Capítulo I



O neon vermelho do letreiro iluminava levemente aquela parte da rua escura e acabava se multiplicando, refletido em uma poça d água formada pela chuva que caíra horas antes. Becos escuros, gente estranha e nada confiável... Definitivamente aquele lugar não lembrava em nada a área nobre da cidade que estava acostumado a freqüentar; E definitivamente havia agido corretamente ao decidir não aparatar ali, pois certamente teria sido visto.


 


“Diamond´s Club – Não acredito que terei que colocar meus pés nessa pocilga!” – reclamou o loiro mentalmente logo que o motorista parou em frente ao clube noturno, indicado como ponto de encontro. Por mais que não estivesse nada satisfeito com a escolha do lugar, Draco Malfoy, empresário bem sucedido e sempre à procura de mais poder e influência, não era um homem acostumado a perder dinheiro ou o que quer que fosse, e diante dos interesses que o levaram até ali, não hesitou e adentrou no estranho estabelecimento à procura de Ted Carson.


 


A cada passo, o loiro jovem e elegante se incomodava mais com o ambiente; Pouca luz, mesas pequenas, muito uísque e o excesso de fumaça cigarro, que criava praticamente uma neblina, que acabava por dificultar a visão do pequeno palco instalado ao fundo, onde jovens dançavam, recebendo gorjetas por sua exibição. “Deprimente!” – pensou o rapaz, visualizando Ted, sentando na companhia de uma garota em uma das mesas mais ao fundo.


 


Caminhou lentamente até o homem, enquanto tentava livrar-se do pesado sobretudo que havia sido parcialmente molhado pela chuva; Gesto que chamou a atenção de boa parte das moças que se exibiam por ali.


 


-Malfoy! – cumprimentou Ted animado, fazendo um sinal para que a garota que lhe fazia companhia se retirasse.


 


-Carson. – Draco retribuiu o cumprimento sem a mesma intensidade e aceitou a cadeira que lhe era oferecida.


 


Ted Carson era um homem de meia idade, pouca estatura e um tanto roliço, mas sua aparência pacata e por vezes simpática, escondia uma raposa. Sabia perfeitamente o que trazia o jovem e rico Draco Malfoy até seu clube e estava realmente disposto a aproveitar-se ao máximo da situação.


 


Draco queria ir direto ao ponto e sair daquela espelunca o mais rápido possível. Mas Ted não pensava assim; Queria tempo, tempo para arrancar-lhe mais dinheiro. E passou a esquivar-se das indagações de Draco, chamando-lhe a atenção para uma das garotas que se encontrava por ali.


 


- Veja que maravilha, meu caro senhor Malfoy! – dizia o homem observando fixamente uma garota que se exibia no palco.


 


- Sim, estou vendo. – disse o loiro sem emoção.


 


Era de fato uma garota bonita, mas sem nenhum traço de sofisticação e extremamente vulgar, na opinião de Draco, que educadamente concordou com seu anfitrião, somente para não contrariá-lo e em seguida, voltou a insistir que tratassem de negócios.


 


Mas Ted, de fato, não parecia ter nenhuma pressa. Abriu um largo sorriso, quando a moça que observava desceu do palco e veio sentar-se em seu colo e tomou por completo sua atenção. Cena que deixou Draco profundamente irritado.


 


Divertindo-se com a situação, o homem sugeriu a Draco que ele também aproveitasse um pouco a noite e lhe ofereceu a garota que desejasse, mas o rapaz prontamente o recusou. Em Londres ou em qualquer outra parte do mundo, ele podia ter a mulher que desejasse, bruxas sangue-puro, de famílias nobres e sem nenhum custo... Jamais iria se sujar com uma dançarina de quinta categoria.


 


Ted estava cada vez mais entretido e Draco cada vez mais irritado. A cena que se desenrolava a sua frente era patética e impaciente o loiro procurava olhar para os lados, até que seu olhar se deteve em uma jovem.


 


Ela estava de costas, servindo uma mesa, provavelmente uma garçonete. Trajava um vestido preto nem tão curto, mas que realçava perfeitamente suas formas.  Os cabelos pareciam querer-se libertar a qualquer preço do coque que os prendia e mesmo de longe, ele podia ver que era linda.


 


Permaneceu observando a garota hipnotizado por alguns instantes, mas ela não se virou. Ted percebeu o que se passava e rapidamente interferiu:


 


- Não se preocupe, vou trazê-la até aqui, mas desde já aviso, esta é apenas para olhar e nada mais. – disse o homem fazendo um sinal com as mãos.


 


Em poucos segundos, Hermione Granger se aproximava com uma bandeja nas mãos, deixando um Draco Malfoy completamente atônito. “Não pode ser Hermione Granger... O que ela faz num lugar como esse? o que aconteceu com a aluna mais promissora de Hogwarts? Ela podia ter seguido a carreira que quisesse... O que fazia trabalhando num lugar como aquele?” – perguntava-se o loiro em uma velocidade absurda.


 


A garota permanece impassível. Sua expressão não se altera nem por um segundo. È como se jamais tivessem se visto antes. Mas Draco sabe que não é verdade e que provavelmente ela está apenas fingindo que não o conhece.


 


- Desejam algo para beber? – ela pergunta aparentando cansaço.


 


- Dois uísques. – responde Ted achando graça da expressão de Draco, que permanecia completamente detido na garota.


 


De fato, a visão de Hermione ali, tirara completamente sua concentração. Não se lembrava de Ted e nem dos motivos que o levaram até aquele inferninho trouxa no subúrbio de Nova Iorque... Agora tudo que lhe interessava era descobrir o que havia acontecido a Hermione Granger.


 


Enquanto a moça se afastava para pegar as bebidas, Ted tratou de alertar a Draco:


 


- Essa aí é encrenca! Ela não permite nenhum tipo de aproximação e recusa excelentes propostas dos clientes. Não gosto do jeito dela, já me deu muitos prejuízos – reclamou Ted.


 


- E por que a mantém aqui? – quis saber o rapaz curioso.


 


- Não sei como, ela enfeitiçou o meu melhor cliente. Ele vem aqui somente para vê-la; Não admite ser atendido por outra garçonete. – respondeu Ted suspirando.


 


A garota retorna com as bebidas e percebe que ambos deixaram de falar assim que se aproximou. “O que ele faz aqui?” – pergunta-se enquanto serve uma dose de uísque. Draco a encara, deixando-a nervosa, mas e ela se esforça para não deixar transparecer e faz de tudo para sair dali o mais rápido possível.


 


De longe, observa a mesa e somente quando vê Draco se despedir de Ted e sair pela porta consegue voltar a respirar. Há anos não via ninguém de seu passado. Um passado que a cada dia ficava mais distante em sua mente e em seu coração. Muitas vezes, Hermione quase acreditou que todos aqueles anos em Hogwarts não haviam passado de um sonho, de um delírio de menina.


 


Agradeceu quando finalmente terminou seu turno, as cinco da manhã. O sol já começava a iluminar o céu e o vento soprava frio. Já não podia se dar ao luxo de gostar do inverno como antes, agora sua vida era outra e já não tinha tantos meios para suportar bem a estação. Saiu pela porta dos fundos como de costume e caminhava lentamente, abraçando o próprio corpo, numa tentativa inútil de aquecê-lo.


 


Draco a observa do seu carro de luxo, oportunamente estacionado do outro lado da rua. Ele espera alguns segundos até que ela se afaste do bar, dá a partida e se aproxima, oferecendo uma carona, mas ela prontamente recusa.


 


- Tem certeza? Acho que vai congelar aí fora... – ele tenta convencê-la.


 


- Agradeço a preocupação, mas não me importo com o frio. – ela responde e segue andando.


 


Mas Draco Malfoy não está acostumado a receber um “não” como resposta e não desiste. Estaciona o carro, veste o casaco e a acompanha. A atitude inesperada do rapaz, faz com que Hermione perca o pouco controle que ainda lhe resta e assim se inicia uma discussão ferrenha no meio da rua, ainda adormecia.


 


- Você é uma teimosa, Granger! Teimosa e fracassada! – berrou o rapaz perdendo a paciência e enquanto observava a garota apertar o passo, para manter distância.


 


Ao ouvir aquelas palavras, Hermione sente seu coração ser tomado por uma intensa mágoa. Com passos firmes ela dá a volta e vai ao encontro do loiro, encarando-o raivosa.


 


- Não sou idiota! Sei bem o que você quer e não pretendo interferir! – começou a castanha.


 


-Eu só quis ser gentil e oferecer uma carona para uma velha conhecida. – defendeu-se Draco um tanto confuso.


 


- Mentira! Você jamais quis ser gentil! Queria apenas descobrir mais detalhes, para que ficasse mais divertido rir depois.


 


Por algum motivo, o loiro não consegue contradizê-la e a garota continua:


 


- Você só quer tripudiar e rir de mim! Imagine! A melhor aluna de Hogwarts, melhor amiga do rico e famoso Harry Potter, agora garçonete de uma bar de quinta em Nova Iorque! Deve realmente te parecer uma grande piada! – ela diz magoada.


 


Ele a olha e não pode ficar indiferente a tristeza que transborda em seu olhar. Não entende como, mas sente que não pode simplesmente deixá-la ir, não daquele jeito e volta a segui-la.


 


- Quer parar de me seguir? – briga Hermione parando novamente de andar.


 


- Não. Não recebo ordens de ninguém, muito menos de você!– responde com sinceridade somente para provocá-la.


 


Está cada vez mais frio e rua começa a ganhar vida. Pessoas surgem de todos os cantos e muitos param para ouvir a briga do casal, que continua se ofendendo. Draco está cada vez mais incomodado com a situação e se pergunta o que faz ali. Hermione tenta mandá-lo embora mais uma vez, mas o loiro perde a paciência e inverte as coisas:


 


-Se não quisesse que eu te seguisse, teria aparatado!Mas ao invés disso, passou caminhando devagar na minha frente! – acusou o rapaz, deixando a moça indignada.


 


- O que faço ou deixo de fazer não é da sua conta! – esbravejou.


 


- Ora, admita! Queria minha atenção! Queria que eu te seguisse! – afirmou Malfoy.


 


- Não! – ela tentava se defender caindo na armadilha.


 


- Claro que queria, pensa que sou bobo! Você poderia ter saído daquele bar sem que eu jamais tivesse idéia do seu paradeiro! – acusou Draco fazendo com que a garota se descontrolasse.


 


- Eu não podia! Eu não sou mais uma bruxa! – disse sem pensar, deixando escapar algumas lágrimas.


 


Draco não consegue acreditar no que escutou e permanece parado, enquanto a observa desaparecer correndo em meio aos transeuntes. Derrotado, volta para casa e se vê as voltas com uma nova obsessão: descobrir o que aconteceu a Hermione Granger.


 


Nos dias que se seguem, ele não consegue se concentrar no trabalho e em nada. Tudo o que lhe interessa é saber sobre ela. Usa toda a sua influência e através de contatos descobre que Hermione foi gravemente ferida durante a guerra e depois disso, parece ter sido completamente apagada do mundo bruxo.


 


Tudo aquilo é surreal demais para o loiro. Potter e Weasley jamais a deixariam sozinha, ainda mais vivendo daquela maneira; Algo estava errado. E cada vez mais, Draco Malfoy sentia necessidade de desvendar aquele mistério.


 


Decidido, o rapaz retorna a Nova Iorque e suborna um funcionário do clube para que lhe dê o endereço de Hermione. Precisam conversar. Era um prédio muito simples, localizado há poucas quadras do bar. A fachada suja e decadente denunciava que a vizinhança não era das melhores, mas o apartamento surpreendia pela limpeza e organização. Cores suaves, flores e muitos livros – “È a cara dela!” – pensou o rapaz. “Por que a melhor bruxa entre todas simplesmente abriria mão da magia?” - ele pensa quando é surpreendido por um miado agudo.


 


- Não acredito que essa bola de pelos ainda exista! – pensou alto enquanto mirava o gato de pelos alaranjados.


 


- Pois eu não acredito que você ainda exista e que tenha invadido meu apartamento! – brigou Hermione zangada.


 


Draco não diz nada. Não consegue dizer nada... Apenas a olha de cima a baixo, sem se preocupar em disfarçar o interesse. Não sabe como explicar, mas ela simplesmente o atraí como um imã e o deixa sem reação.


 


Hermione percebe de cara o que está acontecendo ali e incomodada, tenta acabar com aquela situação o mais rápido possível:


 


- Diga o que quer e vá embora! – falou seca.


 


Ele dá um passo em sua direção e ela automaticamente recua, fazendo-o parar.


 


- Quero saber o que aconteceu – admite o rapaz.


 


- E por que se interessa?- ela questiona.


 


- Quero saber por que você desistiu de tudo... – insiste o loiro.


 


-Tudo o quê? – ela tenta desconversar. – Quem te disse que eu desisti de alguma coisa?


 


- Desistiu da sua vida, de um bom emprego e até daqueles imbecis que chamava de amigos...


 


Ela o olha e ri amargas, ao ouvir a palavra “amigos”.


 


- Você não sabe de nada! Eu não desisti de nada, porque não se pode desistir do que não se tem!  Agora, por favor, vá embora! Eu estou cansada e preciso dormir! – pediu a moça.


 


- Ah, claro! Você deve realmente está cansa... Tantos homens querendo te comprar o tempo inteiro... – disse o loiro com raiva.


 


-Fora daqui! – gritou Hermione empurrando o rapaz com toda a sua força.


 


Mas Draco era bem mais forte e antes que ela pudesse raciocinar, ele a segurou pelos pulsos e a dominou completamente, mantendo-a bem próximo de si. A vontade de beijá-la era quase que incontrolável, mas o loiro voltou a si e a soltou antes de cometer tal loucura.


 


- Eu vou embora. Mas não se livrou de mim! – disse aparatando para sua casa.


 


Desolada, Hermione chorou pensando porque o destino era tão cruel, por que ele tinha que aparecer e fazê-la reviver todas as lembranças tristes e tudo o que sofreu.


 


Flashback:


Jonh e Alice Granger concordaram com o pedido da filha, que durante dias insistiu para que partisse para a América. Hermione sentia-se profundamente aliviada em saber que os pais estariam afastados de Londres naquele momento.


 


Os ataques eram constantes e comensais estavam por toda parte; A casa da família já não era um local seguro... No entanto, naquela manhã não poderia acompanhá-los ao aeroporto, pois havia sido designada para uma missão.


 


Três dias depois, ao retornar ao quartel general, Rony e Harry estavam a sua espera, junto com a pior notícia que já recebera em sua vida: já não tinha mais uma família.


Fim do Flashback


 


Deixou o corpo escorregar pela parede, até encontrar o chão; Era muito difícil ter que encarar lembranças tão dolorosas. Mais uma vez, sentiu-se completamente sozinha no mundo e cedeu as lágrimas.


 


Longe dali, um loiro se encontra jogado no sofá ao lado de uma garrafa de firewhisky, pensando na garota que depois de tantos anos voltava a atormentar sua mente.


 


Durante os anos de Hogwarts, Draco havia feito de tudo para descontar suas frustrações em cima daquela menina, a CDF desajeitada que sempre tinha resposta para tudo e de seus amigos. Eles formavam um trio perfeito e inseparável; Seriam amigos para a vida toda, enquanto ele, o rico e poderoso Draco Malfoy se via cercado por Crabbe, Goyle e Pansy: amigos falsos e uma vida somente de aparências; Nenhum sentimento bom, nenhuma boa lembrança. Não tinha nada além de si mesmo e de seu dinheiro.


 


Mas agora tudo era diferente. Ela já não era aquela garota, havia se tornado uma mulher linda, misteriosa e que parecia trazer consigo um fardo muito pesado. Talvez por isso mexesse tanto com sua cabeça. Ela também estava sozinha e perdida, assim como ele... Só não entendia como e porquê, mas estava disposto a tudo para descobrir.


 

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