Por que nunca aconteceu nada?
Passei a tarde inteira no meu quarto rasgando todas as fotos minhas e do Comárco. Tudo bem, eu sei que isso é ridículo, mas eu não podia evitar, estava com muita raiva.
Só reparei que já estava escurecendo quando ouvi barulho de chave na porta, era Lizzie chegando.
- E então Mione! – vi quando ela entrou no meu quarto – Como passou a sua tarde?
- Muito bem! – comentei enquanto jogava mais alguns pedaços de foto em uma sacola plástica – Acho que vou sobreviver.
- Estou vendo! – comentou enquanto via o que tinha acabado de fazer – O que acha de começarmos a nos arrumar?
- Para que? – a olhei com cara de dúvida.
- A boate hoje à noite – respondeu como se fosse a coisa mais obvia do mundo – Lembra?
- É mesmo! – como eu poderia ter me esquecido, foi por causa disso que tudo começou.
- Quem bom que você lembrou – revirou os olhos – Agora vamos! Eu preciso arrumar o seu cabelo e te maquiar.
- Lizzie! – eu segurei o braço dela – Eu não vou.
- Por que não? – se espantou – Você já tinha dito que iria.
- Eu perdia a vontade! – tentei explicar, mas sabia que seria inútil tentar convencê-la – Estou cansada.
- Vai ser ótimo para você sair um pouco – sentou-se na beirada da cama – E quem sabe você não conhece alguém legal. Agora você está solteira, tem que aproveitar.
- Não estou preparada para outro relacionamento agora – suspirei pesadamente deitando a minha cabeça no travesseiro.
- E quem disse que precisa ser um relacionamento sério? – continuou – Você precisa descobrir como é beijar um garoto por dia e nem saber o nome deles.
- Mesmo assim Lizzie! – eu não conseguia evitar rir desses comentários dela – Mas eu realmente não estou com disposição hoje.
Ela se levantou e ficou me encarando com uma cara não muito feliz.
- Eu vou tomar banho e me arrumar – parou na frente da porta – Até lá eu quero ver você mudando de idéia, ou eu vou te leva à força.
- Duvido que você consiga! – revirei os olhos.
- Não me subestime! – a ouvi gritando em direção ao corredor.
Resolvi ir para sala assistir televisão. Fiquei mudando de canal a cada segundo, não estava passando nada de interessante na televisão. Já estava quase dormindo quando ouvi os passos de Lizzie no corredor, o discurso ia começar.
- E então Mione? – estava me encarando seriamente – Vai ser por bem ou por mal.
- Pela milésima vez Lizzie! – revirei os olhos – Eu não quero ir.
- Por favor, Mione – agora ela estava sentada ao meu lado segurando a minha mão – Vai ser divertido.
Suspirei pesadamente. Ela sempre acabava me convencendo depois de muito insistir, mas dessa vez eu não iria ceder.
A campainha tocou, tinha certeza de que era Harry. Lizzie se levantou e foi até a porta, eu estava certa.
Ele parou na minha frente e ficou me observando de cima a baixo. Certamente achando estranho eu ainda não estar pronta para irmos.
- Você ainda não usou a Mione como sua bonequinha pessoal? – olhou divertido para a irmã – Isso é um milagre.
- Ela não está querendo ir! – cruzou os braços fingindo-se de emburrada – Nada do que eu falo a convence.
- Eu e Comárco terminamos! – resolvi dizer por fim.
Percebi que ele olhou com aquela cara de “Já estava na hora não é?”, mas ele não disse nada por consideração a mim.
- Se ela não quiser ir não insisti! – Harry disse para a irmã que fez uma careta, e eu, suspirei aliviada – Acho até que vou ficar aqui com ela.
- Você também não quer ir? – praticamente gritou – Mas hoje cedo você disse que iria adorar.
- Para falar a verdade! – começou um pouco receoso – Eu só disse que iria, por que sabia que você iria ficar me enchendo até aceitar.
Ela se fingiu de brava e se sentou na poltrona em frente a mim. Já Harry, sentou ao meu lado e passou o braço por cima do meu ombro.
- Se nenhum de vocês dois vai! – começou depois de alguns minutos em silêncio – Acho que eu também não vou. Podemos pedir uma pizza a alugar um filme.
- De maneira nenhuma Lizzie – eu interferi – Você não precisa ficar em casa por minha causa.
- Você é a minha melhor amiga Mione – se aproximou e ajoelhou na minha frente, eu não entendo essas mudanças de humor da Lizzie – Não vou conseguir me divertir sabendo que você está deprimida em casa.
- O Harry vai ficar aqui comigo – lembrei – E você quer muito ir a essa boate. Vou me sentir muito culpada em saber que eu estraguei a sua noite de sexta-feira.
- Você vai mesmo ficar bem? – me olhou em dúvida.
- É claro! – revirei os olhos.
- Então está bem! – foi até a mesa e pegou a bolsa, que estava em cima da uma das cadeiras – Cuida bem dela Harry. Não a deixe fazer nenhuma besteira.
- Pode deixar! – ele me abraçou ainda mais e me deu um beijo na bochecha.
Lizzie riu antes de sair. Depois, nós dois ficamos em silêncio durante algum tempo.
- Agora que estamos sozinhos! – ele deu aquele sorriso sedutor – O que você que fazer.
- Para falar a verdade! – suspirei pesadamente – Tudo que eu quero é ficar em casa e dormir cedo.
- De maneira nenhuma! – ele se levantou e começou a me puxar pelo braço – Eu não vou te deixar ficar deprimida.
- Harry! – me levantei e fiquei o encarando nos olhos – Eu acabei de terminar o meu namoro de cinco anos. Quer que eu fique como?
- Ele não te merecia! – suspirei pesadamente.
- Você vai mesmo ficar repetindo isso? – revirei os olhos – Desde que eu te contei que eu e o Comárco estávamos namorando você fica me dizendo isso.
- Mas eu estava certo e estou certo até hoje – tinha um sorriso vitorioso nos lábios – Ele sempre te olhou d e um jeito estranho e eu não gostava disso.
- Acho que você tinha ciúmes! – resolvi provocar um pouco.
- Certo! – revirou os olhos – Mas ainda assim, acho que você precisa curtir o seu momento de depressão pós-fim de namoro de outra maneira.
- E como você sugere que eu faça isso? – eu realmente não estava entendendo nada, Harry conseguia ser uma incógnita quando queria.
- Você precisa assistir a um filme romântico, chorar que nem uma louca e tomar um pote inteiro de sorvete – ri quanto ele brincava com uma mecha do meu cabelo – Normalmente se faz isso com a melhor amiga, mas, como a minha irmã não está disponível no momento, eu estou aqui a sua disposição.
- Está bem então! – dei de ombros – Vamos até a locadora, depois vamos comprar alguma coisa para comer e voltamos para cá.
- Não vamos vir para cá! – achei isso muito estranho – Normalmente a sua casa te faz lembrar do seu ex – revirei os olhos, na realidade, Comárco quase nunca pôs os pés aqui, por isso, não me faz lembrar dele – É melhor irmos para o meu apartamento.
- Desde quando você virou um especialista em finais de relacionamentos? – o olhava bastante séria.
- Acredita em mim Mione – simplesmente respondeu – Agora vai trocar de roupa e vamos logo.
Levantei e fui para o meu quarto. Em menos de dez minutos estava e pronta e saíamos de casa.
Harry estacionou em frente à locadora e caminhamos juntos até dentro da loja. Quando chegamos lá, cada um foi para um lado para podermos encontrar o filme perfeito para essa noite.
Estava em uma prateleira vendo alguns filmes de terror quando senti uma mão envolver a minha cintura. Tomei um grande susto e olhei para trás e vi que Harry sorria para mim.
- Achei o filme perfeito! – sussurrou no meu ouvido.
Virei e peguei o DVD que ele segurava e pude ver o título. Era “Ps: eu te amo”.
- Esse não! – suspirei devolvendo a caixa para ele.
- Por que não? – achou estranho – Pensei que as mulheres gostassem desses filmes românticos e melosos.
- Esse filme é maravilhoso mesmo – concordei – Mas eu fui assistir ele no cinema junto com o Comárco. Acho que você me entende.
- Tudo bem! – pareceu concordar – E qual tipo de filme você está pretendendo alugar?
- Algumas coisas de terror! – apontei a prateleira na nossa frente – O que acha de “O exorcista”.
- Você odiou esse filme Mione! – revirou os olhos – Lembra naquele dia das bruxas lá em casa.
Ri enquanto me lembrava. Tínhamos, mais ou menos, uns 14 anos e decidimos que éramos muito velhos para pedir doce na rua, então resolvemos fazer uma seção de cinema na casa dos Potter e o filme escolhido foi “O exorcista”. Nós duas passamos a maior parte do filme gritando com os olhos tapados. Conclusão: no ano seguinte, voltamos para o tradicional “Travessuras ou gostosuras?”.
- Eu sei que sou meio fraca para filme de terror – tentei argumentar – Mas, pelo menos, não tem nenhum casal feliz me fazendo lembrar que eu estou solteira.
- Mas a idéia é assistir um filme romântico! – foi me arrastando pela locadora – Para poder chorar bastante.
- Então tem que ser uma comédia romântica – respondi por fim – Não é tão meloso assim.
Por fim, acabamos levando “O amor não tira férias”. Harry resolveu parar no supermercado, mas dessa vez não me deixou ir junto, disse que tinha uma surpresa para mim. Não demorou muito para voltar trazendo uma sacola na mão.
- O que você comprou? – eu quis saber.
- Sorvete de passas ao rum! – mostrou a embalagem – Não é o seu favorito?
- É! – balancei a cabeça afirmativamente – Não acredito que você ainda se lembra.
- Você é minha melhor amiga! – lembrou – Eu sempre vou me lembrar de cada detalhe da sua vida.
Ele me abraçou e deu um rápido beijo no meu pescoço, me fazendo arrepiar. Então me afastei delicadamente.
- Vamos logo! – pedi – Daqui pouco vai ficar tarde.
- Tem razão! – concordou – Vamos logo.
Não demorou muito para chegarmos ao apartamento. Enquanto eu colocava o filme dentro do aparelho de DVD, o Harry ia até a cozinha e pegou duas colheres de sobremesa.
- Vamos tomar o sorvete direto do pote? – me espantei quando ele sentou ao meu lado do sofá.
- É claro! – respondeu me entregando uma das colheres na sua mão – Assim muito mais divertido. Além disso, vamos acabar com o sorvete todo mesmo.
- Acho que você está querendo me engordar – comentei.
- É só hoje! – insistiu – É divertido fazer uma loucura uma vez na vida.
Eu passei o filme todo chorando, sempre achei bobagem ficar chorando por causa de um garoto, mas agora eu não consigo evitar. E o pote de sorvete, acabou em uma hora.
- Eu ainda não tinha assistido a esse filme! – Harry comentou enquanto retirava o DVD – Até que é legal.
- Eu e a Lizzie já tínhamos assistido em uma das nossas sessões de filme – expliquei enquanto limpava algumas lágrimas no meu rosto – Eu tinha gostado. Foi interessante ver outra vez.
- E você já está se sentindo melhor! – quis saber me abraçando.
- Acho que sim! – suspirei deitando a cabeça no ombro dele – Vou superar isso em menos de um mês.
- Sei disso! – deu um beijo estalado no meu rosto – O que acha de tomarmos uma taça de vinho?
- Você sabe que eu não gosto de beber Harry! – lembrei – Eu sempre acabo fazendo alguma besteira quando estou bêbada;
- Não vai dar para ficarmos bêbados! – argumentou – Vai ser só uma taça.
- Tudo bem! – acabei aceitando.
Ele se levantou e foi até a cozinha. Voltou dois minutos depois com duas taças na mão e me entregou uma.
- Espera! – segurou a minha mão antes eu dar o primeiro gole – Vamos fazer um brinde!
- Um brinde à que? – perguntei logo depois.
- À nós dois! – sugeriu – E ao fim do seu namoro com o Comárco.
Olhei meio brava para ele, mas depois sorri.
- Então está bem! – concordei por fim.
Brindamos e começamos a beber ao esmo tempo. É claro que ficamos somente nessa taça, acabamos com a garrafa inteira e, imediatamente, pegamos outra, que também acabou logo. Já estávamos completamente bêbados e rindo sozinhos.
- O que foi? – perguntei, mas estava rindo também.
- Só estava pensando em uma coisa aqui – colocou a mão no queixo pensativo, era uma cena cômica – Por que você começou a namorar o Comárco?
- Ele era legal! – dei de ombros – E parecia gostar mesmo de mim.
- Mas você nunca foi apaixonada por ele – aproximou-se mais de mim, o hálito de álcool invadiu o meu nariz – Um relacionamento sem amor não é saudável.
- Olha quem fala! – lembrei – Você beijou metade da população feminina daquele colégio.
- É verdade! – suspirou enquanto se lembrava de algo – Mas sabe de uma coisa? Nós nunca ficamos juntos.
- É claro que não! – disse como se fosse obvio – Somos os melhores amigos e isso poderia abalar a nossa amizade.
- Por que abalaria? – colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha – Nós daríamos uns beijinhos e depois voltaríamos a ser amigos normalmente.
- Será que daria certo? – o olhei em dúvida.
- A única maneira de sabermos é tentando – concluiu – O que acha de fazermos isso agora?
- Tudo bem! – concordei, não entendia por que não conseguia parar de rir.
Não dissemos mais nada, até que os nossos lábios se tocaram. A principio foi isso que aconteceu, até que eu abri a boca deixando que a língua de Harry entrasse na minha boca e explorasse cada canto dela. No começo foi estranho, mas logo eu fui me acostumando. Quando eu coloquei os meus braços em volto do pescoço dele, nos separamos.
- E então? – ele perguntou ainda ofegando – O que achou.
- Normal! – dei de ombros, meu coração estava totalmente acelerado – Poderia fazer isso o resto do dia.
- Eu também! – roçou seus lábios nos meus – Então, o que estamos esperando?
A gente se beijou mais uma vez. E outra, outra, outra, outra... Cada vez as caricias iam ficando mais urgentes e ousadas. Sabíamos que estávamos entrando em um território muito perigoso, mas isso não nos importava naquele momento.
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