A Sociedade de Gáia



Alvo sentia sua cabeça doer tanto, que achava que ela iria explodir a qualquer momento, ele estava sentado no chão, com as costas apoiadas em uma parede fria e úmida. Sua visão estava um tanto embaçada e aquele lugar parecia bastante surreal, todas as formas pareciam desproporcionais, grandes painéis de vidro espalhados pela sala se embaralhavam à sua frente, mesas brancas e pretas se sucediam como se fossem um tabuleiro de xadrez, estantes velhas e empoeiradas guardavam milhares de livros... livros?


Ele se levantou de um pulo, esfregou as pálpebras até seus olhos voltarem ao normal, aquele lugar, estava um tanto diferente, mas sem dúvida era a biblioteca de Hogwarts. O garoto não tinha idéia de como havia chegado ali, quando buscou em sua mente, a lembrança mais recente que teve foi a do seu encontro com o pássaro... quando se lembrou disso Alvo sentiu uma pontada no peito, aquela conversa... Scorpio Malfoy sacrificado para salvar o seu pai... Alvo decidiu não pensar naquilo, ele tinha outros assuntos para resolver, se aquele lugar era mesmo a biblioteca, ele precisava encontrar a penseira de Patrick Goudin.


Ele caminhou por entre as mesas enquanto seus passos ecoavam no silêncio do lugar, a luz solar invadia a sala através das frestas das tábuas que estavam pregadas nas grandes janelas, havia ficado dia.


Alvo avistou em cima da última mesa branca uma velha bacia de pedra, sentiu um frio na barriga ao avistar o objeto, lá estava, as lembranças de que Patrick lhe falara. Caminhou os últimos metros com a respiração presa, suas experiências em Gáia já haviam lhe ensinado que nada era tão simples de conseguir naquele lugar, mas para seu alívio, conseguiu alcançou a penseira sem maiores problemas. Antes que algo pudesse impedi-lo, Alvo mergulhou a cabeça na bacia e foi transportado para dentro das lembranças...


 


_Eles estão atrasados! _ sussurrou uma voz assustada.


_Se acalme, eles já devem estar chegando _ retrucou outra pessoa com impaciência.


_Será que eles desistiram?


_É claro que não! Deve ter ocorrido algum contratempo, cruzaram com alguém no caminho ou...


_Ben, você está aí?


_Alfred? É você?


_Sim! Porque você no escuro?


_Eu não sei... talvez eu tenha esquecido de trazer velas ou então deve ser porque eu faço parte de uma sociedade secreta e achei interessante não chamar atenção de algum bisbilhoteiro que porventura estivesse passando por aqui.


_Muito engraçado!


_Jacob e Malvols vieram com você?


_Estamos bem aqui!


_Ótimo! Então fechem a porta, por favor.


Alvo ouviu o estalido seco.


_Lumus! Vocês não foram muito pontuais, meu amigo Patrick já estava ficando assustado! _ disse um garoto que Alvo já havia “encontrado” certa vez, se tratava de Benjamin Shuler, o mesmo garoto moreno de olhos verdes e cabelos castanhos que Alvo vira em outras lembranças Patrick, na casa dos Goudin durante as férias.


_Então você conseguiu mesmo convencê-lo a vir? _ perguntou o garoto que se chamava Alfred, ele era alto, com ombros largos, e tinha uma expressão desafiadora em seu rosto bonito.


 _Eu não disse que ele viria? Agora nosso time está completo.


_Assim espero _ disse Alfred girando distraidamente a varinha entre os dedos.


_E então Malvols? _ disse Benjamin ansioso _ Você conseguiu?


_É claro! Mas não foi fácil _ respondeu o garoto baixo e franzino com óculos de lentes grossas e ar de inteligente.


_Não seja modesto! _ disse Alfred com um sorriso divertido _ Você teria conseguido criar até três belezinhas dessas! Não é à toa que eu me sento ao seu lado nos exames!


Todos riram da observação de Alfred, todos menos um...


_O que foi Patrick? _ perguntou o garoto ruivo e rechonchudo que até então não havia se pronunciado _ Você está com medo?


­_Não seja estúpido, Jacob! _ disse Benjamin antes que o amigo pudesse abrir a boca _ Porque é que ele estaria com medo?


_Por que será? _ disse Jacob com um sorriso de escárnio _ Será que é porque todos acham que ele é um covarde?


_Ele não é covarde! _ disse Benjamin indo na direção de Jacob com a varinha na mão, Alvo pôde ver o quanto Patrick ficou satisfeito ao ver o amigo lhe defendendo.


_Ei! Se acalmem senhores! _ disse Alfred _ Porque não deixamos o Patrick falar o que ele pensa a respeito? Afinal ele parte importante do assunto.


Todos os olhos se viraram para Goudin que ficou ainda mais pálido, ele enfiou as mãos no bolso e encarou os próprios sapatos.


_Bem... eu estou aqui, não estou? _ disse ele sem muita convicção.


_Sim, você está aqui _ disse Malvols _ mas você realmente está com agente?


Um clima tenso se fez entre os presentes, quando Patrick finalmente falou, ele parecia estar escolhendo com muito cuidado cada palavra.


_Sim... e-eu vim e... quero dizer... mas não posso.... não posso negar que... que eu acho isso muito perigoso...


_Eu não disse? _ falou Jacob olhando irritado para Benjamin _ Ele vai acabar nos atrapalhando!


_Cale a boca Jacob! _ disse Malvols com impaciência _ Do que é exatamente que você tem medo, Patrick?


_Hum... eu não acho que vocês deveriam ter se aliado com aquela coisa... o Tarank.


_Nós já conversamos sobre isso! _ disse Benjamin _ Está tudo sobre controle!


_Mas vocês não têm idéia do que ele é capaz!


_É aí que você se engana _ disse Malvols _ Você acha que nós não conhecemos a história? Acha que não sabemos o que ele fez com a sua família?


Patrick sentiu o rosto queimar, antes que pudesse se controlar, uma lágrima escorreu em sua face.


_E é exatamente este conhecimento que nos dá segurança! _ continuou Malvols _ Nós sabemos o que ele vai tentar fazer, mas quando tivermos criado o Tirante de Gáia seremos invencíveis! Nem mesmo Tarank terá condições de nos enfrentar!


_E neste momento você poderá se vingar, Patrick _ disse Benjamin colocando uma mão no ombro do amigo _ e por isso nós precisamos saber agora, você está conosco? Vai nos ajudar?


_Eu...


_Apenas responda, Patrick _ Goudin levantou sua cabeça, encarou o olhar confiante do seu amigo por longos segundos, e finalmente respondeu.


_Tudo bem. Eu estou com vocês, vamos criar o Tirante de Gáia...


 


A cena mudou, os cinco garotos estavam agora no corredor do sétimo andar, de onde Alvo havia conseguido chegar à Gáia. O grupo parecia bem mais tenso do que dá última vez, lançavam olhares furtivos para os lados e Patrick em especial pareia prestes a desmaiar.


_Como é Malvols? _ disse Benjamin _ Está tudo pronto?


_Sim.


_Espero que desta vez funcione! _ disse Jacob _ Esta já é a quarta tentativa!


_Eu já expliquei que as últimas falhas não foram por minha culpa! _ disse Malvols.


_Mas você disse que aqueles eram os lugares certos _ disse Alfred.


_Eu sei! Mas algo no tempo/espaço estava errado...


_E quem garante que desta vez irá funcionar? _ disse Jacob.


_Bem... só existe uma maneira de saber. Você está pronto Alfred?


_Sim.


_Então fique à vontade.


O garoto se adiantou do grupo, Alvo pôde ver ele sacando um objeto do bolso, era uma caixinha que ele conhecia muito bem, a Chave de Gáia. Segurou-a com as palmas das mãos estendidas, como em uma oferenda, e então aguardou...


_Como é? _ disse Jacob _ Não vai acontecer nada?


_Espere! _ disse Malvols _ A qualquer momento...


E então aconteceu. Um redemoinho multicolorido surgiu onde antes havia apenas uma parede vazia, ele tinha a força de um tufão, os garotos mal conseguiam se manter de pé.


_Funcionou?! _ perguntou Benjamin.


_Sim! _ disse Malvols _ Aí está! Esta é a passagem.


_E eu posso saber como vamos entrar? _ perguntou Alfred _ Essa coisa está nos jogando para longe.


_Nós teremos que pular! _ disse Malvols _ Vá, Alfred!


O garoto endireitou o corpo o melhor possível, e se atirou na direção do redemoinho, por um momento os outros pensaram que ele seria forçado para trás, mas ele flutuou como uma pluma e atravessou a passagem.


_Deu certo! _ disse Benjamin _ Vamos fazer como ele! Jacob, você é o próximo!


E assim, todos os garotos conseguiram atravessar o redemoinho, Alvo que não estava “verdadeiramente” no local, conseguiu chegar à passagem sem a menor dificuldade.


Eles chegaram às portas de uma versão macabra de Hogwarts, exatamente como Alvo havia feito com Dumbledore e os outros.


_Então isso é Gáia? _ perguntou Jacob.


_Eu estou com uma leve sensação de que conheço este lugar _ disse Alfred.


_Acredito que todos nós _ disse Malvols _ este é o castelo de Hogwarts.


_Isso é fantástico! _ disse Benjamin _ E o que temos que fazer agora?


_Agora precisamos abrir a porta _ disse Malvols.


_Não me diga! _ disse Alfred _ Eu nunca teria pensando em tal idéia.


Malvols se aproximou da porta com Benjamin ao seu lado.


_Ela é muito bela _ disse Ben.


_Bela? _ disse Malvols olhando com repulsa para os vermes e insetos que consumiam a madeira apodrecida.


_Não é porque ela é diferente que significa que não tenha sua beleza, ela é única, original...


_Sei... Ei! Espere Ben, não toque nisso!


Malvols segurou a mão do amigo que estava a poucos centímetros da superfície da porta.


_E porque não?


_Você não sabe que tipo da magia existe aí, pode ser perigoso!


_Nós não chegamos até aqui para sermos parados por isto!


_Deixe-me examiná-la.


Malvols sacou sua varinha e começou a caminhar na frente da porta, tentou uma dúzia de feitiços para abri-la, mas sem sucesso.


_Isso não vai funcionar Malvols! _ disse Benjamin _ Talvez tudo que nós precisamos fazer é empurrá-la!


_Não pode ser! Isso seria muito simples!


_Você é que está querendo complicar as coisas!


Benjamin novamente fez menção de tocar na porta e foi detido por Malvols que o puxou para trás.


_Tire as mãos de mim!


_Eu não vou deixar você fazer isso.


Benjamin se desvencilhou do amigo e socou-lhe o rosto, Malvols imediatamente pulou em cima Ben o os dois rolaram pelo chão trocando socos e pontapés.


_Parem com isso! _ disse Alfred _ Desse jeito vocês vão apenas se quebrar enquanto a porta continua intacta!


Os dois não deram ouvidos a Alfred, continuaram brigando furiosamente até que Benjamin dominou Malvols.


_Você não queria que eu tocasse a porta, não é mesmo? Pois então você irá fazer isso!


 Benjamin jogou Malvols contra a porta, o garoto bateu as costas ruidosamente na superfície e permaneceu imóvel.


_O que você fez? _ disse Alfred _ ele parece estar inconsciente.


O garoto se aproximou de Malvols, mas parou no meio do caminho.


_Por Merlin! Veja isso!


Os insetos e vermes que estavam corroendo a porta começaram a percorrer o corpo de Malvols que recobrou a consciência.


_O que?! _ disse ele assustado _ Ei! Ajudem-me! Eles estão... AHHH!


SOCORRO!


Alfred e Jacob foram detidos por Benjamin antes que eles pudessem ajudar Malvols!


_Fiquem onde estão! Isso é necessário.


_Mas ele vai morrer! _ disse Alfred.


_E daí? Ele será útil, nós conseguiremos entrar desta forma.


_Eu não vou deixá-lo morrer!


_ESTUPEFAÇA! _ disse Benjamin lançando o feitiço e deixando Alfred desacordado _ ALGUÉM MAIS DESEJA SALVÁ-LO?


Jacob parecia borbulhando de raiva, mas não fez mais nenhum movimento. Patrick pareia assustado demais para fazer qualquer coisa. Os vermes comeram a carne de Malvols até que só lhe restaram os ossos... então a porta se abriu.


 


A lembrança mudou novamente, desta vez eles estavam em um longo salão subterrâneo repleto de corpos mutilados sobre pedestais, como se fosse uma bizarra exposição.


Alvo viu Patrick, Alfred e Jacob sentados em um canto parecendo assustados e abatidos, no centro da sala alguém trajando uma longa capa negra andava em círculos impaciente.


_COMO É TARANK?! NÓS FIZEMOS TUDO! AGORA ONDE ESTÁ VOCÊ?


Aquela era a voz de Benjamin Shuler, mas Alvo não podia ver o seu rosto devido ao capuz que ele usava.


_Você queria me ver? _ disse Tarank que surgiu das sombras como se estivesse o tempo todo no local.


_Já não era sem tempo! Achei que ia se esquivar de seu compromisso!


_Eu nunca faria isso _ disse Tarank com uma tranquilidade na voz mais assustadora que qualquer grito.


_Muito bem! Nós fizemos tudo, agora me entregue o Tirante de Gáia!


_Você tem certeza que não está faltando nada? _ disse Tarank olhando para um dos corpos como quem admira uma obra de arte magnífica.


__É claro! Nós passamos pelo redemoinho, abrimos a porta, criamos Gáia e os dementadores medievais e destruímos os seus demônios!


_Certamente. E acredito que esta última parte lhe deixou algumas marcas... mas ainda falta a última parte do acordo. Um de vocês será meu, ficará preso em Gáia por toda a eternidade.


_Está certo. Me entregue o Tirante de Gáia e escolha um deles.


_Eu não vou lhe entregar o Tirante de Gáia.


_Como é?!


_Que utilidade ele teria para você? Já que irá ficar aqui.


_O que?! Então e-eu...


_Exatamente. Você é o meu escolhido.


_Você não pode fazer isto!


_É mesmo?


Tarank fez um leve aceno com uma das mãos e centenas de dementadores medievais entraram na sala, eles caminharam diretamente na direção de Benjamin que se viu cercado.


_SEU DESGRAÇADO! _ berrou ele desesperado _ VOCÊ VAI ME PAGAR!


_Mas por quê?! Você não queria tanto ser poderoso? Você conseguiu, será o Senhor de Gáia...


 


 

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