[13] Charlie



Charlie


por Priscila Louredo



Aquele era um dia de comemoração para a família Weasley e também para todo o mundo mágico. Além dos ruivos estarem reunidos para festejarem o terceiro aniversário de Victorie, filha de Bill e Fleur, todos haviam participado, pela manhã, da homenagem aos mortos na Batalha de Hogwarts, que acontecera cinco anos antes. Como o dia dois de maio se tornara feriado na comunidade bruxa, o comparecimento ao evento realizado nos jardins da escola, foi grande. Um sentimento de saudade e júbilo se misturava à felicidade da certeza de terem conseguido trazer de volta a paz e a tranquilidade que por tanto tempo almejaram.

Agora, no meio da tarde, Charlie já tinha perdido a noção de quanto tempo estava ali parado junto ao muro d'A Toca, observando Harry brincando com seu afilhado Teddy no quintal. Com cinco anos o menino estava cada dia mais parecido com a mãe. O ruivo riu daquela constatação ao mesmo tempo que sentia seu coração apertar. Os dois, mãe e filho, como metamorfomagos, poderiam mudar de aparência a todo instante, mas Charlie reconhecia em cada traço do garoto o rosto de Nymphadora. Dora. Se fechasse os olhos e se concentrasse só um pouco, poderia até mesmo ouví-la nas gargalhadas do filho...

- Eu achei realmente que você a tivesse esquecido.

A voz de Bill lhe tirou dos devaneios e Charlie evitou olhar diretamente para o irmão, para que este não visse seus olhos marejados.

- Não.

- Mas você deveria. Desde antes de... Bom, você sabe.

- Eu tentei. Só Merlin sabe o quanto. - Ignorando o apoio do irmão, Charlie virou-se de costas para Harry e a criança que ainda brincavam felizes no gramado e deixou o peso de seu corpo sobre as mãos sustentadas nas pedras do muro. Com a cabeça baixa, continuou: - Eu tento desde que ela me dispensou antes de terminarmos a escola, desde que ela conheceu Remus, desde que eu vi a maldita aliança dourada que ela usava.

- Eu sinto muito. De verdade. Mas quem viu você conversando com ela e Remus no meu casamento não dir...

- Lupin foi um grande homem e a fez feliz. Eu vi, no brilho dos olhos dela... - Charlie riu fracamente antes de finalmente encarar Bill. - O que mais eu poderia fazer? Eu a amava e vê-la feliz era tudo que importava para mim.

- Eu entendo... - Anuiu Bill penalizado.

O domador de dragões sentiu o peso das próprias palavras se juntando à saudade que nunca conseguira afastar. Balançou a cabeça com sofreguidão, voltando a encarar o chão, perdido em sentimentos que durante muito tempo procurara dominar.

- Eu poderia ter evitado, Bill. Ela passou correndo por mim um pouco antes, eu tinha acabado de chegar. Eu tentei me livrar, mas foi entrar no castelo e começarem os ataques... Eu tinha que ter ido atrás dela! Eu sabia que algo ia acontecer, eu senti!

- Chega! - Bill soou autoritário ao segurar o irmão pelo ombro que olhou-o como se tivessem evitado que se afogasse. - Isso é ridículo! Você sabe muito bem que não podia evitar. Você estava no meio de uma batalha, todos nós estávamos! Você ia atrás dela e faria o que?

- Receber a maldição no lugar dela seria a minha primeira opção - respondeu determinado.

- Não diga asneiras.

Bill empurrou-o impaciente e Charlie encostou-se no muro. Com um suspiro indicou Teddy com a cabeça antes de falar novamente.

- Se eu desse àquele menino ao menos mais um dia com a mãe, já teria valido à pena.

- Você tem que superar. Se destruir em auto comiseração não vai te fazer nenhum bem. Você tem que sair, conhecer novas pessoas, se deixar apaixonar novamente...

O crespúsculo já dava lugar à noite quando o chamado de Molly avisando que estava na hora de partirem o bolo, impediu que Charlie respondesse. Na verdade foi um alívio já que ele não tinha resposta para aquilo. Seu coração se recusava a bater em outro ritmo e por mais que tentasse, via o rosto de Nymphadora em cada uma das pessoas que passava por sua vida. Talvez fosse cedo pra dizer, mas ele sentia que seu destino era a solidão. Solidão em que há muito seu coração se encontrava e onde permaneceria até o fim de seus dias.

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