Fique na estrada



Um motociclista que viajava pelo norte da Inglaterra parou no Café Slater, uma simpática cafeteria a beira da estrada na pequena cidade de Yorktown.


O dono do café, Joe Slater, tinha hábito de perguntar a todos que servia sobre seu destino de viagem.


–        Para onde está indo? – perguntou simpático enquanto servia o rapaz com chá e biscoitos.


–        Norte! – respondeu o rapaz guardando alguns biscoitos no bolso da jaqueta.


–        É uma longa viagem para se fazer de motocicleta.


–        Estou de férias e gosto de fazer coisas diferentes.


–        Tome cuidado com estrada. Não pare pelos próximos quatro quilômetros, não saia da estrada.


–        Nos próximos quilômetros tem a tal floresta da bruxa não é? Já me disseram isso hoje; uma bruxa se escondeu lá ou qualquer coisa assim. É por isso que as árvores cobrem essa parte da estrada e se forma essa neblina mesmo no verão?


–        É só uma lenda local – respondeu a filha de Joe, Rebecca, que estava no caixa – não há nada para se preocupar.


–        Mesmo assim não saia da estrada. – Joe tornou a adverti-lo.


O motociclista pagou a conta, agradeceu e saiu.


Sentado sozinho no final do balcão um rapaz muito claro de cabelos negros e olhos acinzentados terminara sua segunda xícara de chá e observava a garota no caixa.


–        Quanto lhe devo? – perguntou a Joe.


–        Duas libras. E o senhor para onde vai?


–        Acabei de chegar de Londres para visitar alguns amigos aqui perto.


–        Bom, vou lhe dizer o mesmo que disse ao americano senhor...


–        Rent, Patrick Rent.


–        Não saia da estrada.


–        Obrigado, vou levar em consideração o aviso. Fique com troco. – disse sorrindo para garota no caixa.


Naquela noite enquanto fechava as janelas do café Joe observou pela janela uma espessa neblina envolver a casa. Ouviu um barulho vindo do quarto da filha.


Desconfiado pegou um rifle debaixo do balcão e subiu as escadas. Abriu a porta do quarto, mas não a encontrou. Foi até a janela e não conseguiu ver nada além da parede branca e fria a sua frente. Quando se virou deu de cara com Patrick Rent. Joe conseguiu disparar um tiro que acertou Patrick no ombro; ainda assim Patrick tomou-lhe o rifle com violência.


–        O que vai fazer com minha filha?


–        Gostei dela. – Patrick respondeu displicente e arremessou Joe contra a parede. Levantou a camiseta deixando a mostra o ferimento aberto pelo tiro


–     Tenho que confessar que isso doeu.


–     Quem é Você?

–     Quem acha que eu sou trouxa?

Joe achou que fosse impossível, mas a neblina e o fato do rapaz levar um tiro e continuar em pé como se tivesse levado apenas um empurrão não deixava dúvidas. 

–     Você é o filho de Amelie? Da bruxa... 

–     Da bruxa da floresta como vocês a chamam! Um tanto grosseiro se quer saber! Minha mãe foi uma grande bruxa!

–     Olhe, nós nunca dissemos nada a ninguém! Ninguém foi incomodá-lo por nossa causa! Solte minha filha!


–     Não importa quem foi; toda vez que vocês trouxas comentam a “lenda local” alguém tenta entrar na floresta. E por mais que eu goste de companhia não posso permitir que quem entre... saia.

–     O americano... Eu o avisei! Não foi nossa culpa!


–     Levei isso em consideração como disse que iria fazer e também o fato de sua filha ser interessante.


–     Não temos culpa do que aconteceu a você ou a sua mãe. Vocês se esconderam lá para fugir de outros iguais a vocês! Eu lhe imploro não faça nada com minha filha! Somos só eu e ela!


Patrick tocou o sangue que saia do ferimento e pingou algumas gotas no chão.


–     Como você já deve saber fui amaldiçoado pelo meu pai e meu sangue é venenoso, mortal.

Enquanto falava Patrick tocou as gotas com a varinha. Um imenso cão de olhos vermelhos e focinho cheio de cicatrizes se formou delas. Com um movimento de varinha Patrick fez o cão saltar sobre o peito de Joe Slater e lentamente fazer força nas patas dianteiras.


Enquanto tirava a bala cravada do ombro Patrick ouvia o tórax do pobre homem rachando lentamente até que não respirasse mais. O cão desapareceu no ar.


–     Isso será um bom aviso para os seus amigos trouxas.


Patrick arremessou a bala que perfurou seu ombro para longe. Em frente o café a garota com quem flertara horas antes o aguardava.


–     Que tal? – perguntou.


–     Muito bom. – respondeu Patrick.


–     Não gosto do meu nome.


–     Você se costuma. – disse Patrick sorrindo.


Os dois desapareceram junto com a neblina.



Harry Potter estava em sua sala no Ministério da Magia. Lia atentamente um relatório sobre cotações da moeda bruxa em outros países.


A todo instante memorandos entravam por debaixo de sua porta, alguns gritando: “Leia-me primeiro!”. Antes das dez da manha duas pilhas já se acumulavam. Não que Harry fosse lerdo, mas muitas pessoas batiam a sua porta simplesmente para vê-lo. Pior que a maioria era inconveniente e não fazia questão de disfarçar que achavam graça de Harry Potter ocupar uma das menores salas de todo o Ministério.


Apesar desses contra tempos Harry estava gostando do novo trabalho. Conseguia preencher a mente e esquecer parcialmente a dor em suas costas e o motivo pela qual a sentia.


Dias antes fora atacado violentamente num galpão cheio de objetos mágicos. O homem que Harry acreditava ser responsável pelo ataque e libertar uma mortal criatura no Beco Diagonal ainda estava foragido. Kingsley, o Ministro da Magia, havia ordenado que assim que Roman Young fosse localizado Harry e Patrick Rent deveriam ser imediatamente informados. Os revistadores do Ministério reviraram a antiga casa de Roman Young de ponta a ponta, mas até aquele momento não havia nenhuma pista que pudesse sugerir seu paradeiro.


Havia alguns detalhes que, por hora, Harry omitira até de Rony e Hermione. Apenas Gina e Rick Nelson, funcionário do Ministério que salvara a vida de Harry no galpão em chamas, sabiam. Num quarto do Hospital St. Mungus o Guardião tentava se recuperar de uma tentativa de assassinato. Segundo o Sr. Nelson havia pouca esperança de sobrevivência; mesmo assim Harry esperava saber quem os atacou naquela noite e quais segredos os baús mágicos roubados guardavam.


Às onze horas Harry deveria estar presente como convidado em uma reunião com o Ministro para aceitar a candidatura de Percy Weasley a Conselheiro Ministerial. Harry não se empolgou com a notícia nem com o convite, conhecia as prioridades idiotas de Percy, mas a eleição para os novos Conselheiros estava próxima e cedo tarde isso aconteceria.


Havia só mais uma vaga e qualquer pessoa poderia concorrer independente do cargo que ocupasse no Ministério. E todos sabiam que Percy não se contentava como gerente do Departamento de Criaturas Mágicas para Adoção. Não era um departamento muito popular.


No horário combinado Harry se encontrou com Percy acompanhado do pai na sala dos Conselheiros.


Quando entraram foi cumprimentado pelo amigo Kingsley; localizou Rick Nelson conversando com uma bruxa morena bonita sentada ao seu lado. Ambos cumprimentaram e sorriram para Harry.


Representantes de todas as áreas do Ministério estavam presentes exceto Patrick Rent.


O Ministro havia aceitado a candidatura de Patrick dias antes; ao contrário de Percy que queria que todos o vissem e ouvissem; Patrick foi discreto e dispensou a sessão de apresentação.


Percy colocou sua pasta sobre a mesa e tirou um calhamaço de folhas e as entregou ao Ministro.


–     Só algumas sugestões que escrevi hoje de manha.


Uma mulher de meia idade com cabelos cor vinho, brincos enormes e um batom excessivamente vermelho sorriu forçado para Percy.


–     Madeleine Hayes. – cochichou o Sr. Weasley. – A Conselheira do Ministério que vai se aposentar; é para a vaga dela que Percy vai se candidatar.


Patrick Rent entrou na sala. Havia ficado retido em Gringotes amanha toda.


–     Alguns duendes impediram um grupo de trouxas de sacar ouro da conta de parentes por ordens de Bunko, o líder. – explicou.


–     Bunko tem criado obstáculos para o ouro não sair do banco; ainda mais com trouxas. – a Conselheira Hayes comentou com o Ministro.


–     Desta vez alegaram que os trouxas não queriam desfazer de seus objetos pessoais antes de entrarem em Gringotes. – disse Patrick.


–     Que objetos? – Kingsley perguntou.


–     Roupas. Os duendes queriam que os trouxas as tirassem.


Harry e o Sr. Weasley trocaram olhares. Vários risos discretamente abafados podiam ser ouvidos de fundo. O próprio Ministro e Conselheira acharam graça.


–     Imagino que tenha resolvido o caso Sr. Rent. – o Ministro perguntou a Patrick num tom confiante.


–     Sim, tudo resolvido senhor. – respondeu Patrick. – Os trouxas sacaram seu ouro e todos continuam devidamente vestidos.


–     Patrick, você deve começar a pensar em convencer Bunko a deixar Gringotes. Um duende como ele no comando do banco está começando a nos preocupar. – disse a Conselheira.


–     Bunko é o líder dos duendes agora. Afastá-lo de lá trará problemas ao Ministério.


–     Conversaremos sobre esse ponto mais tarde – Kingsley os interrompeu – por favor, tome seu lugar Sr. Rent. Percy Weasley acaba de apresentar sua intenção de se candidatar a Conselheiro Ministerial.


–     Convencer duendes a mudar de idéia não é fácil. – observou o Sr Weasley. – Soube que foi o Sr. Rent que ajudou vocês no Beco Diagonal.


–     É verdade. Sem contar o problema com Rony na festa do Ministério. Se não fosse por ele Rony estaria encrencado.


–     Quando aquele rapaz, Córmaco, acordar nem quero pensar no que pode acontecer.


–     Ele enfeitiçou Rony! Isso vai encrencá-lo também se abrir a boca para acusá-lo.


Percy continuava sua enfadonha apresentação.


–     Ministro e Conselheira Hayes no parágrafo trinta e dois do meu relatório os senhores notarão que há registros de atividade mágica no interior da Inglaterra. Isso tem se intensificado nos últimos meses. Considerando que não há registro de residências bruxa nessa área seria interessante...


 Depois de quase dez minutos falando Percy concluiu:


–     E modestamente me considero apto ao cargo.


A Conselheira Hayes guardou o relatório.


–     Entendo Sr. Weasley, mas para o cargo que o senhor almeja deve se familiarizar com certos assuntos do Ministério. Por isso eu decidi liberá-lo do seu cargo de Gerente de Criaturas Mágicas para Adoção e nomeá-lo Auxiliar de Procedimentos Administrativos junto a Patrick Rent.


As palavras da Conselheira pegaram tanto Percy quanto Patrick de surpresa. Patrick pediu a palavra, mas a Conselheira continuou a falar:


–     O Sr Rent, ultimamente tem acumulando tarefas desde a fuga de Roman Young. O Ministro e eu, achamos que precisa de ajuda. Principalmente nesse caso de Gringotes.


–     Conselheira acabamos de contratar o Sr. Potter e...


–    O Sr. Potter acaba de chegar ao Ministério. O Sr. Weasley o ajudará de agora em diante. Minha decisão tem apoio do Ministro.


–    Será que posso ocupar a sala que era de Roman Young? Seria mais apropriado... – disse Percy.


Patrick se virou zangado para Percy.


–    Essa sala ainda está sob minha supervisão e quando for liberada se for liberada...


–    Libere a sala Patrick. – mandou a Conselheira.


–    Considero aceita a candidatura de Percy Weasley e acrescento a mudança de cargo, obrigações e salário. – disse o Ministro. – É a minha decisão final.


O Ministro encerrou a sessão.


Harry observou que Rick Nelson comentava alguma coisa com a bruxa bonita. Era óbvio que a Conselheira Hayes estava favorecendo Percy; o que era uma grande injustiça pensou Harry.


O Sr. Weasley parecia muito feliz. Harry achou que deveria ficar, mas gostava de Patrick e sabia como Percy podia ser um inferno na vida de qualquer pessoa. Patrick, porém, não disse nada que contrariasse a decisão da Conselheira e apertou a mão de Percy.


A caminho de sua sala Harry ouvia Percy encher os ouvidos de Patrick com todo tipo de pergunta.


–     Conte mais sobre esse tal Bunko. – disse Harry.


Patrick pareceu incrivelmente agradecido pela interrupção.


Percy tirou um caderno do bolso e olhou para Patrick esperando suas palavras.


–     Bunko se tornou líder dos duendes e um dos seus direitos como tal e comandar Gringotes. Ele odeia trouxas, bruxos e até os outros duendes. Ele só gosta de ouro.


–     Como o Kingsley permitiu que ele tomasse conta de Gringotes? – Harry perguntou.


–     Ele não teve escolha. Você sabe que duendes não dão à mínima para leis bruxas. Eles seguem seu próprio código e segundo eles agora Bunko é o líder e como tal tem direito em dirigir o banco. Sem contar que ele é um artesão. O ouro que ele cunha é o melhor em séculos. Sem nenhuma falha.


Percy anunciou a todos que passavam pelo corredor que ia tratar de sua mudança de sala.


–     Desculpe, eu queria que você ocupasse a sala de Roman. – Patrick disse a Harry quando caminhavam sozinhos.


–     Não tem problema. Gosto da minha, de verdade. – respondeu Harry sincero. – O que essa Conselheira fez com você foi ridículo!


–     Ela está me testando Harry. – Patrick respondeu calmamente. – Eu poderia até recusar Percy no meu departamento, mas era o que ela estava esperando. Ela não gosta de mim.


–     Percy é meio babaca, mas não é má pessoa. Você vai acabar gostando dele no final.


–     Se ele não iniciar uma guerra com os duendes por entregar um relatório a Bunko dizendo como administrar Gringotes já vou ficar satisfeito.


–     Não posso garantir que isso não vá acontecer. É sério.


–     O que achou do Conselho?


–     São todos meio velhos.


–     E conservadores como Percy; ele tem apoio da maioria. Alguns estão para se aposentar.


–     Como essa tal de Madeleine Hayes?


–     É. A vaga ao cargo dela é uma exceção. Os Conselheiros podem indicar os filhos como sucessores se eles tiverem uma ficha impecável; é o caso da Conselheira que indicou a filha Deanna Troy; você deve ter reparado nela do lado de Rick Nelson.


–     Sim, eu a vi. É a bruxa mais bonita do Ministério.


–     Quando cheguei aqui fazia questão de passar todos os dias na frente da sala dela! Mas ela está noiva de Greg Raiker.


–     O cara especialista em inventar rastreadores mágicos?


–     Ele mesmo. Você não os conhece? São amigos dos Weasley há tempos.


–     Eles estavam no casamento de Gui e Fleur, mas não chegamos a ser apresentados com tudo que aconteceu naquele dia.


–     Ah, sim eu li a respeito – Patrick riu – acho que todo mundo leu a respeito.


–     Depois disso nunca mais nos encontramos.

Quando chegaram à porta da sala de Harry; Patrick perguntou em voz baixa:


–     Harry, posso lhe pedir um favor?


–     Sim, claro! – respondeu Harry quando entraram na minúscula sala de Harry e conseguiram se acomodar.


–     Uma amiga chegou a Londres para o funeral do pai.


–     Que triste, sinto muito.


–     Não eram chegados. Ele era trouxa e pode se dizer que nunca tiveram contato. Acontece que ele deixou algum dinheiro pra ela, dinheiro trouxa. E não seria ético da minha parte ajudá-la a tratar desse assunto em Gringotes. Então pensei se você poderia cuidar disso pra mim.


–     Posso dar uma olhada no processo e ver no que pode ser agilizado! – Harry respondeu de pronto.  – Venha jantar em casa hoje à noite e traga sua amiga. Podemos inclusive conversar sobre aquele desenho que vi no baú. Hermione tem uma idéia do que pode ser.


–     Sério?


–     Incrível eu sei. Ela sabe tudo. O que há com seu ombro?


Patrick se surpreendeu com a pergunta.


–     Está com o ombro machucado; percebi na sala do Ministro. Não está se movimentando muito.


–     Já tive acidentes piores. – Patrick respondeu irônico.


Harry sorriu.


–     Não foi nada só um arranhão de um galho quando estava voando esse fim de semana.


Harry tirou uma garrafa térmica debaixo da mesa e despejou o conteúdo branco como marshmallow numa caneca e entregou a Patrick.


–     Essa poção acaba com qualquer dor! Rick Nelson me deu. Beba.


–     Suas costas estão melhores então?


–     Melhorando lentamente.


Patrick tomou um gole.


–     É tão ruim quanto parece. O que é isso? – apontou para a garrafa que Harry segurava.


–     Uma garrafa térmica; mantém o liquido quente ou frio por longos períodos.


–     Posso ver?


Harry entregou a garrafa a Patrick; ele a examinou com a mesma expressão infantil de curiosidade que o Sr. Weasley fazia quando encontrava um objeto que funcionava sem magia.


Às sete horas Harry chegou em casa e deu de cara com Rony enrolado em uma toalha pingando no tapete no meio da sala.


–     Não era bem você que eu esperava ver saindo do banho... Onde está Hermione? Mandei uma coruja avisar que Patrick vem jantar aqui hoje.


–     Ela recebeu. Os elfos estão já estão preparando tudo. Gina chegou agora a pouco.


–     Ótimo. Não era hoje o seu almoço com os Granger?


–     Foi hoje sim.


–     E como foi?


–     Bem, pra começar o Sr. Granger queria um restaurante trouxa. E eu já havia tido a Hermione para almoçarmos no Beco Diagonal porque não podia me ausentar da loja muito tempo. Então papai Granger começou um discurso sobre o tempo que Hermione passa com a gente e que não seria muito esforço da minha parte ficar no máximo duas horas sentado comendo com eles.


Harry sentou no sofá rindo, mas o sorriso sumiu rápido quando Rony contou o que dissera ao pai de Hermione durante o almoço quando perguntado sobre suas intenções.


–     Eu disse que estou mudando minhas coisas para o quarto de Hermione aqui.


Harry passou a mão pela testa.


–     Você não disse isso? Rony... você disse! Cara... não acredito!


–     Simplesmente escapou...  e eu não menti. Passei todas minhas coisas para o quarto dela. Achei que todos iriam ficar felizes!


–     Rony, o que você acha que o seu pai faria se me ouvisse dizer uma coisa dessas?


–     Qual é Harry! O pai de Hermione sabe que ela passa tempos na minha casa. E agora aqui.


Hermione e Gina desceram a escada em direção à cozinha; Hermione com uma expressão entre zangada e constrangida.


Quando Hermione passou por eles Rony disse:


–     Seu pai sabe que você... que nós... ora, ele deve saber!


–     Rony, por favor... – disse Gina censurando a atitude do irmão.


–     Seu pai sabe que você... é uma amiga da família.


Hermione parou e encarou Rony com ar indignado.


–     Amiga da família? Amiga da sua família?


–     Minha mãe mesmo disse isso outro dia...


–     É isso o que eu sou?


–     É... – respondeu Rony surpreso com a reação de Hermione – você se hospeda na Toca desde... você me beijou em Hogwarts... começamos... depois na Toca nós... nós... você sabe. E isso que estou tentando dizer: todo mundo sabe!


Gina e Harry se olharam. Hermione deu meia volta em direção a escada.


–     Vou ver o jantar! – disse Gina e largou Harry na sala.


–     Hermione não faça isso! – Rony apontou o dedo para a garota e deixou a toalha cair.

Hermione subiu as escadas batendo forte o salto do sapato em cada degrau.


–     Odeio quando ela faz isso! –  Rony exclamou enquanto apanhava a toalha do chão e voltava a enrolá-la na cintura. Sentou do lado de Harry no sofá.


–     O pai dela me odeia – disse zangado. 


–     Isso não é verdade Rony.


–     Sério. Ele me odeia desde que voltou da Austrália e Hermione contou sobre nós.


–     Ela tinha dezessete anos Rony e ele nem sabia do perigo que corríamos.


–     Ele não me acha bom o bastante para ela.


–     Não diga uma coisa dessas.


–     Desde o que aconteceu com Córmaco e a festa do Ministério... nem eu me acho...


–     Você estava enfeitiçado. Ela sabe disso Rony.


–     Não importa Harry! Córmaco está no St Mungus porque eu o mandei pra lá e não importa como foi! A culpa foi minha!


Rony subiu para o quarto sem dar chance de Harry dizer o contrário.


Enquanto o elfo chamado Guiso colocava a mesa para o jantar; Gina e Hermione conversaram sobre a garota acompanhante de Patrick.


–     Namorada? – Hermione perguntou.


Gina ia dizer amiga, mas talvez não fosse uma palavra que Hermione gostasse de ouvir naquele momento. Ao invés disso disse:


–     Ela está em Londres desde o funeral do pai e Harry disse que não conhece ninguém.


–     Bom, vamos fazer o possível para ela se sentir bem – Hermione disse compreensiva – ela deve estar arrasada.


As garotas ouviram um barulho na sala indicando que alguém acabara de sair da lareira. Quando entraram viram Patrick no centro da sala. Harry e Rony estavam sorrindo de um modo estranho.


Rebecca Slater saiu de trás de Patrick.


–    Olá! – disse sorrindo.


Gina se apressou cumprimentá-la, mas Hermione não. Só quando Gina a cutucou é que estendeu a mão. Cumprimentaram-se devagar e em silêncio. Parecia a Harry que estavam se avaliando. Eram quase da mesma altura, mas Rebecca bem mais cheia de corpo. Loira, de olhos azuis, cabelo preso num rabo de cavalo vestindo um elegante vestido verde água.


Muitas vezes passou pela cabeça de Harry que, com Gina viajando regularmente para jogar Quadribol, Hermione sentisse falta da companhia de garotas, mas naquele momento percebeu que a amiga se acostumara com sua condição de única presença feminina e não ficara nada contente com a presença confiante de Rebecca.


Hermione se apressou em ficar ao lado de Rony e segurar-lhe o braço enquanto Harry e Gina subiam as escadas para mostrar a casa a Rebecca e Patrick.


–     Aqui foi quartel general da Ordem da Fênix não? – Rebecca perguntou a Harry.


–     Sim, a casa do meu padrinho Sirius Black.


Quando todos estavam na sala olhando os retratos em cima da lareira e o elfo avisou que o jantar estava pronto.


 –     Essa é a garota arrasada? – Hermione cochichou com Gina quando sentaram para jantar.


O elfo começou servi-los.


–     Vocês têm um elfo. A qual família ele pertence? – Rebecca perguntou.


–     De nenhuma. Nós o contratamos. – Hermione respondeu antes de todos.


–     Hermione faz um trabalho para que elfos domésticos recebam pelo trabalho. – Patrick explicou a Rebecca.


Hermione encarou Rebecca como se esperasse que ela dissesse alguma coisa desagradável.


Rebecca examinava o elfo servir seu prato com rosbife e batatas.


–     Eu não sabia que elfos recebiam salários agora... – disse displicente.


–     Bom, não é uma lei ainda. Criamos uma associação que os ajuda de várias maneiras. – disse Hermione.


–     As coisas mudaram desde que sai da Grã Bretanha.


–     Onde você esteve? – perguntou Rony.


–     África, México... pelo mundo pesquisando ingredientes para poções.


–     Poções? – Harry perguntou curioso.


–     É, eu crio poções! Patrick me falou da que você tem tomado.


–     Foi um feitiço que quebrou minhas costelas e acabou com minhas costas. Hermione tem preparado essa poção para mim nos últimos dias.


–     A poção contém seiva do tronco de Alchafariz que serve...


–     Para infecções, cortes e ossos quebrados – disse Rebecca interrompendo Hermione. – Onde você aprendeu sobre poções?


–     Em Hogwarts.


–     Ah, a famosa escola de magia.


–     Nosso antigo professor Horácio Slughorn nos ensinou. – disse Gina.


–     Ensinou a preparar a poção?


–     É, temos bons livros a respeito.


–     Livros? Vocês seguiam instruções de um livro?


Patrick tentou mudar de assunto.


–     Gina, quando será seu próximo jogo?


–     Semana que vem em Amsterdã contra o Red Royal. Quando jogarmos aqui em Londres contra o Blues Sharks conseguirei entradas.


–     Isso seria ótimo! Com certeza perderemos, mas faz séculos que não assisto a um jogo.


–     Harry me disse que você é um batedor de primeira.


–     Vocês teriam ido para Hogwarts no mesmo período que a gente. – disse Harry servindo vinho a Patrick. – Quem sabe cairíamos na mesma casa e formaríamos um grande time.


–     Não teria graça Harry. Seria legal enfrentar vocês no Quadribol! – Patrick provocou.


–     Patrick, Harry me disse que você vai levá-lo a Gringotes. – Gina perguntou.


–     Seu irmão Percy vai também.


–     Quanto você quer pra esquecê-lo lá? – Rony brincou.


–     Rony! Percy esta bem melhor agora. – Gina bateu no irmão.


–     Eu tentei Harry... – Rony riu para Hermione, mas ela estava ocupada encarando Rebecca.


–     Nunca estudei magia; digo em uma escola. – disse Rebecca se dirigindo a Hermione. – Como é?


–     Pelo menos você já tinha ao menos ouvido falar de Hogwarts...


–     Sim, é claro. Espere um minuto! Não é você que está escrevendo Hogwarts, alguma coisa?


–    É uma releitura de Hogwarts: uma história.


–    Patrick adora esse livro.


–    Você não gosta de livros também?


–     Só se for sobre poções.


–     Eu sempre preferi Transfiguração; exige mais concentração.


–     Talvez eu escreva um livro de poções e você poderá copiá-las... – disse Rebecca sorrindo.


Gina pediu licença antes de Hermione responder e a puxou para a cozinha.


–     Hora de buscar a sobremesa. Nos dêem licença.


Rebecca mudou de assunto antes mesmo de Hermione sair da mesa.


–     Você e seu irmão têm uma loja no Beco Diagonal? – perguntou a Rony.


–     Uma loja de logros. – Rony respondeu olhando para Harry sem entender o que havia acontecido.


Harry sorriu constrangido e Patrick também. Rebecca, porém, continuou a conversa:


–     Patrick promete me levar ao Beco Diagonal desde que cheguei, preciso de uma varinha nova.


–     Vou levá-la comprar sua varinha assim que puder.


As garotas voltaram; Hermione sentou calada enquanto Gina começou a servir bolo com sorvete.


–     Vocês não estavam comentando que iam passar numa loja para buscar um vestido ou qualquer coisa assim? Podem acompanhar Rebecca. – Rony disse simpático.


Gina pensou em dizer não, mas seria uma grosseria muito grande. Evitou o olhar de Hermione e concordou.


Quando acabaram a sobremesa. Harry pediu a Hermione que se sentasse com ele e Patrick para conversarem. Sobre a mesa, desenhado num pergaminho, estava o bastão com a pedra na ponta.


–     Harry disse que você tinha uma idéia do que pode significar.


–     Bem, no começo achei que talvez isto fizesse parte de alguma coisa, de uma estrutura ou algo assim; depois me lembrei que li em História da Magia que na antigüidade muitos povos bruxos não usavam varinhas e sim outros objetos para fazer magia.


Rony, Rebecca e Gina se juntaram a eles e Hermione continuou sua explicação:


–     Não havia ou se conhecia muitos componentes mágicos conhecidos para realizar feitiços complicados; creio que a magia que essa coisa pode fazer é limitada. No máximo realizar um feitiço muito específico.


–     Considerando que estava escondido no meio de um monte de tralhas das Trevas podemos concluir o pior, não? – Harry disse aos amigos.


Hermione seguiu explicando.


–     Todo feitiço é dividido em três partes: objeto mágico. Uma varinha, no caso essa coisa; e as palavras que tornam o ato mágico e o efeito! – concluiu.


Rony olhava para o pergaminho e perguntou a Harry:


–     Você acha que Roman Young está mesmo de posse dessas coisas?


–     Ele pegou vários livros. Deve estar pesquisando um meio de fazer isso funcionar a essas horas. E tenho impressão que não vamos gostar do efeito desse feitiço. Precisamos achá-lo.


–     É precisamos... – Patrick murmurou discretamente para Rebecca.



De madrugada na Mansão Malfoy Draco tomava o sorvete que Rebecca havia trazido do jantar. Patrick estava deitado no sofá e balançava o bastão de um lado para outro


–     Em uma noite Hermione Granger sozinha decifrou o que essa coisa faz. Enquanto Draco dorme o dia inteiro.


–     Grande coisa! Eu chegaria a essa conclusão cedo ou tarde! – Rebecca respondeu mal humorada.


–     Depois que outra pessoa fala parece óbvio! – Patrick disse sarcasticamente. – Pedi que você fizesse amizade com Hermione e o que vocês fez foi irritá-la. “Eu nunca estive em nenhuma escola”.


–     Vou sair com elas amanha para comprar minha varinha nova.


–     De um jeito de se entrosar com ela.


–     Por quê? Ela me odiou e eu a ela!


–     É fácil odiar você Rebecca. – disse Draco empurrando a taça de sorvete vazia.


–     Agora temos que pensar no que fazer e Draco têm razão é fácil odiar você.


–     Não tem nada nesses livros; seja qual for o feitiço não esta aqui. – disse Draco.


–     Draco como seus pais acharam esse tal cara pra guardar suas coisas naquele galpão? – perguntou Rebecca.


–     Todos os amigos de papai estavam entregando o que tinha de Artes das Trevas pra esse cara tomar conta. Ele era o Guardião há muito tempo. Ninguém sabia exatamente onde seria o esconderijo. Eu tinha uma vaga idéia, contei a Patrick e ele o encontrou.


–     Você não sabe nada sobre ele? – Patrick insistiu.


–     Não, nunca o tinha visto até aquela noite que você acertou Potter.


Patrick encarava o bastão como se a resposta estivesse gravada nele.


–     Acho que ele sabia alguma coisa sobre isso...


–     Você o seguiu durante dias não? – Rebecca perguntou se espreguiçando. – Ele não tinha uma rotina? Não saia para comer?


–     Eu o segui do alto; ele dava longas caminhadas. Sempre fazendo o mesmo caminho. Parava na entrada da parte residencial do Beco Diagonal, ficava de pé lá e depois voltava para o galpão. Todos os dias.


–     Poderia ser a casa dele que estivesse observando? – sugeriu Rebecca.


Draco riu.


–     Ele era um Guardião Rebecca; essas pessoas não têm casa.


Depois de muita conversa os três resolveram refazer os passos do Guardião no Beco Diagonal.


Faltava pouco para amanhecer quando aparataram na parte residencial do Beco Diagonal composto na maioria de casas antigas de várias famílias bruxas tradicionais. Patrick parou e apontou uma rua que levava a um bosque.


–     É bem aqui, neste ponto que ele simplesmente parava. Ficava olhando para o bosque. Para essas árvores. – explicou Patrick.


–     Talvez tenha trazido alguma coisa pra cá e escondido atrás delas. – disse Rebecca.


A luz do sol aos poucos ganhava espaço na calçada.


Patrick apontou para as árvores. A forma da sombra dos três se formou na paisagem à frente. Draco levantou o braço e sorriu:


–     É uma pintura. Era isso que você sempre via do alto Patrick. A casa esta encoberta por uma pintura igual ao da paisagem original!


Rebecca e Patrick deram a volta tateando cada um de um lado. Draco localizou uma janela e Patrick uma porta. Deu um pontapé revelando o interior da casa.


Sacaram as varinhas e entraram. Havia poucos moveis cobertos com lençóis. Todos os cômodos eram iguais e depois de examinarem um por um voltaram ao centro da sala.


–     Nem sabemos exatamente o que estamos procurando. – disse Draco.


–     É mais também não estamos muito longe de achar.


Rebecca apontou a parede. Havia um par de olhos entre as rachaduras.


Apontaram as varinhas.


–     Não façam nada! Eu vou sair!


Patrick reconheceu a voz. Era o fugitivo do Ministério Roman Young.

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