A mulher do carrinho de doces

A mulher do carrinho de doces



A manhã estava fria, acordara tão cedo que o sol mal havia saído para contemplar a terra. Dormira em cima do livro que lia desesperadamente esperando o final. Era seu ultimo livro antes de viajar e já havia arrumado todo o seu malão para começar o Ano letivo na nova escola. Não queria levar nenhum livro para a escola, tinha que se comportar como uma garota 'normal' aos olhos dos novos colegas. Não sabia nada sobre o novo mundo que viria a conhecer, nada que pudesse dar uma pista sobre como se comportar, sobre o que conversar, nada além de dúvidas. Podia ouvir cada pensamento com clareza enquanto a água do chuveiro caia sobre suas costas, as mãos escoradas na parede.


 Quando saiu do banheiro, sentiu a tristeza e a alegria tomarem conta dela. Tristeza por deixar os pais e com certeza sentiria muitas saudades, alegria por deixar o mundo conhecido para trás e embarcar para o desconhecido, em uma aventura. Seus pais ainda duvidavam que essa fosse uma boa idéia, fora tudo muito rápido, como se tivessem os forçado a aceitar, inconscientemente, a idéia de que Claire precisava mesmo ir para essa escola e toda a preocupação de seus pais, de qualquer pai normal, em deixar algum de seus filhos pegarem um trem misterioso para uma escola de magia, parecia um grande golpe, mas aquela mulher que viera tirar todas as dúvidas era tão convincente que fizera com que tudo se tornasse verdade, até óbvio.


 Antes de partir, olhara seu quarto mais uma vez, precisava ver se não havia esquecido de nada, e quando seu pai buzinou para apressá-la, fechou a porta e correu até o carro e todos seguiram rumo a Londres. E quando chegaram à estação King's Cross, olharam o bilhete de embarque e estranharam ao ver que era a Plataforma Nove e Três Quartos que ela deveria embarcar. Mas depois se lembraram que Minerva havia falado disso, entre as plataformas 9 e 10 há a passagem para a plataforma nove e três quartos, e que ela deveria correr sem parar em direção a essa passagem. Mas quando olharam entre as duas plataformas, ficaram apreensivos, pois parecia tão sólido e quando seus pais já estavam virando para irem embora, decepcionados pro cair em tal brincadeira, Claire pegou seu carrinho e correu para a passagem sem pensar e quando percebeu já não estava entre as plataformas 9 e 10 e sim na plataforma nove e três quartos. Um grande e bonito trem vermelho com destino a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts estava aguardando o embarque de todos. Sabia que seus pais estavam cientes de onde ela estava e entre as plataformas 9 e 10 seus pais deram um adeus silencioso e agora só podiam aguardar a primeira carta da filha contando sobre aquele mundo maravilhoso que podia esconder uma plataforma inteira do mundo sem ninguém nunca desconfiar de nada.


 Quando embarcou no trem ouviu todos conversando alegremente dentro dos vagões. Ninguém parecia se importar por não se conhecer, todos estavam alegres e discutindo sobre como seria bom o novo ano. Ela também percebeu outros alunos mais velhos que também conversavam alegremente em outros vagões. Quando estava andando procurando algum vagão vazio para sentar e guardar a mala, vira um grupo de três meninos vindo em sua direção e quando percebeu, à frente do grupo estava um menino loiro, que ela logo reconheceu como o menino do Beco Diagonal, e só o que pode fazer era ficar lá, parada e olhando o menino com um sorriso no rosto. Mas quando o menino parou a sua frente não foi para conversar e quando dera por si estava no chão, em cima de sua mala também caída, ele dera um empurrão nela.


- Sai da frente, sua idiota – disse o menino loiro a ela que estava olhando sem entender o grupo de meninos passarem por ela e entrar em um vagão em que um menino ruivo e outro de cabelos bem escuros e óculos estavam conversando alegremente. Só pode levantar, pegar a sua mala e correr para o mais longe possível que aquele trem permitia e quando encontrou um vagão vazio entrou nele, guardou a mala e, com a cabeça enterrada nas mãos começou a chorar. Mas foi interrompida por uma bondosa senhora que levava um carrinho de doces e perguntava se ela queria alguma coisa para comer. Claire havia trazido um lanche de casa e então recusara, até porque não tinha dinheiro para comprar nada. Mas vendo que ela estava chorando, a velhinha disse:


- Mas o que aconteceu para uma menina tão jovem e bonita chorar? – disse ela com cara de preocupação.


- Um grupo de meninos, que eu nem conheço, me empurrou no meio do corredor e eu nem sei o porquê – disse Claire realmente triste, mas não por aquele motivo e sim porque o menino que ela mais esperara conhecer havia se revelado um grosso.


- Querida, não precisa chorar por isso, você vai ver que aqui tem muitas pessoas decentes e legais que vão adorar te conhecer.-  E quando viu uma menina de cabelos castanhos volumosos passar perdida procurando um vagão para sentar, a velhinha chamou a menina e a convidou para sentar com Claire.


- Pronto essa mocinha pode te fazer companhia na viagem, não pode srta...? – disse a velhinha sem conhecer a menina a quem convidara a sentar com Claire.


- Granger, Hermione Granger – disse a menina sorrindo.


- Muito bem, srta Granger, poderia fazer companhia para essa jovem? – disse a senhora com o carrinho de doces.


- Claro, disse Hermione animada – a menina dos cabelos volumosos respondeu sorrindo para Claire.


- Olha só, muito bem, agora tenho que ir, mas antes escolham algo do carrinho, é por minha conta. – As duas pegaram uma tortinha de abóbora, agradeceram e sentaram nas suas poltronas enquanto a mulher se afastava.


 A viajem continuou e foi bem agradável para ambas as meninas sentadas conversando alegremente. Tiveram várias companhias durante a viagem, inclusive um menino com um sapo em mãos, às vezes o sapo sumia e todos tinham que sair e perguntar em cada cabine se alguém havia visto o sapo do menino, e Claire sabia que iria adorar o novo mundo ao qual estava ingressando, mas o mistério do menino loiro ainda persistia na cabeça de Claire e por mais ressentida que ela estivesse por ele tê-la empurrado, isso não diminuía a vontade que ela tinha de conhecê-lo, muito menos o fogo que ele havia ascendido dentro dela, mas agora esse fogo seria de ódio ou de paixão?

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