Talking Without Voice
Disclaimer: It's all yours, dear J.K.
Have you met Miss Jones?
Fanfic by Nalamin
Chapter 23: Talking Without Voice = Feeling
Demoraram exactamente 4 horas, a partir do momento em que saí do quarto do Malfoy, até que eu tornasse a falar. Não quero revelar para já as palavras que marcaram o meu retorno ao mundo dos seres falantes. Não, não disse nada de especial, inédito, que já não tivesse dito antes. Mas aquelas palavras que saíram da minha boca nunca tinham tido tanto significado, nunca as pronunciara de maneira a senti-las mesmo dentro de mim. Talvez fosse por não o ter feito no momento certo. Ou então, por não as ter dito à pessoa certa.
Seja como for, assim que virei costas à porta do quarto da doninha, soube que não podia voltar para o meu quarto. O que raio diria eu a Daphne? Mentir não seria opção, só faço isso quando é absolutamente necessário. Portanto, a resposta mais óbvia seria, claro, evitá-la até à minha voz voltar. Não sabia quanto tempo isso ia demorar, mas o Malfoy prognosticara apenas mais algumas horas. Esperando sinceramente que ele tivesse razão, desci até à sala comum e saí, passando por alguns colegas mais madrugadores. Andei durante algum tempo sem rumo, ainda invisível, tentando falar, tentando forçar a voz a voltar à minha garganta. Depois de algum tempo, e acabando por me sentar num parapeito de uma grande janela do 6º andar vendo os corredores de Hogwarts ganhar vida, rendi-me à evidência de que teria mesmo de esperar pelo seu retorno.
Deixei-me ficar por ali mais um bocado. Sabia que Daphne e os rapazes estavam nas estufas e ainda cogitei ir ter com eles, mas a chuva começava a cair. Já estava imunda de ter passado a noite anterior deitada no chão das masmorras, não queria também ficar ensopada. De repente, fez-se luz: podia aproveitar que toda a gente estava nas aulas para utilizar a bem apetrechada casa de banho dos prefeitos! Saltei então daquele parapeito e segui em frente pelo corredor, sabendo que estava no andar certo, e parei em frente a uma grande porta ornamentada. Não tinha a palavra passe, mas isso não seria problema. Depois de dar uma vista de olhos pelo corredor, verificando se nenhum gazeteiro passava por ali naquele momento, acenei levemente (ainda hoje não sei por que aceno. Podia utilizar apenas a mente, mas mexer as mãos ao ritmo do pensamento sempre me deu mais jeito), e a porta abriu-se, com um ranger. Entrei rapidamente e fechei-a atrás de mim.
Era realmente uma grande casa de banho. A banheira ocupava a maior parte do espaço, com uma infinidade de torneiras em toda a volta. Por trás desta, uma gigantesca janela, embelezada com um vitral magnífico, deixava ver por entre as suas cores brilhantes um pouco do lago, que naquele dia chuvoso se encontrava mais negro. Do lado direito, um enorme lavatório e os cubículos com as sanitas completavam a divisão. Tornando-me visível, desenvencilhei-me rapidamente da roupa suja, liguei as torneiras, e segundos depois já me encontrava dentro da água quente, sentindo todos os meus músculos começarem lentamente a relaxar. Aproveitei a sensação. Era tão raro poder descontrair daquela maneira. Porquê? Ou por falta de tempo, ou porque passava o tempo todo preocupada com o futuro do mundo bruxo, ou simplesmente porque o Malfoy estava sempre a interromper os meus momentos de calma.
Era incrível como, de repente, ele estava em todo o lado! Já estava habituada a olhar para aquela cara de cobarde durante os treinos de Quidditch e às refeições, mas gostava realmente do tempo que passava sem ouvi-lo xingar-me pelas coisas mais idiotas que lhe passavam pela cabeça. Mas agora, sempre que ia para o telhado da torre de astronomia, ele estava lá. E se ia comer qualquer coisa à cozinha, quem é que aparecia para dar um ar de sua graça? Nunca um ano lectivo tinha sido tão esquisito, pelo menos no que dizia respeito à minha convivência com Draco Malfoy.
Afastando-o da minha mente, nadei devagar até à outra ponta da banheira. Em seguida, mergulhei e voltei para trás. Quando vim à superfície, expirei lentamente, saí da banheira e, com um breve aceno, já estava enrolada num felpudo roupão. Sequei o cabelo o melhor que pude, peguei na minha roupa e, tornando-me invisível, saí de novo para o corredor, disposta a ir ao quarto vestir roupa lavada.
A escola continuava deserta, faltavam 20 minutos para acabar a primeira aula da manhã. Enquanto caminhava, tentei de novo falar, mas nenhum som saiu da minha boca. Suspirei e continuei a andar até parar em frente à entrada da sala comum. Entrei e subi ao quarto. Pus a roupa suja no cesto da lavandaria e fui até ao armário. Estendi a mão para um dos meus uniformes, mas hesitei. A primeira aula devia estar bastante perto do fim, portanto, já a perdera. O meu segundo tempo seria de Encantamentos e depois estava livre o resto do dia. Sorri. Com certeza que o Flitwick não se importaria que eu faltasse a uma aula. O velho professor já não sabia como me entreter. Então, ao invés do habitual uniforme, e como planeava andar invisível durante a maior parte do dia, vesti as minhas calças de ganga favoritas, uma camisola vermelha de lã com um feitiço de aquecimento (sempre odiei usar casacos) e as minhas botas, porque estava a chover lá fora. Fiz um rabo-de-cavalo bastante simples e saí do quarto.
Não valia a pena ficar por ali quando tinha uma Hogwarts inteira à minha disposição. No entanto, antes de começar a minha exploração, decidi ir até à enfermaria. Talvez Madame Pomfrey já se tivesse deparado com este problema, talvez um dos meus colegas também tivesse sido 'premiado' com o Asfixiatus na noite anterior e tivesse procurado a sua ajuda.
Chegada à enfermaria, e verificando que, com excepção de Madame Pomfrey, que escrevia freneticamente sentada à sua secretária, esta se encontrava vazia, voltei ao estado visível e avancei na direcção da experiente enfermeira.
'Bom dia, Madame Pomfrey!, era a mensagem que pairava a meu lado e à qual a Madame Pomfrey só deu atenção quando estalei os dedos repetidamente.
- Miss Jones, posso saber por que é que não está nas aulas? – perguntou ela, reprovadora, olhando-me de alto a baixo, fazendo um exame rápido. – Parece-me perfeitamente saudável.
'Calma, Madame Pomfrey, dê-me uns minutos, eu explico tudo.'
- É alguma moda nova dos jovens comunicar por escrito quando estão à frente das pessoas, Miss Jones?
Ri-me e expliquei-lhe o melhor que pude - ou seja, omitindo a maior parte da verdade, como fazia sempre que lá ia fazer-lhe as minhas visitas semanais - o que tinha acontecido e o estado em que me encontrava. Quando acabei, receei que ela ficasse muda como eu, tal não era o seu choque. Mas recompôs-se rapidamente e apressou-se a ir ao armário das poções, de onde retirou um frasquinho pequeno. Fez-me bebê-lo todo de uma vez, assegurando-me de que aquilo iria acelerar o processo de recuperação da minha voz. Com um sorriso e um obrigada silencioso, saí da enfermaria no momento em que o toque de saída ecoava pelos corredores. Tornei-me imediatamente invisível e segui para a cozinha, evitando chocar com algum aluno ou passar perto de James ou Tom que, sem dúvida, me sentiriam por perto e logo me exigiriam explicações que, dado a minha recente mudez, eu não podia dar.
Depois de fazer cócegas à pêra, tornar-me visível e entrar na espaçosa e sempre atribulada divisão que era a cozinha de Hogwarts, Freya veio logo receber-me, levando-me pela mão até à ponta da enorme mesa onde eu me tinha sentado no dia anterior e mandando-me gentilmente sentar enquanto me ia arranjar o pequeno-almoço.
Sorri. Tinha feito amizade com aquela elfo no meu 2º ano, quando me perdera por Hogwarts e acabara num corredor completamente vazio à excepção de um quadro bastante feio que se encontrava na parede do lado direito. Intrigada, segui até ele e, inconscientemente, toquei-lhe. No momento em que o fiz, a pêra riu-se com gosto, o que eu encarei como motivação para continuar. Mas de repente, o quadro deu entrada a uma enorme sala, com imensos elfos a andarem de um lado para o outro, muito atarefados com os seus deveres. Percebi imediatamente que estava na cozinha.
Não os queria incomodar, portanto iria só dar mais uma olhadela para satisfazer a minha curiosidade e depois iria embora. Mas quando olhei em volta, descobri um par de olhinhos verdes a encararem-me do outro lado da sala. Sorri levemente e acenei. Sabia que os elfos eram criaturas bastante tímidas, por isso, não a queria assustar. Contudo, contrariando as minhas expectativas, ela devolveu-me um grande sorriso e apressou-se na minha direcção. Disse que se chamava Freya e que estava ali para me servir. Respondi-lhe que me chamava Narcissa Jones e desde logo a assegurei que não queria que me servisse e que estava apenas perdida no labirinto de corredores que era (e é) Hogwarts. Mas ela não se deixou persuadir! Arrastou-me para uma pequena mesa e colocou à minha frente toda a espécie de iguarias. E no fim, quando eu já estava imensamente cheia, perguntou com a sua vozinha estridente se 'a mestra Jones queria mais alguma coisa'.
Ri-me, claro. Mestra! Pedi-lhe para me chamar apenas Narcissa, declinei a sua oferta e, prometendo voltar, saí. E voltei. Vezes e vezes sem conta no decorrer dos anos seguintes. Freya continua a tratar-me por mestra, tornando os meus esforços para a fazer parar completamente inúteis.
Olhei para o lado, procurando Freya e acabando com o passeio pelas minhas recordações. Ela caminhava na minha direcção completamente carregada de comida. Pousou à minha frente uma enorme taça que encheu de leite e cereais. Depois, num pires, apresentou-me quatro torradas, cada uma barrada com um doce diferente. Noutro pires, duas fatias de cheesecake pareciam sorrir para mim. E para terminar, pousou um copo de pé alto à frente da taça de cereais e encheu-o de sumo de abóbora.
' Para quê tanta comida?', perguntei, rindo. Ela não respondeu, ficando a olhar confusa para a mensagem a pairar a meu lado. 'Tenho um problema na garganta, já tomei uma poção mas não vou conseguir falar durante mais umas horas', expliquei. Ela fez um esgar de compreensão e assentiu. 'Então? Para quê este banquete?', insisti.
- Mestra estar muito magra, ter de comer mais, para ter mais força, para…. – hesitou, e calou-se subitamente. Percebi que ela sabia perfeitamente onde eu ia às sextas-feiras à noite. Levei a minha mão esquerda à sua e toquei-lhe suavemente.
'Não te preocupes, não estou subnutrida nem nada disso. Estou apenas…cansada.', escrevi, com a mão livre. 'Mas prometo que vou tentar comer tudo.', acrescentei, sorrindo.
Ela sorriu de volta e voltou aos seus afazeres, deixando-me a devorar os cereais. Determinada a não a desiludir, e mesmo depois de ter comido todos aqueles cereais e ter ficado mais do que satisfeita, atirei-me às torradas. Mas depois daqueles quatro pedaços de pão, já não consegui comer mais nada. Freya deu-me um dos seus olhares de censura mas deixou passar, visto que a cozinha começava a ficar bastante atarefada com os preparativos para o almoço. Por isso, despedi-me, tornei-me invisível e saí de novo para os corredores, que ainda se encontravam bastante cheios, o que revelava que o intervalo ainda não terminara. Comecei então a andar, sem um destino certo. Queria explorar, mas como não sabia por onde começar, dei por mim a seguir um ou outro aluno, mudando de direcção quando verificava que já conhecia demasiado bem aquela parte do castelo.
Passada uma boa meia hora, encontrava-me perto da biblioteca, sentada na base de uma armadura, brincando com o par de periquitos que fizera aparecer. Quando finalmente voaram dali para fora pela janela, eu segui-os com o olhar e reparei que já não chovia. Decidi então ir até lá fora, sentir o vento na cara durante um bocado. Mas assim que saí para o pátio, a chuva começou de novo a cair. Ri-me, mas não voltei para trás. Lancei o Impervius sobre mim e andei até ao campo de Quidditch, deserto àquela hora. Sorri. Podia aproveitar para voar à vontade, sem o Graham a chatear-me para tentar apanhar a snitch. E como sabia que não ia aparecer ninguém por ali, voltei a ficar visível. Não gosto de voar sem me ver a mim própria, não gosto de olhar para baixo e ver a vassoura…vazia. É esquisito.
Seja como for, convoquei silenciosamente a minha vassoura, que veio parar à minha mão passados alguns segundos. Assim que levantei voo, senti-me imediatamente melhor. Tirei a mim própria o encantamento que me mantinha seca de modo a sentir as gotas de chuva a tocar-me a face. O vento soprava com força, e apesar de estar a usar a minha camisola com o feitiço de aquecimento, começava a sentir o frio a gelar-me os ossos. Não me importei. Tudo aquilo – a chuva, o vento, o voo – fazia-me sentir extremamente bem. Como se há doze horas atrás eu não estivesse à beira da morte.
Parei imediatamente a vassoura, ao pensar isto. Daphne tinha razão. Eu dizia-me preocupada com tudo o resto, mas a verdade é que considerava que o meu estado era o mais importante. Claro que sei que devemos pensar primeiro em nós do que nos outros, porque se não cuidarmos de nós primeiro, não somos capaz de cuidar de mais ninguém. Mas ultimamente, eu só pensava em mim. O que acontecera no Natal, no Ano Novo, a discussão com Daphne ou até as picardias com o Malfoy…tudo o que saía da minha boca era egocêntrico, era dito como se eu fosse o ponto fulcral da vida de toda a gente. Como é que eu me tornara assim? Censurei-me. As minhas mãos apertavam a vassoura com tanta força que estavam completamente brancas. Fora tão idiota. O Malfoy tinha razão quando dissera que a parte boa de o Carrow me ter lançado aquele feitiço horrível era eu ter ficado sem voz. Melhor muda, do que só sair o pronome 'eu' da minha boca.
Apercebi-me de repente que tinha de voltar a terra. Os trovões começavam a ribombar e, embora estivesse bastante desiludida comigo mesma, não tinha desejos suicidas. Desci até aos balneários femininos e entrei. Sentei-me junto do meu compartimento, encostando a cabeça à parede e fechando os olhos. Suspirei, dando um pequeno gemido ao expirar o ar. Abri os olhos muito depressa, endireitando-me. Gemido? Eu produzi som? Isso significava que a minha voz tinha voltado! Já podia ir ter com Daphne e assegurá-la de que estava bem e…
- Bem me parecia que eras tu lá fora, Jones.
Oh Merlin. Ok, vou retornar ao meu egocentrismo por um momento: porque raio é que isto acontece comigo?
- Suponho que te deves estar a perguntar o que estou aqui a fazer, Jones. – começou ele, caminhando na minha direcção. – Não é óbvio? Vim aproveitar-me da tua recente condição de muda.
O que era óbvio era que ele não sabia que eu já tinha voz. Abençoada Madame Pomfrey.
- Vais ouvir tudo o que tenho para dizer, percebeste, Jones? – olhei-o, de sobrancelha erguida. Apanha-me sem voz, sem poder formular respostas, e a primeira coisa que faz é dar-me ordens. Má jogada, Malfoy. – A porta está trancada, só para prevenir. – Sorri de lado. Se eu quisesse sair dali, não era com a porta que ia estar preocupada. – Embora, depois daquele episódio no meu quarto, eu tenha a leve impressão que isso seria o menor dos teus problemas. – acrescentou ecoando os meus pensamentos e parando à minha frente.
'O que é que queres, Malfoy?', escrevi rapidamente.
- Quero a verdade, Jones. Quero saber como é que num minuto estou a responder-te a uma pergunta e no minuto seguinte desapareceste sem deixar rasto. - A pergunta de um milhão de galeões. Que eu, obviamente, ia deixar sem resposta. – Fica já a saber, Jones, que dizeres que tinhas um manto como o do Potter escondido algures na tua roupa, ou que usaste qualquer coisa da loja dos Weasley, é inútil.
Desviei o olhar dele. A desculpa dos Weasley era a que eu planeava utilizar. E agora? O que raio ia eu fazer agora? Não lhe podia contar a verdade sobre mim. 'Mas…', ocorreu-me, 'Mas e se lhe contasse?'. 'Não, Cissa, ele é o inimigo!', contrariou outra voz na minha cabeça. 'Não parecia um inimigo quando falei com ele na cozinha. Será que devo…'
- Jones? Jones, estás a ouvir-me? – chamou ele, fazendo a minha atenção desviar-se de novo para si. Assenti levemente, indicando que ouvira o que ele dissera. – Estou à espera de uma resposta, Jones.
Suspirei e tornei a encostar a cabeça a parede, desta vez olhando o tecto. Não conseguia pensar em responder-lhe, não quando tantas questões rodavam a mil à hora pela minha cabeça. 'Devo falar? Se falar, devo inventar uma desculpa? Devo contar a verdade? Se contar a verdade, será que ele vai contar a alguém? É um risco demasiado grande! Se ele contar, estou condenada. Mas se não contar…Espera, por que raio haveria ele de não contar? Não lhe sou nada, nem sequer gosta de mim. Ele só quer satisfazer a curiosidade sobre o que aconteceu. Mas se fosse só isso, ele tinha ido perguntar a Daphne. No entanto, nunca os achei muito próximos'. Suspirei. 'Posso sempre sair daqui sem lhe dizer nada. O único problema dessa hipótese é que ele me vai perseguir até ao fim dos meus dias'.
- Eu sei o que é que estás a pensar, Jones. – olhei-o. – Estás a pensar que eu sou o infame Draco Malfoy, filho de um Devorador da Morte, aliado do Lord das Trevas e, que se me contares o que aconteceu, eu vou utilizar as informações todas contra ti. – continuou, afastando-se da parede e avançando muito devagar. – Admito que as minhas acções ao longo dos anos não foram abonatórias para me inocentar desse rótulo. E tentar matar Dumbledore não foi das minhas melhores ideias. – Eu continuava a olhá-lo, agora já bastante chocada. O que lhe dera para me dizer tudo aquilo, a mim, a pessoa que eu suspeitava ser a de quem ele menos gostava em toda aquela escola? – Mas tudo o que fiz não foi por minha vontade. Se não o fizesse, era morto. E sobre isto não preciso de olhar para ti para que saibas que não estou a mentir, Jones. – acrescentou, olhando-me. Fez uma pausa. - Só quero a verdade, Jones, porque, sinceramente, já estou farto de tanta mentira e traição à minha volta.
Eu estava completamente estupefacta e, com toda a franqueza, só me apetecia chorar. De novo, as palavras de Daphne vieram-me à cabeça: como podia eu fazer-me de vítima quando, na verdade, havia gente com problemas realmente mais sérios? É claro que eu nunca iria imaginar que essa gente incluía Draco Malfoy. Por Merlin, nem queria sequer pensar o que tinha sido ter de vestir a pele de assassino só para não ser assassinado e ver os seus entes queridos a sofrer o mesmo destino. Tinha-o julgado tão mal! E quando ele falara de rótulos, eu entendera perfeitamente ao que ele se referia. Toda a gente se referia a mim como 'a masoquista', que adorava provocar os Carrow para depois sofrer os castigos. Não tinham mesmo ideia nenhuma do que era defender os próprios ideais.
Naquele momento, a coisa que eu mais queria era contar-lhe a verdade. Toda a verdade, sem censura, desde o dia em que descobri que era invulgarmente poderosa até à noite anterior quando me revelara sem querer no seu quarto. Juro que era essa a minha vontade, e era tão intensa, que me levantei e caminhei na sua direcção, parando muito perto dele e olhando-o nos olhos. Não, não fui vasculhar a sua mente. Só queria estar perto dele porque, apesar do meu desejo selvagem de lhe querer contar tudo, eu não podia fazê-lo. O que diriam os meus irmãos? A minha mãe? E a minha avó? Acima de tudo, era ela que eu não queria desiludir. Por isso, suspirei, avancei mais um passo, coloquei a minha mão esquerda sobre o seu peito e aproximei-me do seu ouvido.
- Lamento tanto! – sussurrei, o melhor que pude, deixando escapar uma lágrima. – Não posso.
As palavras soaram roucas, por serem as primeiras depois de todo aquele período de mudez. Mas nunca foram tão sentidas. Nunca tinha pedido desculpa daquela forma, nunca me tinha sentido tão mal por ter feito uma coisa que, na minha mente, eu sabia ser a certa. Na minha mente. Porque enquanto o pensamento lógico me levou a afastar-me dele e sair de novo para a chuva…
…O meu coração fazia-me chorar que nem uma perdida, querendo voltar para trás no minuto em que fechei a porta atrás de mim.
N/A: Cá está o cap que faz parte dos meus absolute favorites. Orgulho-me mesmo de o ter terminado assim :D
Espero que também gostem (:
Love,
~ Nalamin
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