Capítulo VIII




 


 





Dedico este capítulo a qualquer
um que tenha tido paciência o
suficiente para espera-lo por 
tanto tempo. Com amor e
açúcar,


a autora.


 


 


Isto não era bom. Não, isto definitivamente não era bom.


Tentei me esconder com o jornal do dia enfiado na cara, enquanto um Sirius surgia na entrada do meu departamento do jornal com cara de quem comeu e não gostou.


Ok, não é como se fosse uma piada muito boa.


Sabe quando você é criança e tem muito e muito medo de algum provável monstro que possa surgir na porta ou no guarda-roupa? O que fazíamos para que monstros não nos vissem? Não olhávamos para ele! O monstro nunca nos pega quando estamos de olhos fechados ou em baixo de cobertas.


O que, obviamente, não funciona para seres humanos.


- Lene. – ele disse baixo e controlado. Nem um ‘bom dia’, ou ‘por que diabos eu te encontrei no trabalho ao invés de te encontrar na sua casa’. Só o meu nome.


Ou apelido.


Ou tanto faz.


Não daria para ignorar por tanto tempo, é óbvio. Quer dizer, ele estava parado bem ao meu lado esperando uma resposta e o jornal de hoje definitivamente não era meu cobertor.


- Bom dia! – disse, jogando o jornal bruscamente no lixo enquanto me virava no chiqueirinho para encará-lo. Ele aparentemente havia saído da minha casa direto para o jornal, o que não daria ar de “arrumadinhos das finanças” para qualquer um.


Mas ele era o Sirius. Podia sair do jeito que quisesse.


 


Ele me encarou seriamente e fui obrigada a engolir um seco. Não era toda vez que se via o Sirius abandonando o ar de Don Juan palhaço e isto me deu um frio na barriga que não podia indicar nada bom.


Continuou me fitando, como se qualquer desvio na minha postura, ou tique pudesse servir de prova contra mim.


A verdade era que acordar no mesmo ambiente que ele me deixou num estado quase histérico que eu não consegui lidar. Como uma síndrome-do-pânico-pós-Black, que me atormentava desde a última vez que ele estava comigo e me fez gastar uma fortuna com sorvete, chocolate e academia.


E, confesso, acordei, levantei – com muito custo para soltar de ser abraço – peguei algumas roupas e saí de fininho para tomar banho lá no último banheiro da casa, onde eu guardo tralhas para então sair para trabalhar.


Sim, eu tenho o emocional de uma criança de 12 anos.


- Nós poderíamos conversar, a sós, no terraço? – impassível, mais uma vez. Seus olhos, tão calorosos ontem, pareciam agora terrivelmente frios. Estremeci. Na verdade, eu devia ir. Não queria, mas devia.


Eu admito, escondi o diploma de covarde-mor na gaveta do criado mudo e deveria pendurá-lo na parede, para que as pessoas que convivem comigo tenham em mente aonde estão se metendo.


Se é que depois de uma destas alguém quer se meter na minha vida.


- Siri...


- Terraço, Lene, por favor? – firme, outra vez. Nem um tom fora do grave padrão de sua voz, mas mesmo assim, tão carregada de... significado. Peso. Palavras que saíam pesadas já de sua boca, como se fossem capazes de me prender a elas.


- Lene, você viu seu e-mail? Aquela coluna sobre “Superação do câncer, a visão de um médico” só é boa na nossa edição amanhã! Por que ela não está na minha mesa desde uma hora atrás e... – Remmie parou.


É claro que aquele peso o pegou também. Qualquer um da sala podia perceber a intensidade que se passava naquele cubículo com Sirius me encarando sério e eu, tentando olhar para tudo menos seus olhos, como uma culpada. Eu era culpada. E estúpida. Céus. Céus.


- Sirius... bom, bem... dia. – ele soltou, cauteloso. Olhava de mim para Black e dele para mim. Como uma criança que não sabia qual doce escolher.


Só que, claro, muito pior.


 


Aos poucos a seção inteira começou a reparar naquilo; apesar de todos estarem tentando ser discretos eu poderia perceber pelo canto dos olhos os cochichos e surpresas.


- Dia. – foi a resposta, seca. Sem desviar o olhar, um minuto, para falar com Remus.


- Sirius. Sirius. Sirius olhe para mim – Remus insistiu, segurando-o pelos ombros e girando Sirius para encará-lo: - Por que você não vem tomar um café, na minha sala? Vamos agora, este dia precisa de um saudoso café sem açúcar. – empurrou-o para fora do meu caminho.


Sirius estava vidrado e eu não acreditei como era possível que fosse desviado tão facilmente de um foco. Mais peso na consciência, mais frio na barriga.


Era incrivelmente estranho ver o inabalável Black... abalado.


O que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz? Céus, Black. Que merda de reação é esta?


 


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Mie!


10:37, Thur


 


O Remus foi rápido. Ele me salvou de uma cena no meio da redação e agora, o que é isto? Como ele consegue?


Mesmo tentando observar o que se passava na sala enorme do meu chefe, não vejo nada. Aquelas malditas persianas estão fechadas e bloqueando qualquer visão que eu possa ter de Sirius e Remus, conversando. Isto não é bom. Não, não não.


OK, estou sendo idiota. Não posso continuar encarando a tela do meu celular abestalhada só parando para espiar a sala de Remus fechada para perceber algum sinal vindo de lá.


Não fiz nada ruim. Não cometi nenhum pecado. Por que a droga do Sirius estaria daquele jeito? Por que ele foi ficar daquele jeito? De onde veio aquela intensidade? Ele não pode pular do meu bolo de aniversário praticamente não vestido num dia e no outro magicamente virar o senhor-sério. Isto nem é justo.


Respire, Marlene.  Estão todos te encarando.


Todo o setor.


Por que ninguém volta a trabalhar neste lugar?


Revirei os olhos. Tive um vislumbre da tela do meu computador e e-mails começavam a pipocar. Mas já? Lily, Héstia, Emmeline e até mesmo, pasmem, da administração – “Senhorita McKinnon, a administração pede gentilmente para que pare de roubar a atenção dos demais empregados. Atenciosamente”.


Bem, esta é a hora. Eu fiz isto ontem, eu posso fazer de novo. Certo? Ligar o foda-se. Não me importar. Certo? Certo?


Estou tendo outro monólogo dentro da minha cabeça; psicólogo, já!


Levantei, bati as mãos na minha calça jeans escura – como se fosse possível tê-la sujado em pouco tempo de trabalho numa cadeira obviamente limpa e me dirigi a sala que eu tanto queria saber o que se passava. Não pode ser tão ruim. Na guerra deve ser pior.


Passos, passos.


Entrei sem bater.


- Olhe aqui Sirius Black eu n... – cheguei, bradando minha mão como se fosse uma espada numa pose que eu não sabia de onde tinha vindo.


E eis a cena que vejo: Sirius de costas para mim na cadeira, com a cabeça afundada entre as mãos e Remus em pé, me olhando aparvalhado.


Logo, ele começa apontar para o celular: “SMS Lene, SMS!”. Dá um tapa na própria cabeça.


Talvez no momento de auto-motivação eu tenha me esquecido de ler a mensagem de texto que ele havia me mandado.


Silêncio constrangedor. Sirius não se vira, mas posso perceber que tirou as mãos do rosto, pega algo rápido de cima da mesa a sua frente e..


- LENE, EU PRECISO DE VOCÊ AGORA! – Sou automaticamente retirada da sala. Dorcas fecha com um pontapé a porta e em um minuto estamos saindo pelas escadas entre o setor de finanças e a redação para descer os lances a passos largos e pulos.


Ainda estou um pouco chocada com a cena. E meu estômago não está muito bom.


- Eu confesso – digo, tomando outro longo e demorado gole do enorme copo de limonada suíça a minha frente, com meio croissant devorado na boca – eu não comi nada de manhã.


- E saiba que nada que está em cima da mesa vai sair correndo, de medo que você pode se alimentar como a Rainha – ela me lembrou, me jogando o guardanapo – não queremos que você saia expelindo seu material estomacal de novo. – ela riu, levemente.


Só Dorcas conseguia ser tão leve, o que era engraçado.


- Não vai te matar dizer “vomitando”, sabe – enfio a outra parte do croissant na boca, enquanto algumas velhinhas com macacões coloridos me olham feio pelo linguajar em pleno bistrô.


- Lene, Lene. – Dorcas disse. Não me perguntou exatamente o que aconteceu, era muito educada e muito pouco invasiva para sair fazendo perguntas do estilo. Uma lady neste mundo globalizado perdido.


Mas, em primeiro lugar, minha amiga.


O que a colocava em alto cargo de responsabilidade a cerca de toda a informação que eu fosse despejar em cima dela.


E depois do meu relato longo, mimizento e resmungão Dorcas ainda sorria e me dava tapinhas encorajadores como se eu fosse a campeã do mundo.


E neste meio tempo no meu lado da mesa já somavam sete croissants e três limonadas suíças, o que não me acarretaria lá um bem estar estomacal.


- Aliás – disse, começando uma frase por esta palavra milionésima vez – me diga sobre esta sintonia esquisita entre você e Remmie, para me tirar do foco da nossa conversa pelo menos por alguns minutos.


- Ah, Lene! – ela riu. – Eu estava reparando os cochichos no RH e uma mensagem no celular dele já foi o suficiente para que eu saísse correndo para te buscar. Nem li a mensagem, na verdade. Mas não conte isto! – E, infelizmente te colocando no assunto de novo, você deveria ir ver como Sirius está.


Revirei os olhos. Orgulho falando mais alto. Ou poderia ser covardia. Tudo misturado, rondando minha cabeça como uma nuvem cinzenta numa pessoa mal humorada.


Dorcas deve ter percebido minha expressão.


- Ele realmente está abatido, Lene. – e encara o nada – não é de hoje que todos nós percebemos como ele gosta de você. Apesar daquele problema que tiveram no passado... ele ainda guarda a aliança.


- Ele deve ter comprado outra – cruzo os braços. Eu joguei bem longe aquela porcaria que ele mal tinha tentado me dar.


- Bem, eu tive que ficar procurando com o ele, Remus e James aproximadamente por 2 dias, fazendo turnos. No final, uma criancinha a encontrou e Sirius quase se jogou em cima dela. Devia ser um garoto de 6 anos ou menos. Quase foi processado.


Eu não estou ouvindo. Não estou. Não estou.


Revirei os olhos. Dorcas agora me encarava. O silêncio às vezes é mais do que o suficiente para nos encurralar.


Quase posso sentir a fumaça saindo dos meus ouvidos, confirmando que tem algo terrivelmente danificado no meu cérebro.


Suspirei.


- Tenho a mentalidade de uma garota de escola secundária? Ou menos? – comecei a me levantar. Em algum momento Dorcas havia pedido a conta (sem que, incrivelmente, eu visse), talvez por medo de ter que ir me fazendo rolar até o jornal de volta.


- Todo mundo tem direito aos pequenos faniquitos de vez em quando, Lene. Isto é completamente aceitável. – ela me sorri. – mas eu sugiro, do fundo do meu coração, que vocês dois sentem e conversem, por mais embaraçoso e desconfortável que seja.


- Eu podia dizer que foi só um pequeno erro que não vai se repetir... – comecei.


- Ele se sentirá ofendido – Dorcas sendo categórica.


- Isto não é lá problema meu – continuei.


- Não é saudável esconder seus sentimentos, eu vi sua cara há algum tempo atrás – ela me responde.


- Que sentimentos? – careta enorme da minha parte. Minha amiga só ri e me pega pelo braço. Saímos do bistrô e voltamos para o jornal, rindo e conversando descontraidamente sobre qualquer coisa.


Continuo completamente indecisa e sem rumo, mas como qualquer boa enrolada deixo o assunto para quando chegar a hora do “vamos” ver. Não pode ser tão ruim.


 x


N/A: É, pois é. Shame on you, Chel Prongs. Algumas pessoas não tem um pingo de vergonha na cara! A fic completará em poucos meses 3 anos e está aqui, acumulando teias de aranhas, infantilidade e uns sonhos deixados para trás. Desta vez eu não prometo capítulos, finais; não prometo mais nada! Me esforçarei, mas vamos ver o que será. Minha querida Marlene continua refletindo minha cabeça incrivelmente infantil neste mundo adulto que todos nós acabamos caindo e, mesmo assim, é um prazer escrever esta história. Não sei se já mencionei, mas a ideia nasceu depois de eu ter pegado um buquê da noiva – e não, nada de Sirius-hot-Black na minha vida ou pulando de um bolo depois deste pequeno ataque floral (aka, se isto tivesse acontecido, eu estaria mais do que resolvida!) –, e dentre as minhas fics foi sempre a que mais amei. Talvez por causa do fato de me sentir um pouquinho mágica com uma história diferente da rotina. Por estes dias, senti saudades de escrever. Saudades imensas. E cá estou eu voltando com uma nova cara, com uma velha Marlene, uma história capenga e contos de fadas água-com-açúcar na minha bagagem de menina. Espero que gostem do capítulo. Ele já foi reescrito e depende do aval da minha querida BETA LINDA <3 para vir ao ar. Talvez passe por mais mudanças drásticas e talvez não. Dependeremos dos ventos! Carinho da sumida mas não morta


Chel Prongs


N/B: A beta, que também sumiu do mundo das fics e não voltou mais, também assume que apesar de todas as fics lindas que essa pseudo-autora escreveu, essa é a que eu mais gosto <3 É muito linda, adorei esse capítulo, mesmo (vergonha) que eu não lembre totalmente do que aconteceu no último capítulo. É isso, ficou lindo, nem tenho mais o que falar. Pobre Sirius, Marlene estranha (?). Quero mais, Chelgs!


Beijos, Vanessa.

Ps da Autora: Não existe esquecer que o Sirius saiu semi-nu de um bolo gigante.
Ps2 da Autora: Sim, a Marlene é doida. Talvez seja o efeito do buquê; talvez aquelas flores estivessem estragadas; talvez tudo isto não passe de um sonho!
Ok, parei. Obrigada pela espera! Quem quiser entrar em contato, deixe comentários ou acesse o site http://corujando.org 

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