É o Orgulho...



N/A/ Lisa sem cara para fazer a N/A. / Certo, eu realmente me superei dessa vez e eu posso dizer que essa superação não é nenhum motivo para orgulhos e peço humildemente o meu mais sincero pedido de desculpas.

Mas antes de eu ser taxada da autora má que adora deixar vocês esperando... / ok, eu sinto que eu já sou... / Eu sinto muito mesmo pela demora. E eu sei bem o que vocês passam a espera de uma atualização, porque antes de ser uma escritora - acha a palavra soar estranha... porque se considera apenas uma aprendiz ainda... - eu sou uma leitora e eu me desespero em dobro ao saber que eu estou demorando porque eu sei perfeitamente a ansiedade que se tem quando se fica a espera de um capítulo novo.

Bom, além de estudos e afins, eu estive passando por alguns problemas pessoais e eu meio que não estava conseguindo fazer a parte mais alegre da fic que, certamente, é a das crianças. Vocês também podem notar que minhas últimas fics foram meios... tristes. / ou, para não amenizar o peso da palavra: depressivas /. Não que eu tivesse em algum estado de depressão, ou algo do tipo, eu apenas estava sofrendo por causa de algumas coisas que não devem ser muito importantes para serem ditas no momento / apesar de alguns saberem o motivo /.

Depois, quando eu estava me sentindo relativamente melhor, tive que conviver como meu famoso perfeccionismo a respeito das cenas que eu escrevia. Tinha tudo em mente, escrevia, não gostava e apagava. Então, meio que para "desestressar" dediquei-me a um challenge, que, por sinal, eu estou postando hoje também.

Depois disso tudo, minha adorável mãe decide implicar comigo no pc novamente, o que gera mais aborrecimentos. / ok, no inicio ela estava certa, devido a bagunça do quarto, mas depois de eu tê-lo arrumado passou a ser implicância mesmo... /. E depois de muiiito tempo, finalmente estou aqui.

Bom, esse é o penúltimo capítulo e creio que o próximo não deva demorar, visto que é o menor de todos. Depois disso teremos o epílogo / que, por sinal, já está praticamente pronto /e, por último, - talvez -o trailler da continuação. / sem data determinada de estréia, visto que ela precisa de mais planejamento -o que me faz refletir muito sobre isso /. E eu acho que muitos se lembram da parte bônus da fic, não é? Pois bem, ela irá ao ar em outubro, como uma fic à parte, especial do dia das crianças.

Sorry não poder responder aos comentários agora, mas é que eu tenho que sair daqui a alguns minutos e ainda tem atualização para fazer / não é de TAL e nem de RM, sorry, mas são de algumas fics que eu não tinha postado aqui antes e uma nova... ^Mas, não se preocupem que eu lerei todos.

Bom, beijos para todos que estão lendo e/ou acompanhando a fic. / ainda alguém? n.n /. E espero que gostem desse capítulo. E um breve aviso... a última cena é um pouco quente. XD. E mais uma vez me desculpem... mesmo.



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7º Dia – É o orgulho... sempre o orgulho... maldito seja o orgulho!

Os olhos de Tiago brilharam tristemente e, com um longo suspiro, ele fechou a porta do quarto silenciosamente. Recostando-se nela, o rapaz fitou o teto com um olhar vago para, logo depois, cerrar os olhos.

Até quando ele conseguiria continuar com aquele fingimento? Até quando ele ficaria simulando que não se importava com ela? Até quando diria que não ligava para o sofrimento dela?

Teve seu orgulho ferido. Ele era orgulhoso; ele sabia. E é seu orgulho que a mata, da mesma forma que mata a si mesmo por dentro em igual intensidade. O orgulho de ambos os separa. O orgulho de ambos impede que um declare ao outro os seus verdadeiros sentimentos. O orgulho de ambos impede que aconteça entre eles algo mais do que simples momentos...

-Momentos; não passam de momentos. – ele ouviu-se murmurar. Seria mesmo verdade? Para Lílian, tudo aquilo não passava de um simples e insignificante momento?

Abriu os olhos castanho-esverdeados de forma lenta e abaixou o olhar, fitando a parede a sua frente. Como deixara a história tomar aquele rumo que estava tomando atualmente? Como pôde deixar-se levar pelas emoções?

Escorregou lentamente pela porta enquanto uma lágrima solitária rolava pelo seu rosto. Havia presenciado uma boa parte do sofrimento da ruiva através do buraco da fechadura. Tiago não soube por que não abriu a porta e a consolou... por que não esclareceu tudo. Talvez fosse o medo de que ela o odiasse; e ele sabia perfeitamente que isso iria acontecer se assim o tivesse feito. Respirou se arrependera de tudo o que fizera... como desejava ter feito tudo diferente.

O silêncio do corredor foi quebrado por um riso desgostoso e vazio. Tiago passou a mão pelos cabelos, arrepiando-os ainda mais e inspirou pesadamente.

-Mais que droga...

Tiago sabia; era da natureza dele machucar as pessoas a quem amava por causa daquele maldito orgulho doentio. Ele sabia, e por mais que dissesse para si mesmo que aquele erro não mais se repetiria, ele tornava a vir, como uma espécie de ciclo vicioso.

Quantas vezes ele dissera coisas, na hora da raiva, que fazia sua mãe sofrer? Quantas vezes não a vira controlar o choro quando ele apenas a encarava com profundo ódio? Ele não se descontrolava várias e várias vezes; passava dias e dias sem dirigir uma palavra sequer à mãe, até que não mais se aguentava e corria de volta para o seus braços, chorando copiosamente e implorando por um pedido de perdão? Quase não destruíra a sua amizade com Sirius por causa do que ele contara ao Snape e, com isso, quase resultara na expulsão de Remo e dele mesmo? Tiago conhecia Sirius tão bem quanto conhece a si mesmo; ele tinha certeza de que Sirius fizera aquilo sem pensar nas conseqüências dos seus atos, que o que ele menos pretendia com aquilo era fazer algum mal ao Remo; mas, nada disso impediu que ele dissesse todas aquelas coisas horríveis para ele na hora da raiva. Lembrou-se que Sirius permanecera em silêncio durante todo o momento, apenas o encarando de uma forma que ele não sabia decifrar o que era. Lembrou-se perfeitamente que Remo entendera Sirius e dias depois eles voltaram a ser amigos. Lembrou-se das duas semanas em que ele ficara sem, ao menos, dirigir uma palavra para o amigo, tratando-o como se fosse um ser desprezível. Lembrou-se do bilhete que escrevera a ele, pedindo-o para encontra-lo numa sala do quarto andar. E, por fim, lembrou-se do quanto fora difícil pedir desculpas quando encarou-o nos olhos novamente.

O problema era nele. O seu orgulho; o seu orgulho era a sua maldição. Com um longo suspiro, Tiago abraçou os joelhos e recostou o queixo neles. Novas lágrimas rolaram pelo seu rosto. Aquele orgulho o fazia se sentir o pior ser que já se atreveu a pôr os pés nesse planeta.

-Você é um monstro, Tiago. – ele afirmou com a voz embargada. – Você é um monstro e nada pode fazer para mudar isso.

Tornou a erguer o olhar para o teto, enquanto escorregava os pés pelo chão até que suas pernas estivessem esticadas. Um novo suspiro. Novas lágrimas. Tiago esfregou o meio da testa com uma raiva reprimida e depois passou a mão pelos cabelos nervosa e aflitamente. O que ele poderia fazer para consertar aquilo tudo?

Levantou-se do chão um tanto quanto relutante, suas costas deslizando pela porta, num pseudo-apoio. O rapaz começou a caminhar a passos trôpegos e seguir seu rumo de volta à mesa da mini-biblioteca. Chegando ao local esperado, desabou pesadamente na poltrona que antes estava ocupando e pegou a pena com uma das mãos ao mesmo tempo em que enxugava as lágrimas de forma brusca com a outra.

Fungou levemente e ajeitou os óculos, disposto a esquecer de tudo por aqueles breves instantes. Não adiantava mais ficar se lamentando por erros passados. Num respirar pesado, ele voltou o olhar para o pergaminho e continuou seu trabalho avidamente.

De quando em quando, sua mente o traia e o fazia relembrar aqueles fatos, ao que seus olhos ardiam de modo insistente. Rapidamente, o maroto balançava a cabeça para espantar aqueles pensamentos, voltando a atenção para o pergaminho e o livro à sua frente.

A cena se repetira diversas e diversas vezes, até que ele tivesse finalmente concluído o seu trabalho. Curvou os lábios num sorriso enviesado, pensando que aquilo fora mais fácil do que ele esperava. Voltando a sua atenção para o livro, ele o fechou soturnamente e deixou escapar um novo suspiro. Com as mãos em cima da mesa servindo de apoio, ele se levantou calmamente, arrastando a poltrona com o ato.

A passos lentos, o rapaz caminho de volta para o quarto e, com a mesma cautela de outrora, abriu a porta e adentrou nele em silêncio.

Tiago voltou o olhar para a cama e notou que Lílian estava com o rosto manchado pelas lágrimas, mas o seu ressonar ainda era tranquilo. Mordendo o lábio inferior, ele continuou a fita-la de forma terna e triste. O disco havia parado de rodar, mas as luzes do som indicavam que ele ainda se encontrava ligado. Com um aceno de varinha, o rapaz desligou-o e caminhou a passos calmos até a ruiva.

Ela estava meio torta na cama e, ao ver de Tiago, parecia ligeiramente desconfortável com as pernas deitadas de lado e o resto do corpo de bruços. Analisou-a com um ar triste pos algums minutos, antes de ajeita-la cautelosamente na cama. Com um suspiro meio que falho, a ruiva abriu os olhos, assustada. Tiago se afastou da ruiva automaticamente num misto de surpresa e receio, ao que os olhos verdes extremamente sonolentos de Lílian o encararam de modo confuso.

-Volte a dormir, Lílian. – ele murmurou enquanto colocava as mãos no bolso e abaixava a cabeça.

Com um novo suspiro, a ruiva voltou a fechar os olhos, se ajeitando no travesseiro lentamente.

Lançando um último olhar para a garota a sua frente, Tiago deu as costas para ela e fitou o guarda-roupa de modo atento. Com um novo aceno da varinha, a pequena porta de cima se abriu, para logo depois um confortável cobertor sair voando de lá, vindo parar na mão estendida do maroto. Colocando a varinha em cima da penteadeira, o rapaz voltou a caminhar até a ruiva.

Tiago cobriu Lílian com carinho e ela suspirou durante o sono. Ele acariciou lentamente os rubros cabelos dela e depositou um fraco beijo em seu rosto.

-Desculpe... por tudo.

Sentiu as lágrimas cegarem-no novamente e balançou a cabeça enquanto contornava a cama, a fim de ocupar o seu lado.

Sem nem mesmo ter tirado a roupa do corpo, o maroto se deitou na cama e se ajeitou de modo mais cauteloso que pôde. Para não acorda-la, não se arriscou a tentar se encobrir com os lençóis e, muito menos, puxaria uma parte do dela para si.

Fitou o teto por breves momentos e, sentindo um nó na garganta, virou-se para observa-la dormindo.

Tiago piscou demoradamente ao constatar, com um sorriso, que o perfume dela se impregnara no travesseiro que estava usando. O rapaz encarou os olhos fechados da ruiva de modo vago, como se ponderasse algo. Com um longo suspiro, ele se aproximou dela de leve e depositou um fraco beijo em seus lábios. Lily remexeu-se um pouco e murmurou algo desconexo. Sorrindo, o moreno voltou calmamente para onde estava e fechou os olhos. Dormiu minutos depois, inebriado com o cheiro de lírios que aspirava.


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Baques de tons variados, acompanhados de leves rangidos fizeram Remo abrir os olhos preguiçosamente, resmungando algo baixinho. Esfregou-os com força, a fim de expulsar os últimos vestígios de sono ainda presentes e abriu-os ainda há tempo de ver um emaranhado de cabelos negros passar por cima da sua cama e saltar graciosamente para o chão, enfiando-se debaixo da cama ao seu lado num agilidade incrível.
-Sirius? – ele o chamou com a voz meio rouca.

Alguns minutos depois o rosto pálido do “irmão” apareceu debaixo dos lençois, exibindo um sorriso nervoso.

-Aconteceu alguma coisa? – completou rapidamente, vendo que ele nada diria.

-Estou um pouco nervoso... – ele comentou num murmúrio.

-E isso é motivo suficiente para você ficar rodando pelo quarto feito uma quimera enjaulada e me acordar? – Sirius alargou o sorriso e assentiu levemente. Remo suspirou. – Bem, creio que deva ter maneiras mais normais de se acordar alguém, não? Se você quisesse a companhia de alguém, creio que deveria ter me acordado de uma maneira mais gentil, não?

Sirius exibiu um ar carrancudo e levantou-se do chão com um ar pomposo.

-E você não acha que eu tentei? – indagou, indignado. – Mas você parecia que tinha sido estuporado ou algo do tipo! Resolvi fazer barulho para ver se você acordava! – ele completou com um sorriso meio de lado. – Além de eu ficar calmo, me pouparia usar minha voz para gritar no seu ouvido para ver se acordava.

-E... – Remo falou entediado. Sirius sentiu o rosto esquentar.

-Não tem mais nada! – falou roucamente.

-Sirius...

O outro soltou um longo suspiro.

-Ok, eu conto. – afirmou e, num girar de calcanhares, tornou a sumir para debaixo da cama.

Remo observou o fato de forma curiosa e atenta e, segundos depois, viu duas varinhas rolarem pelo chão timidamente, enquanto Sirius tornava a aparecer com um sorriso triunfante no rosto.

-Ah, não, novamente, Sirius! – Remo gemeu fracamente. – O que nossos pais vão dizer se descobrirem que pegamos as varinhas deles novamente!

-Eles não vão saber que pegamos dessa vez. – o “irmão” o encarou numa feição descrente. – Sério! – completou com um tom risonho.

-Vindo de você, é impossível não desconfiar que as coisas vão acabar dando errado.

Sirius não escondeu o seu desagrado perante as palavras do “irmão”. Sentou-se na cama emburradamente e cruzou os braços num ar impetuoso, fuzilando Remo com o olhar.

-Eu sei o que eu estou fazendo, ok?

-Então, me diga como eles não vão descobrir que pegamos as varinhas dele. Novamente. – o tom da voz de Remo demonstrava cansaço. – E novamente ficarmos de castigo devido a uma nova desobediência. Sirius, você se lembra muito bem do que aconteceu ontem, ou sofre de alguma espécie de amnésia? – ele não esperou resposta. – É perigoso.

-Ah, não! – o tom dele era desesperado. – Agora você está falando igual nossa mãe...

Remo meneou a cabeça e exibiu um ar risonho.

-Mas, como eu ia dizendo... – Sirius pigarreou, exibindo um ar angelical. – Eles não vão descobrir porque eu substituí as varinhas dele por outras... – Remo franziu o cenho, confuso. – de brinquedo. – o “irmão” arqueou a sobrancelha. – Eu encontrei no sótão.

-Hum, e o que você pretende fazer com a varinha?- Remo indagou tentando não questionar sobre a veracidade do outro fato. – O antigo plano não deu muito certo.

-Vamos seguir o plano das garotas agora, não vamos? Então, acho que usar as varinhas facilitaria um pouco as coisas, não?

-Não acho que seja uma boa idéia... – o garoto disse, mordendo o lábio inferior fortemente.

-Ah, qual é, Remo! – Sirius resmungou irritadamente. – Nem parece que é meu irmão!

-Alguém podia ter morrido ontem, sabia, Sirius? – insistiu, com os olhos levemente estreitados. – Não sabemos manusear uma varinha direito... Não é seguro... – ele parou para pensar por breves segundos para, logo depois, um sorriso brotar em seus lábios. – Aliás, pensando bem, é você não sabe manusear uma varinha direito... Ela é um perigo em suas mãos.

Sirius inchou brevemente e, num gesto rápido, tacou o travesseiro da sua cama no rosto de Remo, que começou a gargalhar gostosamente.

-Vou ignorar a sua afirmação, Remo. – ele resmungou em resposta para, logo depois, receber um travesseiro no peito como resposta. – O que interessa é que estamos com a varinha, independente de sabermos usa-las ou não. – ele exibiu um ar malandro. – A gente aprende usando, oras.

-Então, você admite que não sabe manejar uma varinha? – rebateu o “irmão” com um ar inocente. Sirius corou furiosamente.

-Ah, cala essa boca!

Remo começou a gargalhar no exato momento em que a porta do quarto se abriu, permitindo a entrada de quatro garotas no recinto.

Lisa resmungava das costas doloridas, enquanto Belle prendia o riso. Alice bocejava tendo os cabelos um pouco molhados e Marlene apenas olhou da face risonha de Remo para a mais emburrada ainda de Sirius.

-Posso rir também?

-Não. – Sirius resmungou, fazendo Remo rir mais ainda.

-Bom dia para você também, maninho. – ela rebateu com uma sombra de sorriso nos lábios. – E então, vamos?

-Para onde? – Sirius abandonou o ar emburrado e adquiriu um intrigado.

As quatro reviraram os olhos.

-Como para onde, Sirius? – Lisa parou momentaneamente de reclamar das costas e mirou o “irmão” com um olhar inquisidor. – Para cozinha! Para onde mais você queria ir?

Remo automaticamente parou de rir e a feição de Sirius tornou a fechar-se novamente.

-Cozinha? – Remo questionou numa sobrancelha arqueada. – Mas eu achei que...

-Nossos pais ainda não acordaram. – Belle o interrompeu de imediato. – Então, vocês não precisam distraí-los por enquanto.

-Mas... – ele insistiu, vendo a possibilidade de não fazer nada na cozinha cair por terra.

-Como vamos saber se eles não vão acordar enquanto estivermos na cozinha? – Sirius soltou rapidamente, ao que Remo trocou um olhar significativo com ele.

-Ah... – Marlene esboçou um ar divertido. – O Pedro vai ficar vigiando a escada para nós.

-O Pedro? – indagou Remo, cético. – E vocês acham que ele seria capaz de ficar responsável por uma coisa tão importante como essa? – ele arqueou a sobrancelha de forma exagerada. O pequeno Pedro soltou um breve ronco, como numa manifestação involuntária de ofensa. Risos prendidos foram ouvidos.

-Já pensamos em tudo. – Belle disse num meio sorriso. – Diferente de vocês, usamos nossos cérebros.

Sirius e Remo esboçaram ares carrancudos e cruzaram os braços.

-Pode me dizer, então, o que as suas grandes mentes bolaram para que a gente saiba que eles acordaram ou não? – Sirius soltou com uma careta.

As quatro se entreolharam, lançando olhares cúmplices umas as outras. Os dois garotos esboçaram um ar emburrado. Elas prenderam o riso.

-Segredo, maninho. – Lisa falou, de imediato. – Vamos descer?

Os dois permaneceram estáticos.

-Não saio daqui até vocês nos contarem o que vocês estão aprontando.

Lisa e Belle reviraram os olhos. Alice tentava manter-se acordada e Marlene franziu o cenho, contrariada.

-Então, vão querer ir obrigados? – Lene soltou, no que elas se aproximaram dos “irmãos”, intimidando-os com o olhar.

Sirius mirou a “irmã” por alguns segundos e pigarreou. Percebeu que ela lançava um olhar quase discreto para as duas varinhas no chão e reprimiu um sorriso que insistia em aparecer em seu rosto. Num gesto ágil, o maroto-mirim se jogou de joelhos no chão, preparando-se para pegar as varinhas...

Sirius foi jogado para trás, massageando a testa num gemido. Lene, a sua frente, estava em igual estado, resmungando algo ininteligível enquanto os outros explodiam em gargalhadas.

-Você queria pegar as varinhas! – ela bradou, fuzilando o “irmão” com o olhar.

-Elas são minhas por direito! – Sirius retrucou, ligeiramente corado. – Eu me arrisquei a entrar no quarto deles para pegar elas! – ele esboçou uma careta. – Eles poderiam me pegar ali! Você não fez nada! – ele resmungou algo. – E você trapaceou!

-Trapaceei? – ela arqueou a sobrancelha. – Como assim trapaceei? Eu não fiz nada!

-Er... – ele mordeu o lábio inferior e coçou a cabeça. – Eu quis dizer enganar.

Os outros se entreolharam e prenderam o riso.

-Mas o que importa é que você queria pegar as varinhas e iria usa-las contra nós!

-Não era isso. – ela respondeu, mirando Sirius com um ar irritado. – É que você sempre usa a varinha e sempre traz problemas para a gente. – o moreno fechou a cara e lançou um olhar assassino para Remo, que prendia o riso. – Então, eu e as garotas chegamos a conclusão que ela não é segura na sua mão. – ela olhou para Remo. – Nem na de Remo.

-Hey! – o pequeno ofendeu-se, foi a vez de Sirius rir. – Por que eu também?

-Porque você pode entregar a que está na sua mão para o Sirius. – o mesmo parou de rir automaticamente.

-Porque tudo comigo? – indignou-se, olhando feio para Marlene, depois, voltou-se para Lisa. – E a culpa foi sua! Estavamos indo muito bem até que você resolvesse gritar de forma histérica e assustasse a gente.

-Não me coloquem nesse meio! – Lisa se defendeu, de imediato. – Vocês são péssimos com feitiços!

-Como se você fosse a perfeição em pessoa também... – desdenhou Sirius num meio sorriso.

-Mas do que você, sim! – a “irmã” rebateu, de forma triunfante. – Pelo menos eu não inundei a sala com um feitiço errado.

-Claro que nunca fez isso! – Sirius bradou, se sobrepondo aos risos dos outros. – Como faria se não consegue chegar nem perto de uma varinha sem entrar em desespero? Como seria capaz de executar um feitiço de forma perfeita?

-Eu não tenho medo das varinhas, Sirius, e sim das pessoas que estão segurando elas. – ela olhou significativamente para os “irmãos”, ao que estes reviraram os olhos.

-Ah, não enche! – resmungou Sirius, dando-se implicitamente por vencido.

-Sem palavras, maninho? – alfinetou Lisa com um meio sorriso.

-Claro que não. – ele adquiriu um ar pomposo. – Apenas não quero me dar ao trabalho de ficar discutindo com você.

-Bela desculpa, Si...

-Ah, pelo amor de Merlim, já chega vocês dois! – interrompeu Alice num resmungo. – Estamos perdendo um bom tempo aqui.

Lisa e Sirius lançaram-se olhares mutuamente assassinos e cruzaram os braços com certa arrogância; mas, ainda assim, assentiram. O moreno se preparou para levantar do chão, quando notou que algo faltava nele.

-Hey! Onde estão as varinhas? – murmurou, indignado, olhando feio para Marlene, que ergueu as mãos num ato mudo de defesa. – Devolve. – ele continuou a mirar a “irmã” de modo incisivo.

-Eu já disse que não peguei! Estava muito mais ocupada discutindo com você.

-Mas eu estava discutindo com a Lisa! – ele bradou, vermelho. –Vocês são umas aproveitadoras. – ele cruzou os braços, fazendo birra. Remo prendeu o riso e Sirius voltou-se para ele de modo indignado. – E você, não vai fazer nada? Elas pegaram as nossas varinhas!

-Alto lá! – Alice se pronunciou. – A varinha são dos nossos pais e elas são tanto nossas quanto são suas.

-Que seja; mas fui eu quem pegou! – ele retrucou, mais carrancudo ainda. – Eu quero ver essas varinhas aqui e agora.

-Nós queremos vê-las aqui também! – falaram Marlene, Lisa, Alice e Remo ao mesmo tempo. Belle ficou momentaneamente corada e deu um passo quase imperceptível para trás. Todos os olhares voltaram para ela.

-O que é que vocês estão olhando? – ela se fez de desentendida, sorrindo amarelo.

-Pega ela!

Belle se esquivou de forma ágil das várias mãos que se aproximaram para segura-la e correu para a saída, segurando algo dentro da blusa firmemente. Os “irmãos” rapidamente a seguiram e os resmungos e bufos de todos era suficiente para iguala-los a um bando de diabretes da Cornualha.

-Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! – repreendeu Remo, num ar irritado, parando bruscamente e abrindo os braços a fim de tentar impedir a passagem dos outros.

Sirius e Lisa esbarraram, cada um, em um braço de Remo e reprimiram um gemido quando Marlene e Alice, respectivamente, trombaram com suas costas. O maroto-mirim impulsinou o corpo de leve para trás, fazendo todos inclinarem-se de leve para trás e irem para frente, equilibrando-se finalmente.Os dois primeiros lançaram olhares fuziladores para o “irmão”; até mesmo Belle parou de correr e voltou o olhar para ele numa muda curiosidade. O silêncio reinou no corredor. Marlene e Alice se aproximaram mais, a fim de espiar a feição que Remo exibia – ainda com os braços esticados.

-O que foi? – Sirius grunhiu, ao ver que ele ainda estava calado. Num gesto irritado, ele empurrou o braço de Remo para baixo, ao que o maroto-mirim tornou a levanta-lo, batendo-o com força contra o peito de Sirius.

Todos prenderam o riso quando o “irmão” gemeu de leve e fez um ruído que lembrava muito um rosnado.

-Nossos pais podem acordar! – Remo falou, como se isso fosse óbvio.

-E você me bate só por causa disso? – exaltou-se Sirius, num ato explícito de indignação.

-Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! – o maroto repetiu, ao ver que os outros riam. – Nós não queremos que eles acordem, não é mesmo?

Todos se calaram.

-Hum, tem razão. – Marlene falou num sussurro. – Vamos sair daqui. – todos assentiram com a cabeça e olharam para a frente.

-Hey, a Belle não estava aqui? – Sirius “sussurrou” ao que recebeu um tapa de Remo em resposta.

-Fala baixo! – ele repreendeu o “irmão”, numa voz alterada que não passou de um murmúrio. Sirius revirou os olhos.

-Mas ela fugiu com as minhas varinhas! – ele bradou, furioso.

-E vai ficar muito pior se você continuar gritando, Sirius Black! – Remo falou, no mesmo tom. As “irmãs” prenderam o riso e Sirius esboço um sorriso suspeito, o garoto corou. – Ah, vamos descer.

Remo agarrou o braço de Sirius e, seguindo pé ante pé, os anjinhos atravessaram o corredor com uma cautela exagerada – sendo que um Sirius ligeiramente carrancudo seguia normalmente.

-Isso é ridículo. – ele resmungou, recebendo um olhar de censura do “irmão”. – Eles não vão acordar só porque vamos andar normalmente pelo corredor. – explicou, sendo ignorado por um Remo aborrecido.

Alcançaram as escadas ainda da mesma maneira. Remo preparou-se para descer com o mesmo cuidado de antes, quando Sirius deu um leve pulo e, se desvencilhando do braço do “irmão”, apontou para algo lá embaixo.

-BEL... – ele começou, a plenos pulmões. O “irmão” desesperado jogou-se em cima de Sirius a fim de tapar-lhe a boca com um novo “Shiiiiiiiiiiiiiiiii”.

As meninas gemeram quando notaram Sirius inclinar-se para frente, desequilibrando-se sobre o peso de Remo. Aos brados de Sirius e aos pedidos de silêncio de Remo, elas viram os dois rolarem escada abaixo e caírem no chão com um baque surdo.

Elas explodiram em gargalhadas e, num gemido, Sirius tentou se erguer, em vão. Bufou de raiva e resmungou quando Remo impulsionou-se gentilmente em suas costas a fim de se levantar, lançando olhares fuzilantes para as “irmãs”, que ainda riam.

Sirius revirou os olhos e chutou a canela de Remo quando ele se preparou para mais um “Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii”, fazendo-o terminar o feito num gemido de dor. As gargalhadas aumentaram.

-Sirius! – ele o repreendeu, ao que o maroto-mirim se levantou pomposamente e espanava o pó das vestes ( apesar de, aparentemente, não ter nenhum ).

-Esses seus “Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii” estão irritantes, Remo. – Sirius grunhiu com o olhar estreitado. – Ele não vão acordar assim tão fácil!

-Claro que não! – ironizou ele. – Com a barulheira que você está fazendo, claro que eles não vão. – ele alterou a voz.

-E com você gritando, muito menos. – desdenhou ele, enquanto as garotas desciam calmamente as escadas. Belle havia sumido do mapa novamente. – Nós perdemos a Belle. – ele olhou feio para Remo. – Tudo culpa sua!

-Culpa minha? – Remo arqueou uma sobrancelha. – Sirius, não enche!

-Eu que tenho que dizer isso. – ele careteou. – Você está, definitivamente, um insuportável hoje, Remo Lupin! Nem parece... – ele franziu o cenho. – Nem parece meu irmão!

Lisa bufou de raiva ao ver Remo ficar ligeiramente vermelho.

-Querem parar de discutir vocês dois? – Alice ralhou com eles novamente, num ar cansado. – Estamos perdendo tempo.

-Vamos procurar a Belle. – Sirius falou, decidido. – Eu quero aquelas varinhas. – e, pisando duro, o rapaz começou uma busca acirrada pela “irmã” na sala. Remo ainda olhava feio para o “irmão”, as outras suspiraram.

A busca se estendeu até a cozinha e um Sirius mais resmungão do que o normal indignava-se com o sumiço repentino da garota. Alguns minutos depois, uma Belle sorridente deu o ar da sua presença na sala, acompanhada por um Pedro sonolento. Sirius avançou para ela com o que lembrava muito um tom entre um grunhido e um rosnado.

-Cadê as varinhas?

-Escondidas e bem longe do alcance de suas mãos. – ela falou sem se deixar intimidar. Sirius bufou de raiva e soltou a “irmã”.

-Mas elas eram minhas!

-Não são mais, Sirius. – ela riu um pouco. – Aliás, nunca foram. – os outros “irmãos” que chegavam da cozinha, prenderam o riso.

-Vamos logo para a cozinha? – Remo falou, entediado. – Sirius, admita, você perdeu.

O “irmão” pareceu não ter ouvido, pois olhava para Pedro com um interesse maior do que o normal. Sorriu marotamente.

-Concordo. – Lisa se pronunciou, ainda sorrindo. – É mais seguro fazermos isso à moda trouxa.

-Eu desisto. – ele revirou os olhos, desviando o olhar de Pedro e voltando-o para os outros “irmãos”. – Vamos fazer isso de uma vez.

-Pedro. – Alice sorriu para o “irmão” mais novo, que ergueu um olhar medroso para ela. – Já sabe o que fazer, não é?

O loirinho assentiu, lançando um olhar receoso para Sirius, que abandonou o sorriso suspeito do rosto imediatamente.

-Ótimo, então, vamos. – Alice parecia muito satisfeita. Os outros a seguiram e, inexplicavelmente, Sirius fora o último a chegar, alegando estar se preparando mentalmente para entrar num território feminino, recebendo em resposta vários tapas e um sonoro “Sirius!” dito pelas “irmãs”.


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-Não é assim que se faz as coisas, Sirius. – uma Marlene muito emburrada sussurrou de modo ameaçador para o “irmão”, enquanto o mesmo tentava equilibrar uma pilha de pratos em suas mãos.
Em resposta à repreensão dela, o maroto mirim teve um leve sobressalto e largou tudo o que tinha em mãos. Marlene pôs as mãos na testa e meneou a cabeça com um longo suspiro, enquanto Lisa, que tentava ajeitar um vaso de lírios em cima da mesa, olhou feio para o moreno.

-Será que você não consegue segurar algo um minuto sem quebrar, Sirius Black? – a garota disse emburradamente.

-Eu não tenho culpa se a Marlene sempre fica reclamando das coisas que eu faço ou deixo de fazer... – ele rebateu com a cara fechada. – E você também! – completou rapidamente, recebendo em troca um olhar fuzilante da “irmã”.

-Claro, se você não faz nada direito! – ela bradou levemente vermelha.

-Claro, a cozinha não é um lugar para homens. – ele disse num olhar superior.

-Em primeiro lugar, você não é um homem é um garoto. – rebateu Belle calmamente. – Em segundo lugar, você quebrou, você limpa. – a garota exibiu um sorriso suspeito e estendeu uma vassoura e uma pá para o “irmão”. Sirius cruzou os braços de modo desafiador.

-E por que vocês acham que eu vou fazer isso?

As quatro lançaram olhares penetrantes para ele. Sirius sentiu-se ligeiramente menor, mas, em lugar de sair correndo como suas pernas desejavam, ele pigarreou levemente e ergueu um pouco o corpo, a fim de se mostrar relativamente maior para elas.

-Está bem, só estou fazendo isso pelo papai e pela mamãe.

Sirius ouviu um riso prendido atrás de si e encontrou Remo trazendo uma pilha de ingredientes e jogando-os em cima da mesa. Sirius lançou um olhar feio para ele, no que o “irmão” sorriu triunfantemente.

-Continue a varrer, Sirius. – Marlene disse num tom risonho. – Não queremos nada sujo quando os nossos pais acordarem.

-Você poderiam me ajudar, não é mesmo? Que espécie de irmãs vocês são? – ele grunhiu enquanto varria os cacos no chão com uma raiva reprimida. – Isso é trabalho de garotas!

-Então, use a sua imaginação para se passar por uma e para de reclamar. – Belle falou entre risos quando a feição de Sirius se contorceu relativamente.

Remo lançou um olhar risonho para o “irmão”, no que este olhou irritado para ele.

-Não ria.

-Ficaria lindo se você utilizasse um avental para acompanhar, Sirius. – Remo retrucou num tom extranhamente sério.

Sirius, em resposta, resmungou qualquer coisa enquanto as gargalhadas dos “irmãos” ecoavam pelo recinto.

-Se você trouxer um avental para cá, Remo, eu juro que te faço engoli-lo pedaçinho por pedaçinho como café da manhã! – ele estreitou os olhos para o “irmão”, mas depois esboçou um ar ligeiramente maquiavélico. – Aliás não, o gosto do avental seria melhor do que a gororoba que a Marlene está fazendo. – ele completou, lançando um olhar displicente para a “irmã” que corou como o tomate que estava colocando no molho.

A garota tremeu e desceu do banquinho, segurando uma colher de pau na mão. Sirius engoliu em seco, momentaneamente arrependido de ter dito aquilo. Inconscientemente, ele ergueu a vassoura em posição de ataque num pulo, fazendo Marlene inspirar profundamente e voltar para o local de onde veio.

-Medrosa. – alfinetou ele de modo pomposo, descansando a vassoura em um dos ombros, fazendo Lisa se abaixar com o movimento, a fim de impedir que fosse atingida pelo cabo.

-Sirius Black! – ela deu uma cotovelada de leve nas pernas do rapaz, fazendo o joelho dele ceder um pouco. O rapaz preparou-se para revidar com um chute, mas não o fez por estar mais preocupado com uma pequena colher de pau que estava vindo em sua direção.

Sirius abaixou-se com extrema agilidade, soltando um sonoro “Hey!”, enquanto ouvia-se o som do objeto chocando-se com a parede, esparramando o que parecia ser um molho vermelho na pintura branca.

Marlene esboçou um sorriso triunfante ao mirar a feição assustada e indignada de Sirius. O rapaz se ajeitou e pigarreando, esboçou um ar suspeito.

-Você tem uma péssima mira, maninha. – debochou ele, num ar de vitória.

Marlene inchou vagamente e Sirius gargalhou. A morena olhou para os lados e pegou a primeira coisa jogável que lhe veio na frente: uma faca.

De feições risonhas os “irmãos” esboçaram feições desesperadas. Sirius soltou um grito e se escondeu debaixo da mesa quando Marlene fez menção de jogar o objeto nele, enquanto o coro “A faca não!” ecoava pelo recinto, ao mesmo tempo em que milhares de mãos corriam para cima da garota, a fim de impedir esse feito.

Todos pararam automaticamente quando Marlene abaixou a mão calmamente, enquanto tinha uma crise de risos. Sirius ficou muito vermelho e saiu debaixo da mesa – ainda com a vassoura em mãos. Os outros “irmãos” encararam-se mutuamente e deram de ombros, não entendendo absolutamente nada.

-Ela é louca, é bom não contrariar. – Belle comentou num sussurro, ao que Remo prendeu o riso. Sirius apenas postou-se de frente para Marlene e olhou para cima, com os olhos completamente estreitados.

-Você não jogaria. – ele desafiou, o rosto quase púrpura. Os outros se entreolharam; Marlene ainda tinha a faca na mão.

-Você acha que não? – ela arqueou uma sombracelha, mirando o “irmão” com um mudo interesse. Os outros apenas se entreolharam.

-Marlene, a comida vai queimar. – Remo se pronunciou num murmúrio, lançando um olhar de temor para a faca na mão da “irmã”. Todos se aproximavam cautelosamente da garota, como se ela realmente estivesse ameaçando enfiar a faca na primeira pessoa que estiver ao seu alcance.

Aparentemente, a frase surtiu algum efeito, pois a morena deu um pulo no lugar e subiu rapidamente no banquinho, checando a comida no fogo. Sirius pareceu contrariado e aliviado ao mesmo tempo. Os outros suspiraram aliviados.

-Você devia manter sua boca fechada, sabia? – Remo resmungou quando passou por Sirius, que voltava a varrer o chão com uma expressão de tédio.

-E você deveria me ajudar. – ele retrucou num grunhido. – Elas estão insuportáveis hoje! – ele soltou um muxoxo. – Garotas...

-Eu ouvi isso, Sirius. – Marlene falou com displicência.

-Era para...

-Então, finja que não ouviu e continue a cozinhar, Lene. – Remo interrompeu o “irmão”, lançando um olhar feio para ele antes de estender o pacote de sal para a “irmã”. – Aqui diz sal a gosto.

-Sal a gosto? – a garota repetiu, segurando o pacote de sal. – Que tipo de medida é essa?

Todos olharam para Remo. O garoto deu de ombros.

-Ótimo, ótimo. – Lisa resmungou, olhando feio para o “irmão”, num gesto mudo de quem dizia que ele era obrigado a saber das coisas.

Ninguém disse nada. Remo folheava o livro a procura de alguma legenda que indicasse qual era a medida do “sal a gosto” e Marlene encarava a panela borbulhando com um ar pensativo.

Passaram-se alguns minutos sem que a cena modificasse, até que uma sombra de um sorriso brotou nos lábios da morena quando o entendimento se fez presente em sua mente. A garota quase deu pulinhos enquanto não pensava duas vezes em abrir o pacote de sal – de forma nem tão delicada assim, ocasionando uma parte relativa de seu conteúdo espalhada sobre a mesa – e despejar tudo na panela.

Quando tomou consciência do que a “irmã” fizera, Remo soltou um grito um pouco agudo, o que fez Sirius prender o riso. As outras garotas pularam de susto e Marlene o encarou com uma feição confusa, apesar de sorrir por causa de sua descoberta.

-Deve ser o bastante. – ela disse quase aos pulinhos, Remo esboçou uma feição incrédula. – Ora, Remo, não me olhe com essa cara, se ficar sem sal colocamos mais. – ela completou num ar pomposo.

O maroto-mirim abriu a boca, mas apenas um ruído estranho escapou dos seus lábios e ele fechou-a de modo imediato. Marlene bufou de raiva.

-Qual é o seu problema? – ela cruzou os braços, inconformada. – Sal não é quase igual a açucar?

-C-como assim quase igual? – foi Alice quem questionou, com o cenho por completo franzido. Os outros murmuraram em concordância. Remo, por sua vez, ainda encarava a panela no fogo com um certo temor.

-Bom... – Marlene corou um pouco, ao notar que era o centro das atenções. – Açucar deixa as coisas doces, não é? – ela não esperou resposta. – O sal deixa as coisas salgadas, não é? – Sirius revirou os olhos.

-Nós sabemos disso, Lene. Realmente, foi uma grande conclusão. – ele comentou num resmungo. – Mas o que isso tem a ver?

-Para pequenas quantidas usamos pouco açucar. – ela falou como se não tivesse sido interrompida, mas, antes de prossegir, deu língua para o “irmão”, que apenas soltou um risinho debochado. – Então...

-Mas não precisava ter sido o pacote todo! – Remo, finalmente, conseguiu falar algo num tom muito rouco.

-Ah, Remo, não tem problema, é só a gente tirar o sal daí e... – ela voltou o olhar para a panela e franziu o cenho. – Ué, sumiu...

Ouve risos prendidos e Remo revirou os olhos.

-Sabe, acho melhor a gente desistir de tentar preparar um café da manhã para os nossos pais. – ele disse, desanimado, fechando o livro calmamente. Marlene ainda procurava o sal na panela para que pudesse ser retirado.

-Não deve estar tão ruim assim, Remo. – ela retrucou, emburrada. – Só deve ficar um pouco mais salgado do que o normal, só isso.

-Aí teremos que beber a água toda da praia para diminuir a sede. – Sirius retrucou, fazendo pose de sabe-tudo.

-Sirius, a água da praia é salgada. – Lisa falou num riso prendido, ao que todos riram.

-Que seja! – ele falou, um tanto quanto corado. – Hum, bem, vocês entenderam. Eles seriam envenenados no primeiro gole!

-Menos, Sirius, por favor. – Alice comentou, lançando um olhar receoso para Marlene, aparentemente, ela não ouvira, estando muito preocupada em fitar o conteúdo da panela no fogo.

-Ok. – Marlene suspirou, derrotada, ao notar que era impossível de se achar o sal no meio daquele molho todo. Ela lançou um olhar receoso para a panela borbulhante. – Agora, o que vamos fazer?

-Tem geléia e torta na geladeira. – Belle falou, num meio sorriso. – Poderíamos tentar fazer umas torradas na torradeira e... – ela parou de falar ao notar que ninguém mais dava atenção para ela e que a mesma estava inteiramente voltada para a porta do eletrodoméstico branco. – O que deu em vocês?

-Você falou torta? – Alice se pronunciou com os olhos brilhantes.

-Falei, mas... – ela começou, mas automaticamente parou de falar quando cinco pares de mãos voaram para cima da porta da geladeira, empurrando-se periodicamente a fim de ser o responsável por abri-la e pôr as suas ansiosas mãos no prêmio que os esperava atrás dela: a torta. A “irmã” revirou os olhos, apesar de esboçar um sorriso suspeito. – Ah, pelo amor de Merlim, vocês! Temos mais o que fazer do que ficarmos comendo torta. – completou, tentando manter-se séria.

-Eu não como nada desde o jantar! – Sirius prostestou, empurrando Remo entusiasticamente.

-Você não é o único. – os outros automaticamente retrucaram, indignados. Belle tornou a revirar os olhos e voltou a ajeitar algumas coisas na mesa, sem muito interesse para a briga que se instalara entre os “irmãos” novamente.

A cena continuaria e perduraria por um bom tempo, sem vencedores, se Belle não tivesse soltado um grito, fazendo com que todos voltassem o olhar para ela com um ar confuso – Sirius aproveitou a chance para empurrar Lisa gentilmente e fechar suas mãos sobre o puxador da porta.

-O que foi? – Remo indagou, entediado. A “irmã” olhava aterrorizada para algo a sua frente, mais precisamente, o fogão.

-Ele está criando vida própria! – ela disse no que parecia ser um novo grito e apontou para a panela, que borbulhava furiosamente em cima do fogão, cujo conteúdo subia a cada segundo, começando a transbordar para todos os lados.

Todos esqueceram de automático a deliciosa torta que os esperava dentro da geladeira e correram até Belle.

-O que faremos? O que faremos? – Marlene falou, desesperada.

-Oras, se vire, a gororoba é sua! – Sirius falou num tom medrosamente debochado. – Talvez ela queira pegar você, Lene. – completou num meio sorriso.

-Cala essa boca, Sirius. – Remo o repreendeu, ao que o “irmão” apenas devolveu a repreensão dando língua para ele.

-E se explodir...? – Lisa comentou, receosa.

Todos automaticamente correram e espremeram-se debaixo da mesa. Ficaram em silêncio, observando a “coisa” descer pelo fogão lentamente.

-É agora que ela cresce e cria vida? – Alice falou, tremendo. Sentiu algo estranho mexer-se perto de si e pulou de susto, agarrando Sirius, que revirou os olhos.

-Pedro? – Lisa indagou, incrédula, ao notar o que assustara a “irmã”. – O que você está fazendo aqui?

-Comida! – o pequeno disse, feliz, apontando para a coisa borbulhante. Sirius esboçou um sorriso suspeito.

-Isso mesmo, Pedrinho. Vá lá e coma essa gororoba da Marlene por nós! Ou melhor... – ele fez uma feição sinistra e balançou os dedos na frente do “irmão”, além de simular uma quase mordida no pescoço de Alice. – Ela vai te comer...

Pedro encolheu-se e agarrou-se ao braço de Remo, que revirou os olhos enquanto o outro gargalhava.

-Sirius! – Lisa ralhou com ele. – Pare de botar medo no Pedro!

-Ele é um frouxo! – justificou-se Sirius, esboçando um ar triunfante.

-Você só faz isso porque ele é menor do que você.

-Não. – ele riu um pouco. – Eu também faço com vocês, esqueceu?

Ele gargalhou ainda mais ao ver que elas fechavam a cara.

-Mas você também é um frouxo. – pirraçou Belle num meio sorriso. Uma mancha vermelha começava a se espalhar pelo chão da cozinha.

-Não sou não. – Sirius falou, orgulhoso.

-Ah, é? – Remo começou em tom de desafio, uma sombra de um sorriso maroto brotando nos seus lábios. – Então por que você não vai lá e apaga o fogo?

-Por que eu prefiro fazer coisa melhor. – ele afirmou num tom heróico, retirando uma varinha não se sabe de onde e murmurando um feitiço que lembrava muito “Incendium”, apontando diretamente para a panela.

-Sirius, não! – Remo gritou, mas o mesmo fora abafado por o som de uma explosão e o ruído de gosmas vermelhas caindo e grudando-se em todas as partes alcançaveis do recinto.

O moreno ficou da cor do molho e sorriu amarelo.

-Ops, atrapalhei.

-Merlim, o que eu fiz para merecer um irmão tão burro? – murmurou Remo, solenemente.

-E tão teimoso? – continuou Belle, no mesmo tom.

-Tão idiota? – ressaltou Lisa num grunhido.

-E tão...

-Hey! – indignou-se o maroto-mirim. – Eu ainda estou aqui! – exclamou, recebendo cinco cascudos em resposta. – O que foi que eu fiz agora?

-Você ainda pergunta? – Lisa questionou com a sobrancelha arqueada.

-Pense pelo lado bom. – ele sorriu, meio receoso. – Nós fizemos uma nova decoração! – ele abriu os braços exageradamente, fazendo as “irmãs” bufarem e se desviarem deles.

-Que ameaça cair, a qualquer momento, em cima de nós e nos deixar... gosmentos. – Alice falou numa careta. – Nós vamos ter que limpar tudo! – o rosto redondo da menina ficou perigosamente vermelho. – E tudo graças a você!

-Nós podemos resolver isso num passe de mágica! – ele avaliou, recebendo olhares assassinos dos outros. – Vocês não entenderam o sentido da expressão. – completou, de imediato. – O Remo tenta.

-É. – ele falou quando foi abordado pelos olhares das quatro. – Eu posso tentar.

-Ok. – Lisa murmurou em resposta. – Mas com uma condição. – ela olhou significativamente para Sirius.

-Qual? – o maroto arriscou perguntar, apesar de saber que se arrependeria amargamente por isso.


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-Por Merlim, isso é trabalho para garotas! – resmungou Sirius ao que pareceu a vigesima vez enquanto esfregava o chão com um pano muito vermelho e grudento. O que fazia com que espalhasse mais a sujeira do que a intenção real, que era limpá-la.
-Se você disser isso mais uma vez, Sirius, você vai limpar o chão com a língua! – Alice ralhou, enquanto tirava a mesma gororoba de cima da mesa e um Remo receoso aplicava um “Limpar” no fogão.

-Mas é a verdade!

Alice apenas voltou-se para ele com um ar de poucos amigos.

-Eu não disse aquilo, disse? – ele falou, quase rindo.

-Garoto, como você é irritante!

-Obrigado, eu sei que sou. – falou pomposamente e chegou a cogitar a possibilidade de levar a mão aos cabelos, mas desistiu ao vê-la completamente vermelha. Sorriu, havia tido uma grande idéia.

-Sabe, Sirius, lavar o pano de vez em quando não faz mal algum, sabia? – Belle falou, enquanto estudava o liquidificador meticulosamente. – Hum, como é que se liga essa coisa?

Já Marlene trazia a torta para cima da parte limpa da mesa com, curiosamente, dois pedaços a menos. Belle apenas notou o fato e alargou o sorriso, piscando para Lene, que soltou um risinho.

-Eu já disse que isso não é para mim. – ele rebateu. Alice grunhiu algo ininteligível. – Eu não disse aquilo, disse, Lice? – ele completou num tom debochado para, em resposta, receber um delicado pano na cara.

Sirius gemeu ao sentir aquela coisa grudenta e fria sobre o seu rosto, enquanto os risos dos outros ecoavam pelo cômodo. Honradamente, ele levantou-se do chão com a delicadeza de um gigante e avançou para cima de Alice. Segundos depois, a garota tinha seus amáveis madeixas tingidas de vermelho.

Lice soltou uma exclamação indignada e raivosa, ao que os outros “irmãos” apenas gemeram, menos Pedro, que tentava – inutilmente – alcançar com suas mãos gordas e pequenas a torta que estava em cima da mesa.

Sirius gargalhou, mas antes que ele parasse de rir e esboçasse uma feição cômica e desesperada e os “irmãos” dissesse qualquer coisa, uma Alice extremamente vermelha já tinha as mãos insinuando-se perigosamente na deliciosa torta de morangos feita pela “mãe”.

Remo ainda tentou dizer “A torta, não”, mas foi com o coração partido e a boca salivando que ele viu uma pequena parte dela sobre o rosto de Sirius. A cena pareceu passar em câmera lenta. O rosto de Sirius contorceu-se numa careta e, como se o estrago não tivesse sido suficiente, o maroto enfiou as mãos com gosto na torta e preparou-se para jogar em Sirius, mas o mesmo se esquivou e ele acabou atingindo uma já irritada Marlene. Ele sorriu marotamente e teve a infeliz idéia de gritar um “Guerra de comida!”, antes que todos avançassem para cima da mesa e pegasse a primeira coisa comestível e jogável de cima dela.


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Ofegantes e completamente sem munição, os garotos se jogaram no chão – não se importando se o mesmo tinha o seu piso completamente irreconhecível –, dando-se por vencidos. Todos também irreconhecivelmente melados e um Pedro com uma expressão irritada no rosto, enquanto Remo fazia com que as mãos do “irmão” ficassem estrategicamente longe da comida espalhada pelo chão.
-Nossos pais vão nos matar. – ele afirmou num gemido, observando o estado lastimável da cozinha. Todos exibiram feições igualmente desesperadas ao tomarem consciência disso.

-Tudo culpa de quem? – ironizou Lisa, furiosa. – De quem mais seria senão o Sirius? Claro! – ela olhou feio para o moreno. – Só podia ser ele.

-Quando eu falo guerra de comida não significa que vocês tem de seguir tudo o que eu digo. – ele rebateu, triunfante.

-E se alguém faz algo com você não significa que tem de retrucar, ainda mais quando é o errado! – ela se pronunciou num sibilo.

-Claro que tenho! – ele falou, ofendido. – Eu tenho uma honra a zelar.

Lisa revirou os olhos.

-Querem parar de discutir? Precisamos dar um jeito nisso. – Remo interrompeu a discussão antes que Lisa resolvesse falar algo. – E rápido.

Todos silenciaram e Belle pigarreou, fazendo com que todos voltassem o olhar para ela. Havia tido uma grande idéia. Sorriu.


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Lílian acordara um pouco mais tarde do que o normal àquela manhã. Com um longo suspiro, ela abriu os olhos e bocejou. Ainda um tanto quanto atordoada, a ruiva piscou várias vezes ao se deparar com o rosto de Tiago tão próximo de si. Franziu o cenho, um tanto quanto confusa. Ele já havia chegado? Por que, então, não a provocara como havia feito anteriormente?
A ruiva revirou os olhos, tentando afastar aquelas lembranças da mente. Tentou ignorar também o fato dele ter se deitado na cama com a roupa do corpo.

-Ele não se dá ao respeito! – ela resmungou num tom ligeiramente esganiçado.

Lily o analisou de soslaio, enquanto erguia o tronco e cruzava os braços de forma imponente. O cobertor verde escorregou lentamente e deslizou pelo seu braço, fazendo-a olhar para baixo. Automaticamente, a feição emburrada da ruiva transformou-se numa pensativa. Ele a cobrira? Mas... por quê? Não pôde deixar de sorrir àquele gesto do rapaz; aquilo a fazia crer que, ao menos, ele se preocupava com ela... Fechou a cara novamente, disposta a não mais pensar nisso.

“Lembre-se do que ele fez, Lílian, lembre-se do quando ele a fez sofrer...” ela disse para si mesma, desesperada, como quem pretende convencer a si mesmo.

Mas, apesar de tudo, ela não se impediu de fita-lo de cima a baixo.

Os cabelos deles pareciam ligeiramente despenteados – mais do que o normal, é claro –, mas a roupa estava estranhamente arrumada. De forma quase inconsciente, a ruiva se aproximou do rosto do rapaz e inspirou profundamente. Um suspiro escapou dos seus lábios ao reconhecer o cheiro dele.

Tiago moveu-se durante o sono e Lílian se afastou dele de modo brusco, num leve sobressalto. Esboçou um ar intrigado. Tudo lhe parecia muito estranho e confuso; o que estava acontecendo?

Tentando não se iludir ainda mais, ela meneou a cabeça de forma brusca e apertou os olhos fortemente. Bufou de raiva baixinho e, num gesto ágil, jogou a coberta de qualquer jeito para o lado. Pouco lhe importava o fato de, com isso, ela acabar por cair em cima de Tiago e acorda-lo sem querer. Escorregou os pés de forma violenta par fora da cama, mas, antes que se levantasse, ela voltou o rosto para trás, a fim de lançar um último olhar para Tiago.

Ela arqueou uma sobrancelha, exibindo um ar desconfiado. Será que fora sua imaginação ou Tiago havia fechado os olhos quando notou que ela iria se voltar para fita-lo? Ela o observou atentamente por alguns minutos e, vendo que ele não abriria os olhos, levantou-se rapidamente, desistindo de continuar a fitá-lo.

A ruiva caminhou a passos lentos pelo quarto e parou à porta do guarda-roupa que dava acesso ao banheiro. Virou-se lentamente para fita-lo mais uma vez. Vendo que ele nem ao menos havia se mexido, suspirou e voltou o olhar para a frente, voltando a caminhar.

Tiago abriu os olhos novamente a ponto de ainda ver a mão que ela apoiara na porta ao lado ser lentamente retirada de lá e sumir pelo corredor. Moveu-se de leve no colchão e deitou-se de frente para o teto. Não podia mais continuar com aquilo; aquela situação o estava a matar por dentro.

Ele tornou a fechar os olhos quando notou que os passos da ruiva se tornavam cada vez mais próximos novamente. Tiago tentou não sorrir ao pensar que ela estava pisando duro de propósito, como uma implícita provocação para acordá-lo.

O silêncio reinou no quarto e, segundos depois, ele sentiu a cama afundar levemente ao seu lado e um calor perto da sua cintura. Apertou os olhos mais ainda e sentiu o corpo um pouco tenso. Involuntariamente, ele sentira que prendera a própria respiração. Lílian ajeitou-se um pouco mais e sentiu o braço dele rente a um corpo.

A ruiva quebrou o silêncio com um longo suspiro. Tiago permaneceu imóvel, contrariando a vontade de abrir os olhos e forçar uma conversa séria com a ruiva.

-Por que você fez isso comigo, hein, Tiago? Por quê? – ela sussurrou com os olhos marejados. Tiago sentiu o hálito quente da ruiva próximo aos seus lábios e soltou a respiração lentamente; um longo arrepio percorreu por todo o seu corpo e ele viu-se afundando-se um pouco mais sobre o colchão. – Gostaria tanto de obter essa resposta. O que você pensa que está fazendo? O que você pensa que eu sou? – a voz, agora, soara um pouco rancorosa. Tiago sentiu o peito contrair-se involuntariamente. – Você me enche de esperanças e depois vai ter com outra. Para quê tudo isso?

Ela silenciou por alguns instantes. Tiago ficou na dúvida se devia ou não falar algo. A coragem lhe faltou e ele resolveu permanecer numa falsa indiferença, como se ainda dormisse.

Ele notou que ela pousara as mãos dela levemente em seus ombros e a respiração dela, apesar de rasa, estava muito mais próxima de seus lábios.

Lily fechou os olhos e, sentindo uma lágrima descer vagarosamente pelo seu rosto, entreabriu os lábios de leve, como quem faz menção de beija-lo e soltou o ar de leve pela boca, antes de se afastar calmamente.

-Eu sei que eu não vou ter a resposta; acho que nunca a terei.

Tiago sentiu um gosto salgado sobre os lábios e, num leve tremor, percebeu que as mãos da ruiva estavam saindo do seu peito e o peso ao seu lado diminuir gradativamente. De forma automática, ele abriu os olhos, a ponto de ainda ver o rosto da ruiva manchado por algumas lágrimas, antes dela dar as costas para ele enquanto se levantava.

Lílian sentiu uma mão se fechar sobre o seu pulso e suspirou, ainda na mesma posição.

-Me solta, Potter. – a voz dela soara amarga, apesar de embargar um pouco.

-Lílian... – ele a chamou, baixinho. – Você está chorando?

-Creio que isso não lhe diga nenhum respeito, Potter. – ela respondeu no mesmo tom, não se arriscando a encará-lo.

Lílian ouviu o farfalhar de leve do lençol e, se atrevendo a um olhar de soslaio, notou que Tiago havia se sentado na cama. Crispou as mãos com força quando constatou que a mão dele subia gradativamente do seu pulso para o ante-braço. Aquele simples toque a enloquecia.

-Diz respeito sim, Evans. – ele falou docemente.

A ruiva sentiu-se, momentaneamente, sem ar. “Por que sempre esse tom de voz...”

Ele aumentou o aperto no seu ante-braço de forma amável e, em resposta ao gesto, Lily virou-se para ele lentamente. As lágrimas corriam pelos seus olhos e, automaticamente, ela as enxugou com a mão livre de forma irritada e brusca.

-Desde quando isso olhe diz respeito, Potter?

-Apesar de você não acreditar, foi desde o dia em que eu me vi apaixonado por você, Evans. – ele avaliou, encarando-a com um olhar duro, que brilhava de uma forma intensa e peculiar, como se estivessem em chamas. Lily, de certa forma, soube o que aquilo significou; soube que, naquele momento, ele estava sendo sincero. – Tudo o que acontece com você me importa, Lílian. Será que você não entende que eu quero fazer parte da sua vida?

Silêncio. A garota arregalou os olhos imensamente marejados e eles emanaram um brilho intenso. Lily fechou os olhos e as lágrimas rolaram pela sua pele alva e pingou no braço de Tiago. Ela soltou um longo suspiro, tentando ignorar o tom de carinho na voz do rapaz. Por que ele sempre tinha que desarmá-la daquela maneira? Ele a dilacerava aos poucos e parecia notar isso. Aquilo era cruel...

-O que você quer, hein? – murmurou, ainda com os olhos fechados. – Não... não já basta tudo... tudo o que você fez? – ela falou pausadamente, tentando se impedir de soluçar.

Tiago aumentou a pressão sobre o ante-braço da ruiva.

-Lílian, eu...

-O que eu fiz a você, Potter? – ela o interrompeu de modo brusco. – Pode me dizer? Eu realmente mereço ser iludida da maneira que você tem feito comigo?

Tiago não respondeu de imediato, apenas abaixou o olhar e suspirou profundamente.

-Me perdoa... – ele falou quase que somente num mover de lábios, mas soube que Lílian entendera perfeitamente as suas palavras.

A ruiva abriu os olhos e o fitou, confusa. Ela esperava que ele fosse rir, fazer algum comentario maldoso ou simplesmente ignora-la. Jamais imaginaria ouvir um “Me Perdoa” dito com tanta dor, culpa e arrependimento.

-Como?

-É tudo... mentira. – aquela frase saiu relutante e Lílian constatou, um tanto quanto surpresa, que ele se controlava para não chorar... na frente dela. Ele também não se atrevia a encará-la. Vergonha de si mesmo?

-Tudo... – ela franziu o cenho. – Potter; do que você está falando?

-Eu estou falando que... eu não aguento mais continuar com isso, Evans. – ele soltou um longo suspiro. Lílian acompanhou com o olhar uma lágrima descer pelo rosto dele enquanto o rapaz erguia a cabeça, ainda permanecendo de olhos fechados. A mão sobre o seu ante-braço tremia. – Eu estou cansado de brigas; cansado de fingir que eu não me importo com nada...

Ela sentiu um arrepio percorrer o seu corpo quando ele a encarou com os seus olhos sem brilho algum. Tanta dor. A mesma dor que lhe afligia; a mesma que estava a lhe matar por dentro. Seria mesmo verdade?

-Potter, me solta. – ela murmurou de modo calmo, a voz com um quê implícito de rancor e aconselhamento.

-Acho que já passou da hora de termos uma conversa bem séria, Lílian Evans. – a voz dele tentou soar firme, mas se podia notar um leve tremor nela.

-Não há nada para conversarmos, Potter. – ela silenciou por alguns instantes, como se ponderasse. – Nunca houve. – ela completou, puxando o braço com força para perto de si, conseguindo livrar-se da mão que o prendia.

Mas mal ela caminhara dois passos e essa mesma mão fechara-se sobre o seu pulso novamente. Ela inspirou profundamente.

-Potter... – ela o chamou, baixinho. – Me deixa em paz.

-Eu não vou mais adiar isso, Lílian. – ele comentou num tom sério. – Eu... – foi a única coisa que conseguiu falar antes que sua voz falhasse por completo.

Um longo suspiro escapou dos lábios de Tiago e ele fechou os olhos, mordendo o lábio inferior em sinal de nervosismo. Lílian virou-se para fitá-lo e notou que ele estava com um dos joelhos em cima da cama e a outra perna para fora dela.

Irritada e, ao mesmo tempo, desesperada, além de disposta a mostrar para o rapaz que simplesmente não era mulher dele fazer o que ele bem quisesse e entendesse, a ruiva forçou a sua saída, mas a mão de Tiago a segurou com mais força.

-Por favor, Lily. Eu não quero te obrigar a ficar aqui à força. – ele tornou a abrir os olhos e encarou-a de modo determinado. Havia um ar de súplica em sua voz.

Lílian sustentou o olhar, respondendo-lhe com um de fúria. Tiago viu suas forças vacilarem momentaneamente e sua mão escorregou pelo pulso dela, antes de tornar a segura-lo fortemente. A garota viu o rapaz apertar os olhos num gesto que ela não soube distinguir o que seria: arrependimento; desespero; raiva. Balançou a cabeça, sentindo os cabelos baterem de leve sobre o seu rosto.

-Mas já está obrigando, Potter. – ela grunhiu, irritada. – Não quero nada que venha de você; mesmo que seja uma palavra sequer. Fique com ela e faça bom proveito... eu não a desejo.

Ela forçou uma nova saída e deu as costas para ele. Tiago bufou de raiva baixinho e a fez voltar-se para si num gesto um pouco brusco.

Ele segurou os braços dela de modo firme. Lílian podia ver a marca que as poucas lágrimas deixaram no rosto dele. Podia ver o brilho intenso que os seus olhos castanho-esverdeados exibiam. Sentiu o corpo inteiro vacilar ao ter Tiago tão próximo a si.

-Potter... me... solta. – novamente uma frase pausada.

Contrariando o desejo da ruiva, Tiago recostou a sua testa dela, trazendo-a um pouco mais para perto de si de forma quase violenta. Um arrepior percorreu a espinha da ruiva, quando o pensamento de que ele a beijaria foi cogitado pela sua mente. Lílian encarava aquelas pálpebras fechadas e entreabriu os lábios de forma inconsciente ao sentir aquele hálito quente sobre eles.

-Lily, por favor, não faz isso.

-Eu quero sair daqui, Potter. – ela tentou soar indiferente, mas sua voz sofreu um forte tremor. – Me deixa sair, por favor.

-Eu não agüento mais fingir; isso está sendo mais do que eu posso suportar. Isso já está me destruindo por dentro, ruiva. Eu já estou cansado dessa farsa, dessa mentira; dessas brigas. Será que você não entende que eu te amo de verdade?

-Amar ou não amar. – ela rebateu, tentando não se sentir afetada por aquelas palavras, mas se sentia e se odiava mentalmente por isso. – Isso não me interessa, Potter. – ela inspirou de leve. – Isso não muda o que você fez.

O tom frio daquela voz fez Tiago aperta-la mais contra si.

-Eu bem que tentei. – ele começou num murmúrio. – Quando nós brigamos, eu realmente saí desse quarto com aquela idéia fixa na cabeça. Eu me senti traído, Lílian. Eu me atormentava com o fato de outro ter beijado você. – ele aproximou de leve os seus lábios aos dela, roçando de leve os narizes, antes de separar-se dela calmamente.

Lily, ainda um tanto quanto atordoada, notou que ele a encarava com um profundo arrependimento.

-Quando eu sai desse quarto, eu não nego que eu realmente pensei em fazer isso. Mas... – ele passou a mão pelos cabelos. – seria inútil. Eu sei que não conseguiria estar com nenhuma outra mulher, já que a única que ocupa os meus pensamentos se encontra na minha frente nesse exato momento. – ele suspirou. – Eu não fiz isso, Lílian. Não fiz por amor a você.

O silêncio que se instalara entre o casal, agora, era completamente denso. O rosto de Lílian estava inexpressivo e Tiago ainda a encarava, temendo e ansiando uma reação da sua parte... mesmo que, lá no fundo, ele soubesse que não seria favorável para ele.

-Foi também por amor a mim que você fingiu esse tempo todo que ela estava com ela? – questionou, amarga. – Que mentiu para mim? Por que, Tiago? Por quê? – ela respirou profundamente, ao notar que sua voz estava começando a ficar alterada. – Por que você me fez sofrer daquela maneira?

Tiago mordeu o lábio inferior. Preferia que ela gritasse com ele, batesse nele a ter que ouvir aquele tom de mágoa tão nítido na voz dela.

-Eu... Eu senti raiva de você, Lílian. – ele se explicou de modo lento. Ele não ousava encará-la. – Na hora da raiva... Na hora da raiva eu me senti, de alguma forma, traído. Eu me senti com o orgulho ferido. Eu queria atingir você de alguma maneira. – ele silenciou um pouco, como se hesitasse. – Eu estava cego de ciúmes.

Ela não disse nada, apenas suspirou. Apesar do olhar baixo do rapaz, ela notou que ele estavam começando a marejar.

-Eu queria que, de certa forma, você se sentisse como eu me senti quando eu descobri que o Alexander te beijou.

-Mas a culpa não foi minha! – ela quase gritou. – Foi justo eu ter passado por tudo isso só por causa de uma atitude infantil e mimada da sua parte, Potter? – completou num tom rancoroso. – Você acha bom, Potter? Acha certo ter me feito passar por tudo o que eu passei? – repetiu com a voz trêmula. – Olhe para mim, Potter. – foi a fez dela segura-lo pelos braços e sacudi-lo de modo brusco, fazendo com que ele erguesse a cabeça para encará-la. Lily não se intimidou nem vacilou perante aquele olhar enevoado do rapaz. – Está vendo? Você vê as manchas das lágrimas? – ela mordeu o lábio inferior, sentindo-se um tanto cega pelas mesmas. – Todas elas, Potter. Cada uma delas, derramadas por uma mentira sua!

Tiago respirou profundamente quando Lílian o soltou e apertou os olhos com raiva.

-Você é a pessoa mais desprezível desse mundo, Potter. – ela retirou as mãos do rosto e o encarou com fúria. – Eu te odeio.

-Eu sei que eu mereço o seu ódio, Lílian. – falou, baixinho. – Pela primeira vez, você tem razões para me odiar. – ele riu sem emoção. – Eu sou muito orgulhoso, Lily. Esse é o meu mais profundo defeito. Já fiz as pessoas que eu mais amo sofrerem por causa disso. Eu admito o meu erro. – ele silenciou um pouco. – Se alguém é o monstro dessa história, essa pessoa sou eu. – ele ergueu a mão calmamente e acariciou a face dela, antes de segurá-la de forma receosa.

Ele fechou os olhos e suspirou. Lílian ainda permanecia calada, observando Tiago com uma fúria doentia no olhar.

-Se eu pudesse voltar atrás, de certo que faria tudo diferente. – ele prosseguiu, vendo que ela não se manifestaria. Seu polegar fazendo movimentos circulares sobre a face rubra da garota. – Eu também sofri com essa história toda, Lílian. E, sinceramente, eu não me importo com isso. Eu não me importaria nem um pouco se fosse o mais atingido dessa história. Eu só quero que você saiba que a última coisa que eu pretendia com isso, era te fazer sofrer. – ele olhou para os próprios pés.

O rapaz se calou e Lílian não ousou falar coisa alguma. Tiago permaneceu na mesma posição, temendo ver o desprezo no olhar da ruiva se a encarasse. Ele temia ver aqueles olhos emanando o mais bruto do ódio novamente. Controlou-se para não se permitir chorar novamente. Ele era um completo desprezível. Ela estava completamente certa.

-Palavras bonitas, Potter. – a voz da ruiva quebrou o silêncio e ele levantou a cabeça para fitá-la. Ela exibiu um sorriso sarcástico e Tiago estreitou os olhos por completo sorturnos. – Mas isso não muda em nada o quando você me fez sofrer. Isso tudo só mostra o quanto você foi egoísta e não me merece. – ela esboçou um ar sério. – Se postar de humilde e arrependido de nada adianta agora.

Ele apenas a fitou de forma inexpressiva e ela tornou a curvar os lábios num sorriso sarcástico.

- Pode esquecer que eu existo? Pode me deixar em paz? Pode me soltar... largar minha face e me deixar sozinha? – ela retirou a mão dele da sua face de forma violenta. – Sua presença me enoja, Potter.

-Pelo menos... – ele se calou, parecendo escolher as palavras. – Você pode me perdoar? Mesmo que... – as palavras se perderam em seus lábios mais uma vez.

-Se isso faz você se sentir melhor e satisfaz seu arrependimento inútil, eu te perdôo. – ela falou friamente. – Mas saiba que nunca será de coração. – ela lhe lançou um último olhar duro e, num girar de calcanhares, afastou-se dele, saindo do quarto logo em seguida.

Tiago foi acometido de um sobressalto ao ouvir a porta bater num forte baque. Sentindo as forças esvaídas do seu corpo, ele deixou-se desabar sentado na cama e enterrou os dedos nos cabelos rebeldes, apoiando os cotovelos em cima das coxas. Não havia mais lágrimas para derramar. Não havia mais nada para dizer.

-Idiota; você é um perfeito idiota, Tiago Potter. – a sua voz ecoou vazia pelo recinto, seus olhos mirando o chão de forma completamente vaga.


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Lílian escorou-se na porta que acabara de bater e abraçou a si mesma num gesto mudo de consolo. Fechou os olhos e ergueu a cabeça calmamente, sentindo novas lágrimas rolarem pela sua face. Sufocou um riso desgostoso ao constatar que, desde que se descobrira apaixonada por aquele maroto, a única coisa que ela sabia fazer quando sua mente se deixava pensar nele era chorar. Mas por que agora ela chorava enquanto a raiva queimava em seu peito e corroía suas veias como fel, ela não sabia dizer. Ou sabia, mas custava admitir.
Desde que conhecera Tiago Potter, ela nunca o vira chorar. Apesar da inimizade que nutria pelo rapaz, ela via em Tiago uma pessoa forte. Ele podia ser irritante, arrogante, metido, idiota, tirano... mas era alguém que não se deixava chorar por nada. E, por mais que ela custava a admitir para si mesma, ela admirava isso nele.

Sentiu um aperto no peito e mordeu o lábio inferior. Para Lílian, Tiago Potter era alguém que só se deixava chorar quando já se sentia completamente destruído por dentro.

Um leve tremor sacodiu o corpo da ruiva quando ela deixou-se pensar que havia sido a culpada por tamanha dor que vira transparecer nos olhos castanho-esverdeados do maroto. Por outro lado, ela sabia perfeitamente que não era ela a culpada daquela situasão. Tiago foi quem havia começado com tudo aquilo... ou será que fora ela?

Lílian entendia o lado dele. Sabia como era para alguém saber que quem ama não está sendo sincero com ele. Ela estava sentindo, naquele exato momento, o mesmo que ele havia sentindo quando soube que ela omitira que Alexander roubara-lhe um beijo... mas, esse fato seria tão dilacerante quanto saber que ele fingira, por dois dias, que estava com a Sharon?

A raiva fervilhou dentro de si e ela sentiu uma vontade imensa de socar a porta, mas apenas afundou um pouco as costas sobre ela e fitou o teto com um ar vago. Por que o amor tinha que ser tão complicado? Por que as pessoas fazem tanta questão assim de magoar àqueles que amam só porque foram magoados por eles?

Ela bem sabia, era por orgulho. Mas, mesmo assim, não entendia; simplesmente custava a entender o porquê dele ter feito isso com ela. Fora só um beijo... e ele pagara em troca com algo muito pior.

Ela tornou a suspirar, virando o rosto lentamente a fim de encarar a porta.

-Como será que ele está se sentindo agora...? – ela murmurou, baixinho, recostando sua testa na madeira fria do objeto. – Estaria Tiago Potter mostrando que até os mais fortes têm o direito de chorar?

O seu peito contraiu-se novamente e Lílian virou-se lentamente para ficar de frente para a porta. Seus dedos finos se fecharam sobre a maçaneta, mas ela hesitou.

Sentia-se indecisa; magoada. Por um lado, Lílian desejava ser a primeira a dar o passo, mas ao mesmo tempo não queria mostrar para ele o quanto se encontrava mal por causa disso. Seu lado orgulhoso rugia para ela deixa-lo sofrer, mesmo que ela estivesse sofrendo ao saber que era a culpada pelo sofrimendo dele.

Os pensamentos se embolavam em sua mente e ela abaixou um pouco a cabeça, tornando a recostar a testa na porta. Os olhos marejaram mais uma vez. Ela o condenara tanto pelos seus atos, mas agora percebia que estava a fazer o mesmo que ele. Ela estava agindo da mesma maneira. Tudo por orgulho. O maldito orgulho.

Riu sem emoção. Eles eram mais parecidos do que ela imaginava...

A ruiva é dispersa dos seus pensamentos quando notou que a maçaneta entre a sua mão estava sendo girada lentamente. Mas, antes mesmo que pudesse exercer qualquer reação contra isso, sentiu-se puxada pela mesma e, sem nem mesmo saber como isso ocorrera, viu-se amparada por Tiago.

Seus olhos se arregalaram, brilhando por causa das lágrimas. Lílian não disse nada e tão pouco recuou, apenas deixou-se recostar a face ao peito dele. Percebeu que o coração dele batia tão descompassado quanto o dela e pôde entreouvir o suspiro que ele, inconscientemente, deixara escapar.

As mãos que lhe abraçavam saíram lentamente das suas costas e empurrou-a para longe pelos ombros de modo delicado. O olhar de ambos se encontraram e Lílian pôde ver a nítida mágoa no rosto do maroto... a mágoa que o orgulho deixava como marca novamente.

As palavras que ela havia dito naquele quarto inda não saíam da mente de Tiago. Ele sabia que era culpado; sabia que merecia o que estava passando; mas, se ela não desejava perdoá-lo – de coração, ele fez questão de frisar –, não seria ele a pessoa a ficar implorando pelo perdão dela. Não mais. Ele ainda tinha a sua honra. Por mais que sofresse, não iria se rebaixar mais.

Lílian viu Tiago lançar um último olhar para ela e sair do quarto sem dizer uma palavra.

A ruiva passou a mãos pelos rubros cabelos. Bastou apenas uma frase para que o ódio, talvez nunca sentido antes, começasse a destilar o seu veneno dentro do coração do rapaz... e aquele maldito orgulho fazia com que ela resistisse ao seu real desejo: ir atrás dele para que tivessem uma nova conversa, para que ela dissesse que o havia perdoado, de verdade.


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Os seis esboçaram um sorriso satisfeito ao notar a mesinha – que deveria estar na mini-biblioteca –, com um café da manhã para dois aparentemente apetitoso, posicionada no centro de uma cozinha extremamente limpa com ocupantes em iguais estados.
-Fizemos um bom trabalho. – Sirius falou com um enorme sorriso, que murchou de imediato ao notar os olhares irritados dos outros “irmãos”.

-Ele já estaria acabado se não fosse por...

Mas Remo foi poupado por gastar seu tempo e saliva inutilmente, e Sirius de ouvir mais um novo mini-sermão do “irmão” traidor, devido a um estrondoso e assustado grito, seguido de um som estranho que terminou num baque surdo e um alto xingamento.

-É o sinal! – Lisa falou de um modo solene.

-Sinal? Que sinal? – Remo e Sirius murmuraram confusos e receosos, achando por um breve momento que a “irmã” tinha enlouquecido de vez.

Houve um novo grito, seguido agora de gargalhadas graves e roucas.

-Eles acordaram! – Marlene respondeu pela outra, agarrando Sirius por um braço e Remo pelo outro e puxando-o para enconderem-se na dispensa.

-Mas o que estamos fazendo? – ele questionou, indignado, quando a “irmã” o empurrara para dentro e Lisa fechava a porta rapidamente.

Uma tênue luz se acendeu no recinto, iluminando os rostos atentos das meninas e o ainda confusos dos meninos – sem deixar de acrescentar, o de um Pedro fascinado ao descobrir um pacote de biscoitos na penúltima prateleira.

-Escapando de uma bronca e deixando nossos pais à sós.

-Ah... – Sirius disse, parecendo entender. – E como vamos saber se o plano de vocês deram certo? – sorriu de forma presunçosa. – O parar de ouvir gritos não funcionou da outra vez.

-Mas eles estavam colados um ao outro, não estavam? – Marlene insistiu, confusa.

-Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! – Remo os repreendeu, colando o ouvido na porta.

-Remo, não enche! – resmungou Sirius, aborrecido, voltando a atenção para Marlene. – Onde estávamos? – ele esboçou um ar pensativo. – Ah, sim! Eles estavam, mas isso não... – Sirius parou de falar com os olhos lacrimejando após Remo ter dado uma digna e doída pisada em seu pé e tapar-lhe a boca para impedi-lo de gritar.

As meninas prenderam o riso. Sirius, não deixando barato, inspirou profundamente e deu uma gloriosa mordida na mão de Remo, fazendo-o gemer de dor e encará-lo com o seu pior olhar.

-Isso foi pela pisada. – o moreno sussurrou, ofegante.

-Terá troco, Black. – ele rebateu num sibilo.

-Ora vocês dois. – resmungou Alice, entendiada. – Eu quero ouvir alguma coisa!

-Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! – debochou Sirius, lançando um olhar divertido para Remo, que revirou os olhos em resposta.

Então, os seis automaticamente ficaram em profundo silêncio e aproximaram-se da porta, acotovelando-se por alguns minutos, até que arranjassem posições favoráveis para colar o ouvido nela e tentar ouvir algo que estava acontecendo lá fora. Já Pedro, alheio a tudo, ainda tentava alcançar o pacote de biscoitos, sem sucesso.


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-Pestinhas. – resmungou Tiago, balançando a cabeça a fim de tirar uma mecha de cabelo que grudara em seus olhos, enquanto sacodia algo gosmento que grudara na sua mão. – O que raios eles devem estar aprontando agora? – murmurou para si mesmo, enquanto sentia as costas doloridas.
-Não sabe mais descer uma escada, Potter? – desdenhou Lily num tom risonho e arrastado.

Tiago apenas voltou o rosto para a direção que ouvira a voz e seus lábios se curvaram num prazeroso sorriso ao notar que Lily estava no alto da escada. Podia ver o mesmo ar no rosto de Lily ao presumir que ele havia caído da escada por contra própria. Se não fosse a real situação, ele poderia até achar graça na relação ódio/amor que agora existia entre os dois. Existe uma tênue linha que divide esses dois sentimentos tão antagônicos.Ele se sentia em cima dessa linha, dividido a que lado seguir. Tiago Potter não sabia dizer o que realmente sentia pela ruiva no momento.

Alargou o sorriso quando viu que ela chegava a metade da escada. Inexplicavelmente, ela tropeçou em algo invisível e gritou, enquanto tentava se segurar no corrimão – como ele fizera –, mas o corrimão inexplicavelmente escorregadio só ajudou a ela deslizar ainda mais e sair rolando escada abaixo.

Num gesto ágil, Tiago deitou-se no chão e girou para o lado, saindo do lugar que, segundos depois, Lily caíra com um baque surdo.

-Acho que você também não, Evans. – ele comentou, erguendo o tronco e fitando-a com uma feição a beira do riso. Lily apenas gemeu de leve e afastou os cabelos do rosto, erguendo-se do chão de modo orgulhoso e lançando um olhar fulminante a Tiago, que começava a explodir em gargalhadas.

-Você devia ser mais cavalheiro, Potter. – ela comentou, sem pensar, os olhos chispando enquanto o encarava.

O rapaz não disse nada, apenas parou o riso aos poucos e esboçou um sorriso sacana para a ruiva, antes de se levantar e se retirar, deixando-a ali, sozinha, sentada no chão da sala.

Lily pensou em passar a mão pelos cabelos, mas desistiu ao lembrar-se da gosma verde que tinha nela. O longo suspiro que soltara transformou-se num reprimir de um grito de raiva e ela ficou de pé, seguindo até a cozinha em um pisar duro.

A ruiva estava divagando em seis criaturinhas dentro de um caldeirão fervente e uma massa de cabelos rubros escolhendo entre jogar uma de cabelos arrepiados em um poço fundo, em um mar cheio de tubarões ou transformá-lo em espetinho de dragão, quando notou, já no vão de entrada da cozinha, o mesmo ser servindo-se calmamente de algumas frutas que estavam postas em cima da mesa.

Ela franziu o cenho, confusa, e a possibilidade de preparar somente o seu café e o das crianças também se dissipou ao ver a mesa posta para um apetitoso café da manhã para dois.

Lily permaneceu em silêncio, ainda tentando processar a mensagem, enquanto contorcia o rosto devido a sua própria vontade de sorrir ao pensar na possibilidade dele ter aprontado tudo aquilo como um novo pedido de desculpas.

Passado alguns instantes, ela notou que Tiago a encarava num sorriso divertido e debochado e com uma sobrancelha arqueada, ao mesmo tempo em que levava um morango aos lábios.

-Não fui eu quem fez isso, Evans. – ele respondeu, tentando não rir. – Acha que depois de tudo eu iria fazer isso? Para nós?

Qualquer menção de sorrir sumiu da mente da ruiva e ela esboçou um ar carrancudo.

-Claro que não, Potter. – ela retrucou, secamente, lavando as mãos na pia, para se livrar da gosma esverdeada. – Eu esperava isso de pessoas mais maduras, coisa que você não é, e nem nunca será.

Tiago não respondeu nada, apenas alargou o sorriso e ocupou um dos lugares da mesa. Lugar este que Lily já pretendia ocupar. A ruiva reprimiu um bufo de raiva e contornou a mesa, sentando-se no único lugar vago que, para a sua infelicidade, ficava em frente a Tiago.

-Eu também não fui. – ela comentou num tom frio, servindo-se de algumas torradas e, quando ela deu uma atenção mais merecida a elas, notou que estavam com as bordas queimadas. – Acho que isso já diz tudo. – ela completou num meio sorrir, jogando a torrada de volta ao prato.

Lily arrastou a cadeira e se levantou, dirigindo-se até o armário a fim de preparar novas torradas – para ela, a ruiva fez questão de frisar – na torradeira. A ruiva esticou-se, ficando na ponta dos pés, tentando alcançar o pacote do pão, inutilmente.

Ela mordeu o lábio inferior e forçou um pouco mais quando notou o olhar risonho que Tiago lhe lançava, enquanto abocanhava uma maça com gosto. Lily bufou de raiva e apoiou uma das mãos na mesa, quando ouviu o som de uma cadeira se arrastando.

A raiva queimava dentro de si e o orgulho a impedia de buscar uma cadeira para subir nela e pegar o maldito pacote quando ela se lembrava do divertimento que Tiago estava tendo às custas dela.

A massa rubra já estava enrolando a escura e arrepiada em um espeto e sorria prazerosamente enquanto o dragão soltava suas chamas, ao longe, como se estivesse satisfeito com a chegada da sua futura vítima; quando um arrepio involuntário percorreu sua espinha quando ela sentiu um corpo rente a suas costas.

Ela permaneceu estática, até que notou uma mão acariciar de leve as costas da sua e subir um pouco mais e, segundos depois, o pacote do tão ansiado pão roçar de leve o seu braço. Inspirou profundamente e fechou os olhos, tentando controlar a raiva, enquanto ouvia o mastigar incômodo e demorado de uma maça rente ao seu ouvido e o calor que aquele corpo junto ao seu e a respiração quente e rasa dele proporcionavam nela.

-Quem está sendo o imaturo aqui, Evans? – ele debochou, colocando o pacote em cima da mesa à frente dela. – Da próxima vez, experimente usar uma cadeira. – e, dizendo isso, se afastou dela calmemente.

Lily reprimiu um profundo suspiro e pegou o pacote de qualquer maneira com uma das mãos, retirando algumas torradas de lá e enfiando-as com uma fúria reprimida dentro da torradeira. Ouviu Tiago rir um pouco, mas não comentar absolutamente nada. Ela agradeceu mentalmente a ele por isso.

-Eu não precisava da sua ajuda, Potter. – ela resmungou, algum tempo depois, quando as torradas saltaram da torradeira. – Eu não quero nada que venha de alguém como você, Potter. Você sabe disso.

Ela obteve num novo silêncio em resposta. Reprimiu um sorriso triunfante ao notar que, aparentemente, ele não tinha palavras para retrucar aquilo.

-Você não precisa ser tão infantil, Evans. – ela voltou-se para ele com tanta pressa que Tiago jurou que ela poderia ter deslocado o pescoço com isso.

-Eu não estou sendo infantil. – defendeu-se numa voz que lembrava um leve rugido de fúria. – Aliás, antes de você falar sobre a minha suposta infantilidade, olhe para si mesmo, Potter, e veja o que você já fez. – ela completou e, de forma imponente, guiou-se de volta a cadeira com o prato de torradas em mãos e sentou-se calmamente.

-Pelo menos eu admito o que eu faço e tento me redimir pelos meus erros, Evans. – ele lançou um sorriso irônico para ela. – E eu posso dizer que meu motivo para ser, hum, infantil, foi algo muito mais importante do que um simples pacote de torradas. – ela notou que, por breves instantes, a feição dele ficou um tanto quanto séria demais. – Eu me arrependi do que eu fiz, Evans, mas é tarde demais para lamentações. Não se pode mudar o passado. – ele soltou um breve riso. – A não ser com um vira-tempo, é claro, mas se você quiser se arriscar a ser morto pelo seu eu passado...

-Isso seria ótimo, Potter. Assim, eu não precisava ver mais a sua cara na minha frente hoje. – ela grunhiu antes de levar uma torrada aos lábios e mastigá-la sem muito interesse.

Novamente, ela não obteve resposta imediata. Respirando fundo, Lily passou um pouco de geléia na torrada e continuou a comer, ignorando o rapaz a sua frente.

Quando ouviu a cadeira se arrastar mais uma vez – ela teve a leve impressão de que ela só fazia aquilo para irritá-lo –, Lily agradeceu mentalmente a Tiago por sumir do recinto em que ela também estava presente. Ela sentia que era com um grande esforço que se obrigava a continuar odiando Tiago Potter.

Estava tão absorta em seus próprios pensamentos que mal notara a aproximação do rapaz, sendo esta tornado presente para ela devido a uma leve arrepio na nuca ao ouvir o riso dele ao pé do seu ouvido.

Lily parou a torrada a meio caminho dos lábios e, ainda ligeiramente boquiaberta, voltou-se para Tiago. O rapaz estava debruçado no encosto da cadeira e não se deu o trabalho de afastar o rosto, deixando-o, assim muito próximos um ao outro.

Ambos estudavam de forma minuciosamente cada parte da face do outro. Tiago curvou os lábios num sorriso enviesado, ao passo que Lily fechou os lábios imediatamente e aproximou as sobrancelhas, num ato mudo de desagrado.

-O que você quer, Potter. – ela estreitou os olhos, as orbes verdes encarando-o de forma ameaçadora.

Ele não falou de modo imediato e a ruiva reparou que ele ainda avaliava o seu rosto com um mudo interesse, sem retirar o sorriso dos lábios. Lily sentia a respiração ficar cada vez mais rasa e reprimiu a si mesma quando notou que o rosto esquentou um pouco. Tiago sabia os efeitos que agora tinha sobre ela e parecia se divertir com isso...

-Você me ama, Evans. – Lily notou que ele inclinara um pouco a cabeça para o lado e diminuiu a distância entre os seus lábios, cerrando os olhos calmamente. Ela continuou, estática, apenas a observar as pálpebras fechadas do rapaz. Sabia que ele não chegaria até o fim e mostraria para ele que não é tão idiota quanto ele pensa que ela seja. – Eu sei. – ele completou, rente aos seus lábios, abrindo os olhos de modo rápido. Apesar de tudo, Lily não pôde reprimir um curto suspiro.

Tiago pareceu satisfeito e se afastou dela de imediato. Lily não reagia, apenas continuava a observá-lo de modo inexpressivo. Ele alargou o sorriso.

-Ah! E agradeço pela torrada. – ele soltou, erguendo-a como se fosse brindar a algo e riu um pouco, antes de mordê-la com gosto.

Tigo reparou a face de Lily contorcer-se vagamente antes dela levantar-se da cadeira de forma furiosa e intimidá-lo com o olhar. Passou a mão pelos cabelos, inconscientemente, lembrando-se que ela sempre agia assim, principalmente com ele, quando estava no auge da sua fúria. Era bem provável que ela começasse a gritar com ele a plenos pulmões. Tornou a sorrir. Lily Evans era tão previsível...

Mas de divertida, a feição de Tiago tornou-se por completo confusa e surpresa ao sentir as mãos dela enrolarem-se de leve na sua camisa e ela puxá-lo de modo brusco para perto de si. Tiago tentou ignorar o embrulhar frio do seu estômago ao perceber que ela estava inclinada um pouco para trás, fazendo-o debruçar-se de leve sobre o tronco dela.

O olhar dela era intimidatório, mas ele notou um certo ar de divertimento e satisfação naquelas duas esmeraldas. Sentiu raiva de si mesmo ao se ver completamente desarmado por aqueles lábios tentadores, entreabertos, como se o chamassem para si.

-Digo o mesmo de você, Potter. – ela sussurrou um tanto quanto rouca, fazendo Tiago acordar do seu torpor.

O rapaz piscou várias vezes e adquiriu um ar carrancudo quando notou que Lily riu de leve, antes de arquear a sobrancelha, como se o desafiasse a rebater sua provocação.

A feição de Tiago transformou-se numa marota e a ruiva notou as mãos dele insinuarem-se de leve sobre a sua cintura. Muito próximos...

Um grito e um estrondo seguido de gemidos e repreensões infantis fez com que os dois se separassem num pulo e ficarem ligeiramente intrigados. Esqueçendo-se por alguns instantes que se odiavam – apesar de quase terem se beijado a segundos atrás –, o casal trocou um olhar ao notar que o som veio da dispensa.


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-Viu o que você fez? – Sirius resmungou, olhando feio para um Pedro que, alheio ao olhar fuzilador do “irmão”, observava o seu prêmios com os olhos brilhantes e um sorriso bobo no rosto. – Pedro, eu estou falando com você! – ele ralhou com o pequeno ao notar que fora terrivelmente ignorado.
-Alguém ainda consegue ouvir alguma coisa? – a voz de Remo soou abafada; remexeu-se inquieto. – Alice, pára! Isso dói!

-Dá para sair de cima? Eu estou esmagada aqui! – ela disse num bufo de raiva, ignorando os protestos de dor do “irmão” e continuando a dar alguns tapas nos braços dele.

-Alice! – ele exclamou, impaciente. – A culpa não é minha! Mande a Lisa sair de cima de mim.

-Quê? – a menina indagou, de imediato. – Não jogue a culpa para mim, Remo. Sirius e Marlene estão aqui em cima.

Sirius, aparentemente, não notou o resmungo da “irmã”, pois ainda encarava Pedro se empanturrar com um pacote de biscoitos de chocolate após ter descido desajeitadamente no montinho que amortecera a sua queda. Espalhados pelo chão da dispensa, havia algumas panelas e pacotes de cereais pisoteados pelo loirinho.

-Eles estão vindo! – Belle falou, no topo do montinho, alheia a discussão que perdurava entre os outros quatro, enquanto se esticava para tentar ver algo pelo buraco da fechadura.

-Eles se beijaram? – Lisa questionou, intrigada, ao ouvir o recado da “irmã”. Os outros silenciaram.

-Não deu para ver. – ela bufou. – Antes tivesse ficado calada e não falasse que eu estava vendo tudo ao invés de tentar ouvir. Foi tudo culpa de... – ela parou de falar. Sirius gemeu quando a “irmã” pulou para o chão de forma nem tão delicada assim e utilizou-o como impulso. A porta se abriu segundos depois.

-O que vocês estão fazendo aqui?

Os anjinhos sorriram amarelo ao ouvir a voz da mãe e, rolando um para cada lado, desfizeram o montinho e levantaram-se, envergonhados.

-Admirando a paisagem. – Sirius comentou num sorriso exagerado. Lily arqueou a sobrancelha. Tiago riu.

-Estacomfom. – Marlene explicou, atropelando-se nas palavras. – Então...

-Isso! Muita, muita fome! – foi a vez de Remo falar. Lily ainda o encarava como se quisesse uma explicação. O garoto olhou para os lados a procura de um apoio. – E...

-E bem... er... a gente... a gente resolveu, hum, preparar o nosso... bem... o nosso café da manhã... – completou Belle num ar meio vago.

-E também nós... – Alice murmurou, corada, mas silenciou ao notar que não sairia nada.

-E depois...

O olhar da ruiva era mais inquisidor agora e eles se sentiram relativamente menores perante ele.

-Como... como tomamos nosso café... – Lisa falou num sussurro.

-Isso! O nosso café! – Marlene repetiu num tom esganiçado.

-Aí nós tomamos nosso café... – repetiu Remo, completamente vermelho. – A gente resolveu... resolveu...

-Preparar o de vocês. – Sirius encerrou com um ar sorridente. – Só que aí a gente veio procurar algo na dispensa...

-A porta se fechou de repente...

-Isso, ela se fechou de repente. – ressaltou Alice, se arriscando a sorrir.

-E, por ela ter se fechado de repente... – Lily falou num tom irônico. Tiago, atrás dela, tentava manter um ar sério.

-Sim, por ela ter se fechado de repente... – repetiu Remo, enquanto todos trocaram olhares desesperados.

-Nós ficamos presos aqui! – Sirius disse rapidamente. – Aí o Pedro, que não consegue ver comida, tentou pegar o biscoito da dispensa. – ele esboçou um ar pomposo. Eles não poderiam dizer que havia mentira, pelo menos naquela frase. – Então, se desequilibrou e como somos irmãos prestativos tentamos pega-lo e resultou nisso.

-Hum, certo. – ela comentou, com desinteresse. Sombra de sorrisos passaram pelo rosto de cada um dos pequenos. – Mas, e quanto à escada?

-Que escada? – Sirius questionou como quem não sabe de nada.

-A mesma que me fez cair gentilmente.

-Não sabemos de nada disso, mamãe. – todos falaram ao mesmo tempo, exibindo ares completamente inocentes.

-Sei... – Lily comentou e os seis pareceram suspirar aliviados, não notando o tom irônico na voz da “mãe”.

Tiago contorceu o rosto e tapou os ouvidos ao notar a ruiva inspirar profundamente. As crianças esboçaram um ar desesperado que piorava cada vez mais quando a ruiva começou a declamar um verdadeiro – e cansativo – sermão sobre o quanto era perigoso crianças estarem na cozinha, que se estendeu até a sala quando ela notou os restos da sua torta, entre outras coisas, debaixo da mesa da cozinha, que estava recostada a um canto do recinto e estrategicamente coberta por uma enorme e escura toalha. Remo sussurrou um “Eu falei que deveríamos ter limpado tudo”, enquanto os “irmãos” reviraram os olhos e Sirius resmungava um “Cala a boca, Remo” em resposta.


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Os seis garotos desabaram nos sofás com as orelhas completamente vermelhas devido à bronca da ruiva. A ruiva esboçou um ar satisfeito quando notou todas quietas e silenciosas e depois voltou-se para Pedro, retirando delicadamente o pacote de biscoito das mãos gordinhas e sedentas do pequeno, que exibiu uma feição chorosa em resposta. Lily olhou feio para ele e o loirinho tremeu, ficando sério novamente.
-Assim está melhor. – ela falou e depois tornou a pigarrear, observando discretamente tudo ao seu redor. A moça sorriu ao reparar que Tiago Potter não estava ali.

Deixando os pestinhas de castigo, sentados no sofá da sala, Lily voltou-se para cozinha, dando quase pulinhos ao divagar sobre um almoço perfeito e uma massa de cabelos escuros implorando um prato para a de cabelos rubros. Havia um prazer reprimido na ruiva ao pensar na possibilidade de irritar Tiago de alguma maneira.

Ainda deixando a imaginação voar livre em sua mente, Lily retirou a varinha do bolso e murmurou um feitiço qualquer, para limpar aquela bagunça. Segundos depois, um novo grito de raiva ecoou pelo local.

Lily irrompeu a sala, pisando duro. Todos se encolheram no sofá e tremeram quando a feição irada da “mãe” ficou a menos de um metro de distância deles. Todos inspiraram profundamente.

-Foi o Sirius. – acusaram os outros, de imediato. O moreno apenas sorriu meio de lado.

-Não, não. – ele falou num ar pomposo, contrastando com seu rosto completamente pálido, e encarando algum ponto acima da ruiva a sua frente. – Elas não estão comigo, então, eu não peguei nenhuma varinha.

-Ah, é? – Lily arqueou a sobrancelha num sussurro ameaçador. – Então, como sabe que foi a varinha dessa vez?

Sirius corou furiosamente, enquanto os “irmãos” prendiam o riso.

-Er...


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-Mas, mãe, isso é trabalho para garotas! – Sirius protestou, aborrecido de falar isso ao que parecia ser a milésima vez, enquanto sentia a orelha arder enquanto Lily a puxava irritadamente, arrastando-o de volta a cozinha. – E eu não fiz isso tudo sozinho! Não é justo eu limpar essa bagunça toda.
Lily não disse nada, mas o olhar que ela lançara ao moreno foi suficiente para que ele engolisse em seco.

-Seus irmãos não vão ficar sem fazer nada, Sirius. – ela falou calmamente. – Mas você vai ficar com o pior castigo. – ela bufou de raiva. – Quantas vezes eu e o... – ela respirou fundo. – o seu pai temos que dizer que você não pode roubar as nossas varinhas?

-Mas não foi roubo! – protestou ele com a voz esganiçada. – Foi apenas um... empréstimo! – ele mirou a “mãe” com um ar indefeso e carente. – Eu ia devolver ainda hoje! Eu juro!

Lily revirou os olhos.

-E eu nem usei a varinha, mãe! – ele protestou, indignado. Lily o encarou com certa desconfiança, parando em frente a mesa. – Ah, certo. Eu usei só uma vez para apagar o fogão e...

-Você usou o fogão? – Lily falou num fio de voz. Sirius sorriu amarelo.

-Er, bem... eu não quis dizer isso, eu só... – ele automaticamente parou de falar ao notar que Lily o estudava de forma atenta e preocupada.

-Meu Merlim, Sirius! Você se machucou? Você se queimou? – os olhos do maroto-mirim brilharam de forma suspeita. Automaticamente ele esboçou uma feição chorosa.

-Sim, mãe... – ele fez um pouco de drama, como se estivesse a beira da morte. – Foi horrível... Eu achei que ia morrer quando aquela coisa gosmenta voou da panela para cima de mim... Se não fosse o Remo... eu não estaria aqui para contar essa história e... – ele automaticamente parou de falar quando notou que a “mãe” o encarava com as mãos na cintura e uma sobrancelha arqueada.

-Sirius Black!

O pequeno tremeu.

-Não é mentira mãe, eu juro! – ele falou num sussurro, olhando para o próprio corpo, desesperado. – Olhe! Eu fui ferido! – ele apontou para um “enorme” corte em sua mão. – Eu quase morri!

-Certo, depois cuidaremos disso. – Lily falou num meio sorriso. – Agora, você vai limpar isso direitinho. – ela levantou a toalha da mesa e respirou profundamente.

-Mas, mãe... é verdade... – ele murmurou num ar contrariado.

-Sirius...

-Ok. – ele resmungou. – Estou indo. – ele silenciou por alguns instantes, pegando a vassoura na mão da mãe. – Mas isso não é justo. Eu só usei a varinha uma vez!

-Sirius... – Lily o repreendeu, num tom vagamente risonho, ao que o moreno suspirou.

-Certo, eu fico quieto. – ele comentou, no que Lily chamou os outros “filhos” que de modo quase automático se juntaram a limpeza que o “irmão” estava fazendo.


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Lily não viu Tiago no almoço e, muito menos, durante todo o período da tarde. Apesar de não querer admitir para si mesma, ela estava começando a se preocupar com isso, ou talvez - como ela mesma fizera questão de frisar para si mesma –, ela apenas estivesse frustrada por não se divertir com ele durante o almoço, obrigando-o a tentar preparar algo para si mesmo, enquanto um cheiro delicioso que exalara da comida da ruiva impregnava as suas narinas.
As crianças, aparentemente, resolveram permanecer caladas ante ao fato. Remo, apesar dos protestos dos outros, achava melhor eles não mais se meterem no assunto dos adultos – afinal, eles eram bem mais complicados do que imaginavam – por que eles só se metiam em encrencas desde então. Por fim, eles se deram por vencidos e procuraram convencer a si mesmos e aos outros de que os pais estavam bem e que o pai só não estava lá por que estava resolvendo alguma coisa.

Lily parecia estar um pouco cansada, até mesmo abatida, e pela primeira vez na vida eles fizeram um acordo de que ficariam quietos, pelo menos aquela tarde, limitando-se apenas a jogar alguns jogos de tabuleiro ou tramar algo com o livro do pai e do tal dos marotos, prendendo o riso de vez em quando. Constantemente, lançavam olhares receosos para a mãe, que parecia estar ligeiramente distante e não dar atenção nenhuma ao livro que tinha em mãos.

Tiago deu as caras por volta do horário do jantar e murmurou algumas palavras com os “filhos”, disposto a ignorar abertamente a presença de Lily no recinto. Sorrindo de leve e dizendo algo como não estar com fome, ele apenas tomou um copo d’água e tomou uma maça para si, antes de sair da cozinha sem dizer nenhuma palavra a mais.

Os “filhos” se entreolharam e lançaram olhares receosos para o vão da entrada vazio e depois para a “mãe”, que estava olhando para aquela mesma direção, exibindo um ar pensativo.

-É minha impressão ou a situação está pior do que a gente imaginou que estava? – comentou Sirius num sussurro. Os outros suspiraram.

-Não podemos fazer mais nada. – Remo falou de forma séria. Sirius bufou de raiva.

-Então, vamos deixar eles se separarem assim, sem fazer nada?

-Não acha que não já fizemos o bastante? – ele rebateu, num suspiro. – Já chega, Sirius.

-Mas... – insistiu ele, indignado.

-O Remo tem razão, Sirius. – Lisa falou num meio sorriso. – Papai ainda deve estar irritado com a mamãe por ela ter escondido dele aquele beijo do tiozinho... – ela suspirou pesadamente.

-E se eles separarem? – Sirius resmungou. – Eu sei o que acontece com gente que se separa. – ele revirou os olhos. – Eu não quero ninguém no lugar da mamãe e do papai.

-E você acha que queremos...? – Marlene retrucou, arrastando o seu prato em cima da mesa e debruçando-se nela calmamente. – Ninguém aqui quer, Sirius.

-E nós não temos certeza de nada. – Alice ponderou calmamente. – E se eles apenas estiverem cansados...?

-Mas o papai está evitando ficar no mesmo lugar que a mamãe. – Belle explicou num murmúrio. – Antes ele não fazia isso... – ela franziu o cenho por alguns instantes. – Fazia?

-Eles nem conversaram um com o outro agora há pouco... – Lisa avaliou. – Eles estão estranhos.

-Eles podem somente não estar num bom dia. – comentou Marlene, esperançosa.

-Não sei... – Remo deu de ombros. – Então, eles estão assim desde... – ele automaticamente parou de falar quando viu o olhar da “mãe” sobre si. Corou furiosamente.

-Não estamos em um bom dia. – ela explicou num meio sorriso, após alguns minutos de um silêncio por completo constrangedor para ambos. – E o seu pai só não ficou essa tarde conosco por que ele estava resolvendo algumas coisas do trabalho dele. – ela se levantou e começou a retirar os pratos da mesa e joga-los de qualquer jeito na pia. – Nós vamos voltar para casa em breve e as férias de seu pai já estão acabando e ele não resolveu nada do trabalho extra que pegara por esse período. – ela mordeu o lábio inferior. – Agora, é melhor vocês irem para cama.

-Dormir...? Agora, mãe? – Sirius protestou, indignado, recebendo uma cotovelada de Remo em resposta. Ele lançou um olhar confuso para o “irmão”, que meneou a cabeça de leve.

-Ela que ficar sozinha com o papai, Sirius! – sussurrou Lisa, de modo urgente.

-Ah... – ele pareceu entender. – Então, vamos subindo mamãe. – ele completou num ar alegre, indo dar um forte abraço na mãe e um beijo de boa noite. – Está tão cansada, mamãe. Pode deixar que a gente coloca o Pedro para dormir. – ele esboçou um sorriso doce, retribuido de imediato por Lily.

-Obrigada, Sirius.

Ele estufou o peito, orgulhoso, recebendo num novo beijo de Lily em resposta, ao que os outros reviraram os olhos antes de se despedirem da “mãe”, depois do “pai” e tomarem rumo para seus respectivos quartos. Mas, logo após terem alcançado o topo da escada, um Sirius com um enorme sorriso no rosto postou-se rente a parede, a fim de espiar a sala lá embaixo.

O moreno bufou de raiva quando sentiu ser puxado pela gola da camisa e arrastado para o quarto contra a sua própria vontade.

-O que foi? – ele questionou, quando finalmente se viu livre das mãos de Remo.

-Deixa os dois, Sirius, é melhor não atrapalharmos. – ele falou de modo sério. O outro revirou os olhos em resposta.

-Você é mesmo o meu irmão?

-Claro que sou, seu idiota. – ele grunhiu em resposta, se dirigindo até o guarda-roupa sem muito interesse, arrancando de lá um pijama para si e para Pedro, jogando um para Sirius também.

-Nós vamos dormir agora? – ele protestou, indignado.

-Claro que não. – Remo respondeu num meio sorriso, começando a se vestir. – Só o Pedro.

-Ah, tá... – ele comentou sem muito interesse. – Mas o que vamos fazer? – completou num ar empolgado.

-Vamos por quarto das garotas. – ele sorriu de leve. – Elas não vão dormir agora.

-Mas e quanto ao Pedro? Quem vai pôr ele para dormir?

Remo lançou um olhar receoso para o “irmão” menor, depois para o pijama em suas mãos e, por fim, para Sirius. Sorriu e jogou o pijama de qualquer jeito em cima da cama.

-Não é preciso muita coisa. – ele riu um pouco, aproximando-se de Pedro calmamente, ao notar que o pequeno já estava prestes a cair de sono. – Me ajuda aqui.

Com esforço, os dois conseguiram por o “irmão” em cima da cama e, alguns minutos depois, ele já estava caindo de sono.

-Agora vamos? – Sirius indagou, exibindo um ar satisfeito.

-Vamos. – Remo confirmou, se dirigindo até a porta.

O maroto-mirim abriu a porta no exato momento em que Alice abria a do quarto dela. Ambos encararam-se de modo significativo e sorriram.

-Está pensando o mesmo que eu? – eles falaram ao mesmo tempo e depois prenderam o riso.

-No quarto de vocês. – Remo falou, rapidamente. – O Pedro já está dormindo.

-Ah, ok. – ela riu, no que os “irmãos” assentiram e se dirigiram até o quarto das “irmãs”, entrando calmamente por ela.

Sirius tirou um baralho do bolso e sorriu marotamente.

-Prontas para perderem?

As “irmãs” apenas reviraram os olhos, no que todos se sentaram no chão, preparando-se para uma partida de Snap Explosivo.


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O clima entre os dois estava mais do que insuportável. Lílian terminara de arrumar a cozinha há algum tempo e agora gastava seu tempo a fitar, com uma atenção maior do que a que realmente gostaria de ter, os lírios em cima da mesa, mantendo-se abraçada aos joelhos, enquanto entoava uma canção baixinho. Tiago, por sua vez, lia um livro de modo desleixado, tendo os pés cruzados em cima da mesa de centro.
Tiago passou a página calmamente e Lily sentiu o mesmo afundar no assento ao seu lado e suspirar. De soslaio, a ruiva arriscara lançar um olhar curioso para o rapaz e notou que ele estava a passar a mão pelos cabelos enquanto lia seja lá o que fosse que estivesse lendo... ou apenas fingia ler.

Ela queria sair dali, mas ao mesmo tempo não queria subir para o quarto agora, muito menos ir para outro cômodo da casa. Chegou a cogitar a possibilidade de dar uma volta pela praia, mas não tinha ânimo para isso – principalmente quando se lembrou que, nessa sua volta, poderia se deparar com um certo Xander ou uma certa Sharon.

Ela estava a odiar aquele maldito silêncio, que era quebrado somente pelo suspiro de ambos.

Abriu a boca para falar algo, mas, por fim, desistira. Fechou os olhos e jogou-se contra o encosto do sofá de modo irritado. Ela já estava cansada de tudo aquilo.

Com o movimento brusco da ruiva, Tiago desviou o olhar da página do livro e a encarou de modo intrigado. Reparando que era observada, Lily virou o rosto para ele e sustentou o olhar, até que o maroto desviasse do contato visual entre eles.

Ela queria sair dali, mas não queria subir para o quarto agora, muito menos ir para outro cômodo da casa. Pensou em dar uma volta pela praia, mas não tinha ânimo para isso. Odiava aquele bendito silêncio, quebrado somente pelos suspiros de ambos.

Abriu a boca lentamente para falar algo, mas depois desistira. Fechou os olhos e jogou-se no recosto do sofá irritadamente. Estava cansada daquilo tudo. Ela não queria admitir, mas estava sentindo falta da voz dele, ou melhor, ela estava sentindo falta de Tiago Potter.

Ela bem sabia que o maroto estava magoado com ela; da mesma forma, ela também estava magoada com ele. Ele pedira perdão, mas ela simplesmente ignorara. Por outro lado, ele sustentara uma mentira que a fez sofrer. Mas, ela fez algo pior, ela só disse que o perdoaria na palavra quando, na verdade, desejava dizer que precisava de um tempo para perdoá-lo... totalmente. Não estaria ela cometendo o mesmo erro que ele cometera? Não estaria ela, senão, fazendo com que ele sofresse por uma mentira dela? Por algo dito num momento de raiva?

Ela agora o entendia; entendia perfeitamente. Então, o que ela estava esperando para tentar reverter isso?

Lílian mordeu o lábio inferior. Se ela pedisse desculpas, ele as aceitaria?

Tiago tornou a fitá-la, só que dessa vez de soslaio. Lílian, que ainda o observava sem nenhuma discrição, observou um pouco esperançosa o rapaz entreabrir os lábios. Bufou de raiva internamente ao chegar a conclusão de que não passara de um fraco bocejo. Indignada, voltou o olhar para os lírios à sua frente. Franziu o cenho, confusa, depois de alguns segundos. Fora a sua impressão ou ouvira um riso prendido?

Levantou-se emburrada do sofá e subiu as escadas pisando duro e tomou rumo para o quarto que dividiam.

Tiago Potter não queria falar com ela, não é? Pois então, que não falasse, oras! O idiota era ele; o culpado de toda aquela situação ridícula era ele! Ele simplesmente apronta as dele, pede perdão e Lílian está sempre lá para aceitar sem pestajenar?

Reprimiu um grito de raiva ao admitir que, há muito, já havia perdoado Tiago... por tudo. Ela simplesmente sentiu-se desamarda perante a tristeza daqueles orbes castanho-esverdeados. Ela o amava e sabia que ele agira por impulso; ciúme. Ele mesmo não confessara que agira daquele modo por causa da raiva devido a falta de confiança pela parte dela; por orgulho? Não era também por esse maldito sentimento que ela estava escondendo o pedido de perdão, preferindo-se enclausurar-se na sua própria dor e deixá-lo no mesmo estado? Por que raios, então, continuar com aquilo se ela não mais queria sofrer?

Meneou a cabeça bruscamente e abriu a porta do quarto com uma raiva reprimida.

-Ele que fale primeiro, oras! – ela resmungou, emburrada. – Eu não vou mais me humilhar. – completou num tom decidido e seus lábios se abriram num sorriso triunfante ao dizer para si mesma que tomara uma atitude politicamente correta. Bem, era o que ela achava...

Lílian bateu a porta de modo irritado. Pouco se importava com o fato de que isso poderia acarretar no acordas de um dos “filhos”. Que eles se danassem! Ela estava aborrecida demais para ficar pensando nessas coisas naquele momento.

Começou a abrir os botões da blusa com uma raiva reprimida – ela não sabia dizer se de Tiago ou dela mesma – e jogou a peça no chão com fúria.

Caminhou a passos duros até o seu guarda-roupa a fim de procurar algo para vestir. Jogou algumas roupas no chão – se irritando ainda mais por estar fazendo algo que ele sempre fazia e, por consequência, ter-se lembrado dele novamente... –, sentindo o corpo ferver em fúria.

Quando finalmente achara algo que prestasse, arrancou a peça de roupa de dentro do guarda-roupa e começou a vesti-la de qualquer maneira, enquanto dava um passo para trás a fim de fechar a porta do móvel. Mas, antes mesmo que concluísse o que pretendia, percebeu uma barreira que não estava ali antes.

Lily abriu os lábios para falar algo, mas, por fim, acabou desistindo, limitando-se a ficar estática ao mesmo tempo em que não queria dar vazão de que estava se importando com a presença dele naquele recinto.

A ruiva ainda estava com a roupa de dormir posta pela metade quando sentiu as mãos do rapaz descerem de forma suntuosa pelo seu braço, espalmando em sua cintura, até que a abraçou por trás. Ela suspirou e se arrepiou, ficando momentaneamente sem reação. O que ele estava pretendendo?

Piscando os olhos de modo surpreso, a ruiva notou que ele subia as mãos lentamente pela sua barriga e sentiu o rosto corar. Ela pode ouvir um riso breve de Tiago quando ele enlaçou suas mãos as dela de modo suave, obrigando-a a soltar a blusa, fazendo com que a mesma deslizasse de forma graciosa pelo seu tronco. Ele tornou a envolvê-la num abraço, agora com as mãos unidas e Lily mordeu o lábio inferior ao sentir suas costas rente ao peito dele e a respiração rasa do maroto tão perto do seu pescoço.

Decorreu algum tempo sem que ambos se manifestassem ou fizessem menção de encerrar aquele contato. Lily respirou profundamente ao perceber o quanto aquele gesto do rapaz lhe trazia paz e segurança. Ela gostava de sentir-se, assim, protegida.

As mãos de Tiago brincavam de forma gentil com as suas e ela encolheu um pouco os ombros quando ele a beijou na curva do pescoço. Suspirou.

“Será que ele não falaria nada? O orgulho dele era tão imenso a ponto dele estar me acarinhando sem ao menos dar uma satisfação do que está fazendo?” ela permitiu-se pensar, ainda meio atordoada pelos beijos do rapaz. “Talvez... talvez seja isso mesmo que ele pretende fazer. Ele quer que eu fale antes dele. Mas eu n...”

Ela perdeu a linha de raciocínio ao ouvir a voz dele chamando-a num murmúrio rouco. Ela não se manifestou e, segundos depois, sentiu-se ser virada lentamente, ficando assim de frente para ele.

Os olhares se cruzaram. Lily podia reparar a íris dele nascer de um castanho muito claro e morrer num verde intenso. Sorriu involuntariamente. Tiago apenas ergueu uma das mãos e acariciou a face dela de leve, antes de inclinar a cabeça para o lado e beijá-la de forma intensa e apaixonada, sem que ela nada pudesse impedir no que dizia respeito a isso.

A mão que estava em seu rosto, desceu calmamente pelo lado de seu corpo e em algum lugar longínquo da sua mente, ela ouviu a porta do guarda-roupa ser fechada num leve baque.

Lily sentiu o ar faltar-lhe aos pulmões quando as suas costas chocaram-se contra a madeira do móvel e Tiago beijar-lhe de uma forma mais sensual, acariciando sua cintura amavelmente.

O rapaz encerrou o beijo aos poucos e a encarou com os olhos meio quebrados e ofegando.

-Então... – ele murmurou num fio de voz. Lily o encarou de modo penetrante. – Eu estava certo. – ele roçou o nariz de leve ao dela, inclinando, assim, o rosto para o lado oposto.

Ele tornou a beijá-la, uma de suas mãos subindo pelo seu corpo até alcançar-lhe a nuca e puxá-la mais para si. Lily se entregou ao beijo mais uma vez; pouco lhe importava ser racional naquele momento. Pouco lhe importava aquele maldito orgulho que lhe gritava para afastá-lo de si com um empurrão e desferir-lhe um tapa no rosto. Ela não queria ser ela mesma. Não mais. Estava cansada daquilo tudo...

Ele tornou a encerrar o contato entre os lábios e recostou a sua testa a dela, soltando todo o ar que lhe restava pela boca entreaberta. Lily piscou e o encarou de modo firme, ofegando.

-Então... – ele repetiu, afastando-se um pouco, contudo não o suficiente para manter os corpos separados. Tornou a sorrir. – Você vai me perdoar ou eu terei que implorar? – questionou num sussurro rouco.

Lílian sentiu um nó sufocando-lhe a garganta ao ouvir aquelas palavras. Durante aqueles breves momentos em que o teve junto a si, ela chegou a esquecer de tudo o que tinha acontecido entre eles; mas agora...

Um longo suspiro escapou dos seus lábios e ela virou o rosto, desviando assim o olhar do de Tiago, incerta do que dizer. Como ele podia provocá-la daquela maneira? Como ele podia pedir uma resposta enquanto acariciava a sua cintura daquela maneira? Mordeu o lábio inferior e fechou os olhos. Odiava sentir-se tão vulnerável como agora.

-Lily... – ele o chamou, baixinho. A ruiva notou a urgência que havia naquele tom de voz. Ele suplicava por uma resposta.

Lílian, ainda em silêncio, reparou a mão que ele mantinha em sua cintura alcançar o seu rosto e voltá-lo de modo delicado para ele, fazendo com que ela o encarasse novamente. Ela foi acometida por um leve tremor ao notar o quão sério e soturno aquele rosto se encontrava.

-O que vai ser de nós daqui para a frente cabe só a você decidir, Lily. – apesar de tudo, sua voz soara doce e suave, como um leve cântico; aquilo a aquecia por dentro. - Eu prometi a mim mesmo que não mais insistiria nesse assunto, mas eu não posso... – sua voz morreu aos poucos e ele selou os lábios ao dela mais uma vez antes de prosseguir. – Eu te amo demais, ruiva, e não posso simplesmente viver admitindo para mim mesmo que vou conseguir seguir em frente com essa dúvida a me corroer por dentro. – Lily fez menção de desviar os olhares, mas Tiago impediu, segurando seu rosto com as duas mãos num gesto ágil. Apesar da força que aplicava naquele ato, Lily reparou que não era suficiente para machucá-la. Piscou demoradamente. Ele não queria forçá-la a nada. – Uma parte de você me diz que o que eu sinto é recíproco, mas uma outra ainda me faz pensar que não. Eu nunca te obriguei a nada, Lily, mas dessa vez, eu exijo uma resposta. Eu já estou cansado disso, portanto, essa vai ser a última vez que eu vou perguntar.– ele respirou fundo e fechou os olhos, antes de tornar a abri-los de modo calmo. – Lílian Evans, você me ama ou não? – ele falou pausadamente.

Lílian apenas limitou-se a mirá-lo de modo penetrante e abriu os lábios para deixar escapar um longo suspiro que sacudiu todo o seu corpo. Tiago soltou o rosto dela, deslizando suas mãos, antes de dar alguns passos para trás e levar a mão para os seus cabelos rebeldes, respirando profundamente.

-Olha, eu sei que eu não tenho nenhum tipo de moral para exigir de você uma resposta depois de tudo o que eu fiz, mas... – ele silenciou por alguns instantes, como se analisasse o que diria a seguir. – eu queria que, ao menos, você colocasse uma pedra no passado para me dar essa resposta. – ele mordeu o lábio inferior e Lily notou o quanto a respiração dele estava acelerada. – Mesmo que você queira deixar o seu orgulho falar mais alto e que não mais me perdoe, eu quero ter certeza se fui um idiota completo ao fazer algo que me fez perder o que me é mais caro... – ele parou de falar por alguns instantes. – Você.

Um novo silêncio. Tão denso que ambos podiam jurar que ele era palpável. Tiago pôs as mãos no bolso do jeans que usava e encarou os próprios pés, incerto do que fazer ou dizer agora. Lily tinha o rapaz à sua frente, contudo não o enxergava de todo, sua mente vagando distante dali.

Pensamentos opostos se confundiam em sua mente. O amor e o ódio travavam uma batalha em seu ser. A repulsa e o perdão pediam vez alternadamente. O maroto a sua frente exigia a resposta, sendo que ela também a exigia de si mesma. “Lílian Evans, você o ama ou não?”.

O coração dela dizia que sim; a mente jurava que ela estava confundindo as coisas. Ela já havia amado alguém de verdade para saber o que era aquele sentimento? Como distinguir atração, paixão e amor? Qual dos três serviria para definir o que ela realmente sentia por ele?

Lily sempre gostara de ser racional, nunca deixava-se levar por um simples momento de fraqueza. Lembrou-se das perguntas que fizera a si mesma na noite anterior. Tão próxima cronologicamente e tão longe nas suas lembranças. Ela disserra a si mesma que o amava. Ela o amava realmente ou apenas estava sofrendo algo que apenas o seu ego estraçalhado permitia sentir ao notar que não era mais amada por ele? Ela, mesmo não admitindo, gostava de ser amada por Tiago Potter. Mas, e ela? Lílian Evans gostaria de amá-lo? Respirou profundamente.

-Eu... – ela murmurou quase num sussurro. Tiago, quase que de modo automático, ergueu o olhar para encará-la, ansioso. Lily sustentou o contato visual com os olhos marejados. – Eu... eu não sei. – confessou numa voz embargada.

Para a grande surpresa da ruiva, ele sorriu. Era um sorrir sem sentimentos, mas, ainda assim, um sorriso.

-Eu presumi que você fosse responder isso. – ele comentou de modo sério e devagar, aproximando-se da ruiva a passos lentos. – Você costuma ouvir mais a sua mente do que o seu coração, o que a faz ser tão indecisa. – ele parou a frente dela e inspirou profundamente. – Em qual dos dois você deve acreditar? Qual dos dois é o mais sincero, Lílian? – ele retirou a mão do bolso e tomou uma das mechas rubras dos cabelos da garota por entre os seus dedos e enrolou-os levemente enquanto prosseguia. – Se você deixasse, Lily... – a voz dele morreu em sua garganta, mas Lily não precisou de mais palavras para saber o que ele estava querendo dizer. Ele queria fazê-la feliz.

Talvez, ela o amasse mesmo; de verdade. Ela desejava a felicidade que ele estava disposto a dar para ela, ao mesmo tempo, ela também desejava fazê-lo feliz.

Lily fechou os olhos de leve e curvou os lábios num pequeno sorriso, afastando a mão dele lentamente do seu rosto. Pode sentir que o corpo dele tremeu, mas não pôde ver a feição confusa que ele agora exibia. Ele não sabia se poderia se deixar levara pelo sorriso que ela esboçava ou pela mão que afastava a sua da face dela. Lílian Evans era uma perfeita incógnita para ele.

Foi ainda tentando decifrar aquela estranha ação da ruiva que ele viu a garota aproximar-se dele com aquele mesmo sorriso e capturar os seus lábios no mais intenso dos beijos. Ele piscou várias vezes, ainda assimilando aquele fato, porém correspondeu com fervor. Estreitou-a em seus braços de forma quase imediata. Ele não precisava de mais nada...

Sentindo-se quase sem fôlego, ambos se encerraram o beijo e tentaram controlar a respiração. Lily sentiu o rosto esquentar um pouco e Tiago curvou os lábios num sorriso meio de lado, que a ruiva teve a ligeira impressão de que ele entrara numa espécie de transe. Abaixou o olhar lentamente com um breve riso e voltou a atenção para o botão que analisava minuciosamente com os seus dedos meio trêmulos, enquanto os da outra mão enterravam-se em meio a cabeleira negra e rebelde do rapaz.

-Tiago, eu... – ela começou num tom rouco, mas parou, ao notar que ele novamente erguera o seu rosto, dessa vez pelo queixo, fazendo-a tornar a encará-lo.

Lily reparou que o rapaz estava a estudar toda sua face e ela apenas sorriu. Ambos podiam notar que a mesma chama que emanavam dos olhos dele, também podia ser vista nos do outro. Tiago venceu a distância que separava os seus lábios dos dela, antes de estreitá-la mais contra si.

Num gesto gentil, Lily começou a desabotoar os botões da camisa do rapaz, notando as mãos dele deslizarem suas costas e alcançarem a barra da camisa que estava usando.

Um arrepio subiu pela espinha da ruiva quando a mão quente do rapaz aventurou-se pelas suas costas e a outra entrelaçou os dedos em uma das tiras do cós da calça dela, pressionando-a mais contra si.

Lily subiu as mãos lentamente pelo tronco do rapaz e, chegando aos ombros, começou a retirar a camisa dele. Tiago interrompeu o beijo e afastou-se dela um pouco, surpreso.

A ruiva retribuiu o olhar questionador do rapaz e apenas assentiu com um sorriso. Tiago balançou a cabeça em sinal afirmativo e riu um pouco ao notar que ela estava completamente corada.

A camisa dele jazeu no chão alguns segundos depois e Lily ainda mantinha as mãos no ar. Tiago segurou-as com carinho e guiou-as até a sua cintura, trazendo a ruiva mais para perto e abraça-lo firmemente.

Ele roçou seus lábios de leve ao dela e percorreu o caminho até a orelha, afastando os cabelos dela que lhe caíam nos ombros e pescoço. Lily fechou os olhos e sorriu quando entreouviu um “Eu te amo” rouco e um arrepio gostoso desceu por todo o seu corpo quando Tiago começou a beijar-lhe o pescoço, segurando-a pela nuca com uma das mãos enquanto a outra passeava pelas suas costas.

Os batimentos estavam acelerados; as respirações descompassadas. Lily notou Tiago dar alguns passos para trás e o seguiu com um longo suspiro, completamente inebriada pelo rastro de fogo que as mãos dele deixavam sobre o seu corpo e os lábios dele sobre o seu pescoço.

Os calcanhares dele bateram na cama e ele parou, subindo os beijos até os lábios da ruiva. Lily notou ele forçar um passo para a frente. Obedeceu e, lentamente, viu que ele a rodava, a fim de inverter as posições. Quando Lily sentiu a cama atrás de si, abriu os olhos e notou que Tiago tinha os dele abertos, mirando-a firmimente; os lábios separaram-se momentaneamente, ficando a poucos centímetros um do outro. Ele a encarou com um sorriso largo e contornou a sua face com os dedos num modo delicado.

-Se você quiser...

Lily negou e, de modo lento, deslizou as suas mãos pela cintura dele e respirou fundo. Alguns segundos depois, a blusa dela caiu ao seus pés. Tiago arqueou a sobrancelha, como se analisasse a situação e a ruiva riu, puxando-o para perto pela cintura.Ambos sorriram antes de se entregarem a um novo beijo.

Um dos braços do rapaz firmaram-se num abraço forte na região da sua cintura e a outra foi enterrada em seus rubros cabelos. Inspirando profundamente entre um beijo, Lily percebeu a perna de Tiago procurando um espaço por entre as suas e debruçar-se sobre ela.

Em meio a beijos curtos e profundos que serviam para deixar as respirações ainda mais descontroladas, Lily, já sentada na cama, arrastou-se nela de forma lenta, seguida por Tiago, que agora apoiava as mãos no colchão a fim de não perder o equilíbrio enquanto avançava com a ruiva.

Lily manteve o seu tronco erguido pelos cotovelos apoiados na cama e Tiago cortou o beijo num gesto delicado e circundou o nariz dela com o seu com os lábios entreabertos em um sorriso doce.

Tiago continuou o trajeto e, ao alcançar o pescoço da ruiva, inclinou-se sobre ela, até que seus corpos ficassem rentes um ao outro. Lily tornou a sorrir, ainda de olhos fechados e começou a depositar alguns beijos sobre o ombro do rapaz.

E, no exato momento em que a ruiva sentiu a mão de Tiago sobre sua perna e as suas deslizarem sobre as costas dele, ambos notaram que a muito já haviam perdido o controle das suas próprias ações...


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N/A: Bom, devo confessar que, para aqueles que já viram algumas partes da fic escrita, eu modifiquei-a um pouco. Quanto a essa cena final, eu a mofiquei praticamente toda. É que, ao reler o que eu tinha escrito, eu não gostei muito da maneira com que ela tomou rumo, já que eu sou uma romântica de carteirinha e achei que a outra versão não havia tido isso. /a que está sorrindo bobamente ainda ouvindo a música que serviu para a modificação praticamente total dessa última cena. / Enfim, espero que tenham gostado do capítulo e, mais uma vez, mil perdões pela demora e, apesar de todo o desespero que isso me causa, fico muito feliz com os pedidos de atualização, ameaças de morte, entre outros. Beijos!

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