Três meses antes, a primeira v



Capitulo um – Três meses antes, a primeira vítima.


 


O sol entrava fracamente por entre as persianas, queimando a nuca do homem sentado à sua frente. O cabelo charmosamente desarrumado caia pelo rosto, acompanhando a cabeça abaixada. Estava debruçado sobre uma pilha de papel. Parecia cansado. Os olhos castanhos ameaçavam se fechar.


O homem jogou a cabeça pra trás e passou a mão pelos cabelos, desarrumando-os ainda mais. Suspirou pesadamente e se levantou. Em frente aos papeis uma placa dizia “JAMES POTTER, Diretor”. Foi até a janela e espiou por entre a persiana. Algumas crianças jogavam bola na calçada. Carros passavam apresados. Tudo normal. Ouviu um barulho na porta: a secretária trazia mais papeis. Ela era altiva e esbelta, com cabelos negros na altura do pescoço.


- Pediram-me que lhe entregasse isso, senhor Potter.


- Alguma pista útil, Mônica?


- Acredito que não, senhor. Ele fez mais uma vitima. Uma moça. Cerca de trinta anos.


- Bem debaixo do nosso nariz. Ele brinca conosco como se fossemos nada! – sentou-se pesadamente na cadeira – Como está a segurança da família Connor?


- Exatamente como o senhor mandou, nossos melhores policiais então nas redondezas.


- Isso não é suficiente. – ele disse com raiva, socando a mesa.


- Sinto muito, senhor, mas é o que podemos fazer.


- Ele só vai parar quando estiver morto. E do modo que estamos, ele só vai morrer de velhice! Precisamos encontrá-lo.


- Alguns dos nossos melhores policiais então no caso, incluindo o senhor. Tenho certeza que ele será encontrado e preso! 


- Mas à custa de quantas vidas? – ele se levantou bruscamente, a secretária deu um passo para trás.


- Não se preocupe, ele será encontrado – ela disse se retirando da sala, mas antes completou – Antes que eu me esqueça, sua irmã está aqui.


- Ah... Mande-a entrar, então.


A secretária assentiu com a cabeça e se retirou. Cerca de alguns minutos depois uma moça jovem entrou na sala. Ela tinha o cabelo e os olhos escuros, entre o preto e o castanho. Era magra e não muito alta. Usava uma bonita jaqueta de couro e uma máquina fotográfica no pescoço.


Ela tirou a máquina e a colocou sobre a mesa e se sentou à frente de James.


- Como anda a investigação? – disse séria.


- Cada vez pior, Marlene. – ele disse com as mãos na cintura, em uma posição que denotava cansaço. – Mais uma vitima e a família Connor continua em perigo.


- Isso não é bom – ela disse preocupada pegando algumas fichas.


- O que você tá fazendo? – ele perguntou de sobressalto.


- Lendo as fichas – ela perguntou desconfiada, como se fossa uma pergunta pegadinha.


- Você não pode, você não é da policia – ele respondeu, recolhendo as fichas   


- Aposto que qualquer outro policial deixaria – ela disse cruzando os braços em claro sinal de pirraça e indignação.


- Mas eu não sou qualquer outro policial. – ele disse dando um carinhoso beijo no topo da cabeça de Marlene.


- Isso é verdade, só você fica quase uma hora depois do começo do horário de almoço trabalhando.


- Do que você ta falando? – ele falou pegando o relógio de pulso largado debaixo de vários papeis – Uma hor... Caramba!  Eu esqueci completamente de almoçar! – James bateu na testa – E eu só tenho mais meia hora. Acho que vou correndo pegar qualquer coisa na lanchonete!


Apressado, ele pegou a casaca e saiu correndo pelas escadas, com Marlene em seu encalço. Ela ria da cena. Sempre achava engraçado o modo como o meio-irmão se esquecia de fazer as coisas básicas, como comer, para poder trabalhar mais.


- James, por que você não vai com mais calma e chega um pouco atrasado? Assim você pode comer como gente!


- Porque isso seria contra as regras! – ele disse quase um metro na frente da garota.


- Doeria quebrar essas regras uma única vez?


- Eu sou o diretor da Policia de Londres! – ele disse parando bruscamente – Não posso quebrar as regras. O meu trabalho é garantir que todas sejam cumpridas, não seria correto de minha parte ser um dos responsáveis pela desvalorização destas, e você sabe disso, Marlene.


- Por que eu ainda perco o meu tempo? – ela murmurou pra si mesma – Vê se come direito, viu – Marlene subiu na ponta dos pés para dar um terno beijo na bochecha do irmão – Eu tenho que ir tirar umas fotos pro jornal.


- Tudo bem – ele disse afagando os cabelos da garota – Eu tenho que correr, até mais, Lene. – falou dando uma arrancada enquanto acenava.


Marlene ficou parada, sorrindo. Fazia exatos três anos que fora morar com James, e em momento algum de sua vida se arrependeu de deixar a casa horrível que morava para viver com o meio irmão. 


Isso foi aos dezesseis, quase dezessete anos. Hoje, com vinte, estagiava em um importante jornal inglês, como fotógrafa e não precisava mais se preocupar com o que comeria no dia seguinte e nem se o teto desabaria sobre sua cabeça enquanto dormia. James sempre ria quando ela falava isso, pois sabia que a garota exagerava muito.


No dia em que a garota bateu na porta dele, James era um pequeno policial de baixa patente de meros 19 anos, quase vinte. Agora, com 23 anos, tornara-se um vistoso diretor. O mais jovem da história da agência. Essa promoção se deveu ao intelecto superior de James. Sempre fora o melhor da classe e nos exames sempre tirava notas máximas. Sem duvida James era brilhante. Mas o que mais chamava atenção era o senso de justiça do homem e a sua vontade de trabalhar.


James entrou correndo na pequena lanchonete que havia logo ao lado do prédio da agência de policia. Apoiou-se no balcão, cansado, e disse, arfando:


- Oi - ele disse arfando- oi, John, me… me vê o de sempre, sim?


- Jamesy, meu caro! Que bom ver-te!


John era o dono da lanchonete, e também o cozinheiro. Era um homem de meia idade, com cabelos cor de areia e olhos castanhos. Falava com um sotaque empolado e um inglês formal, muito formal para o dono de uma lanchonete, mas James o achava engraçado.


- Não se preocupe, eu sei como tens pressa, caro James. Em poucos minutos estará pronto.


- Valeu, John, eu acho que morreria de fome se não fosse por você.


- Ora, o que é isso, pequeno Jamesy? Eu apenas faço o meu trabalho. É minha contribuição para a sociedade, manter o delegado vivo e saudável!


- E eu agradeço – ele disse abocanhando o sanduiche que lhe foi entregue em minutos.


- E como vão as investigações daquele facínora que vêm aterrorizando nossa esplêndida cidade? 


- Você sabe que eu não tenho permissão para discutir esse caso com você, mas estão bem paradas, na verdade. Foi encontrada mais uma vítima hoje.


- Isso é lastimável. Uma cidade tão boa, com pessoas de bem e um celerado como este destruindo-a, habitante por habitante.


- Mas não se preocupe, John, ele será encontrado, nem que seja a última coisa que eu faça!


- É assim que se fala, Jamesy! A cidade precisa de você. E eu estarei torcendo por seu sucesso.


- Obrigado, John. – James respondeu limpando a boca com um guardanapo – Mas agora eu tenho que ir, esse assassino não vai se pegar sozinho. 


- É claro que não, boa sorte meu caro – John acenava enquanto James tornava a correr desta vez na direção oposta.


James adentrou o escritório de forma apressada. Alguns policiais já haviam retornado do almoço e começavam a se concentrar em suas investigações. O diretor passou os olhos castanhos por cada um deles, orgulhoso da eficiência da central.


Ao entrar em sua sala largou a casaca em cima de uma cadeira qualquer e voltou a se concentrar no caso que tinha nas mãos. Além deste também tinha outros menores. Alguns roubos, umas denúncias que ele não sabia se eram infundadas ou não, coisas pequenas comparadas ao caso de prioritária importância.


Depois de algumas horas de trabalho, por voltas das dez horas da noite, o celular de James tocou, acusando o recebimento de uma mensagem de Marlene.


“Não se esqueça de viver, xerife. Olha que horas são!”


James olhou o relógio distraído e tomou um sustou au ver o ponteiro grande no doze e o pequeno no dez. Ele fechou o arquivo que estava lendo e o guardou na paste de couro, pegou sua casaca e fechou a porta do escritório.


Mônica, a secretário, ainda estava no prédio. Arrumando. Assim que avistou James sorriu bondosamente.


- Diretor Potter! Que bom que o senhor resolveu descansar um pouco. Parece que este caso está dando muito trabalho, não?


- De fato Mônica, de fato. Mas o que você faz aqui, tão tarde? – ela corou com a pergunta e pareceu nervosa.


- Eu... eu... eu estava apenas esperando o senhor – ela disse – não queria que o senhor ficasse sozinho até tão tarde neste prédio escuro.


- Eu agradeço a preocupação – ele disse sorrindo – mas pode ser perigoso para você. Vamos, eu te levo até em casa – James começou a rodar a chave do carro no dedo, uma mania que tinha, enquanto assobiava.


Mônica pegou sua bolsa e desceu no encalço de James. Ele sempre se divertia com a preocupação que a secretária tinha e com o modo como ela sempre corava quando ele retribuía o zelo. Mas não estranhava, estava acostumado a causar esse efeito nas mulheres.


James deixou a moça na porta de casa. Timidamente ela o desejou boa noite e se retirou do carro e James pode tomar seu caminho de volta para casa. Assim que chegou encontrou a mesa posta e Marlene dormindo em frente à TV, com o controle pendendo em sua mão. James a pegou delicadamente no colo e a levou para cama e depois foi jantar. Satisfeito, foi tomar banho e enfim, dormiu.


Durante uma semana a rotina de James foi a mesma, nenhuma pista nova, nenhuma vítima nova, o caso parado como sempre. A autópsia da útima vítima haviase mostrado insuficiente. Cada dia mais James sentia que estava com as mãos atadas, e não poderia fazer nada para prender o assassino. Até o fatídico dia.


James, novamente, havia se esquecido de almoçar e corria apressado para a lanchonete perto da central de policia, como em todos os dias anteriores. Sentou-se no balcão, cansado como sempre.


- Olá, Potter– disse Noah, o filho de John – Como vai?


- Ah, oi, Noah. Onde está seu pai?


- Não pôde vir,me ligou hoje de manhazinha, dizendo que estava doente.


- Que estranho, o John sempre foi saudável como um touro.


- É, deve ter sido a febre aftosa – disse Noah rindo.


- É verdade. Já que é você que está aí hoje,me vê o de sempre.


- Pode deixar. Aí! Paul – ele gritou pra cozinha – libera um da casa, pra ontem!- mas ninguém respondeu - Paul? Paul! Responde pô!


- Ta tudo bem Noah?


- Não deve ser nada, o Paul é um preguiçoso – ele disse entrando na cozinha – aí, Paul, não ouviu?


James escutou um palavrão vindo da cozinha e olhou apreensivo para a porta por onde Noah entrara.


- Potter! Eu preciso de ajuda aqui – ele gritou lá de dentro.


James entrou correndo na cozinha, pulando o balcão, deixando seu casaco com a arma e o celular em uma cadeira.


- Noah? – ele disse, abrindo a porta rapidamente – tá tudo... Droga!


Ele encarou o aposento. Havia sangue nas paredes. Noah estava parado no meio da cozinha, olhando para o chão, atônito. O cozinheiro, Paul estava caído no chão uma ferida enorme em seu dorso por onde saíamuito sangue. James ajoelhou-se ao lado dele e constatou que estava morto. Do mesmo modo que as outras vítimas do assassino que procurava.


Ele se levantou para ligar para a central. Ia pegar seu celular e sua arma no casaco e disparar porta afora. O assassino não poderia estar longe, mas Noah estava parado na frente da porta.


- Noah, sai da frente! Eu tenho que chamar a policia.


- Eu acho que não,Potter – uma voz grossa disse atrás dele e antes que pudesse fazer qualquer coisa uma panela acertou sua cabeça e ele desmaiou.


Depois de algumas horas,James começou arecobrar a consciência. Ele abriu os olhos:estava tudo extremamente embaçado e sua cabeça doía muito. Ele constatou que estava amarrado pelos pulsos. Olhou confuso em volta. Tentou soltar os braços, mas fora em vão. Escutou um choro fino perto. Começou a procurar a dona do choro. Era uma criança, devia ter por volta de dez anos, uma menina. Amarrada pelos pulsos, como James. Seus pés mal tocavam o chão.


Entre ele e a garota havia uma mesa, forrada por um pano verde de hospital contendo vários utensílios, como tesouras, bisturis, facas e outras armas brancas maiores.


Assim que sua visão tornou-se mais nítida ele percebeu que estava em um antigo galpão abandonado. James voltou a olhar para a garota e viu que atrás dela estava outra mulher, parecida com ela, amarrada do mesmo jeito, porém desmaiada. James focou nas correntes que prendiam os braços da garota e constatou que os estavam cortando, pois um filete de sangue escorria para as madeixas loiras da criança.


James tentou se lembrar do que havia acontecido. Não vira quemo atacou, lembrava-se da voz grossa e da expressão de horror no rosto de Noah ao ver o agressor. Será que ele também estava lá? Começou a procurar pelo corpo magro de Noah. Mas não o encontrou. Torcia para que ele tivesse conseguido fugir.


Ele se concentrou nos sons; não ouvia nada. Não havia barulho de carros ou de pessoas por perto. Apenas uma goteira. Entrava neblina pela janela que havia no alto do galpão. James olhou para a garotinha que chorava contidamente.


- Ei – ele disse para ela – oi, qual o seu nome?


- E- Emily – ela disse fracamente – Emily Connor.


- É claro que é. – ele disse para si mesmo – o meu nome é James Potter, não se preocupe, ok? Eu sou da polícia e vou tirar a gente dessa, ta? Ela confirmou com a cabeça. - Mas eu preciso da sua ajuda. Você tem que ficar quietinha, ok?


- Você vai me tirar daqui? Você promete, James?


- Prometo.


- A minha mãe também? Ela não quer acordar. O homem que me trouxe pra cá disse que ia dar um remédio para ela parar de sentir dor, mas ela não quer acordar!


- Um remédio? Que tipo de remédio?


- Eu não sei – ela disse chorando.


- Shh, shh!  - ele disse – calma, vai ficar tudo bem, mas você precisa ficar quieta! – ela confirmou com a cabeça.   


Ele tentou escalar as correntes que o prendiam, mas não adiantou, ainda estava fraco por causa da paulada. Tentou pensar claramente. Pelo menos iria descobrir quem era o assassino, quem sabe ele não o soltaria para tentar matá-lo? Assim James poderia tentar atacá-lo. Não era o melhor plano, mas era o único que tinha. Não. Não poderia se deixar capturar tão facilmente e, mais importante, não poderia contar com um deslize de alguém que o enganara por tanto tempo. Teria que pensar friamente. Mas como em uma situação em que sua própria vida pende na balança?


A porta do galpão se abriu. James disseà Emily que fizesse de conta que havia desmaiado como sua mãe. James fez o mesmo e assim poderia pensar em alguma coisa enquanto o assassino acreditava que estavam desacordados.


O Homem entrou cantarolando com sua voz grave de barítono. Ele andou até onde eles estavam. James escutou o som de correntes se mexendo. Abriu uma fresta do olho e viu duas mãos grandes puxando as correntes de Natalie Connor, mãe de Emily. Não conseguiu ver o rosto do homem.


Tornou a fechar os olhos.


- Não se desassossegue,minha prezada. – o homem disse com uma voz polida e em um inglês empolado  - ficará tudo bem e você será uma estimada peça na minha coleção.


- Não toca na minha mãe! – James escutou Emily dizer, com a pouca força que lhe restava. Droga!


- Você acordou,minha pequenina! – James começava a reconhecer o sotaque. – não se preocupe, eu também tenho um lugar especial para você. Esses seus lindos cabelos loiros são a peça que falta.


- Deixe-as em paz – James disse, com a voz mais fraca do que realmente estava – John.


- Então você também acordou,Jamesy!


- Deixe-as em paz!


- Ou? – John brincou – Ou o que, James?


- Ou eu te mato com as minhas próprias mãos!


- E como? Eu pergunto-te. Vocês está amarrado, quem tem arma sou eu e você está drogado!


-Você quer mesmo arriscar, seu delinqüente?


- Eu acho que vou correr esse risco, Jamesy. - ele disse fazendo um profundo corte na bochecha de James. - O melhor policial de Londres? Sinto lhe desacreditar, meu prezado.


- Eu deveria ter imaginado quando percebi que era alguém com acesso a informações da policia. Deveria ter imaginado que era EU o responsável por dar essas informações a você! – James deixou que sua cabeça pendesse pesadamente, parecendo muito mais debilitado do que de fato estava.


- E dizem que você é o cérebro policial de Londres, não, a cabeça por trás da toda a policia inglesa! Mas que pilhéria.


- E você não passa de um assassino comum!


- Não não! – ele disse passando os dedos pelos cabelos de Emily – eu sou um artista. Eu quero recriar a nossa querida rainha Elizabeth, a primeira! Ficará linda.


-Elizabeth não era loira, era?


- Isso importa? Uma obra de arte é feita pela visão particular do artista! Pra mim, ela era um anjo, e anjos são loiros, como esta bela pequenina.


- Você é doente.


- Doente, eu? Não... eu sou diferente.  Eu sou um visionário, um artista!


- Um psicopata asqueroso!


- Não use essas palavras em frente a uma criança, a mãe dela pode não gostar.


- O que você deu a ela? Einh, seu torpe.


- Oh, isso? Ela estava reclamando muito de dor, então eu tive que sedá-la, alguns ml de morfina e ela adormeceu, o mesmo que fiz com você.


- E Noah, o que você fez com ele?


- Aquele imprestável? Recebeu o mesmo destino  do amiguinho cozinheiro dele.


- Como você pôde fazer isso com seu próprio filho?


- Ele não era meu filho. Era adotado, você não sabia?


- Você  me enoja.


John se aproximou de James, seu rosto perto do dele, e sussurrou:


- Como se eu me importasse.


Antes que ele pudesse se afastar James lhe deu uma cabeçada com força e o chutou com alento na barriga. John cambaleou e caiu no chão, gemendo de dor. James ignorou a nova dor na cabeça e tentou novamente se soltar. Mas foi em vão. John se levantou com uma expressão insana e desumana no rosto enquanto andava na direção de James.


James puxou a corrente com força, sustentando-se fora do chão e, com as pernas, enlaçou o pescoço grosso de John. Ele começou a apertar. Sentiu o homem arfar.


- Eu disse que te mataria. – ele folgou um pouco o aperto – mas eu preciso de você vivo, pra soltar. Então você vai ser virar pra mim e vai soltar essas correntes, entendeu?


- Eu preciso que você me solte pra isso.


- Se eu te soltar aprimeira coisa que você vai fazer será aplicar essa seringa inteira de morfina em mim – John olhou pro bolso – e depois vai me matar. Depois de me matar você vai matar a senhora Connor e por último a Emily, e então vai voltar pra cidade, a procura de novas vitimas.  Estou certo?


- Como você poderia saber da seringa...?


- Se você a escondeu tão bem? Eu não sou o cérebro da polícia londrina à toa.


Em um movimento brusco John enfiou a mão no bolso, para pegar o sedativo, mas James foi mais rápido e chutou sua mão. O remédio caiu no chão, sem romper o invólucro.


- John, John, John! Você é tão previsível – ele disse calmamente – agora que você não tem mais armas, você vai me soltar. Será que dessa vez eu fui claro? Ou você prefere morrer aqui e agora?


- Se eu morrer ninguém nunca encontrará vocês e você também morrerá aqui!


- Eu não contaria com isso, os distintivos da policia são rastreados. Em breve alguma viatura estará aqui. – James sentiu John estremecer.


- Isso é um blefe! Você está mentindo! – ele gritou desesperado.


- Minha voz soa como se eu tivesse mentindo?


- T-tá bem, eu te solto.


John puxou uma chave que estava em torno de seu pescoço e soltou os pulsos de James. Ele segurou as correntes antes de soltar John e firmar-se no chão. Uma vez firme ele se virou para e dono da lanchonete e disse, friamente, quase zombeteiro.


-Você tinha razão, era um blefe mesmo. – James massageava os pulsos machucados


Tomado por uma fúria sobre-humana o homem embocou na direção de James. Surpreso ele desviou por pouco, e John caiu no chão. Ele levantou a mão e agarrou uma faca grande que estava na mesa, porem desta vez não foi na direção de James e sim de Natalie.


John enterrou e faca nas costas da mulher antes que James pudesse fazer qualquer coisa. Emily gritou ao ver o sangue que escorria das costas da mãe. Mas se calou no momento em que John se virou ameaçadoramente pra ela. James pulou em cima dele. A faca caiu longe dos dois. John tentou rolar para longe, mas em meio ao desespero Emily chutou a bandeja de armas e algumas caíram em cima do assassino.


James se levantou friamente e pegou a chave do homem agonizante para soltar as duas Connors. Colocou as duas no chão, as tirou do galpão e ligou para a policia. Depois tornou a entrar no galpão. John estava jogado no chão, coberto de sangue, gemendo de dor.


- Sabe John – James ajoelhou ao lado do homem – eu prometi àquela menina que não deixaria nada acontecer com ela e com a mãe. Mas você enfiou uma faca enorme nas costas dela, como você acha que eu estou me sentido? – ele perguntou com uma frieza assustadora. - Você lembra do que eu disse antes? Que eu te mataria se você fizesse alguma coisa com elas. E você fez, cara. Eu te avisei e você sabe que eu gosto de manter minha palavra.


Ele se levantou e pegou a mesma faca, manchada pelo sangue de Natalie. Ele a segurou contra a luz e voltou seu olhar para o corpo macilento gemendo no chão. James andou calmamente até o homem e repetiu o ato que John fizera minutos antes, com a matriarca Connor.  Ele gritou de dor.


- Está doendo? – James pegou a morfina que jazia a alguns centímetros. – Eu vou te ajudar então – ele enterrou a agulha no braço de John e despejou todo o seu conteúdo na corrente sangüínea dele. Dentro de alguns segundos sua respiração cessara.


Como se tivesse recobrado a razão, James se levantou e olhou preocupado para o que fizera. Encarou as mãos sujas de sangue e o corpo sem vida, imóvel.Passou as mãos pelos cabelos e olhou em volta. Não acreditariam que havia sido em legitima defesa.


Um homem coberto por um casaco entrou no galpão e encarou James. Ele o encarou de volta, receoso.


- Olha, eu sei que... Mas... Não é o que parece.


- Ele era um assassino. Tentou matar duas pessoas inocentes, e você o matou. Não estou aqui para julgá-lo.  Muito pelo contrario, quero ajudá-lo. Assim que a policia chegar diga que era o assassino que vocês procuravam, que ele te atacou e que vocês brigaram e ele caiu no rio.


-t-tá – ele disse – Obrigado.


- Meu nome é Tom – ele disse estendendo a mão na direção de James, que retribuiu o ato – agora vá, elas devem estar precisando de você. Mais uma coisa, se perguntarem, eu nunca estive aqui.


- Claro.


James correu porta afora, para encontrar-se com Natalie e Emily. A primeira havia perdido muito sangue, mas ainda respirava e Emily, apesar de profundamente abalada estava bem. Cerca de alguns minutos depois chegaram varias viaturas da policia, para quem James repetiu a historia de Tom. Depois de certificar-se que as duas estavam em segurança voltou para casa, para tentar dormir um pouco.


Marlene o esperava acordada.

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