Vilarejo de Fortescue



—Capítulo 16—


Vilarejo de Fortescue


 


      


O som daquele nome ecoou pelo local como um agouro de morte. O tempo pareceu congelar ao redor deles. O velho fechou lentamente a boca e deixou desenhar um sorriso maldoso, que estendeu-se até seus olhos antes tão frios e desprovidos de vida.


—Esse local já devia estar cheio de Comensais. —Murmurou Gillian. Sua voz pareceu fazer o tempo voltar a correr normalmente.


—Eu sei. —Disse Ravenclaw, o olhar correndo de um canto ao outro, as mãos fechando com mais força ao redor da varinha, embranquecendo os nós dos dedos.


O assobio do vento passou por eles, como um sinal macabro. Antes que se dessem conta, uma dúzia de Comensais apareceu ao redor deles, enchendo o desfiladeiro com o eco dos ‘cracs’ que indicavam a aparatação. As varinhas em riste, apontando na direção deles, formando um circulo perfeito ao redor dos dois. O feitiço lumus encandeava seus olhos e lançava um brilho macabro em suas mascaras negras.


—Aí estão os seus Comensais. —Murmurou Pedro, estreitando o olhar, tentando acostumar-se com a luminosidade, a varinha ainda em mãos.


—Sem ironi...


—Você é o assassino de Rabastan Lestrange? —Um dos Comensais interrompeu Gillian. Sua voz era arrastada e abafada pela máscara.


Ravenclaw ficou em silêncio, o olhar correndo de um lado ao outro, querendo identificar qual deles havia falado. Então era por ele que eles estavam ali. Soltou um suspiro demorado e abaixou a varinha, atraindo um olhar atônito de Gillian.


—Sou eu. —Disse com a voz firme. —Gillian, vá. O assunto é comigo.


—Até parece que eu vou te deixar sozinho com todos esses gorilas fugidos do zoológico. —Disse a ruiva, a varinha ainda em mãos.


—Agradeço a lealdade, mas gente de mais já se deu mal por minha culpa. —Disse Pedro, ainda sem olhar a amiga. —Por favor. Você sabe o que fazer.


Contrariada, Gillian abaixou a varinha. Seu olhar continuou fixo no amigo, como se ainda quisesse contestar aquele pedido. Por fim, soltou um suspiro derrotado. Murmurou um “boa sorte” e fechou os olhos em sinal de concentração. Girou no ar e quase caiu ao tocar o chão novamente, arrancando algumas risadas dos Comensais.


—Eu não consigo aparatar. —Disse Gillian, atordoada.


—Droga. —Murmurou Ravenclaw, rangendo os dentes com raiva. As palavras vieram à sua boca, vindas de uma memória de muito tempo atrás, como se fosse outra pessoa dizendo elas através dele. Seu pai. —Eles lançaram um feitiço anti-aparatação no vilarejo.


—Encontramos mais duas! —Uma voz vinda da casa chamou a atenção deles e do círculo de Comensais.


—Não!


Dois Comensais agora saiam da casa. Seguravam Jinx e Sophia com uma chave de braço. Sophia se balançava, tentando se soltar, enquanto sua irmã gêmea parecia em completo choque pela chegada dos Comensais. Pedro correu na direção delas, mas dois Comensais fecharam o caminho, as varinhas apontadas em sua direção, pressionando dolorosamente contra seu peito, empurrando-o para trás.


—Deixem elas! —Gritou Pedro, antes de se empurrado para trás mais uma vez, tropeçando nos próprios pés antes de firmar-se no chão.


—Você não está em posição de exigir nada, Ravenclaw. —Disse o Comensal com um ar de escárneo em sua voz. —Agora, largue a varinha ou...você sabe o que faremos com elas...


O garoto rangeu os dentes e apertou a varinha com mais força na mão. Lançou um olhar na direção das primas. Sophia ainda tentava se debater, mas parecia cansada. Seus olhares se encontraram. A garota parecia desesperada, mas havia algo em seu olhar que implorava para que ele não largasse a varinha. Virou-se para frente e encarou a mascara negra que parecia sorrir de uma forma maligna em sua direção. Então, com um suspiro demorado, relaxou os dedos. A varinha rolou por sua mão e caiu na neve, sem fazer barulho. Olhou para Gillian por cima do ombro. A garota seguia apontando a varinha para os Comensais. Então, sem parecer conformar-se, soltou a varinha da mesma forma.


—Bom, bom. Agora... —Disse o mesmo Comensal, com uma voz fria e que exalava um certo prazer maldoso. —por que matou Rabastan Lestrange?


—Não interes...


Crucio! —Bradou o Comensal. O garoto sentiu o corpo dobrar-se em dor, arrancando um grito de seus lábios.


Da mesma forma que veio, a dor se foi. Ficou deitado no chão, tremendo. Só então notou que alguém gritava seu nome. Sentiu duas mãos segurando seus ombros e ajudando-o a levantar.


—Você está bem? —Perguntou Gillian, passando a mão por sua testa, limpando o suor.


—Afaste-se dele! —Rugiu o Comensal, antes que Pedro pudesse responder à amiga. —Expulso!


Ouviu o grito de Gillian e o som de seu corpo caindo na neve. Tentou levantar-se para ajudar-la, mas um chute em seu queixo fez o garoto ver estrelas. Caiu de cara na neve, sentindo o gosto metálico do sangue invadir seu paladar, seguido pelo adormecimento causado pelo frio da neve. Apoiou as mãos no chão e levantou-se meio tremulo.


—Já está pronto para falar? —Perguntou o mesmo Comensal, parado diante dele.


—Vai precisar mais do que isso para me fazer falar. —Murmurou Pedro, em pé, os músculos ainda reclamando pela tortura.


O Comensal rosnou alto e berrou outro crucio. Seu corpo rolou na neve, um grito de dor escapando por seus lábios, sem que ele pudesse controlar. Ouviu seu nome ao longe, mas os gritos do presente já se misturavam às lembranças e jogavam sua mente quase na mais completa loucura. Sentiu lentamente perder a razão. Então, a dor cessou. Ficou arquejando no chão, os músculos latejando de tanta dor. Com o que lhe restava de força, ergueu o rosto e fitou o Comensal que ria com um prazer quase carnal.


—Pare com isso, McNair. —Disse algum dos outros Comensais, parecendo compartilhar da diversão, pois havia um ar de riso em sua voz. —Ele tem que estar são para responder.


—Ele está quase abrindo a boca. —Rosnou McNair, com um sorriso macabro. —Mas acho que ele precisa de mais um incentivo. Incarcerous!


Sem nenhum tipo de resistência, o rapaz sentiu cordas prenderem seus pulsos e tornozelos. Escutou outro feitiço ser murmurado e uma força ergueu seu queixo, como uma mão invisível. McNair riu maldosamente e deu as costas, afastando-se dele.


—Solte ela. —Murmurou, de frente para um Comensal.


McNair com seu corpo grande e largo cobria toda a visão. Pedro não conseguia ver o que ele fazia e sua visão lentamente ia embaçando. Tentava manter as forças. Não podia perder os sentidos logo agora. Ouviu outro feitiço ser murmurado e então o baque de um corpo caindo na neve, junto com uma revoada de cabelos negros. Seus olhos arregalaram e a descarga de adrenalina fez seus sentidos voltarem.


—SOPHIA!!


Crucio!


O grito da morena ecoou junto com a risada dos Comensais, o choro de Jynx e os protestos de Pedro. McNair saiu da frente e ele pôde ver o rosto da prima, contorcido em dor, as lagrimas escorrendo de seus olhos, enquanto seu corpo se retorcia com a tortura.


—Pare! Pare! Eu vou fal...


—ESTUPEFAÇA!


O faixo de luz vermelha cortou o ar e atingiu o peito de McNair, que girou no ar e caiu de borco no chão. O instante de choque dos Comensais foi tempo o suficiente. O garoto juntou as forças que restavam e jogou-se de costas para trás, caindo sobre a própria varinha. Tateou até acha-la, segurando com força e murmurando um contra-feitiço, fazendo as cordas soltarem de seus pulsos. Girou e atingiu o Comensal que segurava Jynx. A garota correu rapidamente até a irmã, segurando-a pelos ombros.


—Hey! Uma ajuda aqui por favor! —Gritou Gillian. Dois Comensais avançavam em sua direção, a varinha em riste apontada diretamente para seu rosto.


—Ah, droga! —Resmungou Pedro. Murmurou o mesmo contra feitiço e soltou as cordas que prendiam seus tornozelos. Levantou-se com dificuldade, sentindo as juntas das pernas reclamarem, antes de apontar a varinha na direção dos dois. —Aquemanti!


O jato d’água derreteu a camada de neve à frente deles, transformando o solo em lama. Os dois perderam o equilíbrio ao pisar no solo escorregario. Tempo o suficiente para Gillian atingir os dois com o feitiço das pernas presas. Os Comensais balançaram um instante antes de cair de cara na neve. O garoto saltou os dois e agarrou a mão de Gillian, correndo com ela até Jynx e Sophia.


—Você está bem? —Murmurou Pedro, ajoelhando-se ao lado de Sophia.


—Já estive melhor. —Murmurou Sophia, a voz fraca e a respiração ofegante. —E você?


—Na mesma. —Murmurou, ajudando ela a ficar em pé


 —Já chega. —Murmurou McNair, furioso. Pedro virou o olhar para frente. Os Comensais já formavam um circulo ao redor deles. McNair vinha à frente, a mascara já fora de seu rosto. Não sabia se ele havia tirado ou se fora o feitiço de Gillian. —Não precisamos de respostas se eliminarmos o problema. Rodolphus vai poder continuar o trabalho dele em Fortescue sem preocupações se eliminarmos você aqui.


As palavras de McNair pareciam ter congelado todo o tempo ao seu redor. Então Rodolphus estava em Fostescue. O que diabos ele estaria fazendo em um vilarejo perdido ao oeste de Hogsmead, que ninguém nunca ouvira falar? Seja o que ele estivesse fazendo era para lá que ele iria. Ao menos era para lá que ele iria se não tivesse ao menos meia-dúzia de varinas apontadas em sua direção.


—Ultimas palavras? —Perguntou McNair, seu rosto se abrindo numa carranca maldosa, um sorriso quase diabólico.


Pedro apertou a varinha com mais força nas mãos. Por mais que pudesse criar um escudo, não seria o suficiente para reter tantos feitiços da morte. Estavam me menor número. Exatamente como seu pai e sua mãe naquela noite. Mordeu o lábio inferior e sentiu o canto dos olhos arderem, como se as lagrimas estivessem se aproximando.


—Eu tenho. —A voz de Sophia chamou sua atenção. Tanto os Comensais quanto seus companheiros olharam para ela com um ar de duvida. A garota levou os dedos até os lábios e soltou um assobio prolongado, que ecoou no local longamente.


O silêncio que seguiu-se ao assobio foi estranho. Todos esperavam que algo acontecesse ou aparecesse do nada. Lentamente uma risada foi se formando entre os Comensais que misturava o escarnio e o alivio. Então, com o som de pano se rasgando, ouviu-se um prolongado ronco. As risadas morreram. O ronco acelerou e tornou-se gradativamente maior. Então, com o som de madeira partindo, todos olharam para a casa dos Ravenclaw. Uma luz ofuscante cegava a vista deles e avançava na direção do grupo, o ronco tornando-se cada vez mais alto. Com o som de alto atritando, deu um cavalo de pau que forçou os Comensais a dispersarem o circulo ao redor deles. Só quando parou ao lado deles, foi que Pedro reconheceu a moto de Sophia.


—Animal. —Murmurou Gillian, com um assobio de admiração.


—Elogios depois! Subam! —Gritou Sophia, passando a perna por cima da garupa, montando na moto.


Os Comensais já recuperavam do choque e, sem aviso, feitiços começaram a voar na direção deles. Pedro virou-se rapidamente e apontou a mão na direção deles. Uma corrente de fogo incendiou o chão, afastando os Comensais.


—Não vai durar muito! —Gritou Pedro, virando-se para a prima mais uma vez. Gillian ajudava Jynx à subir na moto, logo atrás de Sophia. —A neve vai derreter e apagar o fogo! Vamos!


Gillian concordou e montou logo atrás de Jynx. Não sobrava muito espaço. Virou-se para McNair. O Comensal tentava afastar as chamas com golpes de varinha, mas de nada adiantava. Então, seus olhos inflamados pelo fogo fixaram no piromago. Pedro devolveu o olhar na mesma medida. Respirou fundo e guardou a varinha. Esticou a mão para o lado e um novo som de madeira quebrando chamou a atenção de todos. O garoto segurou no reflexo o cabo de uma espada que voou em sua direção. Prendeu-a ao cinto e sorriu maldosamente para McNair, falando em alto e bom som.


—Avise ao seu amigo...que eu estou chegando!


E pulou no pouco espaço que sobrara na moto. Mesmo o trabalho que Sophia tivera para altera-la com magia ainda tornava a moto pequena para quatro pessoas. Ainda assim, o veículo roncou ferozmente e saiu em disparada, deixando para trás um furioso McNair.


 


 


 


A viagem foi difícil, mesmo que curta. Era difícil para Sophia manter o equilíbrio da moto com quatro pessoas na garupa e com o corpo cansado do jeito que estava. Por diversas vezes sentiu a moto bambear e quase cair, mas ainda assim conseguiu manter o equilíbrio tempo o suficiente para que estivessem longe da influência do feitiço anti-aparatação. Pararam próximos à área rural de uma cidade e abrigaram-se num celeiro. Gillian tomou à frente e começou a andar ao redor do local, lançando feitiços de proteção sobre eles.


—Essa foi por pouco. —Murmurou Sophia, dando um tapinha carinhoso na moto. —Viu? Eu disse que seria útil.


E virou-se para o primo, sorrindo, como se tentasse aliviar a tensão. Pedro sorriu meio sem vontade e deixou o peso do corpo cair sobre um cubo de feno. Seu olhar estava distante, pensativo...com um ar de angustia em algum canto. Aquilo não passou despercebido para Sophia. Com um passo receoso, aproximou-se dele, sentando ao seu lado.


—Hey...você está bem? —Perguntou a morena e, imediatamente o garoto soube que ela não perguntava de seu estado físico.


—Yep.. —Respondeu Pedro, sentando-se automaticamente. —Precisamos descansar um pouco. Esse lugar não vai ser seguro por muito tempo. Temos que partir o mais rápido possível.


Virou o olhar na direção da porta do celeiro, por onde uma cansada Gillian entrava agora. O céu antes negro agora ganhava toques arroxeados. No horizonte, uma linha mais clara começava a surgir. Respirou fundo e, sem mais olhar para a prima, foi ajudar a ruiva à fechar as grandes portas do celeiro.


—Hey...você está bem? —Perguntou Jynx, sentando ao lado da irmã. Havia notado seu olhar distante.


—Sim...eu...eu estou bem. —Respondeu a garota, virando-se para poder encarar a irmã de frente. —E você? Como está?


—Depois de tudo o que passei nos últimos dias, fico feliz só de estar viva. —Disse a garota, encolhendo os ombros, tentando esboçar um sorriso. —Eu sinto muito por tudo o que aconteceu.


—Não foi sua culpa. —Disse Sophia, passando a mão pela cabeça da irmã. —Agora vamos dormir. Estamos precisando mesmo de um bom descanso.


Jynx encarou a irmã por um tempo, como se aquilo não fosse o suficiente para aliviar a culpa em seu peito. Sabia que não podia ter feito nada e que sobreviver havia sido um milagre. Mas talvez se sentisse culpada por ainda estar viva, quando seus pais e o filho de sua irmã estavam mortos. Ainda assim, dirigiu a ela o sorriso mais sincero que conseguiu. Levantou-se e encaminhou-se até alguns blocos de feno, procurando a melhor maneira de tornar aquilo uma cama.


 


 


 


Dormiram pouco mais de cinco horas. Sem café da manhã, sem refeição e com ares bastante abatidos. Não havia bagagem para arrumar dessa vez. Tudo o que tinham havia ficado na casa onde os Comensais atacaram. Tudo o que restava para eles era a roupa do corpo, um pouco dinheiro que tinham nas carteiras, suas varinhas, a moto de Sophia e a espada de Ravenclaw. E foi exatamente a ausência de bagagem que fez a partida ser rápida.


Aparataram nos arredores de Hexham. Era uma cidadezinha cercada de propriedades rurais e com um ar bastante britânico. Encontraram um café e lá se abrigaram, na mesa mais afastada, no canto mais escuro. As pessoas não pareciam notar eles ou ligar para eles, o que era ótimo.


Com o que restou do dinheiro trouxa que tinham nos bolsos, conseguiram um café da manhã modesto. Pouca comida, mas ninguém parecia estar com apetite naquele momento. Bebericaram do café e beliscaram um pouco das torradas com geleia, sem trocar uma palavra.


—O que faremos agora? —Perguntou Gillian, com um ar desanimado, enquanto molhava um pedaço de torrada no café, sem parecer que iria come-la realmente.


—Não sobrou muito dinheiro bruxo. —Disse Sophia, enquanto revirava a carteira. Alguns galeões tilintaram junto com um punhado de nuques e sicles.


—Esse dinheiro de nada vai servir agora. —Disse Pedro. Havia evitado o olhar das três durante todo o dia.


—Ele tem razão. —Disse Jynx, bebericando seu café. —Se estamos sendo procurados pelos Comensais, vão estar nos esperando em qualquer lugar do mundo bruxo.


—Eu estou sendo procurado pelos Comensais. —Frisou Pedro, o olhar ainda fixo na mesa.


—Somos seus amigos. —Disse Sophia, com um ar sério. —Eles nos procurariam de qualquer forma para saber sobre você.


—Ainda assim. —Disse Pedro, com um ar de irritação na sua voz. —As coisas acabaram fugindo do controle e é tudo minha culpa.


—Acho que de nada adianta ficar discutindo de quem é a culpa. —Disse Gillian, finalmente largando a torrada dentro do café e empurrando a xícara para longe. —Temos que nos concentrar no que vamos fazer.


—A Gillian está certa. —Disse Jynx, enquanto terminava seu café.


—Sim, ela está certa. —Disse Pedro, por fim olhando para elas. —E o que vamos fazer é o seguinte. —Eu irei até Fortescue. McNair disse que Rodolphus está fazendo algum trabalho lá. Se ele está lá, então é para lá que eu irei.


—Nós iremos com você. —Prontificou-se Sophia, com um ar decidido.


—Não. —Cortou Pedro, secamente. Sophia abriu a boca para protestar, mas o primo não ligou. —Vocês irão até Upper Flagey.


—Por que? O que tem lá? —Perguntou Jynx, franzindo a testa.


—Eu já ouvi esse nome... —Disse uma pensativa Gillian.


—Claro que já. —Disse Pedro, ainda mais sério. —Alguns amigos estão refugiados lá. Alguns são membros da Ordem da Fênix...procurem eles, digam que me conhecem. E se refugiem com eles.


—Você não acha que nós vamos...?


—Me abandonar? Não...vocês não estão me abandonando. Eu é que estou abandonando vocês. —Disse Pedro, abaixando mais as sobrancelhas. —Já houve sofrimento de mais por minha causa. Ninguém deveria estar metido nisso de principio. Essa vingança é minha e apenas minha. Assim como as consequências dela.


As três permaneceram no mais completo silêncio, encarando o garoto, incrédulas. Com um suspiro demorado, Pedro levantou-se de sua cadeira. Olhou para cada uma delas por um instante antes de dar um sorriso dolorido. Era quase um adeus.


—Se cuidem.


E caminhou na direção da porta. Não escutou cadeiras arrastando ou o som de passos atrás dele. Aquilo deixou-o aliviado. Abriu a porta do pequeno café e parou na calçada. Fazia um dia frio. O vento era cortante e machucava seu rosto. As pessoas ali na rua pareciam sentir o mesmo, pois andavam com as golas dos casacos levantadas e os rostos abaixados. Com um sorriso, invejou cada um ali. As crianças que andavam de mãos dadas com seus pais, os adolescentes que andavam em grupos compactos, comentando sobre algo que estava na moda, os idosos que andavam lentamente pelas ruas. Todos em suas vidas comuns. E pegou-se, por um instante, pensando em como seria ter uma vida comum. Soltou um suspiro demorado e abaixou a cabeça. Então, concentrou-se em uma encosta próxima ao vilarejo de Fortescue, que havia visto em um mapa. Respirou fundo e girou no ar.


Antes de sentir toda a sensação típica de uma aparatação, ouviu um estardalhaço logo atrás dele. Logo em segudia, sentiu algo agarrar seu braço. Sem tempo para ver, sentiu tudo ao redor sumir. A pressão em seu braço aumentou ainda mais, conforme seu corpo era enfiado por uma espécie de mangueira de borracha. Quando, por fim, sentiu o chão sob seus pés mais uma vez, deu um passo para o lado, já puxando a varinha.


—Hey, hey! Calma! Sou eu!


—Sophia! —Disse Pedro, com um misto de alivio, frustração e irritação. —Eu disse para você se refugiar com as garotas!


—Corta essa, Pedro Ravenclaw! —Exclamou a morena, irritada. —Eu estou nessa porque quero...você nunca me pediu para te acompanhar, foi ideia minha...e, admita...você precisa de mim. Sem contar que eu não sei voltar para onde elas estavam, então, não posso fazer nada. Estou presa aqui, com você.


Pedro endureceu o olhar e, por um instante, pareceu que iria brigar com a prima. Porém, aquilo esmoreceu com um suspiro cansado. Resignado, apenas sacodiu a cabeça de forma positiva, dando as costas e começando a subir a encosta da planície.


—Já esteve em Fortescue? —Perguntou Sophia, subindo logo atrás do primo.


—Não. Apenas vi num mapa, uma vez. —Disse Pedro, seguindo a subida. Logo estariam no topo e teriam uma visão completa do vilarejo.


—Eu já vi algumas fotos, alguns cartões. É bem pitoresco. Parece que saiu de dentro de um globo de neve. Os arredores são cercados por campos de aboboras que são maiores até do que as do Hagrid!


Pedro soltou um “hm”, não muito interessado naquilo. Durante quase dez minutos seguiram a subida, em silêncio. A neve tornava a tarefa ainda mais difícil, tornando o solo escorregadio para os dois. Por fim, conseguiram chegar ao topo.


—Por Merlim... —Murmurou Sophia, deixando o queixo cair.


A visão que tinham era devastadora. Os grandes campos de aboboras agora eram semeados de destroços e carcaças de animais mortos. Pequenas torres de fumaça subiam do vilarejo, como se à pouco este estivesse em chamas. Uma sombra chamou a atenção de ambos. Na entrada da cidade, um gigante de quase dez metros andava de um lado para o outro, batendo seu tacape os próprios ombros.


—Céus...o que será que aconteceu aqui? —Perguntou Sophia, ainda horrorizada com aquilo. Com certeza não era o vilarejo pitoresco que lembrava de ter visto em cartões de natal.


—Não sei... —Murmurou Pedro, tomando a dianteira. —Mas não vamos descobrir ficando aqui...

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