabelo dos seqüestradores! – sugeriu Rony.


-Não – disse Harry – além de ser muito perigoso encontrarmos com eles, que eu me lembre, Belatrix os estuporou quando quis ver a espada.


- Não vai dar – disse Hermione.


- Mais ou menos nessa hora, Voldemort já vai estar lá duelando com o Draco – disse Harry – quando ele for verificar se eu sou eu, pois eu estava desfigurado.


- Não consigo ver o que pode ser feito – disse Frederich,  interrompendo – não sei se vai adiantar que fiquemos aqui confabulando.


- Realmente – disse “Harry” – vamos partir para a ação.


- O quê? – Rony, Harry e Hermione gritaram em uníssono.


- Calma – disse “Harry” – confiem em mim, eu sei o que pode ser feito.


“É bom que você saiba” – pensou Harry, e Lavalle deu um tapinha em suas costas.

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