Capítulo III



Adoração


Era chegado o dia. O dia que ele tanto tinha feito questão de adiar. Todas as vezes que pôde, preferiu optar por não vê-la. Se havia aprendido algo de bom, em todos aqueles anos, era que não devia, de modo algum, testar seus limites quando sabia que não conseguiria transpô-los. E aquele limite, o de vê-la e não poder fazer nada para mudar a situação em que ambos se encontravam, ele tinha certeza de que não teria a capacidade de ultrapassar. Não, sem se magoar, sem magoá-la e magoar outros.


Depois de tanto tempo, aquele era o dia em que a veria. Durante vários anos, sabia da garota apenas através dos jornais que noticiavam, insistentemente, fatos sobre a vida dela. Ela, que fora responsável por ele descobrir o que é apaixonar-se, e também o que é odiar. Quando mais novo, os sentimentos rugiam tão alto em seu peito, que o rapaz chegava a confundi-los, quando ela chegava muito perto, com aquele perfume doce que o inebriava. Isso o enraivecia por deixar-se levar apenas por... ela.


Durante noites e noites, martirizava-se por sentir algo tão forte por alguém que ele sabia não sentir o mesmo. Então veio a segunda fase da paixão: a repulsa. Passou a repudiar tal sentimento dentro de si e, consequentemente, a repudiá-la com a mesma intensidade. Sempre que a via, sentia um amargo na boca. Um doce amargo. A mistura das duas emoções tão intensas com as quais ele convivia, dia e noite, incessantemente.


Tanto tinha medo da paixão quanto temia ver a mágoa nos olhos castanho-avelã da menina, todas as vezes que a destratava. Doía-lhe fazê-la sofrer, mas doía muito mais permitir-se gostar tanto de alguém cujo sentimento por ele não era nada, senão asco. Mas não teria sido ele próprio o responsável por traçar o rumo que as coisas tomaram? Se ele tivesse insistido, ela também se teria permitido a chance de amá-lo? Não. Não era pra ser. E, de qualquer forma, “se” não leva a lugar algum. Tinham tomado caminhos diferentes, completamente diferentes, e agora bastava que cada um tocasse sua vida da melhor forma possível, sem se verem, sem dependerem um do outro.


Isso era o que ele se impunha a pensar durante todo o percurso. Andava a passos lentos, acompanhado de mais duas pessoas, com o seu mesmo porte elegante de que se orgulhava. Contrastando com sua pele muito alva e com os olhos azul-acinzentados, hoje um tanto menos arrogantes, usava um terno impecável sobre a camisa, gravata e sapatos, todos pretos.


Assim que adentraram a estação King’s Cross, todos os olhares voltaram-se para os três. Afinal, não se via um trio tão belo, altivo e elegante assim, todos os dias. O rapaz permitiu-se um leve sorriso de lado antes de encostar-se à pilastra que o levaria até o outro lado da estação, o lado bruxo ao qual ele pertencia.


Logo que chegou ao outro lado da pilastra, seus olhos, inconscientemente, puseram-se a procurar por ela, e não tardou muito para que a encontrasse. Em meio a um grande grupo de crianças e adultos, a maioria delas ruivas, encontrava-se a bela garota, hoje um tanto mais velha, mas nunca menos bonita. Os cabelos castanho-claros e encaracolados, caindo-lhe nas costas, bem mais compridos do que ele se lembrava de ter visto. Os olhos cor de chocolate brilhavam enquanto ela levantava do chão uma menininha ruiva, de olhos idênticos aos da mãe, e a puxava para um abraço.


O rapaz permitiu-se sorrir novamente, antes de reparar que nada do que ele planejara tinha acontecido. Seu coração não tinha disparado ao vê-la, e não havia mais dois sentimentos lutando por um lugar em seu peito. Não havia mais ódio, nem, contudo, paixão. Observou quando um ruivo alto aproximou-se dela, tirando uma das mechas do cabelo que caíam sobre sua face, e viu o modo como ela olhava o, pelo que ele tinha ficado sabendo, marido. Ela o encarava com adoração. Para sua surpresa, não sentiu ciúme nem raiva. Sentiu-se feliz. Feliz por vê-la alegre.


O olhar da garota, por um segundo, desviou-se do rosto do marido para pousar num rapaz do outro lado da estação, e ela sorriu. Sorriu com bondade. De forma alguma tinha guardado ressentimentos da época de escola. Ele retribuiu com um leve aceno de cabeça e um olhar bondoso como o dela. Um olhar que nunca se esperaria ver nos olhos azuis acinzentados de Draco Malfoy. Muito menos se seus olhos encarassem Hermione Granger.


Olharam-se por mais alguns segundos, até que Draco sentiu uma pequena mão tocar a sua. Desviou o olhar de Hermione para encarar a loira a seu lado. Os cabelos lisos caindo como uma longa cascata pelas costas, e os olhos azuis intensos, combinando com a boca num tom claro de cor-de-rosa. Nunca tinha reparado a exuberante beleza da esposa. Como também não tinha reparado, em todos aqueles anos, na forma como ela o observava. Astória olhava-o da mesma forma como Hermione focava o rosto de Rony, com uma adoração que superava o amor. A moça lhe sorriu um sorriso sincero e amoroso, que ele pensou, seriamente, não ser merecedor.


Draco correspondeu ao sorriso e viu os olhos da esposa brilharem. Ele nunca havia sorrido daquela forma, nem pra ela, nem pra ninguém que não fosse a única pessoa por quem ele sentia um amor que transcendia qualquer coisa que ele podia explicar: seu filho, Scorpius. Sim, agora ele era casado, e pai. Casara por amor ou conveniência? Amor é uma palavra muito forte para definir o sentimento que reservava à Astória, na época em que casaram. A conveniência podia estar presente quando iniciaram o namoro, mas, quando casara, já nutria pela garota um carinho inexplicável, carinho que foi intensificando-se e, quando Scorpius nasceu, finalmente ele entendeu o que era amar.


– Você está bem, Draco? – Astória perguntou, com uma voz doce, tirando Draco de seus pensamentos profundos e fazendo com que ele balançasse a cabeça para afastá-los da mente.


– Sim, só estava pensando. – Respondeu, sereno, puxando-a para sua frente a abraçando em um ato tão inusitado que fez a esposa arregalar os olhos antes de cerrá-los com um sorriso satisfeito. Draco, com certeza, não tinha o hábitode demonstrar sentimentos em público.


– Pai... Começou um garoto, com seus onze anos, e uma perfeita réplica do pai: com os mesmos cabelos loiros, os olhos azuis acinzentados e o porte elegante. A única diferença entre pai e filho era o sorriso. Enquanto Draco ostentava, não raro, um sorriso debochado, Scorpius ostentava o mesmo sorriso bondoso da mãe.


– Sim, Scorpy... – ele disse, soltando Astória delicadamente do abraço, e mantendo uma das mãos entrelaçada à dela.


– Acho melhor eu entrar no trem, parece que já vai sair. – O pequeno dizia, com um sorriso ansioso. Era seu primeiro ano em Hogwarts.


– Ah, sim. É verdade. – Disse Draco, abaixando-se para ficar da mesma altura que o filho – Vai honrar o nome da família e entrar pra Sonserina? – completou com um sorriso debochado.


Astória riu, enquanto Scorpius que dava um abraço apertado no pai.


– Com um pai Sonserino como esse, você ainda tem dúvidas, Draco? – ela perguntava, olhando os dois, e tomando o filho para um abraço materno.


– Sem dúvidas que não, Tory. – O loiro mais velho riu também.


– Tchau, mamãe. Tchau, papai. Eu escrevo assim que for selecionado. Amo vocês. – Disse o menininho, afastando-se dos pais e indo em direção ao trem que apitava. Draco e Astória acenaram para o filho, até que ele sumisse de vista dentro do trem que o levaria à escola.


Draco observou uma lágrima solitária escorrendo do rosto de Astória e a abraçou. Os dois se observaram por um longo tempo, até que o loiro beijou a testa da esposa, em um gesto singelo, que ela mão esperava.


– Ele cresceu, Tory. E vai se tornar um homem bom, pode ter certeza. Fizemos um bom trabalho. – Disse acariciando levemente o rosto dela.


– Ele vai ser bom como você, Draco. – Ela disse, já acostumada ao discurso do marido, que sempre subestimava suas qualidades.


– Pode ser que sim... – ele sorriu tristonho – Eu só não quero que ele cometa os mesmos erros que cometi, e que não sofra tanto, até encontrar um caminho correto.


 – Ele não vai, Draco, porque eu e você sempre estaremos aqui por ele, porque ele é nosso! Nosso filho, e nós o amamos.


Draco sorriu e deu a mão à esposa para, juntos, deixarem a estação, de volta para casa, que ficaria mais vazia sem a presença daquele pequeno pedacinho dos dois. O casal andou calmamente até a pilastra e a atravessou, chegando à estação trouxa novamente. Draco apertou a mão dela mais forte, ao perceber que não havia mais pensado em Hermione. Agora ele se sentia muito mais feliz. Conseguira libertar-se daquela antiga paixão para começar a dar valor a quem realmente o amava.


Se a morena havia-lhe ensinado o que era a paixão e a raiva, a loira havia-lhe mostrado que, por mais intensa que uma paixão possa ser, ela sempre acaba, e o que realmente fica é o amor de verdade, a adoração. Uma adoração que ele agora identificava nos olhos claros de Astória, sempre que a esposa contemplava-o ou contemplava seu filho. Sem que ele percebesse, a loira venceu-o com um sentimento maior que qualquer outro. Ele agora amava Astória.


O loiro sorria quando viu Astória parar de súbito e virar-se para encará-lo com os olhos indecisos, e mordendo levemente o lábio inferior. Franziu o cenho, pensando no porquê daquele estado em que a moça se encontrava.


– Aconteceu alguma coisa, Tory? – perguntou, receoso.


– Aconteceu, Draco... – ela disse com um sorriso deslumbrante que desconcertou o loiro por alguns momentos – Eu estou grávida! – completou, abraçando o marido com carinho.


Draco deixou-se abraçar, ainda atônito. Alguns segundos depois, afastou-se um pouco da mulher, encarando-a nos olhos e abrindo o mais sincero dos sorrisos. O mesmo que ela lhe mostrava. Um sorriso de adoração.


– É uma menina, Draco. Uma menininha. – Completou ela, jogando-se no pescoço dele novamente, com o rosto banhado pelas lágrimas.


O loiro sentiu os olhos marejarem e secou-os rapidamente, dando uma gargalhada de felicidade. “Eu amo você...”, sussurrou muito baixinho perto do ouvido de Astória, que se afastou com os olhos brilhando de alegria.


– O que você disse, Draco? – perguntou com a voz falha, era a primeira vez que Draco dizia que a amava. Ela mal continha sua alegria.


– Nada... Só que... Vocês duas são as mulheres da minha vida. – ele disse com um sorriso torto. Tinha certeza de que agora ela tinha consciência de sua adoração.


 


 


N/A: Olá pessoinhas lindas do meu s2!


E aí? Curtiram o capítulo?!?!?!? *-*


Comentem PLEASE!!!!!!!!


Beijudds"

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