Capitulo 2



Capítulo 2


 


O caminho de volta para o castelo fora feito em completo silêncio. Hermione parecia imersa em pensamentos, sua expressão de concentração no rosto cheio de sardas do ruivo parecendo completamente fora do lugar. Rony nunca achou que poderia ver seu rosto tão concentrado e sério. Ele não era assim. Hermione, obviamente distraída dentro de sua própria mente, tropeçou no primeiro degrau que os levava de volta ao corredor do quarto andar e se Rony, mesmo com sua estatura baixa e falta de agilidade, não tivesse a segurado, ela provavelmente cairia de cara no chão.


 


- O-obrigada. – Foi tudo que Hermione disse, enquanto se encaravam. Era tão estranho para Rony olhar para seu próprio corpo, para seus próprios olhos azuis e ainda reconhecer Hermione neles. Era como se os olhares dela fossem únicos demais para serem confundidos, mesmo com a cor dos olhos diferentes. E ele se perguntava como Gina não havia percebido que eles estavam com os corpos trocados.


 


- Hã... então, o que faremos? – Rony limpou a garganta, percebendo que seus pensamentos os deixaram em um silêncio incômodo. Pegou o Mapa do Maroto para ver se não havia ninguém no corredor quando saíssem.


 


- Eu não sei. – Hermione respondeu, ainda parecendo imersa em pensamentos. – Se eu puder descobrir qual é a magia anciã estamos sob efeito, talvez...


 


- Isso pode levar dias! – Rony respondeu, desesperado. Ele não ia suportar ficar no corpo dela sabe-se lá até quando! Uma ideia brilhante passou pela sua cabeça. – Porque não usamos Polissuco?! Podemos trocar de volta até descobrirmos o contra-feitiço disso.


 


- Seria uma ótima ideia... – Hermione respondeu assim que pisaram de volta nos corredores do castelo. Rony fechou a estátua com sua varinha, mas ficaram parados ali mesmo. – Mas uma poção como essa, além do seu uso ser ilegal em alunos, é muito complexa...


 


- Mas Hermione... – Ron tentou argumentar.


 


- E demora um mês para ser feita. – Hermione o cortou, desanimada. – Eu espero que nós não fiquemos assim por tanto tempo.


 


A garota começou a andar em passos lentos rumo ao que Rony imaginava ser a biblioteca. É claro que era lá que a garota procuraria respostas, mas Rony duvidava que eles fossem achar alguma coisa nos livros. Fred e Jorge não eram do tipo que procuravam novas ideias para seus logros numa biblioteca. Não, não, eles eram brilhantes demais para isso.


 


- Talvez podemos nos transfigurar? – Ele tentou novamente. Era uma solução temporária, mas já era alguma coisa, certo?


 


- É de certa forma simples transfigurar alguma característica sua, como a cor dos olhos ou o comprimento do cabelo, mas transfigurar o seu corpo todo para parecer exatamente outra pessoa... – Hermione falava quase para si mesma, andando agora a passos largos. Rony tinha certa dificuldade de acompanhá-la com as pernas curtas do corpo da morena.


 


- É melhor do que nada! – Rony respondeu irritado pela falta de entusiasmo com suas ideias.


 


- Certamente é uma ideia. – Hermione respondeu em um tom gentil, como quem pede desculpas. Eles já estavam nos corredores que levavam à biblioteca.  – Mas teremos que praticar muito até conseguirmos um bom resultado.


 


- Então vamos começar! – Ron segurou o braço de Hermione, fazendo-a parar. Os dois se entreolharam, e Hermione parecia dividia em continuar seu caminho até a biblioteca ou seguir a ideia de Ron. Ele ergueu as sobrancelhas, inquieto. – Você não quer continuar assim para sempre, não é?


 


- Deus, não. – Hermione respondeu, soltando o ar dos pulmões. Tentando não se sentir ofendido pela resposta sincera da garota, Rony a puxou pelos braços rumo aos jardins do castelo. O ruivo tinha a impressão que seria melhor tentarem aquilo longe dos olhos curiosos do salão comunal da Grifinória. Ou de Harry e Gina. Ainda segurando o braço de Hermione, ele imaginou que ela pensava exatamente o mesmo que ele, já que ela andava ao seu lado com a expressão de concentração de volta em seu rosto. Seu domingo calmo e relaxado ia por água abaixo!


 


***


- Certo. – Hermione começou em seu tom ‘sabe-tudo’ quando finalmente chegaram a um canto isolado dos jardins do castelo. Pela bondade de Merlin, Rony pensou, eles não tinham esbarrado em ninguém conhecido e os poucos olhares desconfiados que receberam foram de alunos das outras casas. Provavelmente eles estavam se perguntando o que diabos Ron ‘Rei’ Weasley, o astro dos aros do quabribol estava fazendo com a monitora chefe chata e sabe tudo? Ou talvez o que Hermione Granger, a bruxa mais inteligente desta geração, topo da classe em todas as matérias estava fazendo com o preguiçoso e mediano Ron Weasley. Rony tremeu com seus pensamentos e tentou se concentrar no que Hermione dizia. - ...então devíamos fazer assim.


 


- Ahm... certo, o que você achar melhor. – ele respondeu, sentando-se em uma grande pedra lisa. Eles estavam perto do lago negro, que parecia perto de congelar devido aquela época fria do ano.


 


- Você ouviu alguma coisa do que eu disse, Ronald? – Hermione perguntou com as mãos na cintura. Oh não, essa pose de gay de novo não!


 


- Umn... não. – Rony respondeu, olhando para as próprias mãos, envergonhado. Nem se lembrara de ficar irritado por ser chamado pelo nome completo.


 


- Vamos começar por pequenas partes, como o cabelo, ou os olhos. – Hermione disse, parecendo esquecer sua irritação. – Podemos nos concentrar nos detalhes olhando para o rosto do outro.


 


- Certo. – Rony respondeu, olhado para seu corpo parado ali a sua frente. Não era uma ideia muito agradável ter que se concentrar em seus mínimos detalhes. Talvez... se ele deixasse de fora algumas sardas alguém notaria? – Você começa.


 


Hermione assentiu e tirou a varinha que pertencia a Ron do cós da calça. Apontando para uma pequena pedra entre eles, ela girou a varinha no ar de forma precisa e, com um feitiço não verbal, a pedra se transfigurou em um pequeno espelho quadrado. Rony soltou uma exclamação baixa de admiração e Hermione, parecendo sem graça, abaixou-se e pegou o pequeno objeto. Depois de algum tempo apenas encarando Rony nos olhos, o que o deixou ligeiramente desconfortável, ela apontou a varinha para si mesma.


 


Rony observou, atônito, seu grande e pontudo nariz se transformar em um pequeno nariz arredondando, e ligeiramente arrebitado na ponta, como ele sabia ser o nariz pertencente ao corpo de Hermione. Fazendo uma careta pela combinação excêntrica de seu rosto, tentou se concentrar em alguma parte de seu corpo, para transfigurar o corpo de Hermione. Olhou para suas grandes mãos cheias de calos e para a delicada e pequena mão de Hermione em seu corpo. Suspirando, ainda com os pensamentos anteriores, se concentrou ao máximo e recitou o encantamento em sua mente. Sentiu os dedos formigando e, em questão de segundos, encarava novamente sua mão grande, pálida e cheia de sardas.


 


- Ficaram ótimas Ron! – a voz admirada de Hermione fez com que ele olhasse finalmente para cima e, com um solavanco no estômago, percebeu que Hermione estava parada a sua frente, bem próxima, com suas mãos estendidas acima da sua. Ron sentiu seu peito rugir de felicidade pelo elogio enquanto encarava os dois pares de mãos idênticos.


 


- Acho que esqueci um punhado de sardas por aí... – ele brincou, dando de ombros, fazendo Hermione rir. – Agora é a sua vez.


 


- Certo. – Hermione respondeu, se concentrando novamente no rosto de Ron. O ruivo sentiu suas bochechas esquentarem pela intensidade do olhar, e limpou a garganta tentando afastar a incômodo. A expressão de concentração se intensificou no rosto de Hermione-no-corpo-de-Ron e os olhos azuis escureceram-se, tornando-se um tom escuro de avelã. Ela levantou o espelho e observava o resultado do feitiço, parecendo contrariada.


 


- O que foi? – Ron perguntou, sem conseguir se conter. – Eles estão perfeitos.


 


- Eu não gosto muito da cor dos meus olhos. – Hermione respondeu, dando de ombros. – São tão... castanhos.


 


- Eles são ótimos! – Rony disse, sem conseguir se conter novamente. Ela não podia achar que os olhos de chocolate meio amargo dela eram sem graça!


- Eu sempre quis ter olhos claros... – Hermione respondeu, com as orelhas corando. – Como os seus... ou como os olhos de Gina, tão claros que parecem mel.


 


- Eles são péssimos para andar no Sol. Não dá pra enxergar nada! – Ron brincou, tentando não se sentir feliz pelo elogio e falhando, obviamente.


 


- É... acho que sim... – Hermione sorriu sem graça, olhando para os próprios sapatos. – De qualquer forma, é a sua vez.


 


Olhando para Hermione em seu corpo, Rony tentou pensar no que deveria transfigurar em seguida. Talvez se fizesse alguma coisa realmente engraçada faria com que ela se esquecesse da ideia ridícula da cor dos olhos. Por Merlin, ela tinha os olhos mais expressivos e perfeitos de todo o castelo!


 


Olhos expressivos?! Oh, merda, estou começando a pensar como uma garota!


 


Balançando a cabeça com os próprios pensamentos sem sentido, o ruivo finalmente decidiu o que faria a seguir. Concentrou-se e, em questão de segundos, sentiu os fios encaracolados de Hermione se encurtado, se alisando, e tornando-se da tonalidade chamativa de vermelho que ele conhecia. Sem pensar duas vezes, pegou o espelho das mãos de Hermione, que ainda não olhara para ele, e fizera uma expressão deliberadamente séria.


 


- Umn... acho que você realmente não combina com cabelos vermelhos, Hermione. – ele disse ainda com uma expressão deliberadamente profunda. Hermione o encarou surpresa e sua gargalhada alta ecoou pelas nuvens carregadas de neve sobre os jardins do castelo. Rony levantou-se e, numa expressão que esperava ser parecida com a de Gina, disse numa voz mais fina e manhosa. – “Vem Harry, vamos dar uma voltinha!”


 


- I-isso... – Hermione tentava segurar o próprio riso, e sentou-se na pedra que Rony acabar de desocupar. Depois de respirar fundo por alguns segundos e se recompor, ela finalmente voltara a falar. – Isso foi brilhante!


 


- Ah... – Rony coçou a nuca, sentindo-se confiante e desconfortável ao mesmo tempo. Como isso era possível? – Anos de prática... espere só até ver minhas imitações da minha mãe.


 


- Bom... se eu a conhecesse talvez soubesse como é boa a imitação... – Hermione respondeu, ainda sorrindo.


 


- Você poderia passar o Natal lá em casa. – Rony disse sem pensar. A expressão surpresa de Hermione fez com que todos os seus cabelos da nuca, agora ruivos, se arrepiassem. – B-bom... se você quisesse é claro. Saber como são boas a imitações... – Terminou, sentindo suas bochechas quentes. Certo que corara, amaldiçoou-se internamente. Ele não tinha planejado dizer aquilo em voz alta.


 


- Meus pais querem que eu vá esquiar com eles no Natal... – Hermione respondeu devagar, como se medisse cada palavra. Suas orelhas se fundiam nos cabelos vermelhos do corpo de Ron. Como ele era idiota! – Mas... a-acho que eles não se incomodariam se eu não fosse. Quer dizer, eu odeio mesmo esquiar e eu... bom, eu não conheço realmente como é um Natal completamente bruxo...


 


- Não se anime tanto... – Ron logo falou, tentando não explodir de vergonha e excitação ao mesmo tempo. – Quer dizer, não é lá grandes coisas sabe. Mamãe coloca umas músicas terríveis no rádio e temos que ouvi-las durante todo o dia e A Toca fica cheia de gente tão barulhenta que é impossível ouvir os próprios pensamentos e... – sua voz morreu quando finalmente colocou a imagem completa em sua cabeça, não percebendo o olhar interessado de Hermione. Ele não podia levar Hermione para sua casa! Toda sua família barulhenta, os presentes de segunda mão, a casa entulhada de coisas trouxas quebradas do seu pai... Os gêmeos pregando peças em todo mundo... Hermione odiaria! Ela provavelmente era acostumada a passar um Natal calmo com seus pais, lendo livros à beira da lareira em sua casa grande e brilhante...


 


- Parece fascinante. – Hermione respondeu, parecendo incomodada com o silêncio e a expressão compenetrada de Rony. É claro que ela adoraria conhecer a família Weasley. Gina sempre falara deles com tanto carinho que Hermione se pegava invejando sua melhor amiga. Mas a ruiva nunca a tinha convidado para conhecer A Toca. Ela sabia que metade da culpa era dela e de Ron que, desde que se conheceram num vagão do trem indo para Hogwarts, nunca se deram bem.


 


- Na verdade é bem chato. – Ron deu de ombros, tentando pensar em um jeito de sair daquela situação. Como que se esperasse por um deixa, seu estômago fez um barulho e embaraçoso. Ele olhou de relance no relógio de pulso de Hermione. – Já passou a hora do almoço!


 


- Já é tão tarde? – Hermione disse pensativa, olhando para os céus acima deles. As nuvens pareciam mais pesadas e escuras de quando chegaram ali. – Parece que vai nevar. É melhor voltarmos para o castelo.


 


- Será que podemos passar na cozinha antes de ir pro salão comunal? – Rony perguntou, dando um sorriso sem graça. Hermione, entretanto, sorriu de volta e assentiu. Com um floreio da varinha, ela fez com que eles voltassem a sua aparência normal, Hermione-no-corpo-de-Ron e Ron-no-corpo-de-Hermione, e começaram a andar pelos jardins de volta para o castelo em um silêncio confortável.


 


***


- Eu simplesmente não entendo! – Hermione ainda parecia indignada pela situação dos elfos domésticos. A paz e o bom humor entre eles durara pouco, pensava Ron sarcasticamente, enquanto andavam em direção ao quadro da Mulher Gorda.  Assim que chegaram à cozinha e o assunto F.A.L.E entrara em questão, eles começaram a discutir. – Isso é escravidão!


 


- Eles gostam de servir aos bruxos! – Ron respondeu, também irritado pelo rumo da conversa. Porque ela não podia entender isso? Os elfos eram felizes assim!


 


- Eles deveriam ser pagos, ter direitos, ter férias! – Hermione continuou ignorando as palavras de Rony. Ele, por sua vez, bloqueara sua mente de qualquer coisa que a garota falava até quando, finalmente, entravam no salão comunal. Hermione se calara, certa de que sua opinião sobre os elfos domésticos no corpo de Ron soaria bastante suspeito.


 


- Graças a Merlin... – Ron murmurou aliviado, ganhando um olhar mortal de Hermione, mas ele não se importava. Como ela podia ser tão interessante e tão incrivelmente chata ao mesmo tempo?!


 


- Ei, finalmente vocês apareceram! – a voz de Harry fez os dois olharem na direção do moreno, que estava em pé próximo ao quadro de avisos do salão comunal.


 


- Ei Harry. – Hermione respondeu, com uma voz casual. Rony quase sorriu com a sua ‘atuação’.


 


- Olá. – Rony disse, dando o que ele esperava ser o sorriso simpático de Hermione.


 


- Então, onde vocês se enfiaram a tarde toda? – Harry sentou-se em sua poltrona favorita, perto do fogo, olhando diretamente para Hermione-no-corpo-de-Ron com um sorriso malicioso.


 


- Hermione estava me ajudando com a lição de Poções, para a aula de amanhã. – Rony ficou grato por Hermione pensar tão rápido. Nada poderia ser mais estranho que Harry pensar que eles estavam dando uns amassos pelo castelo. Não que fosse uma ideia totalmente ruim, mas era meio estranho pensar nisso enquanto Hermione estava no corpo dele.


 


- Oh, merda! – Harry fez uma careta de desgosto. – Esqueci da lição para amanhã. – o moreno se levantou em um salto ágil da poltrona. – Se Gina perguntar, falem que fui buscar meu material de Poções lá em cima, ok?


 


- Claro. – Rony respondeu, aliviado por não ter que atuar por muito tempo na frente do amigo. Hermione andara em direção ao quadro de avisos e lia com atenção um pergaminho que Rony não notara ali mais cedo. Provavelmente algum recado de reunião dos monitores nova. Ele não estava realmente interessado.


 


- Ei, Mione, você viu o Harry? – Rony foi tirado de seus pensamentos quando percebeu sua irmã do seu lado, sorrindo de uma forma misteriosa. Demorou alguns segundos para perceber que ‘Mione’ era ele. Aliás, era um apelido bem bacana...


 


- Ele acabou de subir, Gin. – ele respondeu, tentando soar como Hermione. – Ele foi buscar o material de Poções e disse que já volta.


 


- Ah, certo. – Gina sentou-se na poltrona que Harry estava logo antes de subir. – Então, onde você estava o dia todo? – ela perguntou com uma voz casual.


 


- Umn... Ron precisava de ajuda com a lição de Poções. – Rony respondeu automaticamente, sentando-se na poltrona de frente para Gina. O que diabos Hermione tanto olhava para o quadro de avisos?


 


- Ajuda com Poções? – Gina sorriu novamente. – Sei... – então Rony se lembrou da conversa que tivera com Hermione, do embaraçoso convite para o Natal n’A Toca. Talvez se ele perguntasse para Gina...


 


- O que você acha de eu ir passar o Natal n’A Toca com vocês? – Rony perguntou direto, sem pensar na melhor maneira como Hermione diria isso.


 


- Uau! Natal...n’A Toca? – Gina soava surpresa, mas o sorriso misterioso voltara ao seu rosto. – Por que pergunta?


 


- Bem... é-é que... Rony me convidou. – Rony disse, sentindo as bochechas corando, certo de que aquilo tudo seria um desastre. – Você acha que eu deveria ir?


 


- Se eu acho? É claro, Mione! – Gina inclinou-se para frente, trocando a voz excitada por um sussurro. – Se Rony finalmente te convidou... uau! É claro! Você tem que ir!


 


- Mesmo?! – Rony não pode evitar a voz surpresa. Se Gina parecia tão animada com aquilo... não poderia ser tão ruim, poderia?


 


- É claro! – Gina disse animada outra vez. – Eu sempre quis te chamar para conhecer meus pais, você sabe... – a ruiva corou um pouco. – ...mas você e Ron sempre brigaram tanto que achei que você não ia querer ir.


 


- Bom, eu nunca fui num Natal bruxo... – Rony repetiu as palavras anteriores de Hermione, sem saber o que realmente falar.


 


- Claro... – Gina disse assentindo, com o sorriso misterioso de volta no rosto. Merlin, Rony nunca iria entender realmente as garotas. A garota parecia prestes a falar de novo quando percebeu a aproximação de Hermione-no-corpo-de-Ron. – Ei, Roniquinho!


 


- E-ei Gin... – a voz de Hermione estava falha e ela parecia pálida.


 


- O que foi? – Rony perguntou, levantando-se e olhando diretamente para os seus olhos azuis. Se fosse alguma coisa que Gina não pudesse ouvir, Hermione certamente daria um jeito de dizer-lhe isso e sairiam dali para conversar. Mas, ao invés disso, ela simplesmente falou, com a voz trêmula.


 


- Harry marcou os testes para o time de quadribol.


 


- Oh, Merlin! – Rony segurou-se para não soltar um palavrão. Tentando não soar tão ansioso quanto estava, respirou fundo. – Quando?


 


- Sexta-feira. – Hermione respondeu. Antes que Rony pudesse se desesperar, entretanto, Gina finalmente se fez ouvida.


 


- Ah, Ron, você não precisa ficar preocupado! – Ela levantou-se e abraçou Hermione. – Depois da final do ano passado você vai ficar com a vaga fácil...


 


Oh, irmãzinha, se você realmente soubesse o problema...


 


- Mas eu preciso testar todos, você sabe disso Ron. – Harry apareceu ao lado deles com a mochila nas costas e o livro de Poções em uma das mãos. Deu um tapinha amigável no ombro de Hermione-no-corpo-de-Ron e sentou-se em um poltrona, se preparando para começar a lição esquecida.


 


- E-eu... Vou para o meu quarto. – Hermione lançou um olhar significativo a Ron e subiu para os dormitórios masculinos em passos apressados.


 


- Eu não sei por que ele sempre fica tão ansioso. – Gina disse, dando de ombros e sentando-se ao lado do namorado. Rony tentava encontrar desesperadamente uma desculpa para ir atrás de Hermione. Eles precisavam conversar. – Sabe, você pode ir atrás dele se quiser...


 


- Hã? – Rony se virou surpreso pelas palavras da irmã. Gina e Harry olhavam para ele com sorrisos idênticos maliciosos.


 


- Estão todos aqui em baixo, então... Rony deve estar lá sozinho. – Harry disse em um tom falsamente casual. Rony não pensou duas vezes antes de subir ao dormitório masculino do sétimo ano. Quando entrou, Hermione andava de um lado para o outro, murmurando palavras desconexas em voz baixa. Rony teve um senso de dejà vu daquela manhã e percebeu que Hermione deveria sempre agir assim quando estava assustada e confusa.


 


- Ei, acalme-se! – Rony entrou e fechou a porta atrás de si, esperando poder acalmar Hermione como fizera naquela manhã.


 


- Ron, eu não posso voar! – Hermione disse em um tom que beirava à insanidade. Ron tentou suprimir o riso e o desespero que sentia para acharem uma solução para aquela confusão.


 


- Claro que pode, Mione. – o apelido de Gin escapou sem que percebesse e Hermione, ainda agitada pareceu não notar também.


 


- Não, você não entende. – Hermione aproximou-se dele, com os olhos arregalados de, ele finalmente reconheceu, medo. – Eu tenho medo... de altura. Eu. Tenho. Fobia. Eu não consigo subir em uma vassoura sem tremer ou desmaiar... imagina subir a trinta metro do chão e ainda tentar tirar as goles dos aros...eu...


 


- Tudo bem... – Rony colocou as mãos nos ombros de Hermione, tentando acalmá-la. Era uma tarefa meio difícil, levando-se em consideração o quão ele estava mais baixo que ela. Ele teve que se aproximar tanto que suas respirações se misturavam. – Tudo bem... você não vai ter que voar... o teste é só na sexta-feira... nós podemos... nós podemos treinar as transfigurações até lá, ou quem sabe não teremos mais essa magia sobre nós? Acalme-se...


 


Depois do que pareceu uma eternidade a Ron, a respiração descompassada de Hermione se acalmou e ela parecia recomposta. Sentindo-se desconfortável, Rony finalmente se afastou e coçou a nuca para afastar os pensamentos confusos. Era isso que fariam. Todos os dias treinariam a porcaria da Transfiguração e se, pelas barbas de Merlin ainda estivessem nos corpos um do outro sexta-feira, Rony se transfiguraria para parecer, bem, ele mesmo, e iria fazer os testes. Parecia um bom plano.


 


- Temos que pensar em alguma coisa para as vozes. – Hermione falou depois de um silencio desconfortável.


 


- Como? – Rony saiu de seus devaneios e sentou-se em sua cama. Hermione, suspirando, sentou-se na cama que pertencia a Harry.


 


- Nossas vozes. A transfiguração só modifica traços físicos de uma pessoa e a mudança do tom de voz das cordas vocais é completamente diferente. É possível modificar a voz, claro, mas... trocar sua voz pela de uma pessoa que já existe é... extremamente complexo.


 


- Certo. – Rony disse, anotando mentalmente mais uma das tarefas. – Nós podemos pensar nisso depois. Até lá, vamos tentar a transfiguração.


 


- Tudo bem. – Hermione concordou, parecendo confiante outra vez. Antes, porém, que Rony pudesse se animar com o fato de que ele fora capaz de acalmar Hermione Granger duas vezes em um mesmo dia, soou uma batida na janela do dormitório. Virando-se, Rony percebeu que havia ali uma coruja parda.


 


Rony-no-corpo-de-Hermione levantou-se de sua cama a abriu a janela, deixando a grande coruja entrar. A ave deu uma pequena volta pelo quarto e pousou sobre a cama de Ron, estendendo sua pata com um pergaminho de aspecto oficial e mirando seus olhos cor de âmbar para Ron. Sem realmente saber o que aquilo significava, Rony pegou o pergaminho. A ave imediatamente levantou voo e desapareceu no céu escuro de final de tarde de inverno. Prendendo a respiração, o ruivo abriu o pergaminho e leu as palavras escritas, de caligrafia bem desenhada, com pavor crescente.


 


Srta. Hermione Jean Granger,


 


Gostaríamos de lhe informar que sua entrevista para pleitear ao cargo de “Assistente Júnior” do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas foi remarcada para esta sexta-feira próxima, dia 19 de dezembro, às quinze horas e trinta minutos, no Ministério da Magia.


 


Favor apresentar-se com antecedência de, no mínimo, trinta minutos ao balcão de segurança situado no salão de entrada levando consigo todos os documentos necessários para o preenchimento do formulário sócio-educativo, assim como uma carta de referência e uma redação de, ao menos, trinta pés com o seguinte título: “Por que Hermione Granger deve ser a próxima Assistente Júnior Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas?”.


 


Atenciosamente,


 


Suzanne Puckle


Chefe do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas

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Comentários (1)

  • A.N.A.

    Termino de ler esse cap. volto ao menu da FanFic e...FanFic em pausa(aaaaahhhh) como assim?!,Pq?!Que fique apaixonante, envolvente, ri alto aqui.Parabéns e por favor continue a escrever*O*  vc faz isso mto bem, como poucos.   

    2012-01-16
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