Negociação
Eles retornaram ao pátio e rumaram até a porta onde se lia:
“Irmãos Librelato – Consertos de Órgãos e Pianos em Geral”
A placa em questão estava bem desgastada, e devia fazer séculos que ninguém via os irmãos Librelato.
Eles bateram na porta mais ninguém atendeu, Rony ficou preocupado:
- Calma Rony, tenho certeza de que ele é quase tão legal quanto Frederich – se bem que o professor havia sido bem diferente com eles quando os conheceu. Hermione abriu a porta.
O som histérico do piano dominava o ambiente quando eles abriram a porta do sobrado – muito maior por dentro do que aparentava ser por fora, o que levava a crer que era um edifício bruxo.
Os três ficaram em silencio, hipnotizados pelo perfeito balé dos dedos do bruxo. Eles passavam pelas teclas de marfim como se fossem feitos de borracha.
Mas o que mais impressionou Harry foi o fato de que conforme a música ia se intensificando, a sala começava a pegar fogo. Os livros nas enormes estantes cobertas de pó. Os vidros com licores e as taças de vinho começavam a explodir, e os cacos de vidro punham fogo nas cortinas. O fogo também descia pelos pés do piano, se espalhando pelo tapete, um vinil na vitrola começava a derreter. Mesmo assim, o professor continuava o seu número completamente alheio ao incêndio ao seu redor, executando as notas com perfeição de quem passa a eternidade estudando piano.
Quando a música acabou e ele fechou o teclado do piano, todo o fogo se extingiu completamente, e todos os objetos ficaram intactos.
CAPÍTULO 5 – NEGOCIAÇÃO
- Acho que é melhor retirar o que eu disse – sussurrou Hermione para Rony, antes que o professor começasse a admirar o trio em silêncio.
- O querem aqui? – ele perguntou, sua voz era fria como gelo e tão afiada quanto uma navalha. Não seria muito fácil sensibilizá-lo.
- Queremos os seus serviços – disse Harry, forçando para manter o tom de voz firme. Os olhos verdes do professor tinham exatamente o mesmo tom dos seus, e isso era perturbador.
- Sinto muito, eu não presto favores – ele voltou-se para o teclado do piano, mas antes que pudesse abri-lo novamente, Hermione o abordou:
- É uma coisa que só o senhor pode resolver – Harry achava estranho Hermione chamar aquele professor de senhor, na verdade, ele aparentava ter quase a mesma idade que eles, no máximo um ano a mais.
- Tem certeza? – ele encarou Hermione.
- Sim – ela respondeu – você é o único professor em toda a Grã-Bretanha, só pode ser você.
- Entendo – ele levantou do banquinho e foi até a porta, fechando-a. A luz que passava pelo vidro fosco e amarelado da porta dava um ar fantasmagórico ao cômodo, mas o professor acendeu um abajur e a claridade se restabeleceu – eu estou aqui há pouco tempo, alguns meses na verdade – ele foi servindo um pouco de licor de morango nos copinhos de cristal – tenho algumas coisas para fazer aqui. Depois eu vou... viajar por um tempo – por causa desse “tenho algumas coisas para fazer aqui”, Harry discerniu que ele ainda não havia contado a Voldemort como derrotá-lo.
- Pois eu fiquei sabendo que você estava aqui na cidade, os boatos correm, você sabe como é essa nossa condição ilegal, ainda mais nesses tempos, e o achei mais do que qualificado para um serviço que preciso fazer – começou Harry.
- O que você quer que eu faça? – ele perguntou de imediato, como se tivesse algo mais importante para fazer depois.
- Quero voltar no tempo – Harry disse, como se estivesse pedindo uma bicicleta ao Papai Noel. Rony e Hermione tentaram não parecer assustados.
- Inviável – o professor balançou a cabeça energicamente.
- Mas eu pensei que você pudesse – Harry reclamou.
- Inviável – o professor repetiu intransigente.
- Parece que não foi inviável para o Lord Voldemort, não é? – perguntou Harry, com sarcasmo.
O rosto do professor ficou inexpressivo.
- Tive dois anos de preparo, mas como você sabe a respeito de Voldemort?
- Isso não vem ao caso agora – Harry estava decido a arrancar alguma coisa do professor, algo que pudesse usar para obter a ajuda dele – mas acho que você não sabe com o que está se metendo.
- Me pareceu um negócio muito vantajoso, tomei conhecimento do que ele fez, mas ele parecia disposto a se retratar.
Harry segurou o riso, sabia exatamente o que aconteceria se Voldemort se arrependesse: era o único meio de unir as Horcrux numa só alma, mesmo assim, ele iria se autodestruir durante o processo.
- E como você tomou conhecimento do que ele fez?
- Isso não vem ao caso.
- E você acha que ele vai deixar você ao lado dele, num trono com uma coroa? – o professor não disse nada – ele vai matar você como fez com todos aqueles que ficaram em seu caminho! Ele vai usá-lo para depois jogar fora!
- Você parece ter muita experiência no assunto – além disso, acho que é impossível para eu, morrer.
- De causas naturais – lembrou Harry, que se surpreendeu como essa conclusão chegou à sua mente tão rápido.
- Verdade – concordou o professor – ninguém tentou me matar, ainda. Mas você parece ter muita experiência no assunto.
- Eu já me opus a ele – retorquiu Harry.
- Mas ele não o matou – o professor debochou.
- Matou sim – disse Harry, e o professor ergueu uma sobrancelha. Harry havia denunciado a sua identidade.
Alguém havia desaparatado do lado de fora, e imediatamente Harry entendeu por que o professor parecia estar com pressa: ele tinha um encontro marcado. E só podia ser com uma pessoa.
O professor apenas indicou com o dedo a porta que dava para uma sala adjacente. Os três esvaziaram imediatamente os copos e os repuseram na mesinha ao lado.
Antes que o professor pudesse atender a porta, Hermione fechou a porta do outro cômodo e murmurou:
- Lócus! Isso vai impedir Voldemort de usar o Homenum Revelio – ela esclareceu os dois.
- Olá! – Harry pôde ouvir aquela voz gelada novamente, fluindo através da porta. No entanto, não produzia o mesmo efeito de antes. Ele não estava com receios – pensei que devesse ouvir uma de suas melodias?
- Até o melhor dos gênios precisa de um pouco de descanso! – o professor riu.
- Espero que tenha a resposta para a minha pergunta – disse Voldemort, sua voz estranhamente descontraída. Harry compreendeu que eles tiveram muita sorte, pois o professor havia calculado errado o feitiço, se adiantando alguns meses antes da data que marcara com Voldemort.
Harry rezava para que ele não contasse que ele estava atrás daquela porta. Mas se ele fizesse isso, todo o seu trabalho seria jogado no lixo, pois não era aquele Harry que ele devia matar. Para isso seria preciso...
- ...que você derrote Draco Malfoy num duelo, na Mansão Malfoy, daqui dois dias. Belatrix irá lhe chamar enquanto você estiver vendo Grindewald, mas é bom se adiantar uns dois minutos. Isso irá assegurar a sua posse da Varinha das Varinhas. Só assim você poderá derrotar seu inimigo.
- Eu devo matar o Malfoy? – perguntou Voldemort, como uma criança que pede permissão aos pais para ir à montanha-russa.
- Não – o professor respondeu firme – é de extrema importância que Draco esteja vivo até o dia 2 de maio, pela manhã, que será o horário do seu duelo com Harry. Também é muito importante que você haja normalmente, para não levantar suspeitas ou alterar alguma coisa. Fique calmo e faça somente o que eu lhe disse.
- Perfeito – o riso de Voldemort poderia cortar até concreto – mas se não der certo, você sabe o que vai acontecer com você, não sabe?
- Claro que sei – ele respondeu, com muita calma – como lhe disse, eu estou preparado para tudo.
- Dia 2 eu vou lhe procurar – Voldemort foi saindo – para dar o seu pagamento.
Um momento depois, o professor abriu a porta, sua fisionomia havia mudado.
- Acho que mudei de idéia – ele disse – vou fazer o possível para ajudar vocês.
- Então por que você já não começou a ajudar não dizendo a Voldemort o que fazer? – reclamou Rony.
- Eu fiz o que deveria ser feito – o professor sorriu, pela primeira vez.
Quando os quatro estavam prestes a desaparatar, Harry perguntou:
- Professor, você não nos disse seu nome.
- É verdade – Hermione lembrou.
- Como você se chama? – perguntou Rony.
- Ah sim! Eu sou Harry, Harry Potter.
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