O Novo Plano
Harry levantou de sobressalto. Não queria parecer surpreso ou assustado, mesmo assim não conseguia evitar que demonstrasse certo afobamento.
- Aconteceu alguma coisa? – “Harry” parecia preocupado.
- N-nada não...s-só...banheiro – ele encaminhou-se na direção da porta – a gente se vê daqui a pouco...no observatório. Até!
E fechou a porta do quarto, deixando uma versão um pouco menos confusa de si mesmo atrás dela. Mais uma vez o brilho do corredor pareceu estranhamente acolhedor, mas, depois de ouvir aquilo, um forte sentimento de desconfiança tomava conta da sua cabeça. Recusava-se a pensar em qualquer coisa, pois temia que houvesse algo naquele corredor que permitisse a Brandon ouvir seus pensamentos.
O que ele queria afinal? De que lado ele estava?
Precisava falar urgentemente com Hermione.
CAPÍTULO 8 – O NOVO PLANO
Logo ele viu que aquela não seria uma tarefa fácil, pois não tinha a menor idéia de onde ficava o quarto de Hermione e, mesmo que tivesse, não saberia como chegar lá sem um ponto de referência. Harry lembrou-se de Brandon dizendo que seria difícil Voldemort encontrá-los naquele labirinto. Besteira! Ele não os estava escondendo de Voldemort, mas sim deles mesmos.
Algumas horas atrás ele encontrara o quarto do outro Harry tão facilmente, como conseguira aquilo? Lembrou-se das toalhas que se materializaram aos seus pés com um simples pensamento. Era isso! Bastava apenas memorizar o que se desejava por um curto período de tempo que aparecia. Era como a Sala Precisa, Hermione havia dito, era como a Sala-que-Gira do Departamento de Mistérios.
- HERMIONE! – ele falou firme e concentrado. Era por isso que os sons não se dissipavam pelo corredor, para que ao conversar não se fosse parar no local indesejado.
Mas desta vez sua voz produziu eco, e nem bem ele chegou aos seus ouvidos Harry sentiu seus pés acelerarem, como se estivesse em cima de uma esteira supersônica. Diversas portas passavam e se abriam conforme ele acelerava, até que ele parou abruptamente e a porta do quarto de Hermione fechou-se rente às suas costas.
- Harry? – a amiga se levantou, estava lendo deitada na cama – o que está fazendo aqui? Como me encontrou?
- É uma longa história – respondeu Harry ofegante – venha, temos que encontrar Rony antes que...
- Antes que o quê? – Hermione parecia um pouco alheia ao estado emocional de Harry, e isso o preocupou:
- QUE FEITIÇO VOCÊ LANÇOU EM MIM QUANDO NOS CONHECEMOS?! - ele partiu em direção à Hermione, esforçando-se para conter a histeria, agarrando-a pela blusa – É VOCÊ? PELO AMOR DE DEUS ME DIZ QUE É VOCÊ!
- É claro que sou eu! Eu estou me preocupando mais em saber se você é você – ela estava ofendida – a propósito, é Oculus Reparo.
- Só estava checando – Harry caminhava ao redor da cama, tateando as paredes cobertas com painéis de eucalipto e delicadas cortinas – não sei mais em quem confiar.
- É claro que na atual conjuntura você deve ficar com os olhos abertos, assim como todos nós, mas não pode ter medo da própria sombra! – disse Hermione.
- Eu sei – Harry se sentia um retardatário no jardim de infância – não consigo evitar.
- Antes que o quê... – Hermione retomou.
- Sim? – Harry estava distraído.
- Precisamos encontrar com Rony antes que...
- Ah! Sim! – ele agarrou a mão da amiga – Vamos! Sugiro que você feche os olhos.
Eles saíram do quarto e deram dois passos no corredor, quando Harry chamou alto e claramente pelo amigo:
- RONALD WEASLEY!
Novamente o chão aos seus pés acelerou como uma esteira, atirando-os para dentro do quarto de Rony. Desta vez, Hermione tratou de fazer a verificação:
- Onde foi o nosso primeiro beijo? – ela perguntou tão logo aterrissou, de modo que ficou vários instantes procurando por Rony, visto que aquele cômodo era praticamente um bosque em miniatura, muito semelhante ao pomar d’A Toca – Onde foi o nosso primeiro beijo? – ela repetiu ao que Rony saltou de um tronco retorcido de limoeiro a uns dois metros de altura.
- Foi na Sala Precisa e...Harry estava junto – ele respondeu confuso, fosse pelo salto ou pelo aparecimento repentino dos amigos – mas por quê isso e como vieram parar aqui?
- Harry quer contar uma coisa – disse Hermione, satisfeita em constatar que havia uma cama debaixo daquela árvore. A colcha estava repleta de flores brancas e folhas secas, e por toda parte havia frutos parcialmente comidos.
Harry então esperou que os amigos se acomodassem e gastou quase meia hora para explicar para eles o que se sucedera no quarto de “Harry”. Por um momento ele se distraiu estudando as paredes do quarto de Rony, que pareciam feitas de um vidro opaco, mas que deixava passar o verde da floresta lá fora. Lembrou-se da última vez que esteve em uma floresta.
- Mas então ele é você? – Rony estava mais confuso que os outros dois juntos.
- É Rony – disse Hermione, que àquela altura estava quase pegando no sono.
- O que me preocupa mais é o fato de Brandon ter intermediado a viagem dele. Porque, justo alguns minutos antes de falar com “Harry”, pensava exatamente em perguntar isso a Brandon – explicou Harry.
- Sabia que você veria essa como a única possibilidade – disse Hermione, no meio de um bocejo – mas seria muito audacioso, e idiota da sua parte, pensar assim, se me permite dizer. Se tem uma coisa que esses anos de Runas Antigas me ensinaram é que nunca existe apenas uma tradução possível para um símbolo, por mais antigo que ele seja!
Agora era Rony que ameaçava pegar no sono. Lá dentro se perdia a noção do tempo.
- Sou obrigado a concordar com você – admitiu Harry – depois de tudo o que ouvi do “Harry”. Só sei que se Brandon surgir com essa proposta para mim, vou recusar na hora!
- Harry – Hermione adotou seu tom maternal que tanto o preocupava – não quero que pense que Brandon fez, ou fará, o que quer que seja; para prejudicá-lo. Garanto que agora mesmo ele está com os outros Especialistas confabulando ao nosso respeito.
- Mas Hermione, não é só isso! – Harry apressou-se em acrescentar – você não parou para pensar nisso tudo? – ele fez um gesto abrangendo a porta, e o labirinto além dela – Por que você acha que ele nos colocaria tão longe uns dos outros?
- Para nossa segurança – ela respondeu, como se fosse a mais óbvia das coisas.
- Você não está se perguntando como eu a encontrei e encontrei Rony com a maior facilidade? – Harry insistiu.
- Pra dizer a verdade estamos, Harry – Rony cortou a conversa, agora completamente desperto – o que nos garante que você não é um impostor, como julgou que fôssemos, e está nos confundindo com esse papo?
- Muito bem! Façam-me qualquer pergunta! – ele desafiou.
- Qual a forma do meu bicho-papão? – Rony perguntou.
- É uma acromântula. Satisfeito? – Harry respondeu seco – Decerto agora você está interessado em saber como eu os encontrei?
- Sim – respondeu Hermione, já impaciente com a briga completamente desnecessária.
- Pois bem, bastou apenas um pensamento forte em vocês, apenas a menção dos seus nomes para que eu chegasse até vocês, então, isso não dificulta o trabalho de Voldemort, mas facilita e muito!
- Isso explica muita coisa com relação a esses corredores – disse Hermione – mas acho que talvez ele tenha feito algumas coisas de propósito, o Brandon.
- Como assim? – perguntou Harry.
- Quer dizer, talvez o fato de haver dois Harrys nos possa ser útil – explicou ela – vocês acham seguro que coloquemos isso em pauta quando falarmos com os Especialistas daqui a pouco?
- Seguro não deve ser – disse Harry – mas se não falarmos para eles que opção vamos ter?
- É verdade – concordou Rony – estamos numa encruzilhada. De qualquer forma, iria ser uma conversa muito produtiva: “Oi, de repente, me ocorreu assim, que eu e aquele professor somos a mesma pessoa. O que podemos fazer?”
Hermione bufou, estava diante de um problema aparentemente sem solução:
- Vamos pensar! – disse ela.
- Eu não agüento mais pensar! – disse Harry – quero um pouco de ação! Quero ar puro! Sair dessa maldita ilha e acabar com Voldemort de uma vez por todas!
- Você precisa ter paciência, Harry – disse Hermione – eu sei que para você isso tudo está sendo muito mais difícil do que é para cada um de nós. Só que agora, mais do que nunca você precisa ser forte para não meter os pés pelas mãos!
- Se eu e “Harry” formos a mesma pessoa, o que quer que aconteça a ele pode acontecer comigo – disse Harry.
- Mas, pelo que você me disse, duvido muito que vocês dois sejam a mesma pessoa – explicou Hermione – porque ele disse que nasceu de novo.
- Então obviamente temos corpos separados – ponderou Harry.
- Sim – concordou Hermione – o problema é que vocês devem ter a mesma alma – ela começou a explicar – antes de decidir se tornar um bebê, ele era você, certo?
- Sim. – disse Harry.
- Mas depois de ter “nascido de novo”, ele passou por coisas diferentes das suas. E isso torna as suas almas diferentes, como duas telas inicialmente idênticas, tendo a segunda recebido uma nova camada de tinta. Entende?
- Não – respondeu Rony, acenando com a cabeça.
- É como um grande rio – respondeu Harry, assustado com a facilidade com que formulara a metáfora – em algum ponto este grande rio se separou em dois menores que passaram a correr muito próximos um do outro. A água desses rios é a mesma, a única diferença é o leito por onde cada um corre, que faz com que tenham uma cor diferente da original.
- Entendo – disse Rony – e nós podemos aproveitar esse fato para derrotar Voldemort!
- Nós VAMOS aproveitar esse fato para derrotar Voldemort – disse Harry com veemência – só não sabemos o que acontece com o outro rio ao alterarmos o fluxo do vizinho.
- E provavelmente, a única pessoa que tem essa resposta está contra nós – lembrou Rony – o Brandon.
- Não há um modo seguro de perguntar isso a ele? – indagou Hermione.
- Mesmo que haja não o acho digno de confiança – Harry torceu o nariz.
- Concordo – Rony bocejou – mas então como você pode confiar no “Harry”?
- Não sei – Harry balbuciou – alguma coisa em mim sabe que ele fala a verdade.
- Depois de tudo o que passamos, eu não duvido mais dos seus instintos – Hermione sorriu – então acho que você pode pedir um favor ao seu novo amigo.
- Como assim? – perguntou Harry, embora já tivesse uma vaga idéia das pretensões da amiga.
- Fale para o “Harry” perguntar sobre isso ao Brandon – explicou ela – isto é, faça com que ele dê essa sugestão.
- Então o Brandon será obrigado a explicar isso a todos – concluiu Rony.
- Boa idéia – Harry sorriu, ocorreu-lhe, de repente, que talvez sua causa não estivesse perdida.
Mais que depressa, ele agarrou os braços dos amigos e os carregou para o corredor branco-cegante. Tamanha era sua concentração, que mal ele pôs os pés no piso espelhado e já foram arrastados de volta ao quarto de “Harry”.
- O que fazem aqui? – o professor não parecia muito satisfeito com a aparição repentina do trio. Harry estranhou o silêncio: não havia música no piano.
- Calma – disse Harry – apenas viemos buscar algumas resoluções.
- Como assim? – perguntou “Harry”.
- Apenas acho que seria uma boa idéia você apresentar aquelas suas dúvidas aos Especialistas – respondeu Harry.
- Que dúvidas? – Harry tentou não parecer surpreso quando viu Brandon surgindo de um canto menos iluminado no recinto – eu tenho uma: como chegaram aqui?
- Descobri, por acaso, que as propriedades desses corredores são muito úteis – Harry respondeu, com sinceridade.
- Interessante – Brandon coçou o queixo – pelo que sei você estava sem o seu mapa quando foi jantar. Foi uma sorte encontrar o salão, ou você devia estar mesmo com fome. E antes que pergunte não, eu não sou capaz de ler pensamentos à distância nem nesta ilha nem em nenhum outro lugar do mundo. Descobri a inutilidade disso faz pouco tempo, sabe, muito do que passa pela mente de uma pessoa é puro lixo, elas desistem facilmente dos seus planos. O que eu faço na verdade é uma radiografia das suas personalidades, com as quais construo os ambientes aos seus gostos, ou seja, faço um apanhado geral de tudo o que vocês poderão querer.
- Por que está nos dizendo isso agora? – perguntou Rony.
- Para que vocês, e principalmente você Harry, retomem a minha confiança. E por isso estou aqui, conversando com o “Harry” – ele apontou para o outro professor – que se mostrou uma pessoa incrivelmente interessante. É realmente interessante que vocês sejam a mesma pessoa! A mesma pessoa! Nossa isso nos pode ser útil! Mas o que aconteceria com um se o outro morresse? – Brandon ia assumindo um tom irônico, enquanto Harry permanecia em silêncio – acho que isso tudo é como dois rios que correm separados, mas muito próximos um do outro e com uma raiz comum...
- Você nos disse que não era capaz de nos decifrar à distância! – lembrou Hermione.
- Não seja tola! – disse Brandon – você vai sair correndo daqui e explicar isso tudo para Lavalle!
De fato, fazia alguns minutos que Hermione ia se encaminhando discretamente na direção da porta.
- Brandon, o que você pretende com isso? – Harry falou pela primeira vez.
- O que eu pretendo? – Brandon repetiu como se estivesse raciocinando – Pretendo fazer com que você entenda que está preso num ciclo vicioso! Não há alternativa à vitória de Voldemort se você não abrir mão de sua própria vida! Não há outro meio, você deve se sacrificar! – ele agora adotava um tom de súplica que causava pouco efeito – não há alternativa.
- SEMPRE HÁ ALTERNATIVA – “Harry” interveio, até mesmo ele parecia surpreso com a altura que sua voz podia alcançar – Além de considerar um grande erro aquilo que eu fiz, acho que a dor da perda e da privação de algo que se ama é bem maior que aquela de quem nunca teve. Que diferença faz se sou eu ou você? – os Harrys se entreolharam – o que importa é ter a vida de volta! E eu vou fazer o possível para que você consiga recuperá-la, Harry.
- PODEM FAZER O QUE QUISEREM! EU GARANTO QUE NÃO VAI DAR CERTO! MAIS CEDO OU MAIS TARDE VOCÊS VIRÃO ME PROCURAR NOVAMENTE PARA FAZER O QUE JÁ DEVERIA TER SIDO FEITO!
- CALE A BOCA! – ambos os Harrys gritaram em uníssono, enquanto iam saindo para o corredor, deixando Brandon sozinho no quarto e rumando rapidamente para o observatório.
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