Capítulo único



I've been roaming around


Always looking down at all I see


Painted faces, build the places I can't reach


 


 


Eu odiava quando meus planos fugiam do controle. Isso era simplesmente algo que me deixava fora do sério, mas o que eu podia fazer? Depois de diversas tentativas de permanecer fiel aos meus objetivos, e vendo todas elas fracassarem, me rendi. Me rendi a você, e a forma como me sentia quando estava por perto.


Era estúpido me sentir como alguém que pertencia a algum lugar, ainda mais estando em Hogwarts, no período Pós-Guerra. Eu não era bem-vindo na escola, e isso era um fato mais que confirmado. Bastava olhar em volta e ver a quantidade de cabeças que se viravam para me encarar e lançar olhares de desprezo. Como se isso realmente pudesse me afetar. Sendo um Malfoy, eles deveriam saber que a opinião deles não me importava nem um pouco.


Muito embora tivesse decidido voltar para a escola e cursar novamente meu último ano, meus planos não eram vingar o nome do meu pai e fazer com que todos engolissem suas piadinhas ridículas. Eu realmente não me importava com nada... Só queria terminar a escola e salvar o que ainda restava do império Malfoy, mas dessa vez não seria burro como o meu pai fora. Eu faria as coisas de forma correta e decente, por incrível que pareça.


Meu único objetivo quando voltei para Hogwarts, era estudar, passar nos NIEMs e seguir com a minha vida. Não estava em meus planos retomar minhas antigas amizades ou fazer novos amigos. Também não estava nos meus planos tentar convencer a todos que eu havia mudado. E, é claro, eu também não pretendia vir à escola e encontrar um grande amor ou algo parecido. Eu já estava enjoado de relacionamentos falsos, movidos a base de interesse, como era antigamente com a Pansy. Meu coração estava trancado a sete chaves e ninguém, absolutamente ninguém, poderia abri-lo.


Pelo menos era isso que eu achava.


Lembro de ter visto você pela primeira vez enquanto caminhava no jardim da escola. Eu estava distraído demais para notar qualquer coisa, mas toda minha distração foi embora quando a vi sentada, próxima ao Lago Negro, banhando os pés na água. Você não estava sozinha. Havia mais duas meninas e elas pareciam bem animadas fofocando sobre alguma coisa e apontando para o Semanário dos Bruxos, enquanto você parecia fascinada com o reflexo do sol na água. Esse pequeno detalhe me fez perceber que você não era como as outras.


Pode parecer absurdo, mas eu fiquei com sua imagem registrada na minha cabeça durante todo aquele dia. Ainda que tivesse te visto de longe, eu ainda me lembrava claramente do seu cabelo loiro esvoaçando com a brisa leve e do seu sorriso enquanto balançava os pés na água e via as ondas se formarem na superfície.


Você era tão diferente de mim, que eu tive medo de corrompê-la.


Eu lutei, durante os dias que se passaram. Era tudo tão ridículo, afinal de contas, nem sabia seu nome, então por que você poderia me perturbar tanto? No início, confesso que pensei que você havia sido posta naquela escola apenas para me fazer perder o rumo. Era impossível permanecer indiferente a você.


Foi com certa surpresa que descobri que você pertencia à mesma Casa que eu. Nunca havia lhe visto no Salão Comunal, e todas as vezes que a observei, você estava muito longe para que eu pudesse ver o símbolo da Sonserina bordado em sua capa.


Naquela tarde no Salão Comunal da nossa Casa, você estava sentada junto com a Daphne e a Pansy, e não tinha uma expressão muito satisfeita. Elas não paravam de despejar coisas sobre você, até que finalmente a vi se levantar e correr para fora do local, com lágrimas nos olhos.


É importante frisar que eu nunca machuquei uma mulher fisicamente, mas naquele momento eu senti vontade de torturá-las por fazerem você chorar.


Lutando contra a voz em minha cabeça que me dizia para ficar longe, larguei meu livro sobre a poltrona e a segui. Corri pelos corredores até que por fim, saí do castelo. O tempo estava nublado e ventava um pouco. Caminhei pelo terreno e não foi difícil encontrá-la. Você estava sentada debaixo de uma árvore, com as pernas encolhidas e a cabeça encostada nos joelhos. Sem nem pensar direito, caminhei até você e quando me dei conta, já estava parado de pé ao seu lado.


“O que eu vou dizer a ela?” esse pensamento só me ocorreu quando percebi que você não tinha a mínima ideia de que eu havia a seguido, e também não sabia o motivo pelo qual estava lá. Então, a única coisa que me restou foi improvisar, e pedir a Merlin que você não desse um daqueles ataques femininos dizendo que queria ficar sozinha.


- Hey você! – tentei parecer simpático, ao invés de desesperado. Era tão ridículo o modo como me sentia perto de você. Eu nem a conhecia e ainda sim queria protegê-la, porque tinha certeza que você era uma pessoa diferente das outras – O que está havendo?


Você não me respondeu por um minuto, e isso me deixou levemente aborrecido. O que será que aquelas duas haviam feito para que você ficasse desse jeito tão desolado? Estava devaneando a respeito disso, quando finalmente a vi se mexer e erguer a cabeça para me encarar.


Seus olhos irritantemente verdes penetraram nos meus de forma tão intensa, que por um segundo pensei que pudesse enxergar minha alma.


- Olá! – você disse, e assim como sempre imaginei, sua voz era doce e gentil, muito diferente das outras meninas daquela escola.


- Oi! – eu disse de forma patética e então me surpreendi. Eu estava sorrindo ao falar com você, e definitivamente aquilo era um erro. – Está tudo bem com você?


Você piscou algumas vezes, e as lágrimas que ainda no canto de seus olhos, escorreram. Peguei-me admirando a forma infantil com que você enxugava as lágrimas que escorriam por sua bochecha.


- Eu estou bem! – você me garantiu e sua voz soou insegura.


- Você não está bem! – disse o óbvio e então, sem pedir permissão, sentei-me ao seu lado. Aquela altura o céu já estava totalmente encoberto por gigantescas nuvens cinzas e os raios de sol já não podiam ser vistos – Está aqui sozinha, chorando... Isso para mim parece o contrário de bem.


- Tem razão... Mas eu estou mesmo bem, é só que...


- Só que...?


- Minha irmã e a melhor amiga dela. Elas vivem brigando comigo por tudo! – e de repente, você parecia como uma garotinha, sentada com as pernas cruzadas e gesticulando, enquanto me contava o que havia acontecido – Elas reclamam comigo por não agir exatamente como elas... Sabe, é meio irritante ficar fazendo piada das pessoas e agindo como se não existisse nada mais importante no mundo a não ser a fama e o dinheiro. A Daphne me recrimina porque eu faço amizade com as meninas da Corvinal, da Grifinória e até da Lufa-Lufa, e fica falando um monte de baboseira só porque eu não fico perguntando o número da conta bancária dos pais dos meus amigos. Ela hoje me disse que eu envergonho a família por agir assim, e a Pansy falou que se existe alguém na Sonserina para ser qualificado como escória, esse alguém sou eu.


Confesso que não percebi o momento em que minha mão se fechou, deixando meus nós dos dedos totalmente brancos. Eu estava com tanta raiva dessas meninas por tratarem você daquela forma que eu quis amaldiçoá-las até o último dia de suas vidas.


Eu ainda não sabia seu nome, mas tinha certeza que era uma boa pessoa. O desejo de te proteger aumentou ainda mais.


Foi apenas quando senti sua mão tocar a minha que percebi o quanto estava tenso. Relaxei imediatamente, quando você começou a contornar os nós dos meus dedos, até que finalmente abri minha mão e você a segurou entre a sua.


- Não fique chateado com ela! – você disse, enquanto contornava as linhas da palma da minha mão. – Ela age assim porque não tem a mente aberta. Uma hora vai perceber que amizades por interesse não contam, e vai voltar a ser a menina que era antes de entrar na escola.


- Você não deveria deixar sua irmã tratá-la assim. É errado e cruel, ela não pode te julgar pelas suas escolhas.


- Ah Draco,... – você interrompeu sua frase, quando viu a surpresa estampada em meu rosto.


- Sabe meu nome? – uma pergunta idiota, afinal de contas, todos naquela escola sabiam. Eu era o filho do ex-comensal que foi obrigado a ingressar para o lado das Trevas.


- Acho que todo mundo sabe. Mas me desculpe, eu posso chamá-lo de Malfoy, se preferir.


- Me chame de Draco! – eu disse – Agora eu preciso saber como vou te chamar, certo?


Você deu uma risada infantil e me encarou novamente. O vento estava mais forte e seus cabelos agora chicoteavam seu rosto.


- Meu nome é Astoria Greengrass, mas pode me chamar só de Astoria ou de Ast, como preferir! – você disse e então franziu o cenho, aparentemente confusa com algum pensamento.


- O que houve?


- Nada... É que bom, eu estava me perguntando o motivo de você ter vindo até aqui. Não que isso me incomode, mas bom... Essa é a primeira vez em seis anos, que você fala comigo.


- Porque essa foi a primeira vez que vi você! – respondi simplesmente – E me pergunto como não a notei antes.


- Você estava muito ocupado mandando e desmandando nos seus amigos, e sendo paparicado pela Pansy. – você me disse e deu de ombros – E, por falar nela, acho que não gostará de saber que falei com você.


- E por que não?


- Você é cego ou o que? Ela gosta de você, Draco! Acho que te ama, mas é muito orgulhosa para admitir isso.


Por um breve minuto imaginei como seria minha vida ao lado de Pansy Parkinson. Tentei imaginar como seria conviver com todas aquelas frescuras, todos os ataques de ciúme e todo o ego inflado daquela menininha idiota... Essa imagem se desfez tão rapidamente quanto se formou, e ainda me deu náuseas.


- Eu realmente espero que ela nunca admita isso. Não quero ser o cara malvado que parte os corações alheios.


- Mas você já é! Parte o coração dela há sete anos, e nunca percebeu isso. – você me disse com tanta sinceridade, que me senti mal por nunca ter percebido tal fato.


Nos encaramos por alguns minutos sem nem mesmo piscar, até que finalmente a chuva que ameaçava cair há algum tempo, começou a despencar do céu em uma velocidade quase assustadora.


Você se levantou rapidamente e fez exatamente o que eu não esperava. Geralmente as meninas correm da chuva por causa do cabelo e tudo mais, mas você não. É claro que não. Você abriu os braços e girou, inclinando a cabeça para trás e deixando a chuva bater em seu rosto.


Estava tão surpreso, que por um longo tempo fiquei observando-a girar, e girar sem parar, dando gargalhadas conforme a chuva a ensopava.


- Você vai ficar resfriada! – praticamente gritei para que você pudesse me ouvir – Deveríamos entrar.


- Eu não vou ficar resfriada, bobão! – você me chamou de bobo na primeira vez que conversamos e adivinha? Eu não liguei!


Você puxou minha mão e me obrigou a fazer exatamente o mesmo que estava fazendo. Senti-me um idiota, confesso, mas aquilo parecia te deixar feliz, então eu fiz apenas para vê-la sorrir.


Nosso primeiro encontro foi totalmente surreal. Não esperava que eu ganharia uma amiga quando fui atrás de você. Só queria me certificar de que tudo estava bem e acabei encontrando em você uma pessoa com a qual poderia contar sempre.


Nossa relação não era exatamente como a de uma amizade que havia se formado há pouco tempo. Na verdade, nós parecíamos amigos de longa data, quando ficávamos até tarde conversando no Salão Comunal, quando almoçávamos juntos, quando eu esperava você na porta da sua sala ao fim de mais uma aula... Estávamos tão próximos, que eu quase me senti uma pessoa comum. Quase... Mas na verdade eu não era.


Sua inocência era tão grande, o mundo visto através de seus olhos era tão puro, que certa noite caí em mim. O que eu estava fazendo? Que diabos eu estava fazendo? Eu era uma pessoa totalmente fora dos padrões. Era o filho de um Comensal, era um ex-Comensal... Eu deveria te proteger e não te condenar a mesma vida de reclusão a que estava destinado. Eu já tinha consciência do que me esperava quando eu atravessasse os portões de Hogwarts para enfrentar a vida real, e definitivamente não iria obrigá-la a passar por isso junto comigo.


E então, da mesma forma como me aproximei, me afastei. Era fácil vestir a máscara de frieza a que eu estava acostumado. Me doía agir como se você não existisse, mas eu precisava fazer isso.


Até aquele momento eu nunca havia feito nada de bom, então já estava na hora de fazer alguma coisa digna. Eu não queria ser para sempre o cara mau. Eu não podia usar alguém como você para conseguir redimir meus pecados.


- Draco! – você correu atrás de mim, depois de ser ignorada pelos corredores. Assim como na primeira vez em que tivemos nossa primeira conversa, grossas gotas de chuva começavam a cair. – O que está acontecendo? Por que me trata como se eu nem existisse? Eu fiz algo errado?


A dor em suas palavras me feriu como se mil adagas tivessem sido enfiadas em mim. Quis te abraçar e dizer que você não havia feito nada. Que você era tão pura que não poderia fazer mal a ninguém, mesmo se desejasse. Eu queria pegar você nos braços e dizer que tudo ficaria bem e que nós ficaríamos juntos. Eu queria fazer isso... Mas não fiz.


- Greengrass, achei que você fosse entender o recado quando a ignorei na primeira vez. – eu a encarei e sabia que pela expressão de seu rosto, minha máscara de indiferença e desprezo estava convincente – O que faz aqui? Vá se juntar com suas amiguinhas de sangue-sujo e me deixe em paz! No início era legal, era até divertido conversar com você e fingir que o seu mundo de fantasia existia, mas sinceramente, eu cansei!


- Não pode estar falando sério! – você se recusava a acreditar.


- E por que não? – perguntei curioso.


- Porque eu sei o que está tentando fazer! – você disparou – Está tentando me afastar de propósito! Tudo isso, todo esse teatro é mentira!


O som do trovão ecoou por todo o local, silenciando por alguns segundos aquela discussão.


- E como pode ter tanta certeza disso, Greengrass?


- Porque nessas últimas semanas eu vi exatamente quem você é. Vi que por trás dessa máscara dura e fria existe alguém que realmente se importa. Alguém que é capaz de ver o que há de bom na outra pessoa. Alguém que só precisa de uma chance para demonstrar a que veio.


- Lindo discurso, mas você está esquecendo uma coisa.


- O que?


- Eu sou um comensal, lembra? Não tenho sentimentos!


Surpreendi-me quando você deu dois passos em minha direção e tocou meu rosto com as pontas dos dedos. Embora já estivesse chovendo, eu podia ver as lágrimas escorrerem por seus olhos.


- Você não é um comensal, Draco! – sua voz era doce e gentil, como sempre – Você nunca foi... É uma boa pessoa... Talvez no passado tenha cometido alguns erros, mas isso não o impediu de se tornar alguém melhor, pelo contrário, você aprendeu com todas as escolhas erradas que fez! Não me afaste de você por se sentir culpado... Eu posso suportar qualquer coisa, menos isso.


Meu coração bateu mais rápido quando ouvi sua declaração. Eu não esperava aquilo, no entanto, aquelas simples palavras me trouxeram uma alegria inexplicável.


- Você tem noção do que me espera? Astoria, você só tem 16 anos, e eu tenho 18... Quando eu sair daqui, as coisas não serão fáceis... Eu não...


- Eu quero estar com você! – sua voz era firme e seu tom definitivo – Eu não me importo se as coisas vão ou não ser fáceis... Eu quero estar com você, Draco, porque diferente das outras pessoas, eu te amo pelo que você é e não pelo nome que carrega.


Você me amava... Você me amava e em toda a minha vida eu nunca imaginei que ouvir essas palavras de alguém fosse significar tanto. Na verdade, sempre achei patética todas as declarações de amor, no entanto, lá estava eu, abobado com a que você tinha acabado de fazer.


Segurei seu rosto entre minhas mãos e olhei profundamente em seus olhos. Eu precisava ter certeza de que você era real, de que tudo aquilo havia sido real... Você sorriu para mim e sem pensar, sorri de volta.


A chuva caía forte, formando uma cortina a nossa volta. Aproximei meu rosto do seu e então fiz aquilo que tanto desejei nas últimas semanas... Eu te beijei e aquele simples ato mudou toda minha vida.


Durante muito tempo eu andei por aí, desprezando tudo que via... Durante muito tempo eu esperei por algo, mas não sabia exatamente o que era... Foi naquele dia, naquele dia de chuva, depois de uma discussão, que eu percebi que sempre estive buscando por alguém como você. E no meio dessa busca esperava que você pudesse notar alguém como eu.


- Eu te amo, Astoria! – eu disse naquele dia, e repito até hoje.


Depois de passar tanto tempo buscando e menosprezando tudo que via por aí, eu finalmente encontrei em você tudo aquilo que eu precisava para ser feliz.


 


 


Off in the night, while you live it up, I'm off to sleep


Waging wars to shape the poet and the beat


I hope it's gonna make you notice


I hope it's gonna make you notice


Someone like me


 


 


 


 


 


~~


 


 


 


 


N/A: Bom, eu nem tenho muito que comentar. É a minha primeira short desse shipper, e sinceramente achei fofinha a história. *-*


Espero que também gostem!


Comentem e digam o que acharam ok?!


XoXo,


Mily Cullen.

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Comentários (3)

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