[1] - O Outro Dia (H/G)
Título: O Outro Dia
Autora: Sônia Sag
Conteúdo: O dia seguinte ao término da batalha de Hogwarts
Sinopse: Entre pesares e júbilos, o primeiro encontro de Harry e Gina em um mundo sem Voldemort.
O OUTRO DIA.
Gina abriu os olhos, emergindo de um sono profundo e conturbado. Fora acordada por uma sensação angustiante, após poucas horas de descanso. Tal sensação passou de seu coração para a boca em um único suspiro.
- Harry.
No sonho recente ela revira a cena desesperadora de Hagrid trazendo o corpo inerte de Harry nos braços, sob a gargalhada fria de Voldemort; e a emoção visceral que sentira naquele momento voltou, engolfando-a por alguns instantes. Foi com um misto de alívio e tristeza que a consciência do que realmente acontecera na antevéspera clareou-lhe os pensamentos, sem, entretanto, calar sua ansiedade. – Harry.
Jogou as cobertas longe, levantando-se num átimo. Enquanto se vestia as pressas, observou que Hermione já se levantara há algum tempo, a julgar por sua cama arrumada. Mal reparando no próprio reflexo pálido no espelho, terminou de se arrumar rapidamente e logo caminhava a largos e decididos passos pelos corredores, a procura de seu alvo.
Na tarde anterior, ela havia aceitado e compreendido o repentino sumiço de Harry, Ron e Hermione. Intuíra para onde haviam ido e não cogitara cobrar presença no momento que era deles três e da lembrança de Dumbledore, celebrada através de seu retrato na sala da diretoria de Hogwarts. Ao invés disto, passara o resto da tarde e a noite ímpar que a sucedera movimentando-se daqui para ali, auxiliando quem e no que pudesse.
O clima de comemoração arrefecera depois de algum tempo, sobrepujado em parte por conta das inúmeras, urgentes, e algumas extremamente dolorosas, providências que precisavam ser tomadas. Assim, Minerva McGonagall, novamente à frente da diretoria de Hogwarts, organizara junto com Quim Shacklebolt os bruxos ainda em condições físicas de ajudarem; e breve o castelo tornara-se uma colméia humana, repleta por feitiços de cura, reconstrução e limpeza que espocavam por todos os lados.
Antes de o Sol nascer pela segunda vez sobre o cenário da batalha, Gina havia consolado sua mãe, enquanto o pai e os irmãos cuidavam de Fred. Havia procurado e encontrado Jorge, que descarregava um pouco de sua silenciosa angústia com um bastão de batedor, contra as balizas do campo de quadribol. Diante da recusa muda em retornar para o castelo, Gina pedira a Lino Jordan que fosse ficar com ele. Ainda ficara algum tempo com Fred, para que os pais pudessem descansar um pouco. Sentou-se ao lado de Andrômeda Tonks na sala onde a vigília pelos que tombaram acontecia, e segurou-lhe a mão, permanecendo em silêncio enquanto olhava para o irmão. Fora rendida por Percy, que estivera trabalhando no castelo com Gui.
- Você deveria ir dormir, Gina! Mamãe disse que você não parou nem para comer... - Disse ele de forma triste, levando-a resolutamente para a porta.
Dormir? Ela não poderia. Sabia intuitivamente que não era hora para ficar só, entregue aos seus sentimentos. Precisava estar em movimento, fazendo algo... Não queria pensar. Não agora...
Quando os primeiros clarões do dia atingiram as paredes de pedra, uma McGonagall exausta, mas firme como nunca, segurou-a pelo braço, impedindo sua caminhada rumo ao salão principal em busca de alguma tarefa.
- Agora, você vai até o dormitório do sétimo ano e lá encontrará com Hermione, que já se recolheu há algum tempo. Daqui a pouco Madame Pomfrey levará algumas poções para vocês duas. Este será um longo dia, e precisam descansar pelo menos um pouco... Vá, menina! Sem discussões!
Relutante, Gina subiu lentamente o que sobrara das escadas de mármore.
De fato, Hermione estava no dormitório. Abraçada consigo mesma sob as cobertas e decididamente adormecida. Sorrindo para o leve ressonar, sinal do merecidíssimo descanso da amiga, Gina havia se recostado na cama próxima para aguardar Madame Pomfrey e sua poção que presumidamente a faria desligar-se, o que julgara difícil acontecer.
Voltando ao presente, bufou para si mesma, já às portas do salão. Adormecera tão rápido e por tanto tempo, que sequer falara com a amiga, e agora a manhã já andava pela metade. Encontrou Ron e Hermione, conversando entretidos por sobre o tampo da mesa da Grifinória. Rumou para lá, com o coração aos saltos. Esperara. Dera tempo. Agora era chegada a hora.
- Onde está o Harry? – Perguntou, pousando a mão no ombro de Ron, que se surpreendeu com seu “cumprimento” afoito.
- Gina! Bom dia para você também! – Embora houvesse sinal claro de troça, o tom do irmão estava mais calmo e maduro do que ela se lembrava.
Respirando fundo, Gina controlou-se e procurou sorrir para Hermione.
- Bom dia, para vocês dois! – Depois da resposta resmungada de Ron e sorridente de Mione, ela repetiu – E o Harry?
- Nós estamos bem sim, nenhum ferimento grave...
- Ron - atalhou Hermione, apaziguando - não é hora para isso, concorda?
O ruivo sorriu manso para ela, piscando, e então levantou e voltou-se solenemente para a irmã.
- Ele ainda está no dormitório. Coincidentemente, foi tão amável e tranqüilo quanto você quando nos disse com todas as letras que se era para tomar café bancando o castiçal, preferia esperar para tomar com voc... Ei! Gina! – Vendo os cabelos flamejantes da irmã já sumindo pela porta, Ron voltou a sentar-se de frente para Mione, sorrindo de canto. – Quanta pressa, não?... Acho que eu deveria ir com ela. – Hermione lançou-lhe um olhar significativo, que o fez alargar o sorriso. – Não! Vou ficar por aqui. Nós também temos uma conversa por terminar...
Gina passou silenciosamente pelo buraco do retrato, e atrás dela veio Monstro, com uma enorme bandeja cheia de delícias matinais e suco de abóbora. A refeição fora um pedido da moça, e o elfo prontamente arranjara “o desjejum de meu mestre e a jovem Weasley”.
- Se precisarem de mais alguma coisa, basta chamar Monstro. – Disse o baixinho, depois de depositar a bandeja em uma das mesas do salão comunal, enquanto Gina torcia as mãos, vasculhando a sala com o olhar. Após o agradecimento sincero da moça, o velho elfo quase sorriu. Despediu-se e sumiu com uma leve, mas inequívoca, reverência.
- Bom dia, Gina! O Monstro parece gostar de você...
Tratando de diluir a decepção certa em sua expressão ao ouvir a voz conhecida, a ruiva preparou-se para cumprimentar o amigo Neville, que vinha descendo as escadas dos dormitórios, virando-se para ele com um sorriso.
- Olá, Nevil...
Não reparou que Neville afastara-se do caminho com um sorriso cúmplice. Nem que ele saiu rápida e discretamente do salão comunal, roubando um bolo de caldeirão da bandeja no caminho, e nunca ficou sabendo que o gentil Neville negara acesso a quem quer que fosse àquele aposento, por um bom tempo. Por longos momentos Gina Weasley só conseguiu olhar para Harry Potter.
O homem a sua frente retribuiu intensamente esse olhar, e então sorriu. Nesse momento a fortaleza se quebrou dentro de Gina.
Harry abraçou-a apertado quando ela se encaixou em seus braços, agarrando suas vestes como se precisasse impedi-lo de se afastar, enquanto enterrava o rosto em seu peito. Assim, ele a embalou suavemente, enquanto ela desabafava em soluços contidos e abafados meses de revolta, medo, saudade e tristeza. A dor pela morte de Fred e dos amigos, o choque de imaginar Harry morto e a felicidade e orgulho indescritíveis ao redescobri-lo vivo e vencedor. Tudo isso ela chorou em seu abraço, finalmente deixando as emoções fluírem, até o alívio acalmá-la aos poucos.
- Droga, eu nunca choro.
Harry sorriu ao ouvir as palavras abafadas. A coragem de Gina era admirável. E seu gênio apaixonante. Soltando um dos braços, ele ergueu o queixo da garota delicadamente até que os olhos castanhos lacrimejantes encarassem os seus.
- Você está melhor?
- Estou... Mas, não era assim que eu tinha imaginado essa cena. – Admitiu, corando um pouco.
A criatura no peito de Harry remexeu-se, esperançosa.
- E como foi que você a imaginou?
- Basicamente, eu não estaria de olhos inchados e fungando...
Harry riu.
- Você me contava tudo pelo que passou, cada detalhe, sentimento ou sensação, e eu seria solidária, oferecendo meu apoio e admiração incondicionais. Nada de choro de minha parte, definitivamente! – Antes que Harry pudesse comentar, ela balançou de um lado para o outro em seus braços, lançando-lhe um olhar matreiro. - Só uma coisa está de acordo...
- E isto seria?...
Gina correu as mãos por seus braços até cruzar os dedos em sua nuca, e chegando abençoadamente mais perto, decretou suavemente:
- O lugar. Era bem aqui que eu imaginava estar.
A criatura em seu peito sapateou, saudosa – “O que é que você esperando, cara?”.
Harry encostou a testa na dela.
- Eu te acho linda, rindo, flertando, lutando, fungando ou de qualquer maneira que seja. Eu sempre soube que podia contar com você, e agora não é diferente. Sobre contar o que aconteceu... Eu farei isto, mais tarde. Agora há só uma coisa que eu quero que você saiba...
- E isto seria?...
Aconchegando-a melhor junto a si, Harry olhou em seus olhos por um tempo imensurável, antes de responder.
- Em pé, diante de Voldemort, meu último pensamento foi para você... Sobre você.
O coração de Gina falhou várias batidas e ela não conseguiu encontrar a voz.
- Quer saber qual foi?
Ela concordou com a cabeça, emocionada.
E Harry lhe mostrou. Muitas vezes. Pelas vidas afora...
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