Incidente em Spinners End
Hoje, acordei e pensei: e se eu tivesse imaginado uma história diferente? Qual seria a história de Regina McGonagall, se eu a tivesse criado desde o começo, ou entrado para o RPG?
O resultado... ou melhor, a tentativa de imaginar isso, saiu assim:
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Incidente em Spinners End
Desde que passara o cargo de Ministro da Magia para sua antiga lugar-tenente, Regina McGonagall, Kinsley Schakebolt se dedicava ao treinamento de novos aurores com disposição invejável, apesar dos boatos de que ele na verdade estaria treinando um novo sucessor para a própria Ministra.
E este seria ninguém mais do que Harry Potter, famoso em sua adolescência como o Menino-que-sobreviveu-e-derrotou-Voldemort, e hoje líder da equipe de Aurores do Ministério.
Quanto a Harry Potter, este pensava acima de tudo em sua família, os três filhos já em Hogwarts e o afilhado, Teddy Lupin, prestes a se casar com Victorie Weasley. Não estava nem um pouco preocupado em ser Ministro da Magia, agora ou daqui a décadas... Aquela mulher estranha, que fora por anos o braço direito de Schakebolt, principalmente depois da morte de Tonks, de quem pouco se sabia do passado, poderia muito bem ficar lá até quando bem entendesse.
Harry a vira pela primeira vez nos jardins de Hogwarts, no dia posterior à sua batalha final com Voldemort. Fora ela a responsável pela dolorosa tarefa de contar e nomear os mortos, tendo resgatado pessoalmente da Casa dos Gritos o corpo de Severus Snape.
A imagem ficara gravada na mente de Harry: o corpo inerte de seu ex-professor de poções sendo levitado gentilmente para fora da passagem do Salgueiro Lutador por ela, suas roupas de cores vivas sob a capa roxa de auror, a ponta de um velho cachecol grifinório aparecendo, os cabelos negros levemente avermelhados, mal puxados para trás por uma presilha, em vivo contraste com as vestes totalmente negras e a pele agora pálida de morte do homem sobre a capa transformada em maca. Ele lembrava-se também de Minerva McGonagall correndo até a mulher e abraçá-la – alguém, provavelmente Hermione, contara a Harry que a auror era sobrinha da professora - e depois debruçar-se sobre o antigo colega, tocando-lhe as mãos geladas e levando-as ao próprio peito, como a se desculpar por não ter sabido a verdade a tempo.
Regina McGonagall enxugara as lágrimas furtivamente e então fitara Harry, como que atraída pelo seu exame. Neste momento, ele sentira aquela velha impressão de alguém tentando penetrar sua mente, e por algum motivo, deixara que ela “visse” as imagens das memórias de Snape. Não conseguira entender porque, mas sentira que era importante, que ela poderia cuidar da limpeza de seu nome, levando a público o que fosse necessário – mesmo que Harry já o tivesse feito em pleno salão de Hogwarts, quando enfrentava Voldemort, a comoção posterior teria feito muitos se esquecerem deste fato importante: Severus Snape fora até o fim “um homem de Dumbledore”.
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Depois de vinte e um anos, Harry não sabia porque se lembrava daquilo tudo, enquanto vigiava a velha casa de Severus Snape.
A notícia corrente era de que a casa fora comprada por alguém desconhecido, mas continuava desabitada e a aparência de sua fachada decadente não mudara. Nem Harry nem ninguém nunca entrara ali, mas haviam recebido uma denúncia de tentativa de invasão. Tudo que se referia a Severus Snape ainda era questão delicada, por isso Kinsley pedira a ele que cuidasse disso pessoalmente. E lá estava Harry Potter, numa manhã fria de janeiro, sob sua capa de invisibilidade, esperando...
De repente, percebeu algo estranho. Um besouro parecia se debater contra as janelas. Era evidente que o inseto tentava passar por um buraco no vidro, provavelmente resultado de uma bola infantil no passado, mas não conseguia... que estranho!
Harry se aproximou, sem ruído, tentando observar sem espantar o inseto. Para sua surpresa, constatou que uma barreira mágica é que impedia o bichinho de entrar. Chegou a estender a mão para pegar o inseto e tirá-lo de lá, levando-o para um jardim próximo onde seu vôo poderia ser mais produtivo, quando, inesperadamente, ele se transformou em uma mulher, de roupas berrantes e óculos enfeitados de pedras brilhantes, os cabelos tingidos num tom absurdo que não conseguia esconder os sinais de sua idade.
- Rita Skeeter! Eu deveria ter imaginado! – Harry riu para si mesmo.
A velha repórter não poderia estar fora dessa, parecia ainda farejar escândalos – ou produzi-los, como nos velhos tempos.
Provavelmente tentara adentrar a casa de forma usual – ou quase – e isso gerara o alerta de invasão. Primeiro sinal de que o proprietário atual era mesmo um bruxo, não um trouxa como todos haviam pensado todos esses anos. Feitiços de proteção lançados pelo dono anterior não poderiam estar vigentes até hoje, pois esse tipo de feitiço cessava com a morte. Alguém, como na velha casa dos Potter em Godric’s Hollow, fizera isso por ele. Mas quem? Eram pouquíssimos os bruxos que tinham um dia tomado conhecimento do endereço de Severus Snape, e assim mesmo, a maioria estava também morta a esta altura...
Enquanto pensava tudo isso, Harry observou Rita Skeeter esbravejar contra a falta da “liberdade de imprensa” e coisas do tipo, e até suas tentativas de lançar feitiços contra a casa, rechaçados admiravelmente pela barreira mágica. Ele pensou em se revelar, mas resistiu. Ela nunca desistira de assediá-lo em busca de detalhes, e o fato dele estar ali em pessoa alimentaria ainda mais sua fértil imaginação, colocando-o em uma situação no mínimo constrangedora. Ele chegou a imaginar a manchete: “Menino que sobreviveu vai em busca de seu guardião secreto” ou algo de maior mau gosto.
Contendo o riso, viu-a se afastar da casa e aparatar, sem ao menos observar se havia algum trouxa por perto. Talvez uma visita dos aurores alertando-a sobre quebra da lei de sigilo a faria ficar quieta em casa por uns tempos...Rony adoraria fazer isso.
Sozinho novamente, Harry observou mais uma vez a casa. Agora que Rita estava longe, ele pode perceber uma luz acesa no andar superior, que acabara de se apagar. Alguém descia as escadas e logo, a porta foi aberta. Atento, sem ao menos respirar, ele aguardou.
Uma mulher que ele nunca vira antes saiu da casa. Tinha uma semelhança tão grande com seu antigo professor que Harry até se assustou. Lembrou-se do bicho papão de Neville, Snape vestido com as roupas de sua avó... mas aquela mulher não tinha aparência tão bizarra. Apenas... se parecia com Severus Snape. O rosto pálido fustigado pelo vento da manhã, os cabelos negros e lisos divididos ao meio e presos por uma espécie de elástico logo abaixo das orelhas, dando-lhe um ar mais jovial, embora estranho para o jovem auror, a silhueta magra vestida de preto... a não ser por alguma coisa dentro da capa que parecia ser amarelo e vermelho. Curioso, Harry aproximou-se o máximo que pode sem ser detectado, e constatou que a estranha mulher tinha o pescoço vigorosamente enrolado em um cachecol da Grifinória, e sorriu.
Harry a seguiu a uma distância que julgou segura. Desconfiava de que aquela mulher era a bruxa responsável pelos feitiços de proteção, e não queria ser detectado antes de descobrir alguma coisa. Isolara sua mente, para não ser um possível alvo de legilimência, e caminhava com cuidado, sem outro artifício mágico além de sua velha capa da invisibilidade.
Com assombro, percebeu que a mulher se encaminhava ao velho cemitério, um lugar desolado, onde poucos visitantes pareciam se aventurar, tamanho o abandono de tudo.
Então, para sua surpresa, ela parou em frente ao túmulo da família Snape – ali estavam enterrados Tobias e Eillen Snape e também seu filho Severus Snape.
A mulher tocou em cada nome na lápide familiar, as lágrimas lavando seu rosto silenciosamente. Harry pensou ter ouvido palavras balbuciadas, um pedido de perdão, que ele não saberia ao certo dizer a qual dos mortos era destinado.
Ia finalmente se revelar, quando alguém o fez antes dele: Rita Skeeter não desistira! Ali estava novamente, seu bloco e sua velha pena a postos, flutuando ao seu lado.
Harry tirou a capa, pois agora a repórter fora longe demais. Enquanto se aproximava, ainda ouviu sua voz estridente a indagar:
- Quem é você e porque visita o túmulo de Severus Snape? Por acaso é uma viúva ou filha desconhecida que vem reclamar seus direitos e...
Rita Skeeter não falara mais nada. Num gesto tão rápido que Harry Potter achou difícil até mesmo para ele antecipar, a mulher sacou a varinha da manga de sua veste e apontou para a repórter intrometida. O feitiço não verbal tomou-a completamente de surpresa e, enquanto ela permanecia estática e muda, a mulher aparatou, não sem antes dirigir a Harry um breve sorriso.
Refeito do susto, ele próprio tratou de se aproximar de Rita, varinha em punho. Constatou com seu olhar experiente que Rita sofrera um feitiço de memória conjugado a um leve estuporamento, comumente aplicado por aurores em situações de extremo risco, que faziam a "vítima" sentir uma forte vertigem e imaginar que sofria um mal súbito, como era comum entre os trouxas. Aparatou rapidamente para o St Mungus, levando-a para atendimento.
Deixando-a aos cuidados de uma curandeira, voltou rapidamente ao Ministério, para prestar seu relatório a Schakebolt.
O rosto magro e pálido da mulher no cemitério voltou à sua mente. Quem seria ela? Tinha certeza – sem entender como – que as suposições de Rita Skeeter estavam erradas, muito erradas.
Provavelmente, era uma parente próxima, membro da família Prince, já que se tratava de uma bruxa. Lembrou-se do cachecol, e a idéia de Snape ter uma parente na Grifinória lhe pareceu esquisita, mas deu de ombros. Aprendera a duras penas que o chapéu seletor não era infalível...
Disposto a não se preocupar mais com a figura pálida caminhando por Spinners End, Harry foi à procura do velho chefe dos Aurores.
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Esqueci de dizer: Belzinha deu uma espiada nele, numa betagem informal, e achou legal que eu invertesse a ordem dos capítulos
(este não era pra ser o primeiro... hehe...)
Comentários (1)
ADOREI! Prólogo muito PERFECT!
2014-01-05