Capítulo 13
09/FEVEREIRO – 09:51h – SÁBADO – CASA (MEU QUARTO)
Ai, que coisa mais péssima. Ela é como um daqueles bonecos de postos, que quando batemos nele, ele volta e nos dá o maior encontrão. Não, de verdade, juro. Ela ficou tão felizinha que parecia um daqueles poodles malucos, histéricos e pulantes.
Você precisava ver a cara que ela fez quando me viu descendo as escadas com o meu melhor jeans, minha blusa listrada e meu All Star recém-lavado. E seus olhos se arregalaram como aqueles bonequinhos que, quando apertamos a cabeça, os olhos saltam e lhe dão um susto, quando percebeu que eu coloquei a minha tiara fofa de princesa de coração que tinha me enviado de aniversário nesse ano, mas que nunca a usei até hoje. Mas me diga aonde eu usaria uma tiara cravejada com mini-cristais swarovski tão fofa quanto uma daquelas que a Taylor usa o tempo todo? Com certeza nunca iria para a escola com ela, que é onde a Taylor usa as dela. No entanto, não sei por que, mas quando a vi ali descansando na mesinha de cabeceira... peguei-a e a ajeitei em minha cabeça. Meu reflexo no espelho pareceu bastante legal, e olha que estamos falando de mim.
Mas enfim. Voltemos à minha avó.
Assim que seus olhões de corvo me seguiram da escada até a entrada da cozinha, D. Julia realmente parecia estar inflando e, decididamente, sua língua se autodestruíra dentro de sua boca, pois não conseguiu deixar escapar nenhuma sílaba.
- Pelo fantasma da Princesa Diana! Aonde você vai assim? – ela me perguntou, após eu dizer um bom dia para a mamãe, que estava sentada à bancada, apreciando a parte do jornal policial. Examinei bem minha avó: ela parecia impressionada e encantada. Encantada mesmo.
- É verdade, Lily. Aonde você vai assim? – minha mãe, ouvindo o tom de voz praticamente apavorado (mas de um jeito bom) da D. Julia, ergueu os olhos das letrinhas impressas e juntou as sobrancelhas quando me viu, pela primeira vez pela manhã.
Sabe, eu até mesmo me orgulhei. Um pouquinho. Porque é a coisa mais difícil do mundo fazer com que a minha avó se surpreenda com alguma coisa relacionada a mim. Principalmente se essa coisa tiver relacionada às minhas roupas. E se ela estava agindo daquele modo tão incomum era porque eu estava sensatamente ótima.
- Preciso ir atrás da minha matéria para o jornal local – respondi, fingindo concentração total no copo e na garrafa de leite que estava segurando.
- E precisa ir toda arrumada como se fosse se encontrar com um garoto? – a voz da minha avó nunca me pareceu tão provocativa quanto naquele segundo.
Franzi a testa e fiz uma cara debochada para ela, mas, daí, sua expressão passou de encantada para convencida.
- Ahá. Você vai se encontrar com um garoto! – ela me acusou, toda orgulhosa de si mesma, batendo as palmas das mãos uma vez.
Foi nessa hora que a minha mãe se desconectou do jornal e pareceu muito interessada na minha manhã.
- Quem é esse garoto, Lily? Digo, não deve ser o Jason, porque vocês mal saem e duvido muito que ele quisesse sair com você logo pela manhã. Em um sábado! – mamãe assinalou.
É claro que até a minha mãe sabe que tipo de relacionamento eu mantenho com o meu namorado. Todo mundo sabe que só nos vemos aos fins de semana, quero dizer, um fim de semana sim, um fim de semana não, por causa dos constantes compromissos dele com o basquete. E, tudo bem, todos também sabem que nem nunca passamos de nenhuma preliminar, nunca nos beijamos em público (eu e ele estamos de acordo quanto a isso) e também nunca brigamos.
Minha mãe sabe de tudo isso, claro. Não que eu fique contando muito sobre a minha vida para ela, principalmente sobre o meu namoro, já que temos uma regra aqui em casa do tipo “todo mundo tem o direito à privacidade”, mas de vez em quando sentamos em algum domingo à noite e simplesmente conversamos sobre a vida. Não sobre a minha vida, ou sobre a vida dela (porque não quero saber o que ela acha sobre o Michael, seu vizinho de consultório); só sobre as nossas vidas. Às vezes, somente parece que estou fazendo terapia, porque... bem, porque minha mãe se enfia tanto no trabalho que não deixa de ser profissional nem comigo. É sempre: “E como você se sente com tudo isso?”.
- Eu só vou preparar a minha matéri... – é claro que ela não me deixaria terminar. Sempre tem que dizer algo.
- Ah, Lily, a quem quer enganar? É claro que vai sair com um garoto. E nós sabemos quem ele é – D. Julia riu de modo comedido e parecia estar bastante afincada.
Minha mãe olhou para a minha avó com cara de quem não estava pegando o ponto muito bem.
- Nós sabemos quem ele é? – ela perguntou para D. Julia, com a face toda franzida.
Nesse meio tempo fiz mais uma cara irônica e fiquei torcendo para que ela não fizesse as pontes se conectarem. Quero dizer, que ela não pensasse no James e tudo o mais.
- É tão claro! Você vai se encontrar com o James! – foi o que a bruxa de Londres me disse, sorrindo e mais sorrindo.
Meu deus, que doença. Essa mulher vai acabar enlouquecendo com a idéia de que eu, algum dia, comece a namorar o James. Desse jeito, vai parar no manicômio, e até parece que irei lá para visitá-la como fazem os pais da Britney e da Lindsay Lohan. Espera. Nenhuma delas foi parar em um manicômio. Aquilo era centro de reabilitação para drogados, não é? Ah, deixa para lá. Quem sabe minha avó vá parar exatamente como as duas: louca, louca, louca.
Mas, olha só, uma novidade: eu me senti altamente desconfortável, como se tivesse sido descoberta por estar tendo encontros às escondidas. Tudo bem, realmente isso era um encontro às escondidas, porque não pretendia dizer que James irá junto comigo, já que é claro que minha avó iria agir exatamente como àquela hora.
Respirei fundo, muito fundo e fiz a minha cara de cachorrinho santinho.
- Vou, vou mesmo. Ele vai me ajudar a achar a menina da minha matéria – eu disse, com a maior calma.
Ao menos, não sentia o rubor no rosto. Mas também, por que eu coraria? Não havia motivos para tal conseqüência.
Os rostos das duas (da minha mãe e da minha avó) se iluminaram. D. Julia adquiriu um ar todo pomposo, e até mesmo percebi um sorrisinho de canto de boca em minha mãe.
Awwn, elas amam o James! Ah, meu Deus, que coisa mais insana! Coitadinho dele, sinceramente.
- É uma notícia muito boa. Apesar de você estar prestes a cabular o meu costumeiro cooper, fico satisfeita que estará em companhia de uma pessoa tão agradável e inteligente quanto James – acho que ela pensou um tempão para formular essa frase tão magnífica.
- Ai, por Elvis. Não dá para não falar assim sempre que menciono o James? – agora eu estava ficando esgotada – Eu e ele não estamos saindo como namorados, ok? Ele é um amigo, um bom amigo, nada a mais.
- Bem, nunca sabemos até que ponto uma amizade é somente uma amizade – ela me devolveu, ainda toda alegre.
- Lily... se a relação de vocês é uma mera amizade... por que vai vestida tão... não de acordo com a Lily-que-não-liga-para-a-imagem? – juro que fiquei tão chocada ao ouvir isso de minha mãe que minhas mãos paralisaram, e meu rosto ficou impassível.
- O quê? O que você quer dizer com isso? – acho que berrei, olhando para minhas próprias roupas – Eu só... só... só me vesti. Isso não é para o James! E eu sou jornalista, quer mesmo que eu saia por aí como uma mendiga, como certas pessoas me tacham? – olhei para minha avó, na última frase.
Notei o olhar maldoso e vitorioso da D. Julia.
- Não precisa gritar, meu bem. Já entendemos que você não se importa com o James – era uma contradição. Sua frase estava toda irônica, toda de um jeito que ela nunca fala.
Eu queria pular nela. Ah, queria sim!
- Não me importo MESMO! – larguei o copo e o leite e fiz o que acho que não precisava ou deveria fazer: retirei-me. Decididamente voltei para cá para buscar o meu material (meu celular – por causa do gravador -, minha máquina fotográfica e minha bolsa gasta de sempre. Claro que fui inteligente e chaveei a porta. É claro, igualmente, que estou ouvindo minha avó berrar ali no corredor e soquear a minha porta.
Se estou ligando? NÃO! SÓ QUERO SAIR DAQUI!
09/FEVEREIRO – 11:24h – SÁBADO – DOCERIA CANDY’S (?)
Obrigada, Deus, por eu ter conseguido escapar da minha casa. Parecia que eu estava em uma cena de Missão Impossível, porque tive que escalar todo o telhado e depois então ir para a varandinha do sótão, pular na árvore que tem bem ao lado e ir descendo dela até meus pés finalmente encontrarem o chão firme e a grama. E, claro, saí correndo até a garagem, peguei a minha bicicleta e fui pedalando até a casa do James e da Alex. Se tudo isso não tivesse sido tão trágico e desesperador, poderia até mesmo ter sido cômico.
E, olha, vou comentar uma coisa: tenho inveja dos Potter. Sério mesmo. Eu achava que a minha casa era bem legal, bem ampla e tudo, com sótão e duas suítes, mas a casa da Alex e do James é praticamente três ou quatro vezes maior do que a nossa. É conservada naquele estilo antigo, todo branca com d * src="includes/tiny_mce/themes/advanced/langs/en.js" type="text/javascript"> etalhes em verde. Tem também muitas janelas imensas, daquelas que começam no teto e acabam no rodapé. Parece ser bastante iluminada e o jardim privado consta uma piscina realmente satisfatória e a casinha de tijolinhos para churrascos de fim de semana.
Não que eu tenha entrado, porque achei melhor não fazer sala para a Alex, que já estava bem aborrecida, porque assim que acordou, deu de cara com o James preparando um hambúrguer de salaminho já à minha espera. Seu humor explosivo do dia piorou ao me ver na porta, tentando desencorajar o James a me levar para o tour pela sua casa.
- Caramba. Que tiara é essa? E o que você está fazendo aqui? – ela me perguntou com uma expressão de alguém que estava muito a fim de arremessar algo em mim. Notei que Alex ainda vestia o pijama e seus pés estavam acondicionados por uma fofa pantufa de tartaruga maluca.
Acho que fiquei surpresa com seu tom nada amigável. Quero dizer, já estou acostumada com as pessoas me dando patadas, mas a Alex está definitivamente anormal. Eu deveria ter entrado e ter tido uma grande e sincera conversa com ela. Sobre o que ela tem, claro. Mas não o fiz. Acho que não sou boa amiga. Além do mais, a minha matéria me esperava, oras!
- Seu irmão vai me ajudar em uma coisa – respondi desconfortável, contando até dez para não sair correndo.
- Em quê? – fui questionada. Suas sobrancelhas estavam irônicas. Ela não estava gostando da situação toda.
- Alex, por que você não volta para a sua cama? – James lhe perguntou.
- Cala a boca, não estou falando com você – ela colocou suas mãos na cintura, sem tirar os olhos de mim.
- Alex, é para o jornal local, lembra que eu falei a você? – tentei armar uma atmosfera mais diluída.
- E por que... – Alex começou, mas James a cortou. Sei o que ela iria perguntar: por que eu chamei o James para a aventura e não ela.
- Tchau, Al. Voltamos a qualquer hora – o James acenou para a irmã, fechando a porta em seu nariz.
Alex não nos confrontou, acho que voltou para a cozinha. Não, na verdade não voltou. Quando demos partida com as nossas bicicletas, vi-a nos espiar pela cortina da sala.
O James só me seguiu, porque eu consegui o endereço dessa Cassie na lista telefônica, antes de sair de casa. Eu estava quase me esquecendo de procurar uma coisa tão importante dessas, claro. Se o James não tivesse me ligado para me perguntar se eu já estava por perto de sua casa (e eu ainda tentava planejar uma escapada do meu quarto sem que a D. Julia me visse), nunca teria me lembrado da pegar a lista e procurar a Cassie.
Na verdade, o endereço que consegui é da casa dela, da casa onde mora com os pais. Chegamos lá e ela mesma atendeu a porta. Vou contar uma coisa sobre essa menina: sabe aquela gente esotérica, que só vive de luz e que sempre está vestida com batas psicodélicas? Apresento-lhe Cassie Montgomery. Ela é albina e usa uns sapatos de salto dos anos 50, para completar. É uma pessoa bastante estranha, sério. Acho que se a encontrasse em um beco escuro no meio da noite, sairia correndo. Exatamente como faria se me deparasse com o Lil Wayne. Sempre confundo esse cara com os bandidos que passam pela nossa rua dentro de carros da polícia. Mas considerando que não sou a maior apreciadora de rappers, é bem normal pensar que todos eles são das trevas. Exceto o Eminem, já que ele é o único rapper branco e todo mundo o respeita muito, inclusive eu.
- Oi, você é a Cassie? – sorri do jeito principesco que minha avó me ensinou quando eu tinha 15 anos, porque meu objetivo era muito claro: ser simpática. Ninguém gosta de repórteres amargos que não sabem lidar com pessoas.
Seus cachinhos quase brancos balançaram com o vento ameno da rua. Seus olhos muito claros, mais claros do que os de Taylor, piscaram.
- Sim, sou a Cassie. Você não é a garota das roupas em liquidação, não é? Porque, se é, não posso fazer nada, muito menos devolver o dinheiro. Não aceito devoluções, principalmente de peças em liquidação – seus olhos ficaram tão perigosos que quase tive a certeza que eu era a garota das roupas em liquidação.
- Não, não, não. Não tem a ver com roupas. Quero dizer, tem de certa forma, mas não comprei nada de você. Meu nome é Lily Evans e trabalho para o jornal local. Só vim aqui para fazer uma entrevista com você – coloquei minhas palmas das mãos para fora em um sinal de pacificação.
Seus ombros largos e tensos relaxaram e ela sorriu, mostrando-nos seus dentes também muito brancos.
- Aaaah bom. Tudo bem, então. Entrem – Cassie escancarou a porta e nos deixou passar.
Ainda bem que decorei todas as minhas perguntas que planejei lhe fazer, porque a visita durou muito pouco, mas a deixou imensamente feliz, como aquelas pessoas desacostumadas a café que quando tomam ficam que nem aquele esquilinho de Os Sem-Floresta.
Não vou escrever a entrevista aqui, porque ainda nem a ouvi, de modo que seria perda de tempo fazer isso agora. E além do mais, não fiz nem mesmo o esboço da minha matéria, mas juro que quando a tiver prontinha a escrevo aqui, inteirinha.
Então, o que aconteceu depois de conversarmos com a Cass e irmos visitar sua loja mega colorida foi que viemos para cá. Como não tomei café da manhã, estava com um porco em meu estômago, e James sugeriu que parássemos para comer algo. Isso foi bem legal da parte dele, porque, sério, eu já estava vendo discos-voadores na minha frente.
- O que vai querer? Olha, tem milk-shake de ovomaltine! – o James apontou para o nosso cardápio.
- Você vai querer milk-shake? Acho que vou comer algum doce, preciso mastigar, sabe. Mas quem sabe peço um desses de sobremesa – falei.
- Tudo bem. Podemos dividir um pedaço de torta de chantilly com nozes – o James me disse, simpático.
Achei bem bom. Adoro nozes e castanhas e esses coisas assim. Ainda bem que não tenho alergia a tudo isso, porque comer essas sementes previne o câncer de mama. Não que na minha família tenha alguma ocorrência de câncer, mas sabe como é.
- Diver, pode ser – respondi.
O James pediu a torta e uma garrafa de chá gelado, porque ingerir refrigerante logo às 10:44h não deve ser muito bom para a saúde.
- Você vai escrever tudo hoje? – o James me perguntou.
- O quê? A matéria? – perguntei e ele concordou com a cabeça – Ah, não. À noite tem a festa do Sirius. Quero dizer, da Alicinha. Não vou ter muito tempo ou paciência. Escrever não é tão simples.
- Eu sei – ele resmungou – Você quer ser escritora?
Pensei na pergunta. Será que eu quero ser escritora? Não, acho que não. Não, se for para passar a minha vida escrevendo livros sobre meninas impopulares ou sobre ratinhos falantes. Não que eu ache que livros assim sejam ruins... eu leio livros assim, especialmente sobre meninas impopulares. Mas o negócio é que... quero muito mais. Quero ir muito além disso. Acho que um livro ajuda muito o nosso emocional e até mesmo nos ajuda a crescer e a amadurecer, mas o ramo que mais me atrai não é romance ou aventura. Não do modo que aparece em minha imaginação. Prefiro muito mais o romance e a aventura reais. Das ruas, do mundo em que vivemos. Por isso não planejo o meu futuro em uma cadeira, sozinha em um canto, pensando. Meu futuro é fora de paredes; é onde acontecem coisas. Pode ser na Guatemala ou na Rússia. Os meus alvos são os jornais ou as revistas. Quero ser a pessoa responsável por alguém ler alguma matéria sobre meteoros ou sobre a nova espécie encontrada no deserto. Quero passar informação adiante, não brincar com a imaginação alheia, embora isso seja altamente divertido.
- Não sei. Só quero escrever para jornais e essas coisas. Quero ser parte da informação – respondi, depois dos segundos que deixei passar, pois estava pensando.
- Isso é legal. Mas escrever livros também deve ser. Vai que você se baseia em fatos polêmicos e acaba gerando alvoroço mundial, exatamente como o Dan Brown ou Agatha Christie?
- É, mas até eu pensar em um roteiro a seguir e tudo o mais... não sei, não tenho muito paciência. Sou muito mais observadora e comentarista.
- Você poderia acabar como roteirista de filmes ou peças de teatro. Parece que essa gente é supervalorizada nesses meios – James informou.
- É, mas não é isso que quero – fiz uma careta. Pausa – E você? O que quer?
Ele sorriu e dava para ver que sua resposta já estava formulada na cabeça.
- Engenharia. Ainda não sei a especialização, mas é bem por aí – seu sorriso me deixou sem graça. Nossa, ele parece tão decidido que tenho vergonha de mim mesma! Não sei se me torno jornalista ou psicóloga. Sério, desde criancinha eu quero ser psicóloga e acho que isso nem tem influência da minha mãe.
- É bem difícil, hein? Tem que ser bom em física e matemática. Eu nunca poderia querer uma coisa dessas. Mal me lembro como se calcula qualquer probabilidade – eu estava falando sério, mas minha voz saiu bem leve, como se estivesse somente brincando. Acho que ele não se importou.
- Mas provavelmente você é boa nas matérias de que mais precisa em Jornalismo ou Psicologia.
- O quê? Eu mal escuto os professores falando. Com quem você acha que está conversando? – eu ri.
- Você não pode estar tão mal na escola – ele analisou, mas eu não concordei.
Daí nossos pedidos chegaram e ocupamos as nossas bocas com a torta.
- Ei, eu estive pensando em uma coisa que você vai gostar de fazer – o James de repente começou a falar, quando eu ainda estava mastigando, por isso tentei engolir mais rapidamente caso tivesse de responder alguma coisa.
- Hum – eu fiz, com a boca cheia.
- Na segunda à noite, depois das oito, ali na Alameda dos Halamos, está tendo sessões de filmes mudos do Charles Chaplin. Podíamos ver.
Sinceramente não me recordo de falar ao James ou a alguém sobre a minha paixão por filmes mudos. Nunca falo sobre isso porque a maioria das pessoas acha o maior saco entender piadas sem falas. Mas eu adoro o Charles Chaplin, então tanto faz, ele poderia falar nos filmes, que eu ainda assim apreciaria muito seus trabalhos.
E sabe? Eu gostei da idéia. O James sempre tem umas sugestões muito divertidas. Parece que ele me propõe coisas que definitivamente não tenho como recusar. O Jason nunca faz isso, porque, na verdade, ele nunca me propõe nada para fazer, já que nossos encontros são sempre iguais.
- Uau! É uma coisa que vou amar fazer! Não sabia que tinham construído um cinema lá na Alameda!
- Não construíram, somente reformaram aquele antigo prédio abandonado. Mas o cinema de lá é à moda antiga. Muito mais legal! Só não tem 3D, mas não faz mal, né? – o James falou.
- 3D é legal só na primeira vez. Depois fica cansativo, mas o cinema caminha para essa linha futuramente – eu disse, bebendo mais um gole do chá gelado.
- É uma pena mesmo. Ainda sim, se você quiser ir, posso passar da sua casa.
- Ah, espera. Eu estarei trabalhando – senti um soco no estômago quando me lembrei desse pequeno detalhe.
- Você não pode sair uma pouco mais cedo?
- Não sei. Tenho que ver. Eu já não fui trabalhar ontem, sabe. Até parece que não trabalho! – acho que comecei a me indignar comigo mesma.
O James só riu.
- Tenta sair, vai. A noite vai ser legal. Podíamos comer um Pretzel depois – ele me tentou.
Aaah, não me fala a palavra Pretzel! Eu sou louca por esse negócio!
- Aaah, assim você não me dá alternativas! – chutei sua canela de brincadeira – Quem sabe agora eu posso ter pegado a gripe Espanhola e não devo ir trabalhar... – brinquei, rindo.
Tá, é claro que não vou mentir. A minha avó já inventou aquela coisa besta sobre a Malária e a Dra. foi muito gentil em fingir que acreditou. Mas cinema mudo mais Pretzel? Como eu posso fugir disso? Não tem como. Sou muito fraca.
Bem, agora o James está tentando pagar a nossa conta. A fila lá no caixa está tão gigante que acho que tenho muito mais tempo para escrever sobre o que quiser, mas meus dedos estão muitos cansados. Sem contar que ele já percebeu que estou escrevendo freneticamente e não pára de fazer caretas para mim. Então, acho que vou me juntar a ele lá na fila, só por educação, já que aceitei que ele pagasse nosso lanchinho.
Ai, meu Deus, o que vou fazer depois que o Ensino Médio acabar e todos forem para faculdades diferentes? Pode ser que nunca mais fale com o James... como vou sobreviver à isso?
Ok, Lily, não pense nisso agora.
09/FEVEREIRO – 14:11h – SÁBADO – CASA (GARAGEM)
Pois é. Estou aqui. Na garagem.
O James me acompanhou até aqui. Não sei o que esse cara tem que é tão legal comigo. Claro que ele não gosta de mim daquele jeito além da amizade, porque acho que não tem tensão sexual entre nós. Quero dizer, claramente não existe tensão sexual entre nós, porque se tivesse eu já teria sabido. E acho que ele já teria dado em cima de mim e o James é fofo demais para fazer uma coisa dessas, de acordo com ele mesmo. Bom, tanto faz. O James é mesmo muito fofo e tudo, então acredito nele.
Ah, estou aqui na garagem, porque não quero ver a minha avó. Hahahaha.
10/FEVEREIRO – 11:06h – SÁBADO – CASA DE JAMES E ALEX
Eu não sabia por que, mas minhas mãos estavam suadas e meu coração muito acelerado. Coloquei um dos vestidos que Alex e minha avó me ajudaram a escolher antes de ontem, à tarde. Aquele todo fofo de jeans preto e tachinhas curto, mas não tão curto assim. Pelo menos não da altura que Taylor usa os dela. Alcancei minha meia preta de fio 80 e minhas botas estilo Tim Burton. Para finalizar, joguei por cima de meus ombros a jaqueta de couro negra. Olhei-me no espelho atrás da porta: uau, eu estava tão rock ‘n’ roll.
- Lily? Seus novos amigos estão lá embaixo – minha mãe falou, batendo na porta.
- Ah – eu disse e me virei para ela – D. Julia não está na sala, não é?
- Bem... Não posso amordaçá-la, não é? – ela revirou os olhos.
Eu gemi, prevendo o que estaria acontecendo lá embaixo.
- OK, já vou descer – avisei.
Apressada, verifiquei novamente meu look. Eu não parecia a minha avó.
Quando cheguei à escada, pude ouvir a voz de D. Julia:
- Oh, Deus sabe o quanto eu me esforço para tentar fazer Lily se parecer com você.
Opa. Isso não estava me cheirando à boa coisa. Antigamente, ela dizia essas coisas para a Taylor, mas e agora? Com quem ela estava me comparando?
Fervi assim que reconheci Alex sentada no sofá ao lado de James e Sirus. Ela parecia bastante desconfortável e sua expressão estava muito parecida com a de alguém que tentava se desvencilhar do Cavaleiro Sem Cabeça. Ela colocara um daqueles vestidinhos fofos que a Taylor Swift vive usando todos os dias e as sapatilhas dadas por D. Julia. Peter e Remus não deixavam transparecer qualquer tipo de sentimento. Apenas estavam lá.
- D. Julia, não vá influenciar qualquer um deles a participar dos seus rituais de masoquismo, acho que eles não são muito chegados a isso – eu atirei.
Sua cabeçona loura platinadíssima (sim, ela clareou o cabelo ainda mais. Ela está muito Gwen Stefani. Que terror. Pobre Gwen) se virou para mim. Sabe aquela expressão que eu descrevi mais cedo, quando estava prestes a sair com o James para procurar a menina da minha matéria para o jornal local? Então, minha avó repetiu exatamente a mesma expressão. Mas desta vez, ela estava mais encantada do que jamais esteve. Parecia horrorizada de tão encantada. Ainda assim, após o momentâneo choque, arreganhou os dentes porcelanados somente para mim, de modo totalmente discreto, e eu sorri como a Paris Hilton provavelmente sorriria se estivesse sendo perseguida pela avó do mal dela. Isso a pegou de surpresa e a fez recuar, desgostosa.
- Você tem novos amigos adoráveis – ela me disse, antes de ir para o jardim de inverno, onde vovô estava sentado na cadeira com o Flame no colo, observando a lua crescer.
Até ali ela não tinha feito um único comentário sobre meu novo grupo de amigos.
Por um segundo achei que aquela não era mais a D. Julia que conheço desde criança. A D. Julia que conheço provavelmente falaria “Seus novos amigos precisam de uma lição de moda urgentemente” ou “Seus novos amigos não são populares, então, por que você está andando com eles?”. Porém, ela somente informou o quanto eles são adoráveis. E, sinceramente, se ela é capaz de proferir tais palavras, quer dizer que não tenho uma avó tão amarga do jeito que imaginava. Que estranho.
Todos os olhos da sala estavam voltados para mim. Senti-me um tanto desconfiada e sem graça.
- Você quer parecer com a Lara Croft? – Sirius me perguntou bastante interessado na parte onde o vestido acabava.
- Ei, por que você não nos avisou que era festa à fantasia? – Peter se indignou.
- Não é uma festa à fantasia, seu babaca, mas a Lily acha que é – Sirius respondeu, revirando os olhos.
- Ah, cala a boca, Sirius, você não sabe nada sobre garotas. E muito menos sobre moda – Alex atacou e pelo seu tom de voz aprovara meu look.
- Lily, por que você acha que tem que ir vestida de personagem de game? – Peter tornou a se pronunciar.
- Ela gosta da Angelina Jolie, qual é o problema? – James falou e piscou para mim.
- Tá, eu também gosto, mas não é por isso que eu...
- Peter, cara, fecha a matraca! Ela só serve para comer, no seu caso. – Sirius se virou para ele e estourou. James riu.
- Isso, me chuta mesmo, seu palerma – reclamou Peter.
- Mas ele não está chutando você, Pete – Remus franziu a testa e olhou para as pernas de Sirius.
- Não literalmente, mas verbalmente, sim – explicou ele. Sirius soltou um palavrão.
- Peter, minha mãe acabou de fazer cookies, vá pegar um. Está dentro do forno – eu disse, com a minha melhor voz de princesa.
Peter sorriu todo feliz. Quando passava por Sirius recebeu um chute por este e disse que não dividiria os biscoitos com ele. Não que Sirius realmente ligue para comida. Só se a comida estiver nas mãos de uma garota loirinha de saia rodada rosa.
- Cara, você está ótima. Se você fosse mais parecida com a Angelina totalmente eu a beijaria – Sirius me informou.
- Vamos torcer para que você nunca se pareça com a Angelina, então – James brincou, sorrindo para mim, o que me fez rir.
- Ei – fez Sirius.
- Humm, a sua avó é bem engraçada - Alex me disse, quando um silêncio repentino caiu sobre nós.
- Tem certeza de que está falando da mesma pessoa que eu chamo de “avó”? – eu perguntei.
- Ela não parece ser tão Belatrix Lestrange, não – Alex disse.
- Porque você não precisa conviver com ela.
- Mas ontem, ela também não pareceu tão malvada. Acho que ela só precisa de um pouco mais de compreensão.
- O que isso aqui? Caímos no programa da Oprah? – reclamou Sirius.
- Tem razão. A minha avó não é assunto para se discutir quando estamos prestes a ir para a festa do ano – assenti, ignorando Alex.
- Peter, meu filho, estamos de saída e vamos largar você aí entalado no fogão à procura de biscoitos! – Sirius gritou, levantando-se do sofá. Peter apareceu com o pote de cookies nas mãos gorduchas e a boca cheia, gesticulando algo que ninguém decodificou.
Eu fui até os fundos dar boa noite para vovô e D. Julia.
- Tem certeza de que sua mãe a deixa sair de casa com essa roupa? – meu avô perguntou, fazendo cara de incerteza.
- Robert, não ouse a interpelar a minha maior conquista com essa menina até agora! – minha avó berrou, com os olhos saltados.
- Isso, D. Julia, grita um pouco mais, acho que o pessoal da festa não conseguiu ouvir o quanto você me considera uma mendiga – falei, colocando as mãos na cintura.
- Eu deveria tirar fotos deste momento – comentou ela.
- Não, nem ouse – decretei e saí rapidinho dali para me juntar com o pessoal no hall.
- Então? Vamos? – Remus me perguntou assim que me viu.
- Claro – sorri.
Minha mãe estava regando as roseiras do jardim da frente e acenou para nós quando entramos no carro de Sirius.
- Então, Sirius, qual banco você assaltou para conseguir esse carro? – James lhe perguntou.
- Fica quieto. Já disse que meu irmão está em Cambridge e só volta amanhã à tarde – ele falou, colocando o pé no acelerador.
- Em outras palavras... Você roubou realmente o carro? – eu quis saber
- E daí? Você não irá à festa por causa disso? Pelo menos não o roubei da polícia, não é? – Sirius riu.
- Eu não estou nem aí se você fabricou o carro ou se o roubou, desde que não nos ferre no final e desde que você não esteja fingindo que vamos à festa, mas na verdade está nos levando para Liverpool para transar com uma menina que você conheceu na internet, como naquele filme – falei.
- Fique tranqüila, não pretendo transar com nenhuma menina de Liverpool – ele me sorriu pelo retrovisor.
- Tudo bem para mim, então – fiz comando de soldado.
Durante todo o trajeto, ouvi Peter brigar com James pela música que ele escolhera e com Sirius por chamá-lo de cachorro de sarjeta. A casa de Alicinha não é muito longe do meu bairro, de modo que chegamos bastante rápido.
- Lembrem-se: não se aproximem muito da piscina porque o Max adora jogar todo mundo lá dentro para “dar um mergulho” – Sirius nos disse, assim que bateu a porta do carro e olhamos para a gigantesca mansão de Alice.
- É, e verão passado ele praticamente afogou a Joanne Battle e está sendo processado até hoje pelos pais dela – Alex complementou.
- Mesmo sendo processado ele continua a tentar afogar as pessoas? – perguntei horrorizada.
- Bem-vinda ao mundo real, Lily – Remus me sorriu.
- Ele é um psicossocial – respondeu Peter.
- Então por que Alice o convidou? – olhei para Peter.
- Porque ele é um psicossocial – ele deu de ombros.
- E é legal convidar psicossociais para a festa?
- Claro. Sempre dá o que comentar pelos próximos meses – Falou James com um tom um tanto impaciente.
- Vamos entrar ou preferem continuar a discutir o que o Max tem de tão legal? – Sirius reclamou.
- Vamos entrar – falei decidida.
Mika nos deu as boa-vindas com o seu glam rock. Olhei ao redor e percebi que praticamente toda a escola estava ali. Quero dizer, todos da escola que são super ou megapopulares. Inclusive a Taylor, claro. Ela estava encostada em um pilar com a sua taça de champagne balançando molemente na mão direita enquanto era beijada por qualquer cara que tivesse cruzado o seu caminho. Desviei o olhar. Aquilo era nojento. E eu temia que pudesse ser a próxima a entrar em seu caminho, o que resultaria em todos os meus ossos quebrados ou outro nocaute público. Sirius foi procurar Alicinha e Peter logo se atracou nos salgadinhos caros encomendados.
- Então, o que se faz nessas festas? – James me perguntou, praticamente gritando por conta da música alta.
- Tudo o que você tiver vontade – dei de ombros.
De repente vi de relance o corpo enorme de Jason passar por entre os arbustos que cercavam a piscina colorida. Esqueci-me de que Jason apareceria também, afinal, ele como sendo o capitão do time de basquete é chamado para todas as festas. Em algumas eu até o acompanhava, em outras acompanhava a Taylor, de modo que é de se imaginar que eu tenha alguma familiaridade com esses tipos de festas dos populares. E nem é mentira, mas acontece que sempre estou na cola de alguém, nunca alguém está na minha cola.
- Humm, gente, posso largá-los um pouquinho? Acho que vi o meu namorado – eu disse um tanto distraída, tentando adivinhar para onde ele fora. Eles se entreolharam, perdidos.
- Ah, claro, vai lá, qualquer coisa nos encontramos no balcão de bebidas – Alex me disse.
Eu fiz sinal de positivo com a mão esquerda e driblei algumas pessoas para chegar até os arbustos da piscina. Jason não estava muito longe dali: estava conversando com o Edwin, o cortador do time de vôlei masculino. Eu me olhei, suspirei e fui em direção a ele.
- Jason? – chamei.
Ele me procurou e assim que seus olhos caíram em mim, suas sobrancelhas se curvaram para cima.
- Ei, Raposinha, o que você faz aqui? – ele me perguntou, lançando uma brecha para Edwin se mandar dali.
- Humm, sabe o Sirius Black?
- Claro que sei, ele é o maior encrenqueiro da escola – ele riu de modo como a Taylor ri quando assinala que está desprezando alguém.
- Então... Alice o convidou, e ele me convidou – falei.
- Espera, você... Está andando com esse cara? – ele riu mais abertamente como se eu tivesse acabado de lhe contar que a Amy Winehouse estava sendo presa.
- Humm... Acho que sim. Faz pouco tempo que...
- Mas por quê, Lily? – ele quis saber, mas agora ele parara de rir e parecia bastante preocupado.
- Hummm... Qual é o problema de eu estar andando com ele? – eu franzi a testa, de modo nada amigável.
- Oras, Lily, quer mesmo que eu responda?
- Se estou perguntando é obvio que quero uma resposta, não é?
- Bem, tudo bem, o problema é seu – ele olhou em volta – Esse cara anda com uma gente meio... não como nós, sabe?
- Não, não sei. Aliás, não sou mais como vocês, lembra? – eu apertei os olhos.
- Ah, qual é. A Taylor só fez aquilo porque acha que manda na escola. Acho que todo mundo tem consciência o suficiente para decidir o que é certo e errado para si mesmo, não é?
- Parece que não. Mas você não me respondeu: que gente é essa que o Sirius anda “que não é como ‘nós’”?
- Aquela menina das meias três-quartos e aquele cara mudo, o seu parceiro de violão – explicou ele.
- O quê? A Alex e o James? – eu não pude esconder a minha surpresa. O Jason estava falando igualzinho à Taylor.
- Você se tornou amiga dessa gente? – Jason pareceu horrorizado.
- Sim, eu estou andando com todos eles. E “essa gente” tem nome – falei.
- O quê? – ele ecoou.
- Jason, qual é o seu problema? – eu perguntei.
- Qual é, eu não quero que você ande com esse tipo de gente, Raposinha! – ele me disse entre dentes.
- Você é o papa para saber o que é melhor para mim? – eu revidei.
- Claro que não, mas sou seu namorado, já é motivo suficiente.
- Opa. Namorado não é sinônimo de proprietário. Não sou sua cachorrinha, Jason.
- Mas você devia me ouvir, Lily.
- Ah é? E porque eu deveria ouvir esse seu conselho ridículo?
- Já disse: sou seu namorado.
- Mas isso não lhe dá o direito de mandar na minha vida, afinal você tem a sua própria vida e eu não fico lhe dizendo o que pode ou não fazer! – eu estava com muita vontade de gritar e de dizer a ele que deveria me soltar.
- Eu me importo com você, ok?
- Errado: você se importa com a minha imagem e não quer estar ao lado de uma menina que anda com pessoas impopulares.
- Do que você está falando, Lily? Não é nada disso!
- Jason, eu não sou ingênua. Tudo bem que muitas vezes eu me pergunto o que você viu em mim, mas...
- Só você não vê o quão maravilhosa é...
-... Sei que no momento em que Taylor passou a me odiar, você passou a me tratar como se eu fosse a menina das meias três-quartos. E sabe de uma coisa? Se você se preocupasse realmente comigo do jeito que você está falando, não teria virado as costas para mim, mas sim agido do modo como Alex e James fizeram – eu disse.
- Eu não virei as costas para você... Só achei que quisesse um tempo para você...
- Ah é, e quanto tempo você achava que eu queria para mim? A eternidade? – eu reagi.
- Não estou entendendo, Raposinha – ele balançou os cabelos louros caramelados.
- Sou eu que não está entendendo, Jason.
- Olha, desculpa se a fiz pensar que a estava rejeitando... Não era isso o que eu queria.
- Ótimo... Então por que está agindo como a Taylor por causa dos meus novos amigos?
- Não estou agind...
- Não negue! Eu convivi tempo demais com ela para detectar todos os pensamentos dela!
- Certo e o que isso tem a ver com...
- Jason, não sei se quero continuar...
- Olha, você está precisando relaxar um pouco. Quer um copo de suco? – ele fez menção de sair do lugar.
- Jason... Não, não quero copo de suco algum. Somente quero que você me escute, ok? – eu falei.
- Tudo bem, diga – seus olhos penetraram nos meus e isso não fez com que eu o quisesse beijar ou com que meu coração se derretesse.
- Eu estou muito confusa. Não sei se tenho mais algum tipo de... sentimento... por você – admiti baixo, mas o suficiente para ele me ouvir.
- O quê? – seus olhos escuros saíram do foco e ele pareceu paralisado.
- Eu... Eu sinto muito – ah, droga, meus olhos estavam doendo.
Ah, pelo boi. O que eu estava fazendo? Quero dizer, sério que eu estava tentando dar o fora no meu namorado? No garoto mais cobiçado e sonhado da escola? O que eu tinha na cabeça? Um prato de macarrão?
- Por quê? Só porque eu não acho legal você andar com essa gente estranha? – ele perguntou, apertando um pouco mais meu antebraço.
- Não, Jason... Não somente por isso.
- Então...
- É só que... Eu estou muito confusa...
- Tem mais alguém, não é? Um outro alguém? – ele não parecia o mesmo Jason por quem eu me apaixonara agora.
Juro que arregalei os olhos como bolhões prontos para serem explodidos. Não acreditava que ele estava insinuando algo tão ridículo! Eu não sou infiel, tá legal?
- Jason! Não ache que...
- Quem é, Lily? – ele praticamente berrou e agora meu braço estava realmente doendo.
- Não é ninguém, eu juro. Não tem outro cara, Jason. O problema é com você.
Certo, não foi a minha melhor frase. Nunca é bom dizer ao seu namorado que está querendo terminar com ele porque o problema está nele e não em você, como todo mundo diz. E Jason, claro, não aceitaria isso numa boa. Bem, cara algum aceita, não é mesmo? Só se for um palerma.
- Comigo? Pensei que, ao menos, você fosse jogar a culpa em si mesma se fosse me dar um pé na bunda.
- Isso não é um pé na bunda, Jason. Eu só...
Isso, Lily, você é uma ótima mentirosa. Tenho orgulho de você. PELAMOR!
- Está confusa, entendi. Mas, então, isso é o quê? Você está pedindo um tempo?
- Pode ser.
Agora eu estava falando a verdade. Ou talvez fosse só a confusão mesmo.
- Sim ou não, Lily? – ele estava decidido a interpretar direito minha intenção.
- Eu não sei – falei cansada.
- Cara, o que essa gente fez com você?
- Eles não fizeram nada comigo!
- Claro que fizeram! Fizeram uma lavagem cerebral em você!
Ok, agora chega! O Jason é super legal e tudo mais, mas será mesmo que ele não pode ser menos idiota?
- CALA A BOCA, JASON! – eu berrei e me senti desprezível. Senti-me como se fosse minha avó. Alguém inteiramente repugnante e afetada.
Jason não teve reação. Ele somente permaneceu no mesmo lugar, com seus dedos machucando minha pele e seus olhos em mim. Então, muito devagar, ele se desvencilhou de mim e deu um passo para trás como se estivesse em frente de uma bomba ou de Hitler.
- Lily, acho que é melhor mesmo você pensar um pouco e escolher o certo desta vez – ele me disse.
- Eu já escolhi o certo.
Ele me sorriu decepcionado.
- Estou vendo, e acho que não estou incluso nesse seu novo momento de vida, não é? – seus olhos estavam baixos agora.
- Não é isso... Eu ainda o amo, mas... De uma forma diferente – tentei explicar. Na verdade, era uma explicação para mim também. Porque que coisa é essa de ainda o amar, mas de uma forma diferente? Da onde veio isso?
- Ah, sei que forma é essa. É a forma vazia, porque não há mais amor, não é? – ele quis saber.
Olha, até que ele é bem inteligentinho quando quer... O quê? Cala a boca, Lily!
- E... Eu não sei. Acho que ainda existe amor, mas um amor mais parecido com uma amizade, entende? – eu tentei falar da melhor forma possível.
- Ah, não, Lily. Diga-me que não está fazendo isso comigo – sua voz cadenciou.
- Mas... dizem que uma amizade é muito mais importante e duradoura do que um amor... – eu comentei em vão.
Acho que minha mente estava chapada, mesmo sem drogas alguma.
- E eu com isso? Não quero sua amizade, quero seu amor!
- Ah, Jason... Me desculpe. Sinceramente.
- Não, não, não. Não consigo – ele balançou a cabeça, como se tivesse acabado de perder o campeonato estadual.
- Jason... É só um tempo – não acredito que sou tão fraca!
Ele me olhou minuciosamente.
- Tem certeza? – seus olhos nadavam em incerteza.
- Tenho – eu menti.
Mentira Número...? 20? 80? Sabe que eu nem sei?
Jason sorriu pequeno, mas ainda desconfortável. No momento seguinte, ele estava me abraçando de um modo que nunca me abraçara. Parecia tão precisado de mim, tão confuso quanto eu. Quando me largou, beijou-me e eu não pude devolver a intensidade dele.
- Olha, mais tarde nos falamos, ok? Preciso... – não queria falar a verdade, porque sabia que iríamos recomeçar – Preciso resolver uns problemas, certo?
- Tudo bem, eu amo você, Raposinha – ele me deu um último selinho.
Eu sorri amarelo. Gostaria de lhe dizer a mesma coisa, mas não sentia mais motivos suficientes para isso. Eu o deixei e fui procurar James, Alex e Remus no balcão de bebidas. Remus estava se balançando com Alex, enquanto James cobria os olhos e fingia uma cena cômica.
- Ei – eu disse ao me juntar a eles. De repente, eu estava tão sem ânimo.
Alex se soltou das mãos de Remus e me olhou.
- Está tudo bem? – ela me indagou e em seguida trocou um olhar com os meninos.
- Claro, por quê? – eu toquei minhas bochechas, insegura. Pedi um copo de coquetel de amora.
- Se você vai beber é porque nada está bem – assinalou Remus.
- Eu pensei que já tivéssemos idade o suficiente para bebermos o que quiséssemos – revidei.
- Opa, Muse. Por que vocês não vão dançar mais para lá? – James perguntou a Alex e a Remus, com um tom sugestivo.
- Woo, boa idéia – Alex puxou Remus pela camiseta estampada, que a olhou confuso, mas eles se afastaram de nós.
- Por que você não tenta de novo responder a pergunta da Al comigo? – James se sentou no sofazinho vazio ao lado do balcão das bebidas.
- Isso vai me ajudar? – sentei-me ao seu lado, cruzando as pernas. Ai, eu me sentia um tomate esmagado no asfalto.
- Provavelmente – ele sorriu.
Olhei para Alex e Remus dançando tão felizes juntos. Eles conseguem se misturar muito bem quando querem. Alex é ótima para fazer qualquer um se enturmar ou se sentir à vontade. Sorri mentalmente.
- Acho que não estou muito no clima de abrir meu coração para alguém – eu disse.
- Experimente – lançou ele.
Olhei-o centrada. O que ele queria? O James é tão estranho, cara. Fofo, mas muito, muito estranho!
- Sei lá. É um pouco complicado, sabe? – eu falei, tentando fazer com que ele deixasse o assunto para lá.
- Ótimo, eu sempre adorei assuntos complicados – respondeu-me ele, com uma cara esquisita. Eu rolei meus olhos, odiando o momento. Não sou muito de dividir a minha vida com as pessoas, sabe. Sou muito... como é que a Taylor falava? Ah, sim... sou muito gatorro. Sou fofa e divertida como um cachorro, mas esquiva e fechada como um gato.
- Acho que não estou nos meus melhores dias. Estou me sentindo um pouco confusa.
- Ah, mas isso só é ruim se você fizer tudo errado.
- Eu quase terminei com o meu namorado. Você acha que isso é uma coisa certa a se fazer?
- Essa pergunta ter que ser feita a você mesma e não a mim.
- Mas se eu estou confusa, como sei o que é o certo a se fazer?
- Você tem que buscar a resposta no seu próprio coração.
- Meu coração também não sabe que próximo passo seguir.
Silêncio, mas não me importei.
- Pensei que você amasse o Jason – ele comentou.
- Eu o amo, mas não do mesmo jeito de antes. Acho que não há mais aquele sentimento intenso. Agora só é uma faísca, muito, muito pequenina.
- E você mentiu para ele, não é?
- Eu disse que precisava de um tempo.
- E é a verdade?
- Não, claro que não – sussurrei. Eu estava me sentindo tão culpada por estar enganando o Jason – Mas eu não posso terminar com ele.
- Mas a mentira não é o melhor caminho. Uma hora ele vai acabar descobrindo.
- Na verdade, tá tudo bem. Eu deveria ir dançar e me esquecer de tudo – eu falei, cortando o assunto.
- Mentir para si mesma não é muito digno. Se você quiser que eu diga que está tudo bem, eu digo, mas não se force a fingir uma situação só para escapar do que sente.
- James, pare. Eu mal estou entendendo o que você está falando – eu o olhei, pesarosa.
- O que estou querendo dizer é que você deve enfrentar o que está evitando. Se precisar de ajuda, não tenha medo ou vergonha de pedir, afinal, um dos motivos do porque estamos ao seu lado é a sua atual vulnerabilidade.
- Opa, da onde você tirou isso? Quem disse que estou vulnerável? – eu me irritei.
- Então por que você está confusa? – ele arqueou as sobrancelhas escuras.
- Eu é que vou saber? – bati minhas mãos no colo.
- Acho que deveria.
- Fala sério, você bebeu alguma coisa?
- Claro, todas as bebidas da casa – ele piscou.
- Vocês nunca conseguem ficar sérios por uma hora? – eu perguntei.
- Não sei, nunca tentamos – ele riu. Eu tive de segui-lo no riso; é tão contagioso somente vê-lo sorrindo.
- Vocês são tão felizes – comentei suspirando.
- Tentamos. A maioria das situações que vemos é tudo ilusão. Tudo fachada.
- É, parece tão fácil fingir ser feliz, não é?
- Na verdade é bastante fácil e conveniente.
- Todos podem fingir um sorriso, não é?
- Claro, mas não pense que fingimos. A palavra tentar não é sinônimo de fingir.
- Vocês são tão sortudos – eu cheguei mais perto dele. Ele se limitou a sorrir e colocar uma de suas mãos em meus ombros.
Não sei por quanto tempo fiquei recostada nele somente admirando a festa rolar. Nesse meio tempo, vi Alex e Remus colados por oito músicas, Taylor tomar sete taças de vinho e Sirius beijar Alicinha algumas vezes. Tudo parece muito irrelevante quando estou perto de James. Tudo o que importa é aquele calorzinho bom que emana de nossos corpos próximos demais, e eu me pergunto por que isso não me abala. Nossa relação parece tão natural, como se já o conhecesse há muito tempo.
- Ei, vou ao banheiro – eu disse, levantando-me e deixando o quinto copo de coca-cola nas mãos de James, que fez um aceno de compreensão.
Eu deveria ter parado de beber há muito tempo, mas parecia que a bebida era a única coisa que não estava me fazendo querer deitar no colo de James e adormecer ali. Já tinha perdido Alex, Remus, Sirius e Peter. Não sei por que James não quis agir exatamente como os amigos, mas esse gesto me fez sentir bem menos solitária e um pouco mais aliviada. Mas, provavelmente, ele não me largou por causa do meu “estado vulnerável”, que não sei da onde saiu isso. Ainda assim, com ou sem vulnerabilidade, eu me sinto bem por somente ele fingir que se preocupa comigo quando tem coisa melhor para fazer.
Na fila do lavabo, ouvi umas meninas quase sem roupas, de pompons rosa nos cabelos loiros, cochicharem ao me virem. Senti-me mal por estar tão acima delas. Pelo menos não preciso pisar nos outros para ter amigos ou para conquistar um lugar na sociedade. Eu simplesmente sou eu, sem desculpas. Porém, fico pensando: “Se elas têm coragem de cochichar entre elas por que não têm para falarem tudo na minha cara?”. Afinal, o que posso fazer? Tentar bater nelas? Eu? Eu que não tenho esse instinto em mim? De jeito algum. Somente olharia para elas, coraria até as pontas dos meus dedos dos pés e ficaria quieta, engolindo a mágoa. Que tipo de perigo apresento para alguém? Nenhum.
Saí do pequeno banheiro precário com a maquiagem retocada e com mais um quilo de exaustão sobre meus ombros. Eu deveria procurar o Sirius. Já passava das 03:30h e provavelmente, se estivesse em casa, já estaria babando no travesseiro com meu i-pod nos ouvidos há muitas horas. Saí para os jardins à procura da nossa carona, entretanto tudo o que encontrava pela frente eram casaizinhos aos beijos ou meninas bêbedas vomitando na grama. Tudo era tão nojento que desejei voltar para o sofázinho junto a James e esquecer Sirius.
- Ei, cadê meu irmão? – Alex se apoiou em meus ombros para tirar a sapatilha rosa, assim que eu tentava sair de perto da piscina.
- Humm, deixei-o perto do balcão de bebidas. Cadê o Remus? Ele não estava com você? – respondi. Ela sorriu de modo pouco convincente, com um ar de quem estava tramando algo e disse:
- Juro que tentei fazê-lo fugir daqui de ônibus, mas ele acha que isso é muito coisa de gente mal-agradecida. Então ele desistiu de me convencer a ficar e foi buscar mais Pepsi para nós. Cara, nunca mais venho a festas como essas: meus pés estão como rolinhos de carne-moída crus. E você, como está? Nem sei como você ainda não está babando em algum canto.
- Já sou vacinada contra essas festas. Coca-Cola é ótima hiperestimulante ao cérebro – eu ri. Eu já tinha tomado tanta Coca-Cola que meu estômago já estava se transformando em um balde de refrigerante trazido exclusivamente da fábrica.
- Eita inteligência – ela sorriu – Não vou agüentar até às seis da manhã.
- Haha, tá brincando. A festa só vai acabar quando a última pessoa for embora, e o Sirius é do tipo que acha que festas terminam quando ele cair em algum lugar e se esquecer de quem é – eu e ela rimos. Sirius é tão... Sirius. Ha.
- Hahaha. Aposto como sim. Vou indo, as Pepsis estão vindo – avisou-me ela e desapareceu no meio dos outros convidados.
Estava voltando para o sofá onde James me esperava, quando uma loura de cabelos lisos e olhos claros entrou em minha frente e me sorriu irônica.
A Loira do Inferno.
- Então, divertindo-se, Lily? – ela me perguntou, cruzando os braços desnudos.
- Bem, tenho que admitir que estava muito mais antes de você aparecer – devolvi. Uia, essa doeu até em mim.
- Posso fazer você se sentir muito mais desanimada, se quer saber – sua voz estava tão segura, como se tivesse a certeza de que venceria a tal batalha que tinha em mente.
- Ah, é? – zombei.
- Passei por seus amiguinhos esquisitos. Todos eles parecem muito felizes. Imagine se acidentalmente eu abrir a boca e lhes dizer que um tempo atrás que você estava metida em uma aposta muito imatura comigo. – ela sorriu com ainda mais confiança.
Opa. Aposta? A nossa aposta?
Respira, Lily. Respira. Não pule no pescoço dessa vadia agora! Não faça nada!
- Do que você está falando? – eu estava sentindo a Coca-Cola tentando voltar a toda velocidade.
- O que será que eles pensarão quando souberem de mais uma traição sua? – Taylor me perguntou – Acho que a felicidade deles se acabará de vez, não é?
Minhas mãos suadas tentavam se apoiar na minha cintura, em vão.
- Taylor, não acredito que você vai fazer isso! Você é tão estúpida! – eu entrei em pânico e quis muito pular em cima dela se não estivesse me sentindo tão enjoada.
- Ah é? Mais estúpida do que você? Acho que não – seus olhos caíram em mim com muito desprezo.
- Cara. Não acredito. O que você quer, afinal? – meu estômago se embrulhou mais ainda e de repente eu estava muito tonta.
Ah, pelamor, também não vá desmaiar, né, sua fraca!
RESPIRA!
- Não posso querer mais do que posso lhe proporcionar, o que é muito, se quer saber a minha opinião, já que tenho a escola inteira, exceto aqueles seus amigos cafonas, nas palmas das minhas mãos – ela me disse com os olhos totalmente brilhantes. Tudo bem que possivelmente Taylor estava muito bêbada e que amanhã de nada lembrará sobre essa nossa conversa, mas, quando ela quer tem memória fotográfica até sob efeito de álcool ou drogas. E é melhor eu dar algum crédito a essa sua memória rara.
- Ah, é? Então vá correndo para Alex e James e conte tudo. O que está esperando? – eu consegui fazer com que minhas mãos se agarrassem à minha cintura e senti meu cérebro ferver.
- Hahaha, sério? Você acha que pode me desafiar? – ela soltou um riso escandaloso.
- Taylor, não estou desafiando você, só acho que precisa voltar para casa e pensar nas coisas que você faz – eu falei, com a voz trêmula.
- Ah, cale a boca, não venha de novo com essa coisa de ser boazinha com esses seus conselhos conservadores – Taylor fez um movimento com as mãos.
Tudo bem, eu sou conservadora e feminista, mas pelo menos não preciso fazer terapia por ser uma patricinha metida e drogada. Pronto, falei.
- Tudo bem, é você quem vai se ferrar no final mesmo – dei de ombros, agora tendo em mente acabar com aquela conversa boba e ir procurar o Sirius para irmos embora antes que ela realmente tentasse agir.
- Você se acha tão legal com essa sua mania de... – Taylor começou, mas eu coloquei as palmas das mãos para fora, pedindo um tempo.
Ai, como eu queria correr dali. Ou bater na Taylor. Ah, bater era uma boa opção!
- Ok, continue a confabular consigo mesma, tenho mais o que fazer. Beijomeliga. Até mais – e saí de sua frente, mas ela não me seguiu. Acho que o álcool estava fazendo com que ela processasse tudo devagar demais.
Praticamente caí em cima de James quando cheguei ao sofá onde sua cabeça estava pendida para o lado em um sinal claro de sonolência.
- Pensei que tinha fugido com o Príncipe Encantado em um cavalo azul – ele me disse assim que me sentei ao seu lado, afobada.
- Haha, é, o Príncipe não veio, mas me encontrei com a Bruxa Má – confirmei com a cabeça.
- Taylor? – perguntou ele, rindo. Se eu fosse ele não riria não. Não mesmo.
- Sim. Se a vir, fuja dela, por favor – ah, mas que conselho mais lindo, Lily. Agora é que você pontuou comigo! Que porcaria foi essa, garota? Está se incriminando de graça, sua lesada!
- Humm, claro. Mas o que houve? Por que isso? – ele franziu a testa, demonstrando alguma seriedade.
- Talvez uma hora acabe descobrindo e vai pular para o time da Taylor – falei. Ah, eu estava tão quebrada!
- Por que eu pularia para o time dela? E que time é esse? Cara, você é a primeira pessoa que conheço que consegue se embebedar com Coca-Cola. Quer ir para casa?
- O time Dos–Que-Querem-Matar-Lily-Evans. E, não, não estou bêbada, mas seria ótimo ir dormir – rolei os olhos.
- É, também estou com sono. E nunca pularia para o time da Taylor, independente do que ela me fizer ou me disser.
Nossa, James estava tão seguro, que quase cheguei a acreditar nele. Mas claro que não acreditei. Quero dizer, ele estava falando aquilo naquela hora, mas se Taylor lhe falasse o que tinha para me acabar de vez, com certeza, voltaria atrás nessas mesmas palavras.
- Talvez isso não tenha muito a ver com ela – não olhei para ele, sentia-me a pior das criaturas.
Ai, acho que estava prestes a ter um ataque de nervosismo.
- Sei. E tem a ver com...? – o James quis saber.
- Esqueça. Somente não dê ouvidos à Taylor – pedi aflita.
Eu mal conseguia respirar, de tão desesperada que estava, mas acho que James não pressentia meu estado emocional modificado.
- Certo, não darei, então – ele deu de ombros, confuso. Então, seus olhos se desviaram dos meus, erguendo-se para uma menina que acabara de rir ao meu lado. Era a Michelle, a novata mais queridinha de todas, toda loirinha, de cabelos lisos e com o seu mini-vestidinho rosa-bebê tomara-que-caia. Ela segurava seu drinque rosa pink alcoólico com tremenda destreza.
- Você não quer dançar? – ela perguntou com sua vozinha de garota de Malibu. Suas pestanas encharcadas de tanto rímel piscavam com tanta rapidez que era impossível acompanhá-la.
- Humm, eu não sou o Danny McCollin – James falou, e eu quis batê-lo. Uau, que resposta mais cruel. Michelle é toda afetada, mas é uma boa garota, no fundo. Ela é igual a mim ou a Alex. Gosta do Johnny Depp e ama as camisetas do Led Zeppelin. Odeia a Paris Hilton e já chutou a Taylor uma vez, sem querer, no meio do refeitório inteiro.
- Eu sei, Potter – ela sorriu ainda com maior felicidade. James olhou para mim, surpreso. Nem eu esperava por isso – Ainda quer dançar? – Michelle agora tentava agarrar a gola do casaco de flanela xadrez dele. E não sei por que, mas quis afastar aquela mão manicurada de cima de James. Quis derrubar a taça rosa em sua roupa impecável.
- Vá lá, James, ela está convidando você – incentivei, mas minha cabeça girava de modo oposto e contraditório. Ele não podia me largar sozinha ali! Todos haviam sumido; sem James eu não tinha suporte algum!
- Huumm, não, obrigado – ele se desculpou, sorrindo tímido.
- É uma festa e ela nem é a sua namorada – a loura falou e olhou para mim com um ar de preocupação: - Você não é a namorada dele, não é?
- Não, claro que não – eu ri. Ela riu.
- Espera. Você não é gay, é? – Michelle tornou. James olhou para ela com cara de quem não ouvira direito.
- Não, sou só inglês – ele disse.
- Eu gosto de ingleses – comentou a loura.
- Todos nós somos ingleses – James fez cara de quem a estava achando maluca.
- Eu não sou. Eu sou francesa – explicou ela, simplesmente.
- Eu já estive na França – ele comentou.
- Não vou para lá há muitos anos – ela olhou ao redor, aérea – Mas e aí? Vamos dançar? – seus olhos caramelados pousaram novamente em James.
- Desculpe, mas... hummm... vou dançar com ela – James me indicou com a cabeça. Virei para olhá-lo com desconfiança e surpresa. O QUÊ?
- Ah. Você não gosta de loiras – concluiu Michelle, decepcionada.
- Não, não é isso. Você é bastante... fofa, mas prometi antes a ela. Quem sabe, mais tarde se nos esbarrarmos por aí, dançamos.
- Vou cobrar, hein. Eu não costumo me esquecer de caras como você – ela piscou de modo atrevido, e eu quis vomitar todas as bebidas que tomara durante a noite.
- Ah, hahahaha. Sinistro – James sorriu sem graça.
Esvoaçando o vestidinho e andando toda ondulante, Michelle foi procurar outra vítima.
- Woo... espera aí, ô pessoa-que-dispensa-meninas-louras-quase-semi-nuas, você rejeitou a Michelle para dançar comigo? – assim que ele se levantou e estendeu uma das mãos e me levantei também, mas com um objetivo diferente. Ele queria dançar; eu queria tirar satisfação.
- Fazer o quê. Quando se é babá de uma Miss Encrenca, até mesmo dançar com ela está na sua lista de afazeres – ele brincou com voz de falsa chateação. Eu revirei os olhos.
- Geralmente eu não procuro a encrenca, é ela que vem ao meu encontro – expliquei.
Ele agora pegou minha mão e me puxou para a pista. Não sei por que não o detive. Talvez porque suas mãos estavam quentes e eu estava me sentindo um pouco fria. Ou talvez porque James é tão espontâneo e divertido que não consigo me impedir de acompanhá-lo.
- Ah, sim. Você tem um para-raio que atrai esses tipos de coisas. Isso eu nem iria negar – ele me sorriu, ainda me conduzindo.
Então, ele me soltou, e fiquei temporariamente confusa. Assim que James começou a se mexer numa espécie de dança da chuva, tentei acompanhá-lo, mas tudo o que eu fazia era rir. Aquilo era tão engraçado. Quero dizer, o Jason nunquinha se prestaria para dançar comigo feito uma garça com vontade de ir ao banheiro. Jason odeia essa história de dança: acha a maior idiotice (mas só porque ele tem que fazer pose para todos das festas e jogadores de basquetes não dançam). E, bem, eu não sou do tipo de garota que desce rebolando até o chão. Primeiro, porque não sei descer rebolando até o chão. Segundo, porque morreria de vergonha, e terceiro, porque não sou uma superfunkeira do morro. Ainda assim, ignorei qualquer coisa que pudesse me derrubar e somente dancei. Tudo bem, era uma dança mais estilo borboleta prematura dançante, mas acho que James não se incomodou com a minha retardadice habitual.
Assim que a Rihanna terminou de ecoar o bairro com umas das suas músicas pops e pra cima, Lifehouse entrou em nossos ossos com You And Me, o que, devo dizer, acabou com a minha energia recém carregada. Acho que o momento não pedia uma musiquinha lenta, mas, mesmo assim, James fez uma cara de “fazer o quê, não é?” e colocou as mãos quentes em minha cintura. Ainda que aquilo fosse muito estranho, não era a pior experiência de todas. E apesar de ele ser um cara (e caras não gostam de musiquinhas lentas), conseguia contornar a situação muito bem. Não ficou tipo “Odeio isso, vamos sentar?”. Fechei meus olhos e apoiei meu queixo em seu ombro. A sensação era muito mais agradável do que eu imaginava. E o cheiro também. Não era nada semelhante ao cheiro de Jason, que ou exala suor ou um daqueles perfumes fortíssimos amadeirados que sempre me enjoa. Abri meus olhos para olhar ao redor: encontrei Alex e Remus na mesma situação que nós. Eles pareciam bem... íntimos. Eu sorri e ri pequeno.
- O que foi? – James me perguntou no meu ouvido.
- Aaah, nada – respondi, mas franzi a testa e contestei: - A Alex e o Remus são sempre assim?
- Assim como? – agora seu tom se tornou curioso e preocupado.
- Humm, meio que mais do que melhores amigos. Veja – desgrudei meu rosto do dele e indiquei os dois com a cabeça.
James olhou com as sobrancelhas erguidas e desconfiadas, mas logo relaxou e olhou para mim, irônico.
- Você tem muita imaginação, Senhorita Encrenca. Tem certeza de que seu nome não é Alice e que foi visitar um coelho maluco algum dias desses? – ele me disse.
- Se isso daqui fosse o País das Maravilhas eu já teria acabado com a Taylor e teria me tornado a rainha da escola – observei.
Bem, pior que é verdade. Se eu fosse a Alice tudo seria diferente. E bota diferente nisso.
- Bem, ninguém disse que a Alice venceu todas as batalhas sozinhas e de primeira – o James comentou.
- Tá bom, deixa a Alice voltar para a terra dela e fale sério, agora. Você não acha que...
- A Alex tem maturidade suficiente para decidir o que quer e quem quer – assinalou ele.
- Opa, não estou dizendo que o Remus não a mereça – defendi-me.
- Acho que você deveria ir embora com a Alice, hein? – brincou James – Olha, eles sempre foram assim, mas é melhor não interferirmos, entende? Em tudo existe uma contradição e uma ilusão. Nada o que parece ser realmente é. É como julgar erroneamente uma pessoa só porque ela usa maquiagem pesada.
- Certo, sem lição de moral agora, por favor – rolei os olhos, fresca.
- Só estou tentando explicar.
- Você não se incomoda? Quero dizer, se eu tivesse uma irmã odiaria que um dos meus amigos desse em cima dela – falei.
- A Alex é independente, e eu sou somente o irmão dela. E o Remus é... o Remus. Se eu tivesse que escolher uma pessoa para confiar a minha vida, totalmente seria o Remus. O Sirius... bom, provavelmente ele se esqueceria de mim no segundo que visse qualquer menina vestindo saias de cheerleaders – ele me disse.
- Hahahaha. É verdade – concordei e voltei a apoiar o meu queixo nele. James é tão decidido que não vale à pena tentar batalhar com ele. Ficar tão próxima dele era tão bom, tão aconchegante, tão... de um jeito que faz muito tempo que não me sinto. Talvez segura e feliz. E aquele perfume dele estava me embriagando e me deixando maluca.
- Qual perfume você usa? – perguntei, abruptamente.
- Nenhum. Não uso perfumes – respondeu-me naturalmente.
- Sério? – duvidei e me surpreendi.
- Totalmente verdade – confirmou, rindo.
- Estranho. Então deve ser o cheiro das suas roupas – eu o encarei tentando pegar algum resquício de seu casaco de flanela.
- Alergia? – ele quis saber.
- Não. O cheiro é bom – sorri.
- Não vou tirar minhas roupas para você ficar com elas, não, hein – ele tirou as mãos de mim e as levantou com as palmas voltadas para fora.
- Hahahahaha. Não quero as suas roupas – ri.
- Ah, então você me quer sem as roupas mesmo? – ele mudou de expressão: agora estampava indignação, mas ainda a ironia de sempre.
- Cala a boca, James, e dança – falei rindo, batendo-lhe e tornando a abraçá-lo.
Não me lembro que música começou em seguida, mas continuamos daquele mesmo jeito. Quando abri meus olhos novamente para encarar as outras pessoas, a única que encontrei bem próxima a mim foi Jason, que me olhava atento e com uma cara muito esquisita.
- Devo-lhe lembrar que eu sou seu namorado? – ele me indagou, levantando as sobrancelhas.
- Opa – eu gemi e James me largou.
- O que foi? – ele olhou para mim como se tivesse a certeza de que pisara em meus pés ou algo assim.
- O que foi? – ecoou Jason, aproximando-se de nós ainda mais, encarando James com um olhar não muito comedido.
- Ei, oi – James falou para meu namorado.
- Lily, você pode me explicar o que está fazendo com esse cara? – a voz de James se tingiu de raiva.
- Humm, dançando? O que mais ela estaria fazendo? Plantando beterrabas? – Respondeu James. Eu quis me bater. Aquilo não daria certo. Jason odeia ironia.
- Não falei com você, ô grunge-rejeitado – Jason falou de um modo selvagem.
Vamos parando por aí! Qual é o problema com grunges? Eu adoro o estilo grunge e principalmente as bandas que fundaram esse movimento. E outra coisa: quem disse que o Jason pode xingar assim o James? Quem ele acha que é, o papa? Quero dizer, o papa não deve ter permissão para xingar as pessoas, considerando que é o ser máximo de pacificação no mundo, mas mesmo se o fosse, pensaria duas vezes em fazer tal coisa.
- Jason, não seja ridículo – ralhei, começando a corar.
- Acho que a única pessoa ridícula aqui é você, Lily – ele me disse com muita amargura.
Fiquei meio chocada, sabe. Digo, desde quando o Jason é tão grosso assim?
- O que é? Ela usa coleira por acaso? É isso? – James perguntou irônico, mas decididamente irritado.
- Shhh, James! – eu fiz, olhando-o de canto de olho.
- Fique longe da minha garota, seu otário – Jason ferocirou.
Agora James estampou aquela cara de desdém que eu adoro e riu com desprezo.
- Se Lily fosse realmente a sua garota você é que estaria dançando com ela e teria feito algo para consolá-la quando a Taylor a humilhou na frente da escola int... – disse ele, com um tom muito diferente do habitual.
Ahmeudeus.
- Tá bem, James, menos. Não precisa mencionar a Taylor. E não retruque, por favor. Você só vai piorar tud... – eu comecei, um pouco histérica.
- Cara, você não sabe com quem está falando – avisou Jason, mas antes que eu pudesse confirmar, ele me empurrou para o lado (porque eu estava no meio dos dois) e deu um soco em James. Foi a primeira coisa que eu vi. Então, parece que a festa toda percebeu os dois se engalfinhado no chão na sala de Alicinha e se juntou ao meu redor. Mal distinguia quem era quem, mas tentei fazer alguma coisa.
- Jason, pára com isso. Solte-o, por favor. Jason, por favor! Pare! – eu parecia o coelho maluco gritando.
Alicinha chegou ao meu lado e colocou as mãos na cabeça.
- Briga! Briga! Briga! Briga! – entoou ela. Olhei-a abismada. Como assim?
- Alice, faça alguma coisa! – chutei-a nas canelas; ela somente me olhou, sorriu e voltou a cantar com os outros convidados.
- ALICE! – berrei, agora derrubando seu champagne de suas mãos já fracas.
- O que você quer que eu faça? Que me jogue junto a eles? – ela me perguntou com a voz arrastada.
- Eu... – de repente vi um Sirius muito surpreso penetrar na rodinha que cercava James e Jason. Ele soltou um palavrão e com a ajuda de Peter, Remus e Marco desgrudaram os dois.
- Que porcaria é essa, Potter? – Sirius perguntou.
- Eu vou quebrar você, seu infeliz. Você vai se arrepender de ter nascido! – Jason gritava, tentando ainda alcançar James, mas Marco era ainda mais forte do que ele e não estava deixando brechas para escapadas.
- Esse idiota é que acha que pode ser o líder de tudo – James explicou, pressionando o nariz sangrento.
- James! – Alex correu a encalço dele, com as mãos na boca.
- Relaxa, não foi nada – ele disse – Acho melhor darmos o fora, Sirius.
- Amanhã você vai acordar cheio de pasta de dente no rosto e no cabelo, pode apostar – retribuiu Sirius, com uma voz pesada.
- Droga. Me desculpe, James – eu disse, trêmula, aparando-o.
- Quer um conselho? Compre uma jaula para o seu namorado – James me disse, não muito calmo.
- Eu vou pegar você, seu grunge retardado! – Jason ainda berrava, muito longe de onde já estávamos.
Olhei para Jason. Suspirei. Odeio o extinto atleta dele, sempre resulta em alguma briga e confusão.
- Ei, pode subir até o meu quarto para... se consertar – Alice riu, dirigindo a James.
- Não, obrigado, acho melh...
- Ah, é, vamos voltar para casa com você deste jeito. Mamãe nem vai fazer um interrogatório sobre isso – censurou Alex, empurrando-o em direção às escadas, que davam para os quartos.
- Vem, eu cuido disso – eu disse, porque achava que era o mínimo que deveria fazer.
- Lily! – Jason de repente ecoou, muito perto da sala de novo. – Você tem que fazer curativos em mim, não nele!
- Vá se catar, Jason – falei, e ele ficou com cara de criança magoada. Percebi que não me senti culpada.
Eu e James subimos as escadas e quando estávamos quase entrando em uma daquelas suítes glamurosas, ouvi Jason falar a alguém:
- Não olhe para mim desse jeito, foi ele que começou.
Eu quis voltar para lhe bater. Realmente bater.
- Você acha que é esse? – a voz de James bateu em meus ouvidos. Olhei-o. Estávamos dentro de um quarto gigante com closet e banheiro, todo mobiliado com armários brancos e suas paredes eram verde-folhas.
- O quê? Esse o quê?
- O quarto da Alice.
- Ah, tanto faz. Eu vejo o que posso fazer. Senta aí – apontei para a cama de casal de dossel rosa. Ele observou o espaço com indiferença e aceitou meu comando. Fui para o enorme banheiro à procura de alguma maleta de emergência. Ou qualquer outra coisa que pudesse nos ajudar. Podia ser uma arma também ou um daqueles aparelhinhos de choque. Jason nunca mais iria esquecer. Em uma das gavetas, encontrei Merthiolate e gazes. Aquilo devia bastar.
- Então? Achou alguma coisa? – ele me perguntou assim que me viu saindo do banheiro.
- Pode ser que sim.
- Não ficou tão ruim, não é? Pelo menos não está quebrado – James disse. Não consegui encontrar minha língua para responder.
Depois de estancar o sangue e limpá-lo, encarei-o, analisando meu trabalho. Não tinha resultado em um serviço porco. Acho que não dava para a Sra. Potter notar qualquer tipo de anormalidade em seu nariz. Só se ela tivesse olhos de águia, o que acho meio impossível, considerando que ela tem mais de 45 anos e pessoas com essa idade já começam a usar óculos para enxergar. Bom, pelo menos minha mãe os usa para ler.
- James...
- Ei, você acha que ainda tem Coca-Cola? – sua voz estava subitamente feliz, como se estivesse se esforçando muito para manter uma conversa.
- Não, nem comece com essa sua ironia – apertei os olhos.
- Estou falando sério. Eu quero Coca-Cola.
- Ah tá – rolei os olhos – Olha, acho que preciso pedir desc...
- Certo. Eu desculpo, vamos? – ele bateu palmas uma vez, indicando que eu deveria encerrar aquele drama.
- Você nunca fica magoado?
- Nunca é uma palavra forte demais. Acho que prefiro “raramente”. E por que eu ficaria magoado por uma coisa que o seu namorado fez? Tudo bem que ele não foi, assim, muito legal, mas só estava defendendo o que é dele, não é?
- O que era dele, você quis dizer – falei decidida.
Ele fez cara-de-sol.
- Não, não faça isso. Eu mal valho qualquer tipo de sentimento, muito menos um término de namoro.
- Você não entende. Não é só por sua causa. Eu não agüento mais. Às vezes me pergunto por que estou com ele, sabe. É tão... inexplicável, porque é só olhá-lo e deduzir que ele deveria estar com alguém como a Taylor, não com alguém como eu.
- Alguém como você? – sua voz estava um pouco chateada.
- É, alguém como eu. Alguém que mal sabe se vestir ou fazer uma pose para uma foto. E todo mundo sabe que essas coisas são importantes, ainda que as achemos fúteis.
- Sabe de uma coisa? Você precisa de terapia. Você se boicota, tentando fingir que essa é a realidade da qual faz parte, mas não é assim, Lily. Você é muito melhor do que pensa que é. Essa coisa de “não ser como todas as outras” é uma desculpa para não tentar ser melhor do que elas ou uma justificativa para o fato de ser submissa a elas.
- Que viagem toda é essa agora? – de repente sentia-me muito aborrecida com ele.
- Lily, pára de mascarar o que verdadeiramente sente.
- Acho que você bateu a cabeça, só pode – falei num muxoxo.
- Olha, eu sou seu amigo, não posso obrigá-la a nada, mas conselhos deveriam ser bem-vindos.
- Ah meu Deus, como você é emo – brinquei. Ele não sorriu nem muito menos riu.
- Eu sei que você não é ingênua – ele me disse, levantando-se da cama – Vamos embora?
Fiquei olhando para ele como se tivesse falando alemão. Pensei se ele será tão compreensível e prestativo quando Taylor lhe falar sobre a nossa aposta. Sei que nunca mais olhará para mim. Por que continuaria a andar com uma traidora? Ninguém me aceitará mais.
- Vamos, vamos sim – levantei-me também, e saímos do quarto.
Ao pé da escada Alex, Sirius, Remus e Peter nos esperavam.
- Cala a boca, Pete, você já comeu o suficiente para uma semana inteira – Sirius reclamava.
- Só mais um, só mais um – Peter tinha o olhar fixo em uma das mesas de salgadinhos, já praticamente inexistentes.
- Vamos, Sirius? – chamou James.
- Fazer o quê? – ele rolou os olhos negros, dramaticamente - E alguém quer, por favor, amordaçar o Peter? Cara, ele vai acabar pior do que o meu tio Phill em noite de Natal.
- Peter, lá em casa deve ter comida. Você pode assaltar a geladeira a hora que quiser. – James lhe disse.
- Odeio vocês – Peter balançou a cabeça louro-acinzentada.
- Acho melhor eu ir me despedir da Alicinha – os olhos de Sirius relampejaram.
- Não mesmo. Não vai se despedir nem da Alicinha nem da Madonna. Nós vamos embora – Alex protestou, irritada – Todos estamos parecendo zumbis aqui.
- Ah, fale por você. Por mim, a festa só acabaria quando...
-... Você fosse para a cama com Alicinha? Iiih, melhor então nem alimentar esperanças. Sabemos que isso nunca acontecerá – Peter complementou.
- Sabe aquele armarinho debaixo da escada da casa do James? Então, eu vou prender você lá pelo resto da noite se você continuar a ser esse bobalhão de sempre – respondeu Sirius.
- Tá, sem briga, pessoal. Só vamos ir para casa, por favor – James falou sem paciência.
- Você vai ficar me devendo para sempre uma festa com a Alicinha de lingerie preta dançando para mim – Sirius apontou para James.
- Eca. Fala sério. Agora eu vou ter pesadelos – Alex disse.
Todos dos jardins nos olharam quando passamos.
- Eaí, pessoal. Podem tirar fotos, eu deixo. Só não se esqueçam de postar dizendo que eu era o cara mais lindo da festa com esse meu cabelo perfeito. Meu cabelo é perfeito mesmo – Sirius acenou e jogou os cabelos rebeldes ao vento. Todos nós rimos. – É perfeito, não é? – Ele me perguntou. Eu concordei, rolando de rir.
- Sirius, desse jeito a Alicinha vai parar de chamá-lo para ser o “convidado de honra” das festas – aconselhou Alex, rindo igualmente.
- Mentira. Ela ama o meu cabelo brilhante, perfeito e sedoso – ele retrucou.
Quando estávamos entrando no carro roubado do irmão de Sirius, vi Taylor recostada em um dos pilares da fachada da casa e notei o gesto obsceno que me lançou. Eu somente sorri com meu estômago se revirando.
- Eu odeio sentar na frente, ao lado de Sirius – reclamou Peter.
- Eu também odeio essa sua cara de porco-rato, mas não posso fazer nada – ele deu de ombros.
- Haha – Peter fez, colocando o cinto, todo entediado.
*
- Já sei, vamos tocar a buzina! Sempre quis fazer isso! – eu ouvi Sirius dizer, ainda um pouco trôpega de sono e com os olhos fechados.
- É, e aproveitamos para colá-la nos seus cabelos – a voz de James ecoou repreensiva.
Acho que eu estava recostada em alguém. Provavelmente em James, considerando que sua voz vinha de muito perto.
- Lily, chegamos, Princesinha Odiada da Escola! – Sirius berrou.
- Sirius! – a julgar pela voz de James, Sirius merecia um tropeção.
Abri meus olhos.
- Eu preciso deixar o carro na garagem do meu irmão, sabe. Só para não sobrar para mim. E não seria nada legal se ele chegasse de viagem e se deparasse com uma Lara Croft ruiva em miniatura dentro de seu carro, não é? – ele me disse, balançando as chaves quase em meu rosto.
- Ah é – eu me sentei de um modo mais comportado e saí do carro – Você não vai voltar?
- Vou, sim. Minha casa é só a uns quarteirões daqui, não demoro.
- Ah, ok. Boa noite, acho que vou tirar a roupa e ir dormir direto. Amanhã nos falamos – acenei e segui James.
- Epa, é por aqui, Encrenca. – James pegou um de meus braços gentilmente e me fez entrar no hall.
- A sua mãe não se importa de chegarmos praticamente com o Sol nascendo? – perguntou, sussurrando.
- A sua mãe se importa quando você chegava em casa também a esse horário?
- Não, mas eu sempre estava com a Taylor ou com o Jason, e a maioria das vezes ia dormir na casa deles, não na minha. Minha mãe fica assistindo a MTV até dormir no sofá e depois vai para a cama e se esquece completamente de mim. Só quando ela fica com insônia, porque daí não pára de me ligar para saber se ainda continuo nas festas ou se já estou indo dormir – expliquei.
- Ah. Minha mãe odeia a MTV.
Nós rimos baixinho.
- O quarto da Alex é esse – ele apontou para a única porta à esquerda do corredor – Boa noite. Ou bom-dia, não sei.
- Haha, ok. Até quando conseguirmos levantar de novo – acenei e entrei no quarto cor-de-rosa de Alex.
- Ei, entre. Se quiser se trocar no banheiro, ele é na última porta do corredor, ao lado da estátua de dragão – Alex me informou, assim que me viu. Ela já estava de pijamas com patinhas de cachorrinhos. Colocava seu vestidinho florido da festa de volta ao armário.
- Humm, certo – fui para a minha bolsa onde enfiara algumas roupas. Troquei-me ali mesmo. Estava exausta demais para andar até o fim do corredor.
- Vou escovar os dentes, já volto – falei. Alex já estava deitada e olhava para o teto, toda sonolenta.
Aparentemente parecia que os meninos já estavam dormindo (principalmente a julgar pelo ronco que vinha do quarto de frente ao de Alex), mas então James saiu do banheiro e colocou o dedo indicador nos lábios.
- Pete é capaz de derrubar uma casa com esse poder de ronquidão dele – comentou ele. Ri e ele tapou minha boca.
- Sua mãe já está dormindo? – cochichei, assim que ele me largou.
- Deve estar sonhando com qualquer coisa que envolva um drinque de Martini – disse ele.
- Ah, nossa, que sonho mais alcoólico – comentei e ele riu.
- Aí, vou dormir – ele me disse.
- O Sirius já chegou?
- Não, mas sempre tem uma chave extra debaixo do vaso falso de rosas na entrada - ele piscou.
- Ah bom – eu disse e fui para o banheiro. O gosto de Coca-Cola parece permanente em minha língua.
Alex está dormindo toda embolada nas cobertas. Acho que vou largar isso daqui e começar a contar as estrelas fosforescentes pregadas no teto do quarto. Quem sabe eu volto a dormir.
10/FEVEREIRO – 14:27h – DOMINGO - CASA DE JAMES E ALEX
Cheguei à conclusão, enquanto estávamos tomando “café-da-manhã”, agora a pouco, em meio àquela algazarra da MTV; Sirius xingando James; James e Peter xingando Sirius – por conta das pegadinhas noturnas -, que tenho muitos segredos.
*Coisas que minha mãe nem imagina:
1. Ano passado matei um dia inteiro de aulas para ficar na fila do show do The All American Rejects
2. Já roubei cinqüenta libras do vaso de emergências
3. Já menti para a Sra. Prince na oitava série, dizendo que não tinha entregado o trabalho da semana porque tinha parado no hospital por conta de uma intoxicação alimentar
4. Já adotei e escondi um cachorrinho de rua dentro de casa, mas ele fugiu no terceiro dia
5. Quase morri chorando na terceira vez em que vi Bolt- O Supercão. Não estou brincando. Comecei a soluçar só porque o Bolt encontra a Penny e ela lhe diz que o ama. Uma vergonha e loucura total
*Coisas que deveria fazer, mas não faço:
1. Arrumar minha cama
2. Começar a falar a verdade para as pessoas
*Coisas que deveria ter, mas não tenho:
1. Sorte
2. Paciência
3. Bom gosto para moda
4. Coragem
5. Perseverança
6. Otimismo
*Coisas que deveria falar aos meus novos amigos:
1. Sobre a aposta com a Taylor
2. A verdade sobre tudo o que já fiz
*Coisas que Peter deveria ouvir de mim:
1. Ele precisa parar de andar com aquela camiseta amarela suja
2. Ele deve tomar mais banhos
3. Ele precisa comer mais vegetais e deixar os doces um pouco de lado
*Coisas que James deveria ouvir de mim:
1. Um pedido de perdão por tudo o que sou
2. Uma explicação sobre a aposta com a Taylor
3. Que ele é um dos caras mais fofos e legais que conheço
*Coisas que Alex deveria ouvir de mim:
1. Ela deve andar mais de vestidos
2. Deve dar uma chance ao Remus
3. Nunca deve mudar, pois ela é a melhor amiga do mundo
*Coisas que Sirius deveria ouvir de mim:
1. Ele tem que parar de correr atrás das meninas fúteis
2. Tem que parar de pensar tanto em meninas
3. Tem que parar de colocar a Alicinha na maioria das suas frases sobre meninas
*Coisas que Remus deveria ouvir de mim:
1. Deve parar de ser tão sério e aprender a se divertir, assim como a Alex
2. Tem que parar de se fingir de amiguinho para cima da Alex
3. Tem que trocar de guarda-roupa
*Coisas que minha avó nem imagina:
1. Quando eu tinha dez anos, na aula de filosofia, tínhamos de escrever uma lista das pessoas que mais gostávamos e ela não foi inclusa. Coloquei-a no topo da lista das pessoas que menos gostava
2. Fui eu que quebrei seu espelho da sorte que ficava logo na entrada da casa, e não a Armanda, a copeira, na quarta série
10/FEVEREIRO – 15:13h – DOMINGO - CASA DE JAMES E ALEX
Enquanto eu via James e Sirius fazerem um campeonato de quem-consegue-empinar-mais-bolinhas-
de-esponja-em-maior-tempo, na grande sala da família Potter, Alex me cutucou:
- Ei, meninos não são estranhos? – ela me perguntou.
- É, mas Pete não deveria estar filmando? – estranhei.
- Olhe atrás da poltrona azul – ela indicou. Olhei: Pete estava lá com a filmadora pequena nas mãos gorduchas. Pobre Sirius. Os cabelos lindos, brilhantes e sedosos não sentiram mais muito orgulho depois dessa batalha. Ele já caíra, dizendo sentir cãibras nos pés.
- Uh, Sirius – eu ri.
- Minha preparação foi mínima, mas a revanche... – ele começou, enrolão como sempre.
- Não, que revanche o quê. Eu ganhei e acabou. Foi mal, amigo – James sorriu.
- Peter, comece a correr. Vou arrancar isso das suas mãos nem que seja à base da dor. E bota dor nisso – Sirius disse, alongando-se e sorrindo sacana.
- Se você tocar em mim... – Pete avisou, saindo detrás da poltrona e soltando a câmera no sofá.
- Ah, Sirius, se você apagar não vai ser muito justo! – criticou Alex.
- Quem disse que isso é problema meu? – ele avançou no aparelho e teclou alguns botões – Prontinho, adeus perdedor.
James revirou os olhos, dramático.
- Seu babaca – disse ele a Sirius.
- Não posso fazer nada – o outro deu de ombros.
- Vou atacar a geladeira, Jay – Peter disse, já se encaminhando para a cozinha.
- Pelo menos já sabemos como o Peter irá morrer: comendo – disse Sirius. Rimos. Peter não disse nada.
- Como o Remus pode estar tão concentrado lendo? – James comentou e acho que não era uma pergunta jogada ao vácuo. Olhei para Remus. Ele ali no chão da sala, encostado na parede vermelha, empunhando um livro intitulado “Fuga de Rigel”.
- Ih, gente, deixem o Remus, todo mundo sabe que ele vive em um universo paralelo – Alex disse, mas não com uma voz provocativa. Era mais uma voz carinhosa e amigável. Ergui as sobrancelhas.
- O que fazemos agora? – perguntou Sirius – Ô do livro, acorda aí, estamos ainda aqui e eu também estou falando com você – ele jogou um das bolinhas coloridas esponjosas em Remus.
Remus ergueu os olhos da página que lia.
- Meus olhos estão ocupados, mas meus ouvidos ainda funcionam perfeitamente – retrucou ele. Somente Alex riu. Olhei-a. Ela não olhava para Remus, mas parecia fazer um esforço tremendo para continuar em tal ação. Ele sorriu para ela, parecendo gratificado.
- Vamos jogar Rock Band – de repente Peter saiu da cozinha com uma colher de doce de abóbora nas mãos, praticamente quicando.
- Nem pensar. Você é tão péssimo que me faz ter vergonha por meus vizinhos o ouvirem jogando – James cutucou.
- Baralho? – Sirius zombou.
- Rock Band – enfatizou Peter.
- Uma batalha de todos contra Pete? – Sirius sorriu maldosamente para ele.
- Já sei: você calado para sempre – retrucou o gordinho.
- Não, acho melhor você calado para sempre – Sirius respondeu e olhou para James: - Baralho?
- Ih, teremos cem anos e esses dois ainda estarão discutindo – Alex riu somente para mim, em um cochicho.
- Baralho é muito parado – James disse.
- Strip Pôquer? – Sirius estalou os dedos em um sorriso feliz.
- Haha, muito engraçado – falou Alex.
- Não viaja, Sirius – riu James.
- Ah, então o que você sugere, gênio da lâmpada? – Sirius ficou aborrecido.
- Vamos lá para o meu quarto – Alex me disse.
- Hum, ok – dei de ombros. Fazer qualquer coisa com a Alex seria melhor do que permanecer ali os ouvindo naquela discussão sem fim.
- Ei, nós vamos subir – apontando para mim, Alex informou aos meninos.
- Mas se vocês saírem daqui não iremos poder jogar Strip Pôquer! – Sirius se queixou.
- Ah é, até parece que vamos jogar essa coisa – desprezou Alex, rolando os olhos verdes.
- Babacas covardes – disse ele, mostrando a língua para nós duas. Retribuímos o gesto e nos levantamos do sofá. Acompanhei Alex e fechamos a porta do quarto.
Opa. Que coisa estranha. E ela colocou o primeiro CD do Forever The Sickest Kids para tocar.
- O que aconteceu? – eu perguntei.
- Eu é que pergunto isso – ela riu. Não entendi. O que ela queria dizer com isso? – Como foi que o seu namorado bateu no meu irmão? – ela perguntou.
Ah. Isso. Bizarro. Bom, não muito. Bom, tanto faz.
- Como você sabe que foi o Jason que começou a briga? – ergui as sobrancelhas.
- Meu irmão é a pessoa mais pacífica que conheço. Mais pacífica do que eu e o Remus, juntos, praticamente – ela me respondeu. Ok, é mesmo verdade. Pelo menos é esse lado dele que conheço.
- Hummm.
- Então, como foi a coisa toda?
- Bom... – senti-me um pouco estranha. Um pouco desconfortável – Estávamos, sabe, dançando numa boa e o Jason chegou e tal. E o Jason sempre consegue arrumar briga pelas coisas mais banais do mundo.
- O quê? Meu irmão dançou com você?
- Hum, sim.
Ah, pronto. Outra crise de ciúmes? Por causa de uma DANÇA? Ah, não. Eu não sabia que a Alex podia ser tão imatura. Quero dizer, ela não é, mas isso, definitivamente, é uma atitude muito imatura. Afinal, eu e James somos apenas amigos. E amigos dançam um com o outro, certo? Pelo menos, é assim que as coisas funcionam dentro do meu mundo. Amigos podem ter contato físico. A menos, claro, que alguma das partes, sabe como é, sinta alguma atração, o que não é o nosso caso, só para deixar bastante claro.
- Wooo.
- Algum problema? – indaguei, com uma entonação quase irônica.
- Não, estou é impressionada. Ele nunca dança com ninguém. Nem mesmo quando eu lhe imploro para dançar comigo – a julgar por sua expressão realmente surpresa, dava para ver que o fato da dança juntinha não lhe entrara pelos ouvidos. Espere, nem lhe disse nada que a dança era juntinha.
- Ah, então... Foi isso – resumi, dando de ombros, sem saber o que acrescentar.
- Acho que seu namorado é um tanto... espontâneo demais – comentou ela.
- Explosivo, foi o que quis dizer – lembrei-lhe com voz dura.
- Humm... se você diz – ela deu de ombros – Você não vai se encontrar com ele?
- Com quem? Com o Jason? – eu ri – Por que eu quereria me encontrar com ele depois daquilo?
Sério, POR QUE eu ainda estou com o Jason? Será que eu tenho alguma doença que não me deixa desfazer os laços de sentimentos que mantenho ou mantive com as pessoas? Será que existe alguma explicação médica para isso? Não sei. Não me lembro de nenhum episódio de House que algum paciente fosse tão lesado quanto eu.
- Talvez você pudesse conversar com ele – Alex sugeriu, com aquela voz de morsa sentida.
- Não quero conversar com ele – torci minha expressão. Uau, estava tão decidida!
Ela se levantou de sua cama ainda desfeita e passou as faixas do CD. Parou em “She’s A Lady”. Voltou à cama e eu me lembrei de uma coisa. Balançando a minha cabeça ao ritmo da música, deixei escapar:
- E então? E você e o Remus?
- O que temos nós? – ela cantava baixinho e fez a pergunta sem demonstrar desconfiança.
- O James tentou me convencer de que a relação de vocês é puramente platônica e fraternal, mas eu acho que ele é um pouco cego ou finge que não quer ver o óbvio – eu falei. Ela soltou uma risadinha sufocada.
- Uia, para uma novata no grupo você é bastante esperta.
- Então... eu acertei? Existe mesmo algo entre vocês? – eu me empolguei de um modo que nunca o fiz perto da Taylor, sempre que ela me contava qual fora o novo cara que beijara (mesmo tendo namorado).
- Eu lhe disse que era esperta, não que tinha acertado - ela falou.
- Ah, Alex, qual é. Me fala, por favor! – eu implorei. Opa. Aquela era mesmo eu? A Lily que está dentro de mim desde sempre? Então, acho que esse lado da Lily toda animadinha e fofoqueira nunca apareceu até agora.
- Ai, credo, acho que preferia quando eu era a única menina no grupo – ela riu, atirando-me um de seus travesseiros.
- Hahahaha, até parece – respondi.
- Tá, não é verdade, vai – ela rolou os olhos com voz risonha.
- Ok, então, vai me contar a verdade? Hum? Ou prefere que me faça pular, dançar e cantar uma música do Marilyn Manson antes? – eu brinquei.
- Eeeeca. Nunca Marilyn Manson. Mas pode ser Madonna – ela riu.
- Ok, esquece. Nada de tortura – lancei seu travesseiro de volta.
- Aaah – ela fingiu estar decepcionada. Rimos. Silêncio. Mais uma vez ela pulou de música: escolheu "Catastrophe". Ouvimos a música inteira sem conversa. O CD acabou e Alex colocou o último do Green Day.
- Eu o beijei – ela me disse, enquanto as guitarras de "Song of the Century” começavam.
- EU SABIA! – gritei.
- Shhh, sua louca. Quer que ele venha até aqui para ver se alguma de nós está tentando se enforcar e descubra que estou contando isso a você? – ela me censurou em tom preocupado, olhando para a porta.
- Tá, tá, desculpa. Mas... Eu sabia, ha.
- Oh, que medo de você agora – ela brincou.
- Mas e aí? Como estão as coisas depois do beijo?
- Normais. Como sempre estiveram, oras.
- Espera, vocês se beijaram e fingem que ainda são amigos?
- Não estamos fingindo. Ainda somos amigos.
- Mas como assim?
- O que você quer que aconteça? Que ele me peça em casamento?
- Não, mas talvez em namoro.
- Por que ele faria isso se só quer minha amizade?
- Ele lhe disse isso?
- Não, mas é claro que é isso.
- Como você pode ter tanta certeza? – cruzei os braços.
- Quem lhe ensinou essas perguntas irritantes?
- A Taylor. Ela é ótima torturadora emocional – falei.
- Humpf. Odeio isso.
- Fale com ele, oras.
- Não, não é isso que odeio. São as perguntas chatas.
- Ah. Mas, então... quando você vai falar a verdade para ele? O que você lhe disse depois do beijo?
- Bom... eu pedi desculpas, e ele também, daí a noite ficou meio esquisita.
Aí, do nada, me liguei em uma coisa. Me liguei em toda a esquisitice dela durante a semana.
- Espera. Então... Era isso? Era isso que você tinha para me contar? Que você gosta do Remus?
Não que a Alex tenha ficado sem graça – é uma coisa que ela nunca fica -, mas, certamente, sua expressão se tornou diferente. Algo mais para... “Uh, você me pegou”.
- Pois é. Mas agora você sabe. Você não está brava por não ter sabido antes, não é? – ela me perguntou.
- Não, claro que não. Sinceramente, estava começando a achar que era algo mais grave – dei de ombros.
- Parece bem simples, não é? Só que eu não tenho muita experiência com essas coisas... e já que você tem um namorado, achei que você podia, ao menos, me dar um conselho razoável.
- Claro, sem prob... – comecei, mas senti meu celular vibrar em meu bolso da calça e encher o quarto com dois bipes de aviso de mensagem. Peguei-o e olhei no visor. Li: VOCÊ RECEBEU UMA MENSAGEM DE ZORA.
- É a Zora – falei a Alex.
- O que ela quer?
- Não sei, deixe-me ler.
Vamos ao shopping? Como foi a festa? Me responde! Bjiim ;*
- Hum, ela está me perguntando se quero ir ao shopping e como foi a festa – eu disse.
- Aaaah, pergunta para ela se eu posso ir junto! Pergunta! – Alex se animou, pulando na cama, ansiosa.
- Tá bom, calma aí, ô canguru.
Oi, Zo. Ainda estou na casa da Alex. Tudo bem se ela for conosco ao shopping? E sobre a festa, conto-lhe pessoalmente ;*, digitei e enviei.
- Que horas a sua mãe vai chegar do leilão? – perguntei.
- Uh, difícil saber, mas o Sirius nos dá carona – falou.
- Ele vai roubar o carro do irmão dele de novo? – eu ri.
- Hahaha, sempre tem uma segunda vez, não é? – atirou-me.
- Uma hora ele vai começar a respirar com a ajuda de aparelhos, hein?
- Totalmente, mas ele não liga.
Ok. Vai ser legal se a Al for junto também. Convidei a Nichole também. Encontramo-nos em meia hora, pode ser? P.S: se você não me contar sobre a festa vou jogar tinta rosa em você na nossa festa de formatura Bjiim ;*
Ri. Só podia ser a Zora.
- Ela combinou de nos encontrarmos em meia hora – informei.
- Fechado. Vou pedir ao Sirius que nos leve – ela pulou da cama e saiu do quarto - Siiiiriuuus – berrou ela.
Tirei uma blusa de caxemira vermelha e preta listrada da bolsa que trouxe e a substituí pela azul velha que ainda tinha no corpo. Espirrei meu perfume básico preferido no pescoço e tentei me maquiar da melhor forma possível: corretivo, base, rímel e gloss labial. Olhei-me no espelho esférico ao lado do guarda-roupa: muito melhor.
- Ei, depois do shopping você vai para casa? – ouvi a voz de James e logo ele abriu a porta.
- Sim, possivelmente. Shopping leva a tarde toda, sabe. Hahahaha – falei.
- Hum. Blusa bonita – falou e eu me olhei. Estranho. Eu quis rir, mas me limitei a sorrir, acho que de modo um pouco acanhado, mas, ainda sim, acho que ele não se importou. Acho que nem eu me importei, porque independentemente do que faço ou falo quando estou com o James, simplesmente parece legal. Não parece que sou uma imbecil como sempre pareço quando estou com outras pessoas.
Pensando bem... não sei explicar como me sinto quando estou com o James. Só parece que somos amigos há muito tempo, que confio tanto nele que prefiro recusar um encontro com o meu namorado para sair com o James. E isso é tão anormal, porque sempre anseio sair com o Jason. Vai ver estou me acostumando demais com o James ao meu redor.
- Sai – Alex lhe disse, chegando – O Sirius nos leva, mas tenho de pagar um Ice Iogurte para ele antes de nos encontrarmos com as meninas – ela me disse, com voz animada.
- Ah, até parece que ele nem iria chantageá-la – falei.
- Se ele não fizesse isso, iria acreditar que a nave-mãe o abduziu durante a noite – James brincou, deixando o quarto. Rimos.
Rapidamente, Alex enfiou umas roupas mais para sair – as botas de fazenda e um blusão verde de lã super fofas – e logo estávamos entrando mais uma vez no carro “emprestado” de Sirius. Ou como diria o Cap. Jack Sparrow: o carro que Sirius “se apossou”. Maravilha. O que é um carrinho roubado do irmão? Sirius adora diversão e confusão mesmo. Então tá.
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N/A: Olá! :)
Então, o que precisava comentar sobre esse cap é que ele é de longe um dos meus preferidos (apesar de que eu sou suspeita para falar ._.) e que o escrevi há tanto tempo que é realmente uma beleza que não tenha mudado nadinha nele (porque geralmente, sempre que releio os caps para postagem acrescento ou corto "partes"). O que é bom, acho. Obrigada aos que estão acompanhando e comentando. E fico ainda mais agradecida com todo o positivismo que vocês me passam, porque daí sempre dou o meu melhor na escrita e tal. Isso realmente é tipo um combustível. De verdade. Então, peço-lhes que permaneçam comentando - amando ou não tudo o que escrevo -, que lhes assegurarei mais e mais postagens :) E uma agradecimento mega especial a Nina Black, porque você realmente me fez feliz hoje, ha :) Eu amo receber comentários enooormes! :D
Bem, é tudo por hoje. Nossa, escrevi demais. Enfim, espero que tenham apreciado a leitura. Fiquem de olho, que semana que vem tem mais um cap :) Beeijos e mais uma vez obrigada!
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