Flecha desgovernada.



         Logo os outros marujos acordaram. Éramos quinze, fora aos capitães. Os que eu mais conversava eram Pedro, um rapaz de cabelos castanho-claros e gorduchinho, e Rufus, esse já alto e esguio. Tinha algumas mechas dos cabelos pretos e longos trançados com fitas verdes. 


         _Hoje será um longo dia. – Falou Rufus esticando-se, parecendo apreciar a luz do sol da manhã. Alguns marotos já haviam colocados baldes de água salgada a postos, todos acompanhados de uma pedra de sabão e um escovão não muito simpático.


         _Não vejo a hora de almoçarmos. – Disse Pedro, com olhos sonhadores. Comida, como eu já havia percebido desde a primeira vez que o vi, deveria ser seu nome do meio.


         _E a novidade? – O moreno revirou os olhos e tirou a camisa, jogando-o pelo buraco que levava aos dormitórios. Pedro bufou e fez o mesmo. Engoli em seco. Todos os outros já estavam sem camisa, o que significava que eu era a única totalmente vestida. Respirei fundo e me dirigi a um kit limpeza, rezando para que ninguém notasse esse pequeno detalhe.


         _Ei frangote. – Estaquei, de olhos fechados. Jack, um negro grandalhão que me tinha como seu alvo favorito, chamou-me. – Vai deixar a sua camisa sujar só porque está com vergonha de mostrar a sua falta de músculos?


         _Uhm, não ligo. – Eu respondi simplesmente, procurando discretamente com o olhar um lugar mais escondido para esfregar. Mas era tarde demais. Os outros já me encaravam travessamente. E eu estava cercada.


         _Não, é? – Sorriu-me ele. – Dez galeões para quem tirar a camisa do Lucky! – E eu só vi uma multidão vindo pra cima de mim. Bom, adeus. Primeiramente eu gostaria de dizer que eu gostei muito de ter conhecido a todos, que não me arrependo de ter entrado nesse navio, pois sei que fui até o fim para procurar James. Quero dizer também que...


         _Ei, marotos! – Escutei uma voz firme vir do alto. Olhei para cima, como todos. Progs estava lá, encarando-nos. – Chega de bagunça. Há muito trabalho pela frente. – Enquanto Moony me deixava curiosa diante de seu olhar, Padfoot me deixava com medo diante de seu porte imponente, Progs me encantava. Ele tinha os olhos amendoados, cabelos pretos e espetados, era forte e exalava autoridade. Talvez eu ficasse boba dessa maneira com a sua presença por causa de seus cabelos. Eram tão parecidos com os de James... A única coisa que eu conseguia lembrar dele. O tempo me tirara até o desenho de seu rosto.


         _Sim, capitão! – Todos gritaram firmemente, como deveria ser diante de uma ordem direta. O capitão voltou para onde eu imaginava estar o timão, “volante” do navio. Suspirei aliviada quando todos passaram a dirigir-se aos baldes.


         _Te pego na próxima, nanico. – Disse-me Jack, antes de virar-se. Em um gesto impensado, mostrei-lhe a língua quando ele já não me via. – Escutei uma gargalhada ao meu lado e virei. Rufus olhava para mim.


         _Que forma mais infantil de demonstrar desaprovação.


         _Olha o esfregão! – Eu falei, jogando um em sua direção e virando-me para meu balde, rindo.


 


         _Está quente hoje. – Disse-me Lovegood entre uma esfregada e outra. – Talvez eu faça uma dança da chuva mais tarde.


         _Uhm, chame-me se precisar de ajuda. – Eu respondi simplesmente. Já havia aprendido que se fosse questionar todas as coisas que esse homem falava, eu poderia passar o dia inteiro fazendo-o e mesmo assim ir dormir sem uma resposta. Lovegood era o tipo de pessoa que uma hora está conversando com você, na outra passava a contemplar o nada enquanto fala alguma coisa esquisita. Mas ele era legal. – Qual a previsão para esses dias, então?


         _Mudanças.


         _O que?


         _Que chão sujo! – Ele exclamou, chegando com o rosto bem perto de uma mancha do chão, tirando a língua para o lado e esfregando freneticamente. Dei de ombros.


 


         Estávamos exaustos naquele dia. Na hora das refeições, os marujos literalmente avançaram na comida. Os três capitães juntaram-se a nós na janta e pareciam os mais animados. Brincavam com todos, deixavam-se brincar. Mas, o que eu achei mais fascinante, os três eram amigos. Mas não aqueles amigos que conversam sempre, ou que compartilham a mesma profissão ou fardo. Eles eram amigos de entrelinhas. Quando um fazia uma piada sobre alguém, eles trocavam olhares e pareciam rir de algo que apenas eles sabiam. Algum momento vivenciado apenas pelos três.


         Uma vez ou outra, tive a impressão de ser observada. Mas não consegui achar ninguém que estivesse me olhando. Cheguei a conclusão que era o sono e resolvi me retirar. Despedi-me de Pedro e Rufus, que estavam ao meu lado, e sai daquele compartimento.


         Acabei ficando mais tempo no convés do que pretendia. A lua, como acabei de perceber, ficava bem mais destacada olhando do meio do nada. Talvez porque não tenha luz alguma tentando competir com seu brilho, como em cidades.


         _Lucky. – Escutei alguém me chamar e virei em direção a voz. Era o capitão Progs.


         _Ah, olá capitão.


         _O que faz aqui? – Ele perguntou, aproximando-se de mim.


         _Uhm, estava indo dormir e a lua chamou-me atenção. – Respondi, estranhando a pergunta. Pelo que eu saiba, isso não era proibido.


         _Eu digo no navio. O que te fez seguir viagem conosco? – Ele me olhava firmemente, e me deu um certo medo. Ele era bem mais alto e forte que eu e sua espada cintilava a luz da lua. Não era um bom convite para conversa.


         _Eu sempre quis estar a bordo desse navio. – Respondi. Em parte era verdade. Desde que James fora levado, eu decidi que iria embarcar nele.


         _Por que? – Ele encostou-se na borda do navio, ainda me examinando. Isso estava me deixando nervosa.


         _Porque vocês são famosos.


         _Isso não é o suficiente para tornar-se um maroto. – Ele disse secamente.


         _Há muito tempo... Estou a procura de alguém. – Vi-me forçada a dizer. Não podia deixar que tudo se acabasse aqui. Tinha que contornar a situação, mesmo que a conversa tenha se encaminhado para uma direção perigosa. O navio balançou um pouco mais forte quando quebrou uma onda e eu tive que me segurar para não cair. Progs pareceu não ter nem notado. Ele mudou sua atenção para a lua, pensativo.


          _E você tem certeza que essa pessoa que você procura está viva?


         Eu não sabia o que responder. Essa era uma questão que eu decidira ignorar completamente.


         _Não, mas...


         _E o que irá fazer se não encontrá-la? – Ele virou-se para mim novamente.


         _Eu... Eu não sei. – Disse, sentindo-me derrotada.


         _O voto de lealdade de um maroto não pode ser quebrado simplesmente porque você chegou ao seu objetivo.


         Pensei um instante sobre isso. Sabia que eu não voltaria nunca mais para minha cidade natal, e também não tinha intenção de quebrar uma promessa. Se James estiver vivo, eu tentarei convencê-lo de vir comigo, ou pedirei permissão para ajudar os marotos em terra firme. Quem sabe conseguindo informações a respeito da marinha. Mas, se estiver morto, eu não sei saberia o que fazer ou como seguir minha vida. Desde o dia de seu sumiço, a única coisa que se faz presente em meu horizonte era ele. E, se esse horizonte se esfacelar...


         _Não quebrarei minha promessa. Continuarei sendo um maroto.


         Ele deu uma risada baixa, colocou a mão em minha cabeça, e bagunçou meus cabelos.


         _Boa noite, marujo. – E voltou para o refeitório.


         Eu havia acabado de ter um deja vu.


 
 


         Aquela, sem dúvidas, fora a minha pior noite a bordo até então. No dia seguinte haveria treinamento, lutas, e eu era um desastre nisso. Mal conseguia levantar uma espada. Passei a noite em claro, ou pelo menos foi o que pareceu. Acordei várias vezes com pesadelos que envolviam eu estar fraca demais para lutar e me descobrirem como uma garota, eu sendo expulsa do navio e me jogando aos tubarões. Rufus, que dormia na cama ao lado, estava quase para me bater devido aos gritos que eu dava ao acordar. Felizmente só ele tinha sono leve no dormitório.


         Apesar da insônia, o dia amanhecera cedo demais para o meu gosto. Vi os raios de sol penetrarem pelas frestas da madeira do piso de cima. Enfiei minha cabeça sob o travesseiro esfarrapado e tentei dormir mais um pouco. Definitivamente, cansaço não iria me ajudar em nada.


         Logo todos estavam fazendo algazarra. Alguns pegaram suas espadas e brincavam entre si, fazendo tilintar os metais. Decidi que teria que levantar ou alguém viria me chamar em instantes.


         No convés já haviam alvos para arco e flecha e apenas três rapazes, Pedro, Lovegood e um que eu sabia que se chamava Lockhard, mas que eu nunca havia conversado. O treino de espadas, depois de uma volta eu descobri, seria do outro lado do navio. Talvez os arqueiros tivessem medo de serem fatiados pelas costas.


         Os treinos começaram logo. Eu preferi o arco e flecha, então juntei-me aos três e Pedro logo se dispôs a me ajudar. Mas ou ele não era um bom professor, ou eu uma boa aluna. Depois da quinta flecha atirada para o mar, me despacharam dali.


         _Ah, Lucky! Vai treinar com a espada. – Dissera-me Lockhard. Não gostei desse cara...


         Fui para o outro lado do navio. Os marujos lutavam arduamente entre si e, se eu não tivesse visto um deles parar um ataque assim que a lâmina encostou no pescoço de seu parceiro, eu diria que estava havendo uma rebelião. Padfoot era o único que assistia uma briga mortal entre Moony e Progs e, assim que me viu, abriu um largo sorriso e veio em minha direção.


         _Lucky, quer treinar um pouco comigo? – Engoli em seco.


         _Não?


         _Ah, vamos lá. Tentarei te deixar inteiro. – Ele sorriu marotamente e eu fiquei com vontade de sair correndo, quem sabe voando.


         _Padfoot, sua vez. O Moony ganhou. – Gritou Progs, vindo em nossa direção.


         _Estou ocupado. Tenho que treinar esse novato. – Ele virou-se para ele e Progs parou ao meu lado.


         _Está com medo, Padpad? – Gritou mais alto do que o necessário Moony. Todos os marujos pararam seus movimentos instantaneamente e se puseram a rir.


         _Ah, seu lobo desgraçado. Vamos ver quem é que está com medo. – E saiu correndo na direção do outro capitão brandindo a espada. Eu arregalei os olhos achando que haveria uma briga, mas assim que eles começaram a lutar, vi ambos sorrindo.


         _Vamos treinar, garoto? – Convidou-me Progs. Por um instante eu havia me esquecido da sua presença.


         _Ahn. Será que não precisam da minha ajuda na cozinha?


         _Nunca pegou uma espada antes, não é? – Perguntou-me ele sorrindo.


         _Não.


         Ele pegou uma espada encostada em uma das bordas do navio e entregou-a a mim.


         _Vamos com calma então. Venha me atacar. – Ele disse, segurando a espada ao lado do corpo.


         _Uhm, tem certeza? – Perguntei incerta. Não queria ser acusada de machucar um capitão. Eu era muito desastrada.


         _Anda.


         Eu estiquei o braço para frente e tentei, literalmente, furá-lo.


         _Ha, é assim que pretende atacar seu inimigo? – Ele falou, fazendo um movimento circular com a sua espada e desviando a minha do alvo. Em uma fração de segundos ele já segurava a minha mão armada e tinha a sua espada apontada ao meu pescoço.


         E ficamos assim por meia hora, eu tentando atacá-lo inutilmente e ele ensinando-me movimentos e técnicas de defesa. Meu braço já ardia pelo peso da espada e ele não parecia estar sequer sem fôlego. Em outra tentativa, assim que o peso do contra-ataque fez-se presente, deixei a espada cair e cai de joelhos no chão.


         _Vá tomar um ar, depois volte. – Ele falou, agachado ao meu lado.


         _Ok, obrigado.


         Ele voltou para onde antes treinava com Moony e ficou assistindo à luta dos outros dois capitães.  Resolvi ir para o outro lado do navio com a esperança de que me esquecessem e eu pudesse me safar desse treinamento.


         Fiquei olhando por um tempo os rapazes acertarem quase todas as flechas perfeitamente no centro do alvo e fiquei imaginando por quanto tempo eles faziam aquilo. Um grito de um pássaro chamou minha atenção e eu me virei para procurá-lo, mas não encontrei-o. Devíamos estar perto de algum continente.


         O que se deu a seguir foi como um flash. Tive a certeza de escutar James me chamar.


        _Lílian!!


         Quando olhei para o lado, eu o vi correndo em minha direção com uma roupa esquisita e parecia mais velho do que nas minhas lembranças. E então uma pancada seguida de uma dor dilacerante no meu ombro direito. Vi Pedro com o arco apontado para mim e uma cara de terror. A imagem se transformou lentamente em escuridão, como se o sol estivesse se apagando. Senti uma leveza inexplicável, um frio de gelar os ossos e então cai na inconsciência.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

N/A: Olá pessoas =DD
Gostaram do cap? *-* Não gostaram? =((
Dêem sua opinião.
Têm sugestões, pedidos de cenas ou algo parecido? Falem. Quem sabe eu goste e consiga encaixar na história. Seria legal =D
Peço desculpas se houverem erros. É que eu não tenho beta e sempre alguma coisa passa despercebida, né? =\
Estive pensando em fazer uma enquete sobre o que vocês mais queiram ver no cap 3 e eu faria o cap baseado na resposta de vocês, mas eu acho que ainda está muito cedo. Vocês precisam de mais informações ^^

Mas a idéia está de pé, logo logo teremos uma enquete *-*

Resposta dos coments:

nath krein:
OiiI!! Aii, obrigada =) espero que goste desse cap tbm
espero te ver sempre por aqui *-*
Quem sabe que ela é ela? xP~~
descobriremos =DD
ehasueihasuiehasuie
espero seu coment ein? =D
;**

Eluna:
É né? heuiaheaiusheuaiseh Quem liga? se eles quiserem vir me matar tbm n iria ligar *¬*
(meu namorado que nao me escute =x)
easehauisehauisehausiehauisehuia
Mas que otimo que vc está gostando!! Espero que eu consiga saciar a sua sede por aventuras xP
;**

Barbarapp:
Oláááá!! bem vinda..
AhhH!! servida? gostou desse tbm? *-*
te espero no prox
bjo! 


 


 


 

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