Piratas, não. Marotos!
A cidade marota era uma bagunça. Pelo menos era a primeira impressão que tive ao descer no porto com Moony ao meu lado. Minhas mãos estavam amarradas por baixo do manto que me foi colocado, a corda passando escondido para o manto de Moony e fazendo-me ficar bem ao seu lado. Isso quase me derrubou quando uma das moças eufóricas corriam para recepcionar os captães marotos e seus tripulantes.
_Capitão Moony, quando que irá me visitar? Posso providenciar seu descanso essa noite? – Disse uma bem vestida mulher, uma das mais bem vestidas que meus olhos podiam ver. Seus traços eram muito bonitos. Boca fina e pitanda, olhos azuis como o mar e cabelos loiros em ondas.
_Srta. Katherine, creio que ficarei te devendo a resposta. Ainda não traçamos todos os planos para nossa estadia.
_É uma pena, meu senhor. Mas você sabe onde me encontrar. – Disse ela, saindo com uma piscadela para o capitão.
_Vocês são bem famosos MESMO. – Comentei com Moony enquanto buscavamos sair daquele aglomerado receptivo de pessoas, adentrando na cidade.
_Sim. Modéstia a parte, esta cidade foi salva pelos marotos uma vez, e ainda ajudamos financeiramente a população.
_Com dinheiro roubado... – Disse sem pensar e procurando logo me corrigir. – Sem ofensas.
Moony apenas sorriu gentilmente, ainda andando.
_Menina, você sabe de onde vem o dinheiro da marinha e exército que você tanto venera?
_Dos impostos da população, oras.
_Apenas daí? – Ele me perguntou e eu fiquei olhando-o de forma interrogativa. Adentramos num bar muito bonito e agitado. Moony indicou-me uma mesa para que eu pudesse me dirigir à frente e ele me seguiu. – Essas forças militares roubam e saqueaiam todas as cidades periféricas massacrando economias de pequenas cidades e impedindo também que cresçam. Como se precisassem. Os impostos, mais da metade, são desviados para os homens de alto escalão dentre eles, sustentando vidas egocentricas e luxuosamente ridículas.
Parei para pensar, já acomodada em uma das mesas do bar. Moony pediu bebidas e ficou observando as pessoas, como se esperasse alguém. Esse capitão não parecia ser “do mal” e eu realmente havia me perguntado o que fizera com que ele se tornasse um pirata.
_Então é esse o objetivo de vocês? Devolver o que foi tirado do da população?
_Vocês quem? Dos marotos? Sim. – Disse ele, desviando sua atenção para mim. - Não somos piratas, como você deve estar pensando.
_São o que, então?
_Marotos. – Falou ele, dando-me um leve croque na cabeça. – Não somos chamados de piratas por aqueles que realmente sabem o que fazemos. Nem a marinha refere-se a nós como piratas. Não matamos e só saqueamos a marinha e seus protegidos.
Um homem negro apareceu em frente a nossa mesa e Moony levantou-se para cumprimenta-lo, afrouxando a corda para que eu não precisasse ir junto.
_Bom dia, capitão.
_Bom dia, Lucifer. Como andam as coisas?
_Estamos enfrentando vários problemas ultimamente. – Falou com a expressão fechada e então ele olhou para mim.
_Este é Lucky, tripulante novo. – Apresentou-me Moony.
_Seja bem vindo a Hogsmead, maroto. – Falou ele com sua voz ressonante. Eu apenas abaixei a cabeça, já me perdendo em pensamentos novamente enquanto os dois sentavam-se e começavam a conversar.
James ficaria realmente decepcionado se escutasse isso. Eu não achava que Moony mentira para mim. No máximo acreditara em algo que não fosse verdade. Mas, parando para analisar, o Almirante Potter, pai de James, vivia dentro de seu palácio, apenas conduzindo reuniões secretas e sua vida era extremamente luxuosa. Apesar de eu ser uma pessoa de origens simples, eu nunca havia visto uma casa tão grande quanto aquela em toda a cidade.
Alheia à conversa dos dois homens na mesa, notei que um homem muito bem vestido, ao fundo do bar encostado na parede, olhava fixamente para Moony e seu amigo. Será que aquilo era idolatração? Ele não parecia estar com uma cara muito amigável. Porém, piratas e os tripulantes marotos nem sempre estava com a feições mais amigáveis e de repente faziam uma piada.
Moony levantou-se ao meu lado junto à Lucifer, chamando-me com o olhar. Seus canecões de bebidas já estavam vazios e a meu, que eu nem vira ter sido colocado ali, ainda estava intacto. O capitão deixou uma nota em cima da mesa e nos dirigimos para fora do bar.
_Mas esses eventos estão ocorrendo há quanto tempo, mais ou menos, Lucifer? – Perguntou Moony com uma cara intrigada.
_Eles se iniciaram há mais ou menos uma semana depois que vocês partíram para a última viagem.
_Quero que nossos homens em terra se foquem nesses casos a partir de agora. Achem todos os nossos que estão desaparecidos e peçam às curandeiras para darem seu máximo na recuperação dos feridos. Vou conversar com os outros capitães para tomarmos algumas medidas antes que ocorra alguma coisa outra vez.
A rua estava menos movimentada do que quando entramos no bar. Provavelmente as pessoas voltaram às suas casas e trabalhos devido ao horário, uma vez que o sol estava quase no topo de nossas cabeças.
Ao longe reconheci a mesma figura pomposa que encarava o capitão, dessa vez sentado num barril largado do lado de fora de uma larga casa. Tivera tempo para se deslocar tão rapido ou eu que estava muito distraída? Ele olhava para Rufus, que conversava de uma forma esquisita com uma mulher bem vestida. Eles estavam muito próximos. O casaco do homem se moveu para o lado e um cilindro preto cintilou à luz do sol.
Horrorizada com a semelhança que o objeto tinha com uma arma de fogo, gritei, em plenos pulmões, apontando para o homem estranho. Imediatamente, Moony olhou de mim para o homem que eu apontava e então para Rufus. Lucifer, como se seu cérebro e corpo fossem programados para reagir ao meu grito, saiu em disparada atrás do homem, que já havia dado o primeiro tiro e saíra correndo. Rufus, tentara se jogar no chão levando consigo a mulher.
Moony afrouxou um pouco a corda que me separava dele e saiu em disparada em direção à Rufus. A mulher já chorava estericamente, com as mãos no ar sem saber se relava ou não no maroto caído no chão. O capitão abaixou-se e retirou a mão do rapaz que cobria um braço ensaguentado, analisando o ferimento. Aquele monte de vermelho me fez ter vertígens, mas eu procurei ficar forte e tentei ajudar o capitão, que tentava levantá-lo. Colocando-o nas costas, Moony virou-se para mim.
_Seja compreensiva e não tente fugir. – Falou ele soltando a corda que me prendia. – Vamos até a curandeira mais próxima.
_Ok. – Respondi, mesmo que a idéia de fuga não tivesse nem passado na minha cabeça com o susto.
Conforme eu corria, sentia a vertigem embaçar minha vista, mas sabia que Rufus precisava de tudo, menos de que alguém desmaiasse e deixasse-o sem atenção. Pra piorar, como o Moony conseguia correr tão rápido com alguém com seu peso nas costas?
Chegamos à uma casa onde a dona já encontrava-se do lado de fora colocando uns sacos de estopa que pareciam se lixo, no chão. Assim que nos avistou, correu em nossa direção.
_Oh, santo Deus. – Exclamou ela. – Como ele está?
_Esperava que você me respondesse a mesma questão. – Respondeu Moony preocupado, virando de costas para ela de modo que a mulher pudesse visualizar o paciente.
_Leve-o para dentro.
Moony seguiu a mulher. Logo que adentraram na casa, vi Progs e Padfoot virem de duas direções opostas, correndo.
_Lucky, como ele está? – Perguntou-me Progs.
_Não sei. – Falei assim que minhas pernas fraquejaram e eu inclinei-me para trás, sendo sustentada por Padfoot.
_Ei, garota! – Exclamou ele. – O que houve?
_Só estou tonta. – Falei, me segurando no primeiro braço que achei e tentando me recompor. – Acho que não posso ver sangue.
_Frangota.. – Debochou Padfood.
_Venha, você precisa descansar um pouco. – Falou em meu socorro Progs, passando meu braço por seus ombros e notando que era alto demais para que pudesse me levar assim até o interior da casa da curandeira. Fez menção de me pegar no colo e senti uma onda de energia voltar ao meu corpo.
_Deixa que eu vou andando. – E sai em disparada para o interior da casa e, sem cerimônia, me joguei na primeira poltrona que encontrei e apaguei.
_E quem são eles? – Escutei a voz firme de Padfoot perguntando.
_Parece que são mercenários e de nada tem a ver com os últimos eventos contra nós. – Escutei uma voz desconhecida.
_Será? – Foi a vez de Progs. Sentei-me para escutar melhor o que falavam. Eu dormira numa poltrona logo ao lado da porta da casa e eles estavam acomodados nos assentos ao centro da sala de modo que Progs, Moony e o estranho estavam de costas para mim, a curandeira e Padfoot de frente do outro lado da sala.
_A bela adormecida acordou. – Falou a curandeira, sorridente.
_Desculpe a invasão. – Apressei-me a falar, já que eu não havia ao menos pedido licença para adentrar em sua casa.
_Mal educada. – Falou Padfoot, virando-se em minha direção.
_Oras, Pad. Você sabe que eu não me importo. – Ralhou com o capitão, levantando-se e servindo uma xícara ao centro da mesa com algo fumegante. Padfoot virou-se para a mulher e eu mostrei-lhe a língua pelas costas em um ato involuntário, sendo pega no flagra por Moony e o estranho, que caíram na gargalhada.
_O que é? – Perguntou Padfoot. Progs também virou-se para mim, esquecendo-se dos seus devaneios sobre o antigo assunto e vendo-me tentar fazer a cara mais inocente que eu conseguia, o que causou-lhe uma sobrancelha arqueada.
_Deixem a garota em paz, rapazes. – Falou a curandeira, entregando-me o chá que cheirava muito bem. – Afinal, hoje ela salvara o dia.
_Rufus está bem? – Perguntei, abrindo um sorriso para ela.
Sim, está apenas com um grande ferimento na parte interior do braço e uns arranhões ao lado, na costela, onde a bala passou de raspão.
_Fico feliz.
_A propósito, sou Helena, uma das curandeiras dos marotos.
_Ah, prazer. Meu nomé é Lucky.
_E o verdadeiro? – Perguntou ela com um risinho.
_Lílian. Pude ver de esguelha o capitão Progs me observando e, quando eu olhei para ele, virou-se de costas pra mim de modo a retornar à conversa que já havia recomeçado entre os rapazes.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!